Territórios quilombolas em Santarém são violados

Processos de reconhecimento de territórios quilombolas paralisados, precariedade das políticas públicas de educação e saúde e impacto da construção de porto na comunidade Pérola do Maicá foram as principais situações de violações de direitos humanos encontradas pelo grupo de trabalho “Direitos dos Povos e Comunidades Quilombolas”. A terceira missão do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) ocorreu entre 2 e 5 de outubro em comunidades quilombolas da região de Santarém, Oeste do Pará.

Reuniões foram promovidas para buscar soluções para os problemas identificados durante as visitas e relatados na audiência pública realizada em 4 de outubro, no Ministério Público Federal (MPF), em Santarém. “A audiência pública foi importante espaço de escuta dos quilombolas da área, o que contribui para o fortalecimento das comunidades e proporciona mais espaços de articulação entre elas”, destaca o conselheiro Paulo Maldos, coordenador da missão pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos. Maldos também integra o Conselho Federal de Psicologia.

A comitiva do CNDH participou de reuniões com lideranças locais e visitou as comunidades Patos do Ituqui, Saracura, Arapemã, Bom Jardim e Pérola do Maicá, principal comunidade atingida pela construção de um dos 26 portos previstos para serem edificados ao longo do Rio Tapajós.

A terceira missão do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) ocorreu entre 2 e 5 de outubro em comunidades quilombolas da região de Santarém, Oeste do Pará

A audiência contou com presença de quilombolas, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Prefeitura de Santarém, do MPF e do Ministério Público Estadual (MPE). “Dali mesmo surgiram muitos cruzamentos de iniciativas que devem propiciar avanços em algumas questões”, disse Maldos.

A Ufopa se comprometeu a elaborar relatórios antropológicos – necessários no processo de titulação de territórios –, e o MPF e MPE devem fazer o monitoramento das políticas públicas. Essas instituições se comprometeram em atuar, junto com a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), para resolver os problemas apontados durante a audiência.

Grupo de trabalho – Com o aumento de relatos e denúncias envolvendo a violação de direitos humanos em comunidades quilombolas, a Comissão Permanente do CNDH sobre os Direitos dos Povos Indígenas, dos Quilombolas, dos Povos e Comunidade Tradicionais, de Populações Afetadas por Grandes Empreendimentos e dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Envolvidos em Conflitos Fundiários decidiu criar um grupo de trabalho para verificar as situações de violações de direitos em territórios quilombolas e propor soluções às questões identificadas.

Com informações da Assessoria de Comunicação da CNDH

 

Missão em Território Quilombola de Alcântara investiga violações de direitos humanos

Audiência pública, nesta quinta-feira (31), na Comunidade Quilombola Mamona, no Maranhão, vai reunir representantes do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), moradores do território e autoridades locais, estaduais e federais. A audiência encerrará visita do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) ao Território Quilombola de Alcântara, no Maranhão. A missão coordenada pelo psicólogo Paulo Maldos – integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP) – pretende verificar violações de direitos humanos em territórios quilombolas e propor soluções aos problemas detectados.

Território Quilombola de Alcântara abrange mais de 150 comunidades

A tensão na região de Alcântara, onde existem mais de 150 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares, começou no início dos anos 1980, quando as primeiras terras foram cedidas para a abertura do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), base de lançamento de foguetes da Aeronáutica. Em maio de 2017, o Governo brasileiro sinalizou intenção de retomar plano de ampliação da base, com possibilidade de utilização de terras quilombolas e deslocamentos compulsórios. Caso ocorram novos deslocamentos sem consulta às comunidades, o Brasil repetirá violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura civil militar.

A missão coordenada pelo CNDH inclui reunião com lideranças quilombolas e organizações que atuam na comunidade, além de visita à agrovila Maruda e aos quilombos de Mamona, Baracatatiua, Canelatiua, Santa Maria, Brito, Samucangaua, Iririzal e Ladeira.

De acordo com Paulo Maldos, o território de Alcântara é alvo, há mais de três décadas, de deslocamentos e graves violações de direitos humanos promovidas pelo próprio Estado. “É caso emblemático de tensionamento com o Estado brasileiro”, por conta da construção da base de lançamento de foguetes de Alcântara pela Aeronáutica. Maldos acredita que a missão poderá interferir positivamente na salvaguarda dos direitos humanos das comunidades quilombolas da região.

Aeronáutica não cumpriu acordo com quilombolas

De acordo com relatório da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (Fetaema), nos primeiros anos, muitas denúncias foram feitas sobre o descumprimento, pela Aeronáutica, de acordo firmado em 1983 com os quilombolas, que incluía indenizações e reparo de danos sociais, culturais, políticos e econômicos provocados pela abertura da base. Sérvulo Borges, representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) na região, diz que “ações acordadas para amenizar o impacto negativo da transferência não foram feitas e as que ocorreram depois não foram elaboradas com a comunidade”.

Entre 1986 e 1989, 312 famílias de 32 comunidades foram deslocadas para agrovilas em situações que dificultaram a sobrevivência. Além da terra de má qualidade, Borges destaca que os quilombolas ficaram sem local para pesca, pois os rios e a praia ficaram distantes e o acesso aos recursos naturais, que garantiam o extrativismo, passou a ser limitado ou mesmo proibido pelo centro de lançamento.

Programação da Missão a Alcântara/MA
29 de agosto de 2017 – Terça-feira
14h – Reunião com lideranças quilombolas e organizações da sociedade civil que atuam na comunidade
Local: Igreja Evangélica da Agrovila Maruda

17h – Visita à Agrovila Maruda

30 de agosto de 2017 – Quarta-feira
8h – Visita às comunidades Mamona, Baracatatiuia, Samucangaia e Brito
14h – Visita às comunidades Canelatiua, Iririzal, Ladeira e Santa Maria

31 de agosto de 2017 – Quinta-feira
8h – Audiência Pública
Local: Comunidade Quilombola Mamona

Com informações da Assessoria de Comunicação do CNDH