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Entrevistados analisam avanços e desafios na Saúde Mental

Quais são os principais avanços, gargalos e desafios da Saúde Mental no Brasil? Até que ponto a Reforma Psiquiátrica avançou? Esses pontos são tema de entrevistas com o professor e pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Ficoruz) Paulo Amarante e o diretor da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) Leonardo Pinho.

Eles falaram ao portal do Conselho Federal de Psicologia (CFP) sobre os 15 anos da Lei 10.216, medicalização, orçamento da Saúde, redução de danos, comunidades terapêuticas e a visão da sociedade a respeito da loucura. Ambos destacaram a necessidade de manter a articulação em torno de uma visão progressista em relação aos transtornos mentais e ao uso de álcool e drogas. (Leia também posicionamento do XVII Plenário da autarquia sobre a campanha Janeiro Branco).

Um dos líderes do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental (Laps), Amarante vincula seu ponto de vista à defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Avalia ter havido grande avanço em relação à era dos chamados “depósitos de loucos”, mas defende que não basta fechar os manicômios – é necessário levar adiante uma transformação cultural. “A Reforma Psiquiátrica não é uma reformulação de modelo de serviços assistenciais”, comenta. “O fechamento de um modelo arcaico, asilar, para um mais territorial é muito importante, mas não é só isso. O Sergio Arouca falava em ‘processo civilizatório’, e eu, em ‘processo social complexo’. Algo que não se resolve só à base de portarias de ministros, normas.”

Rede

Nessa década e meia, os hospitais psiquiátricos seguem sendo, gradativamente, substituídos pela Rede de Atenção Psicossocial (Raps, oficialmente instituída em 2011). O Ministério da Saúde (MS) oferece incentivos financeiros para manutenção e ampliação das redes municipais e estaduais, como construção de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) – cujo número cresceu de 295 para 2.340 no país –, Serviços de Residência Terapêutica (SRTs) e abertura de leitos de saúde mental em hospitais gerais.

Entre serviços, ações e investimentos (incluindo obras, programas de prevenção e cursos para profissionais), o governo federal informa ter gasto R$ 1,3 bilhão na área em 2015. O financiamento dessa rede, como do SUS de modo geral, é compartilhado com estados e municípios.

Os principais atendimentos são realizados nos Caps, em que o usuário recebe atendimento perto da família e de seu território, assistência multiprofissional e cuidado terapêutico. Nesses locais também há (ou deve haver) possibilidade de acolhimento noturno e/ou cuidado contínuo em situações mais complexas.

Segundo o MS, o número de leitos em hospitais psiquiátricos baixou de 51.393, em 2002, para 25.126, em 2015. A redução começou antes – em 1991, eram 85.037.

“Encapsulamento”

Para Paulo Amarante, que também é ex-presidente e hoje presidente de honra da Abrasme, na constituição dessa rede há uma centralização excessiva nos Caps e em sua quantidade – ele usa o termo “encapsulamento” – e na lógica medicalizante, em detrimento da emancipação dos usuários.

“Há práticas muito boas, mas em geral falta apoio a iniciativas culturais e de geração de renda, falta inserção na dinâmica que a cidade oferece. Em muitos desses locais há psiquiatras que são praticamente prescritores de medicamentos”, diz. Ele observa que a porta de entrada está muito associada a um diagnóstico. “Temos que retomar a dimensão estratégica desses Centros”, resume.

O entrevistado identifica a medicalização – em sentido amplo, conforme abordada por Michel Foucault e Ivan Illich – como um componente importante da nossa sociedade hoje. “É tornar em saúde/doença aquilo que é da ordem da vida cotidiana, social. Apropriar-se de algo dando uma racionalidade predominantemente médica, sanitária, patológica etc.” Ele exemplifica: as pessoas comem banana não porque gostam, mas pensando nas vitaminas e no potássio, caminham para aumentar o nível de HDL (“colesterol bom”). “Nada mais passa por razões afetivas, espirituais”, observa. A seu ver, tal conduta não se restringe ao campo da Medicina – acontece na Psicologia, na Terapia Ocupacional, na Nutrição, na Educação Física.

