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16/05/2015 - 10:58

Exercício profissional enquanto trabalho

Eixos do projeto ético-político da atual gestão foram apresentados nesta sexta-feira (15), durante o 9º Conpsi

Exercício profissional enquanto trabalho

11138643_966391340059391_2247093906442224604_nA Psicologia brasileira tem passado, nos últimos vinte anos, por profundas transformações. Do ponto de vista quantitativo, o número de psicólogos(as) cresceu significativamente. Existem, hoje, cerca de 253 mil profissionais inscritos e ativos no Sistema Conselhos de Psicologia e em torno de 164 mil estudantes de graduação espalhados pelo país. Se a formação de um novo profissional se dá, em média, em cinco anos, e subtraída a possibilidade de evasão em cerca de dez por cento, pode-se projetar que, em 2020, serão 400.000 inscritos ativos e aptos a exercer a profissão no Brasil.

Como lidar com essa realidade do ponto de vista do exercício profissional enquanto trabalho, e qual o papel do Sistema Conselhos nessa discussão? Este foi o cerne de uma das mesas de debate que o Conselho Federal de Psicologia promoveu na sexta-feira (15), durante o 9º Conpsi.

Na atividade, a conselheira-secretária do CFP, Maria da Graça Jacques, apresentou aspectos teóricos da categoria no trabalho, bem como as apropriações de sua representação no imaginário social ao longo da história. “Enquanto na Grécia antiga valorizava-se o trabalho, na tradição judaico-cristã, condena-se. Na Idade Média, a Igreja passou a valorizar novamente. Como o modelo capitalista de produção precisa de trabalhadores livres, a Reforma Protestante conferiu valor moral à categoria trabalho”. Para a conselheira, a Psicologia ainda trata a questão do trabalho de forma marginal, com pouca construção teórica e com o entendimento de que os órgãos sindicais são intermediários privilegiados. “E o que o Sistema Conselhos tem feito pelo trabalho dos psicólogos? O que tem a dizer sobre seu papel como órgão orientador do exercício profissional? Como atua frente à precarização do trabalho dos psicólogos no cenário geral de precarização?”, questionou.

A presidente do CFP, Mariza Borges, promoveu um resgate da história da Psicologia no Brasil desde a regulamentação, há 53 anos. No início, com a forte influência do fazer clínico, o país tinha uma maioria de profissionais liberais e em ensino e pesquisa. Com a expansão dos cursos, ampliou-se também o número de profissionais. A regulamentação da pós-graduação formalizou a pesquisa na área nos anos 70, estendendo as possibilidades de formação. “Ou seja, a Psicologia avança a partir do trabalho do psicólogo. É ele quem conduz seu fazer e a ciência psicológica. Nós, enquanto CFP, devemos dar conta de saber o que o profissional faz, como faz e em que direção. As condições de trabalho podem comprometer o exercício da profissão e muitas vezes elas não estão sob o controle do trabalhador. Para que possa orientar e fiscalizar o exercício profissional, temos de saber isso. Também não podemos deixar florescer uma ideia de que o fato de sermos psicólogos nos torna super-homens, e não trabalhadores”, pontuou.

Rogério Oliveira, vice-presidente do CFP, enfatizou a importância de se desfazer a ideia errônea de que os conselhos não representam, ou não devem representar, os interesses dos psicólogos (as) e que as questões referentes ao exercício profissional enquanto trabalho são de responsabilidade apenas dos sindicatos.

“Nas duas últimas décadas o Sistema Conselhos não se debruçou sobre essa questão, que a categoria vem pautando desde o 1º CNP. Nossos sindicatos não são tão organizados e fortes para que cumpram esse papel solitariamente e há uma discrepância em termos políticos e econômicos entre os orçamentos dos conselhos e dos sindicatos”, ponderou.

Oliveira apresentou, ainda, a plataforma OrientaPsi, ferramenta desenvolvida pelo CFP de aproximação e construção coletiva baseada na democracia participativa. O portal, que está em fase de testes, contará com pesquisas, buscas estatísticas, rede social, grupos de discussão e cursos online, entre outras funcionalidades. “Conselhos devem se apresentar o mínimo possível de modo impositivo e o máximo possível com base no diálogo. Não faremos nada sozinhos, teremos de ter conosco nesta empreitada os profissionais que estão trabalhando no dia a dia. A ideia é mapear os profissionais e conhecer a realidade para podermos transformá-la”, finalizou.

Assista à entrevista com o conselheiro do CFP, Rogério de Oliveira: