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15/04/2016 - 15:18

Conbipe discute cognição no futebol e preparação de atletas

Seguem, em Belo Horizonte, o IX Congresso Internacional e o XVI Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte e do Exercício

Conbipe discute cognição no futebol e preparação de atletas

O primeiro dia do IX Congresso Internacional e do XVI Congresso Brasileiro de Psicologia do Esporte e do Exercício (Conbipe) deu prosseguimento na tarde desta quinta-feira com discussões sobre cognição e futebol e sobre personalidade de atletas brasileiros, além de um workshop sobre a preparação de atletas e treinadores para as grandes competições. No início da noite, nove salas foram disponibilizadas para debates de temas livres.

A primeira mesa da tarde desta quinta-feira (14), sobre cognição, reuniu os professores Varley Teoldo da Costa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Israel Teoldo da Costa, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Alcides Scaglia, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Varley Teoldo da Costa tratou sobre Neuropiscologia aplicada ao futebol. Ele abordou os modelos das funções executivas nas habilidades cognitivas e suas características. Destacou pesquisas segundo as quais há diferença nas capacidades cognitivas entre experts e não experts, mostrando vídeos de experimentos com profissionais e amadores do golfe e do futebol, citando o norte-americano Tiger Woods (golfe) e o brasileiro Neymar. Esses profissionais usam uma menor área do cérebro para o desenvolvimento de suas habilidades.

O pesquisador também apresentou projetos do Laboratório de Psicologia do Esporte da UFMG, entre eles Avaliação das Funções Executivas no Futebol Sub-20 e Funções Executivas no Futebol. Costa contou que esse último, realizado com 54 atletas de clubes de melhor estrutura e 50 atletas de clubes pequenos de Minas Gerais, verificou diferença significativas em aspectos como memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e processo de informações. Ele alertou que precisa haver um recorte para os clubes das demais regiões do país, embora ele diga que esses métodos são respaldados em outras pesquisas.

Ao final, avaliou que o psicólogo do Esporte no futebol brasileiro enfrenta obstáculos em níveis educacionais, capacidades comportamentais, físicas, metodologia de treino, capacidade técnica, capacidade tática.

Avaliações

Israel Teoldo da Costa discorreu sobre fatores que influenciam a formação de jogadores inteligentes e criativos. Em sua fala, o professor da UFV falou sobre a avaliação dos aspectos táticos e cognitivos no futebol. Ele fez uma analogia entre corpo e mente humanos e as partes física (hardware) e lógica (software) de uma máquina. Criticou a tradicional ênfase na parte física. “Por que estamos preocupados somente com hardware? Não é a quantidade de treino e força, mas a forma como você aplica. Aí entramos na questão do software”, disse.

O pesquisador da UFV lembrou defendeu que a liberdade e a criatividade devem obedecer a um mínimo de regras de ação e princípios de ação de jogo. “Como se avalia? Sem avaliação o resultado pode ser muito falho. Influência tanto na parte física quanto na sobrecarga cognitiva”, disse. Ele fez, ainda, considerações sobre o Sistema de Avaliação Tática no futebol (FUT-SAT).

Scaglia, por sua vez, versou sobre o tema “Processo organizacional e sistêmico dos jogos: um estudo aplicado sobre futebol”. Na sua palestra, abordou o contexto da Pedagogia da Rua e sua trajetória nessa pesquisa.  Nesse sentido, ele apontou a diferenças do treino tradicional no futebol para outros e cursos de Educação Física, que, segundo disse, reproduzem modelos cartesianos. Para o professor da Unicamp, a busca de modelo deve ser em processos criativos e não de automação, como tradicionalmente era feito.

Ele discorreu, ainda, sobre a metodologia de ensino/treinamento do futebol pautado na Pedagogia do Jogo, o caso do Paulínia FC, clube paulista de futebol no qual trabalhou por cinco anos capacitando os profissionais e categorias de base.  Ao final, apresentou exemplo dos jogadores Gabriel Jesus (Palmeiras) e Fabinho (Mônaco), que fizeram parte da equipe sub-20 do Paulínia.