Segundo o pesquisador, a indústria farmacêutica captou isso inicialmente no campo dos transtornos mentais. “Eles conseguiram criar uma falsa teoria de que esses transtornos são consequência de alterações bioquímicas no cérebro, e aí começou-se a inverter: ‘As pessoas têm depressão por que têm serotonina em níveis diferenciados, isso e aquilo’.” O site Mad in Brasil, do qual ele é um dos fundadores, apresenta essa discussão a profissionais de saúde e ao público em geral.

Ruptura

Leonardo Pinho, da Abrasme, analisa que a correlação de forças ficou menos favorável no período recente. “Isso está bem claro desde a nomeação do Valencius (Wurch) como coordenador nacional de Saúde Mental, que quebrou a sequência de gestões públicas comprometidas com a Reforma Psiquiátrica de cunho comunitário”, diz.

Ele pondera que a ruptura proporcionou, por outro lado, um efeito benéfico: gerou intensa mobilização social em torno da causa antimanicomial, uma movimentação que culminou na Ocupa Valencius, ocupação da área em prédio do Ministério da Saúde. O cientista social lembra que tal coordenação do MS está vaga desde a saída do psiquiatra.

Entre os desafios no futuro próximo, Pinho destaca a retomada do ritmo de credenciamento de Caps pelo Ministério. “O represamento no ano passado deixou centenas de unidades na fila”, afirma. Ele também cita como um problema grave a nova regulamentação que classificou as comunidades terapêuticas como estabelecimentos de saúde – e habilitou-as, assim, a disputar recursos destinados à área. “Elas estão buscando verba de três ministérios.”

“No caso da Saúde, sabemos que é um orçamento que precisaria ser ampliado e que, em função da aprovação da PEC 55 (agora Emenda à Constituição 95), vai ser espremido”, acrescenta. “Assim, independentemente de eu ser contra a metodologia dessas instituições – e eu sou –, é uma violência institucional, neste momento, repassar dinheiro público para equipamentos privados.” Ele ressalta a dificuldade de manter e fortalecer o SUS e a Raps em face da limitação para os gastos públicos pelos próximos 20 anos.

Higienismo

O cientista social alerta para o contexto de retrocesso na política de álcool e drogas: “Há uma volta à discussão da abstinência, da internação compulsória, e ao higienismo, em detrimento de uma política baseada em redução de danos e intersetorialidade com as áreas de Trabalho, Educação, Cultura”.

Ele critica a desconstrução (sinalizada) de experiências que considera referências nacionais, a exemplo do projeto Intervidas, de Curitiba, e do programa De Braços Abertos, de São Paulo, em função das novas gestões municipais.

Para o diretor da Abrasme, o 3º Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental será um momento para fortalecer a mobilização da sociedade a fim de barrar os retrocessos e ameaças. O evento, marcado para junho em Florianópolis, está aberto a inscrições.

Nova gestão destaca compromisso social, diversidade e unidade como linhas-mestras

Compromisso com as demandas sociais e a construção da igualdade, respeito à diversidade de pensamento e articulação com as instituições do próprio campo e de outros. Essas foram as linhas-mestras sinalizadas pela Diretoria Executiva do Conselho Federal de Psicologia (CFP) no evento que lançou publicamente a nova gestão, neste sábado (21), em Brasília.


O presidente da autarquia, Rogério Giannini, a vice, Ana Sandra Fernandes, o secretário-geral, Pedro Paulo Bicalho, e a tesoureira, Norma Cosmo, apresentaram o XVII plenário e suas prioridades no seminário “A Psicologia na Construção de Novos Possíveis”. A mesa, com transmissão ao vivo, foi precedida por debate entre o ex-ministro da Justiça e subprocurador-geral da República Eugênio Aragão e as psicólogas e professoras Ana Bock, do Instituto Silvia Lane e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e Maria Cláudia Oliveira, da Universidade de Brasília (UnB) e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação (Anpepp/FENPB). (O CFP publicará matéria à parte sobre a discussão.)

