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27/12/2016 - 12:48

Pré-iniciação científica em Psicologia é tema de último artigo de 2016

Texto desta semana aborda as relações entre participação política e enraizamento territorial entre moradores de um quilombo do Vale do Ribeira (SP)

Pré-iniciação científica em Psicologia é tema de último artigo de 2016

Como são as relações entre participação política e enraizamento territorial entre moradores de um quilombo do Vale do Ribeira (SP) e a importância que a Psicologia tem no ensino médio para favorecer as reflexões sobre a relação entre o indivíduo participante, sua escola e o entorno físico. Esse é o tema do artigo desta semana da edição 36.3 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, cujo título é Pré-Iniciação Científica em Psicologia: Contribuição para a Formação Científica no Ensino Médio.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica em seu site e nas redes sociais, todas as semanas, um manuscrito do periódico, cuja versão eletrônica se encontra na plataforma SciELO. Assim, a autarquia intensifica a busca pelo conhecimento científico, a fim de expandir o alcance de conteúdos acadêmicos para a categoria e para a sociedade.

O manuscrito tem os seguintes pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP): Gustavo Martineli Massola (professor do Instituto de Psicologia), Bernardo Parodi Svartman (doutor em Psicologia Social e do Trabalho), Alessandra Blengini Mastrocinque Martins (mestre em Ciências pelo Programa de Mudança Social e Participação Política), Luis Guilherme Galeão-Silva (professor de Psicologia Social do Instituto de Psicologia) e Alessandro de Oliveira dos Santos (professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia).

Formação científica 

A pesquisa foi desenvolvida com o Programa de Pré-Iniciação Científica da USP, almejando que estudantes de escolas técnicas públicas do Vale do Ribeira desenvolvessem um projeto de pesquisa completo, de forma a contribuir com a sua formação científica.

Ainda segundo o resumo do manuscrito, durante o programa, que durou um ano, os alunos participaram de todas as etapas: da formulação inicial das questões investigadas até a apresentação da pesquisa às lideranças comunitárias, visitas à comunidade para realização de observações e entrevistas, interpretação dos dados colhidos e devolutiva dos dados à comunidade.

Os pesquisadores destacaram a importância do valor formativo da inserção da Psicologia na grade curricular do ensino médio, tanto pelas possibilidades interdisciplinares que apresenta quanto por favorecer reflexões sobre a relação entre o indivíduo participante, sua escola e o entorno físico, social e cultural.

A Assessoria de Comunicação do CFP entrou em contato com Gustavo Martineli Massola, que, em entrevista, abordou essas e outras questões levantadas pelo artigo.

Confira a entrevista. 

O que os motivou a fazer a pesquisa sobre esse tema?

O que nos motivou foi a percepção de que a universidade poderia criar modelos de trabalho que articulassem: o ensino rigoroso em nível médio, inserindo os estudantes na produção de conhecimento científico em uma área específica (no caso, a Psicologia); a ação transformadora junto à realidade dos estudantes, por isso escolhemos uma região considerada vulnerável economicamente, apesar do patrimônio cultural e social riquíssimo; a parceria com a escola, visando tanto dinamizar a atuação dos professores e empoderá-los (alguns deles ingressaram em cursos de pós-graduação ou aprimoramento, por exemplo, após participarem do projeto) quanto contribuir para que os estudantes, especialmente de baixa renda, percebessem seu potencial; a parceria técnica com comunidades tradicionais, que poderiam beneficiar-se tanto do conhecimento gerado quanto da transferência indireta de recursos de pesquisa (consumindo seus produtos turísticos, como hospedagem e alimentação); e o reconhecimento da importância do ensino de Psicologia em nível médio para a transformação social dos agentes envolvidos no processo de educação, em termos da possibilidade de desenvolver consciência dos determinantes psicossociais de suas condições de vida, visando empoderá-los para transformá-las.

 

Que resultados você destaca desse levantamento? 

A geração de conhecimento sobre a relação entre as comunidades participantes e seu ambiente sociofísico; melhoria na imagem pública das escolas parceiras, que passaram a ser vistas por pais e estudantes como boas escolas por fomentarem a pesquisa científica por parte de seus alunos; melhoria na qualidade da redação dos estudantes participantes e aumento significativo de seu interesse pelo ensino superior; aumento no nível de conhecimento dos estudantes sobre seu entorno sociofísico e de sua identificação com a região em habitavam – especialmente, uma maior valorização por estes estudantes da riqueza cultural de sua região.

 

Na sua opinião, como a inclusão da Psicologia como disciplina do ensino médio pode contribuir para a formação dos estudantes? 

O estudo dos determinantes individuais de nossas condutas tem um enorme potencial no desenvolvimento de autoconsciência transformadora em relação às condições de vida dos estudantes. Seja por meio do estudo dos determinantes ambientais na perspectiva comportamental, seja por meio do estudo das determinações inconscientes de nosso desejo, seja ainda pelo estudo dos processos cognitivos que condicionam nossa compreensão do mundo, a consciência de si é um elemento fundamental na busca pela libertação das condições de opressão e desigualdade presentes na realidade brasileira. Isso deveria ser articulado ao conhecimento oriundo de disciplinas como Sociologia, Geografia e História de forma a permitir ao estudante compreender como sua individualidade, em sua concretude, é fruto de inúmeras determinações que ele não produziu, mas pode compreender e transformar.

Além disso, a Psicologia teria um papel muito importante no ensino de ciências se as escolas permitissem aos estudantes desenvolver pesquisa rigorosa neste campo do conhecimento. Os temas que a Psicologia estuda são, muitas vezes, imediatamente compreensíveis (como o preconceito, as diferenças entre crianças e jovens, a memória) e, ao mesmo tempo, podem ser bastante contraintuitivos (como as pesquisas que mostram que as mudanças de atitude são mais intensas quando não há recompensas extrínsecas evidentes). Isso poderia auxiliar na compreensão de que a ciência, mesmo quando trata de eventos cotidianos e familiares, o faz de uma maneira específica que pode gerar conhecimento surpreendente.

Clique aqui e leia o artigo na íntegra.