Personalidade

A segunda mesa da tarde teve como tema “Personalidade de Atletas Brasileiros”. Os debatedores foram a professora da Universidade de São Paulo (USP) Kátia Rúbio; a professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) Gislane Ferreira Melo, representante da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp); e a representante do Coletivo Ampliado em Psicologia do Esporte do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Luciana Ferreira Ângelo, também do Instituto Sedes Sapientae. A mediação do debate foi realizada pela presidente do CFP, Mariza Borges.

Em sua palestra sobre “Mulheres olímpicas”, Gislane Melo apresentou dados de pesquisa desenvolvida, bem como histórias de dificuldades e superações. Conforme contabilizou, 444 atletas brasileiras participaram dos Jogos Olímpicos de 1932 até 2012. Apesar de iniciarem em 1932, ela cita que é nos anos 1980 que cresce o número expressivo de mulheres nas Olimpíadas, diante do empoderamento, do intercâmbio e do aprimoramento dos treinos.

Examinando a distribuição geográfica das esportistas, Gislane comentou sobre o êxodo delas para grandes centros internacionais, processo que, pontuou, começa a ser estabilizado. Ela mencionou a condição das praticantes de ginástica e do hipismo que começam muito cedo e tem suas infâncias privadas pela alta carga de treinamento. Por outro lado, a pesquisadora mostrou uma surpresa positiva em relação à escolaridade das atletas. “Várias mulheres com mestrado, administração e marketing esportivo. Arquitetura esportiva. Cinquenta e quatro por cento do atletismo e 25% de futebol. Setenta e dois por cento do judô são formadas em Educação Física e trabalham com judô. Poucas abandonaram o esporte para serem mães”, reforçou.

“O Pós-atleta: oportunidade para o campo de trabalho” foi o tema explanado por Luciana Ângelo. Ela sublinhou que é um grande desafio, pois, segundo disse, muitos não se preparam para o futuro após o esporte, e, mesmo aqueles que o fazem, seguem para áreas correlatas. “Há poucos programas na categoria de base para que eles possam escolher ou não serem profissionais, bem como há pouco na transição dos profissionais e pouquíssimos tem área de orientação profissional”, observou.

A representante do Coletivo Ampliado (Psicologia do Esporte) destacou a utilização do life design com possibilidade de adaptabilidade (enfrentamento), narrabilidade (temas de vida, fiel a si mesmo) e postura ativa (planos e projetos). Ela informou ainda que o Comitê Olímpico Internacional (COI) orientou um programa de intervenção nos dez anos finais de atletas e o estímulo ao que eles gostam de fazer e metas reais. “Por isso a educação, e o auxílio incentivaria uma qualidade nessa formação”, complementou.

Kátia Rúbio falou sobre a busca da pesquisa pelos temas de Psicologia do Esporte e as razões para focar nos atletas olímpicos. A pesquisadora passou por aspectos de anamnese, história oral, história de vida e narrativas bibliográficas. Ela citou os vários recortes que fez sobre atletas olímpicos, entre as quais a explicação para termos mulheres medalhistas apenas a partir de 1996, apesar de a participação feminina brasileira remontar a 1932.

Outro ponto lembrado foi a importância da humanização da abordagem na pesquisa. A palestrante mostrou o caso de um atleta olímpico que foi pego no antidoping e desistiu da natação. Ela recordou todo o procedimento que fez com esse ex-profissional em sua pesquisa. Ao final, criticou o fato de o COB não chamar 600 atletas do país para carregarem a tocha olímpica antes dos Jogos do Rio de Janeiro, ressaltando o aspecto humano. “Ser psicólogo do Esporte é isso, estar contato com a vida das pessoas, mais do que contribuir com resultados, vitórias ou medalhas”, concluiu.

O encerramento se deu com o worshop internacional “Continuing Education Workshop: Preparing athletes and coaches for major competitions”, com apresentações e painel dos pesquisadores Ernest Hung (Taiwan), Alecandre Garcia-Mas (Espanha) e Thomas Schack (Alemanha).

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