Fernandes destacou a presença de todos os 23 Conselhos Regionais de Psicologia no seminário e afirmou que a luta por uma Psicologia atenta e comprometida com todos os “Brasis”, como pedido na mesa de abertura, não é apenas da autarquia federal, mas do Sistema Conselhos como um todo. “Esse sentido de unidade é muito importante. Ou estaremos juntos ou não chegaremos, porque estamos no mesmo barco”, disse.

Fernandes ressaltou a importância de preservar a diversidade de pensamento, mas frisou que “o projeto que nos une é muito maior, e juntos somos mais fortes”.

Mote

Em sua participação, Bicalho explicou a escolha do mote do seminário, inspirada em construção do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) que remetia à obra do conterrâneo Michel Foucault (1926-1984). “Todos nós precisamos de novos possíveis para não sufocarmos”, ponderou, referindo-se ao momento político-social do Brasil.

O conselheiro observou que a palavra “redes” atravessou as falas das duas convidadas e do convidado na mesa de abertura. “Em vez de usar as redes para golpes, podemos usá-las para diálogos”, disse. Bicalho também anunciou que o novo plenário decidiu pela refiliação do CFP à União Latino-americana de Entidades de Psicologia (Ulapsi).

Norma Cosmo agradeceu o comparecimento de todos os Regionais e frisou que os próximos anos serão de um trabalho “a muitas mãos”. Mencionou também todas as psicólogas e psicólogos, a direção e os funcionários do Conselho. “A confiança de vocês será fundamental para esses novos cenários, novas trajetórias, novos desafios”, declarou a conselheira.

Ao encerrar o evento, Giannini contou estar contente com “várias coisas que aconteceram aqui”. “A primeira plenária (realizada ontem e hoje) me encheu de esperanças. Foi revigorante, impressionantemente inspiradora”, disse.

O novo presidente observou a presença de atores de fora da Psicologia no evento. “A relação com a sociedade é um marco do CFP desde os anos 1990, 2000”, pontuou.

 

Nem uma a menos

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) manifesta publicamente sua profunda consternação diante do episódio de feminicídio ocorrido na madrugada do dia 1º de janeiro, em Campinas (SP).

A chacina, cometida por um homem contra 12 pessoas – entre elas, nove mulheres –, foi motivada por misoginia e intolerância e reflete a escalada conservadora à qual assiste a sociedade brasileira, que amplia a violência em geral e, com mais ênfase, a violência contra as mulheres e as chamadas minorias.

Em carta (ampla e levianamente divulgada por parte da nossa imprensa), o autor dos disparos atribui à ex-esposa, às mulheres, ao feminismo e às leis criadas ao longo dos últimos anos contra o feminicídio a brutalidade que cometeu.

A violência do patriarcado e a banalização da misoginia são práticas sociais e institucionais introjetadas em nossa cultura. Os casos de violência contra a mulher violam os direitos humanos e são um problema de saúde pública, que deve ser enfrentado por toda a rede de saúde e serviços de garantia de direitos.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde e do Mapa da Violência no Brasil, o país configura-se em quinta posição entre aqueles com maior incidência de assassinatos de mulheres.

Nesse sentido, o CFP elaborou, após consulta e contribuição dos conselhos regionais, uma nota técnica de orientação profissional para quebra de sigilo em casos de risco de feminicídio, que orienta a realização da comunicação externa (denúncia) se a vida da mulher – ou a de seus filhos, ou de pessoas próximas – estiver seriamente ameaçada.

Ao mesmo tempo que nos solidarizamos com familiares e amigas(os), reforçamos a urgência em obstar o desmonte de políticas de combate à violência contra a mulher por parte do atual governo e seguir lutando por projetos integrados, que envolvam práticas de saúde, de assistência, de justiça e de educação não sexistas.

