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29/08/2018 - 10:15

Precisamos falar sobre visibilidade lésbica

Em tempos de retrocessos de direitos, do avanço de conservadorismos e fundamentalismos, ainda é necessário destacar a existência lésbica

Precisamos falar sobre visibilidade lésbica

Em 29 de agosto de 1996, durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, no Brasil, criou-se o Dia da Visibilidade Lésbica como marco fundamental para o registro da luta de mulheres que têm seus direitos violados por sua orientação sexual. Vinte e dois anos depois, a lesbofobia, presente em diversos espaços, é subnotificada e ainda não é reconhecida, em muitos casos, como violência.

No ambiente doméstico, no trabalho e nas ruas, as lésbicas vivenciam assédios, estupros corretivos, agressões, o medo de que sua sexualidade as coloque em um lugar de incompetência e tantas outras violências ainda invisibilizadas.

A Psicologia tem o compromisso ético-político de enfrentamento ao preconceito, violência e exclusão vivenciados pela população LGBTI, bem como no reconhecimento da diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero. Um exemplo disso foi a criação da Resolução CFP 01/1999, com o objetivo de orientar a prática de profissionais de Psicologia em relação à orientação sexual e impede que tratem as homossexualidades como doença, desvio e perversão.

No dia de visibilizar a existência lésbica, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio da Comissão de Direitos Humanos (CDH), aponta seu compromisso em dar continuidade ao enfrentamento às violências, no combate às diversas formas de expressões de discriminação e no processo de visibilização das existências lésbicas.

Pesquisa resgata informações e histórias de lésbicas assassinadas no Brasil

A condição de vida das lésbicas em 2018 não é das melhores no Brasil. É o que mostra o projeto de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) “Lesbocídio – As histórias que ninguém conta”. Inédito no país, o projeto busca compreender as especificidades das violências lesbocídas e traz dados únicos sobre o tema. De acordo com o estudo, os índices de lesbocídios (mortes de lésbicas marcadas pelo determinante da lesbofobia) aumentam a cada ano. Até agosto de 2018, já ocorreram mais casos registrados de lesbocídio no país do que em todo o ano de 2017.

De acordo com a psicóloga e professora da UFRJ Maria Clara Dias, a taxa de suicídios entre a população lésbica é altíssima, equiparável à taxa de assassinatos, sendo a lesbofobia social componente fundamental desta questão.

“O suicídio é compreendido enquanto um fato social e é amplamente estudado na Psicologia, justamente pela percepção de que esta é uma forma da sociedade imprimir no indivíduo processos coercitivos bastante agressivos”, explica a professora, que é uma das responsáveis pela pesquisa. Ela acrescenta que a compreensão das especificidades deste fato social, aplicado ao campo das lesbianidades, nos levando assim ao aprofundamento das condições de vida e de morte das lésbicas no Brasil.

A pesquisa tem ganhado visibilidade e despertado o interesse na comunidade lésbica, que têm buscado maior proteção e conscientização, por meio em organismos promotores dos direitos humanos e das políticas para LGBTI+. “Apesar de ser algo muito triste, a pesquisa se torna uma ferramenta de luta e de mobilização no combate a esse tipo de violência.”

“Lesbocídio – As histórias que ninguém conta” encontra-se em andamento e é desenvolvida pelo Núcleo de Inclusão Social (UFRJ) e pelo Nós: Dissidências Feministas (UFRJ). Saiba mais sobre a pesquisa em www.lesbocidio.com.