
Os desafios para a Psicologia Social frente às questões socioambientais marcaram os debates do primeiro dia de atividades do 23º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ENABRAPSO).
A cerimônia oficial de abertura, realizada na quinta-feira (4), contou com a presença da presidenta do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Alessandra Almeida, que destacou as conquistas recentes da autarquia, como o edital de patrocínio que viabilizou o apoio a eventos de grande relevância para a Psicologia, como o ENABRAPSO.
A presidenta compartilhou a experiência de entrega de prêmios da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), classificando o momento como um dos mais marcantes de sua trajetória. Ao refletir sobre os desafios enfrentados pela categoria, a presidenta do CFP ressaltou a coragem como elemento central da prática psicológica: “A Psicologia da coragem, que é a Psicologia das insistências”.
Alessandra Almeida pontuou também o caráter político e simbólico da presença feminina na mesa de abertura, bem como em ambientes acadêmicos e institucionais, especialmente em contextos de resistência e construção coletiva. “Em um país que mata mulheres como se fôssemos nada, uma mesa feita por mulheres num evento potente desse não é um mero acaso”, destacou.
Realizado pela primeira vez na região Norte, em Manaus/AM, a presidenta da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), Iolete Ribeiro, ressaltou o simbolismo de reunir o evento no território pan-amazônico, definido não pelas fronteiras coloniais, mas pelos povos originários que o constituem há milênios. Em sua fala, denunciou a histórica marginalização das populações amazônicas e os atuais ataques à soberania dos povos da floresta, provocados pela exploração predatória dos recursos naturais. “Aqui se dão as novas tensões que deitam raízes em velhas intenções”, afirmou, ao criticar a transformação da Amazônia em mercadoria e lucro.
Iolete também reforçou o papel da Psicologia Social como ferramenta de resistência e transformação diante da destruição de diversas formas de vida. Ao abordar os impactos da do contexto socioambiental na saúde mental da população, ela defendeu a valorização dos saberes dos povos tradicionais e a construção de alianças com movimentos populares. “Nós somos o começo, o meio e o começo”, declarou, evocando a potência dos povos periféricos e originários como sujeitos da mudança.
CFP no 23º ENABRAPSO
O 23º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social registrou 1.928 pessoas inscritas vindas de todos os estados do Brasil e de outros seis países, 73 minicursos aprovados, 12 simpósios, 58 grupos de trabalho, 755 comunicações orais, 121 apresentações de pôster e 48 lançamentos de livros, além de nove atividades vivenciais.
No primeiro dia do Encontro, conselheiras e conselheiros do CFP participaram de uma série de diálogos, debatendo questões relacionadas ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS), à campanha “Descolonizar corpos e territórios: reconstruindo existências–Brasis”, das Comissões de Direitos Humanos (CDH) do Sistema Conselhos de Psicologia; a direitos sexuais e direitos reprodutivos; ao atendimento às mulheres em situação de violência; e à desinstitucionalização de hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico.
Abordaram ainda aspectos da Psicologia no cuidado à população LGBTQIA+; na atuação com pessoas em situação de rua e públicos vulnerabilizados; nas políticas públicas de segurança; e a Psicologia junto a povos quilombolas.
Mostra RAPS
O primeiro dia de atividades do Encontro da Abrapso foi marcado também pela cerimônia de premiação das práticas vencedoras da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
Com o tema “A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje, sempre!”, a Mostra integra campanha nacional realizada pelo CFP, por meio do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). A iniciativa contou com 178 práticas inscritas em todas as unidades federativas, das quais 27 chegaram à etapa nacional após seleção dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs). As sete práticas vencedoras e as três expressões artísticas mais votadas foram escolhidas por sua relevância, inovação e impacto.