Tragédia anunciada

O massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), segunda rebelião mais letal da história do sistema prisional brasileiro, que resultou na morte de 56 detentos nesta segunda-feira (2), prenuncia que 2017 demandará lutas ainda mais amplas e articuladas no que se refere à garantia de direitos em nosso país.

No início de 2016, o relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura sobre a situação de quatro unidades prisionais no Amazonas (entre elas, o Compaj, em Manaus) já alertava para a possibilidade de eclosão de rebeliões no local, ocasionadas tanto pela incompreensão e inação de seus gestores ante a realidade das disputas entre as facções envolvidas quanto pelas condições às quais são submetidas as pessoas privadas de liberdade naquela unidade.

O presídio – administrado por uma empresa privada desde 2014 – tem capacidade para abrigar 454 detentos, mas encerrava 1.229 pessoas no momento do conflito, três vezes mais que sua capacidade original. Durante a visita da comissão, havia 153 funcionários trabalhando no local, quando o contrato firmado exigia 250.

Se o sistema prisional, per se, cumpre o papel central de isolar e neutralizar no lugar de integrar, em condições insalubres como a de superpopulação as consequências físicas e psicológicas podem ser ainda mais devastadoras, assim como a distância do presídio em relação à cidade pode comprometer a manutenção de laços afetivos durante a privação de liberdade. Ainda, a ausência de profissionais capacitados e comprometidos, como psicólogas e psicólogos, também contribui para a despotencialização subjetiva e a desagregação.

Os atores e o script da tragédia seguem os mesmos: jovens, do sexo masculino, negros ou com traços indígenas, oriundos de regiões periféricas das cidades e anteriormente vulnerabilizados econômica e socialmente são encarcerados, revelando o esgotamento do modelo punitivista de um Estado que diferencia (e dicotomiza) humanos de não humanos e que opera hegemonicamente pela lógica de “guerra às drogas”.

A mídia hegemônica, nesse processo, em vez de atuar como fiscalizadora do Estado, mantém-se comprometida com a espetacularização da barbárie, cumprindo, como afirma o professor Luís Antonio Baptista, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, o papel de “amoladora da faca” que faz recrudescer a violência contra a condição humana, amplificar as subjetividades violentas e nos afastar, a cada dia, dos valores democráticos.

Essa amplificação das práticas punitivas supera os muros do cárcere, a exemplo do recente e brutal assassinato do ambulante Luiz Carlos Ruas, em São Paulo.

Por isso, mais uma vez, afirmamos o compromisso da Psicologia com o respeito e a promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, e a urgência do rompimento com o processo progressivo de encarceramento e com os ciclos individuais e coletivos de prisão – soltura – reaprisionamento. Seguiremos comprometidos com a construção de referências para a atuação da profissão nas diferentes políticas públicas, inclusive no sistema prisional, como na publicação “Diretrizes para a atuação e formação dos psicólogos no sistema prisional”, e exigindo do Estado brasileiro sua responsabilização diante dessa tragédia anunciada.

CFP é reeleito para Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) foi reconduzido à composição do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). No biênio 2017-2018, a autarquia será representada pela conselheira Iolete Ribeiro.

Ela recebeu 37 votos para integrar o conjunto de representantes da sociedade civil no eixo 3 do Conanda, em que será a primeira das (os) oito suplentes. O eixo abrange entidades que atuam em promoção, proteção, defesa e controle social dos direitos da criança e do adolescente nas temáticas de saúde, educação, assistência social, esporte, lazer, trabalho, justiça e segurança pública. É composto, também, por aquelas com trabalho voltado às crianças e adolescentes em acolhimento, em cumprimento ou egressas de medidas socioeducativas.

Ribeiro aponta como prioridade a garantia dos direitos já conquistados pelas crianças e adolescentes. “É um cenário político complicado, com perspectiva de retirada de direitos, então vamos lutar com esse conjunto de entidades para que haja pelo menos a manutenção daqueles previstos hoje”, diz.

Ela defende a inclusão das (os) adolescentes entre as (os) segmentos com representantes no colegiado. “Vimos recentemente os jovens lutando por direitos, mobilizando-se. Seria interessante regulamentar a participação deles no Conanda”, observa.

O Conselho Nacional é um órgão permanente de caráter deliberativo e composição paritária, previsto no artigo 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/90).

Nova composição do CFP toma posse

O 17º Plenário do Conselho Federal de Psicologia (CFP) tomou posse neste sábado (17). A cerimônia ocorreu no primeiro dia da Assembleia de Políticas, de Administração e das Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia (Apaf), que é transmitida online e se encerra neste domingo (18).

A solenidade deu posse à chapa “Cuidar da Profissão: avançar a Psicologia com ética e cidadania”, que venceu o último pleito nacional e vai gerir o CFP no período 2016-2019. O presidente da nova composição, Rogério Giannini, recebeu o cargo de presidente do antecessor, Rogério Oliveira.

Para o novo gestor, a Psicologia sofreu uma transformação histórica nos últimos anos, tornando-se uma profissão reconhecida e protagonista de diversas políticas públicas. “Neste momento conjuntural do Brasil, de quebra institucional e de quebra do Estado democrático de direito, o preço disso vai ser cobrado da gente, seja no esforço de trabalhar para manter essas políticas, seja na defesa do psicólogo”, disse.

Em sua avaliação, as eleições mostraram a capacidade da Psicologia de incorporar diversas formas de pensamento, “mas certamente a gente vai se dispor a lutar pela continuidade das transformações da sociedade e da Psicologia, pelas quais a gente lutou tanto”.

Ele destacou os ganhos com o debate eleitoral: “Quem ganha é o processo democrático, com a diversidade das chapas se expressando, com um processo eleitoral que contou com uso de tecnologia, tão importante para o processo de participação”.

Agradecimento

O ex-presidente, Rogério Oliveira, agradeceu a colaboração de todas e todos e fez um pequeno balanço da contribuição da gestão do 16º Plenário, que procurou trabalhar com duas grandes agendas, a do exercício profissional e a da Psicologia na sociedade.

“Nós acreditamos que a próxima gestão vai dar continuidade a uma série de questões inovadoras que nós trouxemos, mas também implementará aquilo que eles consideram que seja a marca da gestão deles. Isso é, acima de tudo, o direito e o dever de quem assume uma entidade como o CFP”, pontuou.

Assista às discussões e decisões do dia final da Apaf:  http://bit.ly/2i2EpnR

Confira, na íntegra, as atividades de ontem: http://bit.ly/2hc6LMr

CFP lamenta perda de Antonio Lancetti

Justo quando está sob ameaça ao lado de outras pautas progressistas, a luta antimanicomial brasileira perde mais um valoroso combatente, o psicanalista Antonio Lancetti.

Argentino radicado no Brasil desde que se exilou da ditadura sanguinária de Videla, ele era um “encontro de rios” entre a teoria psicanalítica, a militância, o fazer profissional e as políticas públicas em Saúde Mental. Colocou em prática inovações como a distribuição de seringas a dependentes para redução de danos, a proibição da violência em instituições psiquiátricas e o oferecimento de um “um pacote de direitos” a dependentes de crack, além de formar quadros.

Responsável pela coleção SaúdeLoucura e autor do livro “Clínica peripatética”, Lancetti definiu que a psicanálise fora do espaço tradicional exige “formação, capacidade de escuta, alto grau de plasticidade” – e contato permanente com a literatura e a filosofia. Ele comparava a (o) psicanalista a uma pilha que tem no contato com o outro – o paciente – a oportunidade mais preciosa de se recarregar. Outra construção afiada é o conceito de “contrafissura”, a postura proibicionista, persecutória e salvacionista da guerra às drogas.

Em falas recentes, criticou duramente o atual “capitalismo idiotizante”, o ódio e o ressentimento sociais e o senso comum sobre corrupção. Defendeu, ainda, a continuidade do programa paulistano De Braços Abertos, baseado na cidadania e respaldado pelos resultados e pela opinião da população.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) lamenta profundamente a morte de Antonio Lancetti e se solidariza com sua família e seus amigos. Reafirma, também, o compromisso com as bandeiras que ele defendeu.

CFP lamenta perda de D. Paulo Evaristo Arns

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) recebeu com consternação a notícia da morte do cardeal D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo – o “amigo do povo”, como disse que gostaria de ser lembrado, ou o “Cardeal dos Direitos Humanos”, como também ficou conhecido.

Desde o início, a atuação pastoral de D. Paulo foi voltada às e aos mais pobres e vulneráveis, com ênfase na presença ativa e horizontal da Igreja nas comunidades.

Durante os “anos de chumbo”, lutou com tenacidade pelo fim da tortura, pela libertação dos presos políticos e pelo restabelecimento da democracia. Foi fundamental sua atuação como figura pública e como interlocutor das entidades civis – e até de forma clandestina, no projeto Brasil: Nunca Mais, focado em preservar a memória dos crimes da ditadura e evitar o desaparecimento de documentos durante a redemocratização.

O Brasil perde muito com sua partida e tem sua trajetória como espelho para seguir nas inevitáveis lutas deste momento histórico.

Minicurso no DF aborda Psicologia e relações étnico-raciais no Brasil

A história da Psicologia na compreensão das relações étnico-raciais no Brasil, os efeitos psicossociais do racismo e uma “intervenção psicossocial” por meio de uma dinâmica de grupo que busque desenvolver um compromisso político com o sofrimento de quem é oprimido. Esses foram três aspectos abordados pelo professor Alessandro de Oliveira dos Santos durante minicurso de três dias em Brasília.

A atividade foi promovida de quarta-feira (7) a sexta (9) pela Comissão Especial de Psicologia e Diversidade Étnico-Racial do Conselho Regional de Psicologia da 1° Região (CRP-01 – DF) e pela Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) – (Anpsinep) Núcleo DF.

Santos, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), avalia que a Psicologia tem um papel decisivo na produção étnico-racial do Brasil, mas destaca que ainda falta aos profissionais da área um “letramento” nesse sentido.

“Nós somos pouco alfabetizados em discutir o tema das relações étnico-raciais. Eu acredito que para tratarmos dessas questões precisamos investir em um ‘letramento étnico-racial’, ou seja, a criação de uma linguagem para podermos falar sobre esse tema sem gerar conflito e favorecendo a compreensão”, analisa o docente.

Ele aponta que essa lacuna, é muitas vezes, deixada pelas instituições de ensino, que não abordam o tema durante a formação dos profissionais. Mas ressalta o protagonismo do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e do Sistema Conselhos de Psicologia nessa discussão,  com ações como a publicação da Resolução 18/2002, que determina normas de atuação das (os) profissionais em relação ao preconceito e a discriminação racial.

“Os Conselhos de Medicina e Enfermagem, por exemplo, não têm nenhuma resolução que trate desse tema”, compara. “No que se trata de orientação, o Sistema Conselhos está oferecendo uma verdadeira formação de temas que seriam interessantes para a universidade trabalhar. A Psicologia Social no Brasil se funda no estudo das relações étnico-raciais, isso está na história.”

Visibilidade

A presidente do CRP-01 – DF, Vanuza Sales, lembrou a importância do minicurso como forma de dar visibilidade à Resolução e debater os efeitos do racismo, além de ser uma ação que está sendo seguida por outros Conselhos Regionais (CRs).

“Queremos possibilitar aos profissionais que eles estejam instrumentalizados para o cotidiano do seu trabalho, para quando receberem essas demandas saberem como lidar com elas”, explica.

No dia a dia, a psicóloga Agnes Rodrigues de Oliveira, do Distrito Federal, conta que já viveu os dois lados do racismo. O preconceito sofrido por ela, por parte dos pacientes, e também ao ouvir relatos de pacientes que foram vítimas de discriminação racial.

“Por eu ser negra, acredito que tenho uma maior facilidade de criar uma empatia com o paciente para identificar esse problema. Mas o discurso no Brasil é de que o racismo não existe, e em grande parte é um discurso de quem não vive esse problema. Para sensibilizar essas pessoas, precisamos fazer o debate das questões raciais, não somente de nós para nós, mas com toda a sociedade”, pontua.

Perfil

A Anpsinep no DF trabalha desde sua criação, em setembro, para finalizar um levantamento das (os) psicólogas (os) que atuam no Distrito Federal. O coordenador do Núcleo, Igo Gabriel Ribeiro, diz que o estudo local auxiliará a suprir essa lacuna deixada pelos currículos nas universidades.

Levantamento feito pelo CFP em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado em agosto de 2016, mostra que 16,05% das (os) psicólogas (os) no Brasil são negras (os).

Acesse a edição 36.4 da revista Psicologia: Ciência e Profissão

A edição 36.4 da revista Psicologia: Ciência e Profissão (PCP) acaba de ser publicada na plataforma SciELO e, nos próximos dias, será distribuída a universidades e faculdades com cursos de Psicologia.

Leia os artigos da edição atual

Desde o ano passado, a PCP passa por adaptação às novas exigências da base de dados da SciELO, definidas em novembro de 2014, a fim de que mantenha sua classificação como Qualis A2 de produção científica e chegue ao selo Qualis A1 de excelência. O editor, o conselheiro Roberto Cruz, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), faz uma avaliação deste período à frente da publicação, desde março de 2015 (leia abaixo).

As alterações se referem ao processo de editoração online, com automatização de procedimentos em diferentes formatos, dispositivos eletrônicos e de verificação de elementos textuais/bibliográficos, critérios mínimos de participação de editores associados, revisores e autores estrangeiros, além do estabelecimento de quantidade mínima de artigos a publicar anualmente, em português e inglês. Desde a edição de março de 2016, o periódico tem novo visual.

Balanço da gestão

Roberto Cruz aponta as dificuldades que a publicação teve no início de sua gestão. “A revista passava por algumas dificuldades com herança de problemas que esta gestão do CFP, quando assumiu, encontrou em relação ao processo de editoração, no processo de organização do fluxo editorial propriamente dito, do acúmulo de materiais e artigos”, comenta. “Havia números atrasados da revista. Havia um passivo de material a ser publicado, havia um certo descompasso no processo de editoração e de produtividade da revista. O produto final da revista não refletia a agilidade que ela poderia ter em relação a uma outra revista científica no Brasil.”

As mudanças realizadas passaram por redução do prazo para submissão, avaliação e aprovação dos artigos, organização dos fluxos do processo de editoração da revista e capacitação técnica da equipe, hoje formada por dois analistas (Psicologia e Editoração), dois técnicos administrativos e uma estagiária.

Além dessas modificações, neste ano, o periódico passou por uma reformulação no projeto gráfico, foi inserido nas bases de dados internacionais (Web of Science) e ganhou maior divulgação no site e nos demais canais de comunicação do CFP. “Essas mudanças foram bastante elogiadas por várias instituições ligadas à Psicologia, assim como a própria comunidade acadêmica, recolocando a Psicologia: Ciência e Profissão no cenário nacional, e, principalmente, buscando a internacionalização”, ressalta Roberto Cruz.

Um artigo por semana

Com o objetivo de integrar o periódico e deixá-lo mais acessível às (aos) psicólogas (os), estudantes de Psicologia e a toda a comunidade, o Conselho vem publicando os artigos acompanhados de entrevistas com seus autores. Atualmente, os textos com entrevistas publicadas são da edição 36.3. A Assessoria de Comunicação do CFP está contatando por e-mail, para divulgação, as autoras e os autores que tiveram artigos publicados na referida edição.

Sobre essa iniciativa, Roberto Cruz avalia que as capacitações realizadas com a equipe proporcionaram um contato desses servidores com parte do processo. “Quando assumimos a revista, buscamos sempre a organização, mas, principalmente, a motivação da equipe em buscar coisas novas, em conhecer mais o processo, que a revista não fosse apenas o editor, mas toda a equipe”, reforça.