Revista Psicologia Ciência e Profissão (PCP) publica primeiros artigos em 2023

Já estão disponíveis na plataforma da SciELO os três primeiros artigos de 2023 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão (PCP). 

Como característica de um periódico que aborda vários temas da Psicologia, os três primeiros artigos de 2023 da PCP tratam de questões diversas: Relações Raciais; Psicologia Escolar; e Psicologia do Organizacional e do Trabalho.

O artigo “A Subtração da Vida como Política de Morte: Vozes de Mães de Jovens Negros Assassinados”, de autoria das pesquisadoras Vivane Martins Cunha (UFMG) e Lisandra Espíndula Moreira (UFMG),  reconstroi, por meio de vozes de mães de jovens negros mortos em ações policiais, a subtração da vida de seus filhos em contínuas políticas de precarização de suas existências.

O texto “A Expressão da Subjetividade na Atuação em Psicologia Escolar”, escrito pelas psicólogas Francisca Bonfim e Maristela Rossato (ambas da UnB), analisa como a constituição subjetiva do psicólogo se expressa em sua atuação no contexto escolar.

Já o artigo “Correr Atrás do Vento: O Trabalho dos Mototaxistas de Sobral, Ceará” analisa a atividade e o ofício dos mototaxistas da cidade de Sobral, no Ceará, bem como busca compreender a atividade exercida e o conceito de real da atividade; as prescrições; as regras informais; e as relações profissionais. O texto é de autoria dos seguintes pesquisadores da Universidade Federal do Ceará: Ismênia Ariel Magalhães Feijão Pontes, Francisco Pablo Huascar Aragão Pinheiro, Nayana Rios Nunes da Silva, Natacha Oliveira Júlio, Cássio Adriano Braz de Aquino e Renata Guimarães de Carvalho.

A previsão é de que, até o final deste semestre, outros 47 textos sejam publicados pela Revista Psicologia: Ciência e Profissão. Em 2022, a PCP publicou um total de 95 artigos entre os quais, uma produção especial sobre os 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil. Além de 15 artigos para a edição especial, o periódico reuniu textos sobre temas como  Relações Raciais, Psicologia Política, Relatos de Experiência, Psicologia na Assistência Social, Psicologia Clínica e Avaliação Psicológica.

Sobre a PCP

Editada desde 1979 pelo Conselho Federal de Psicologia, a Revista Psicologia: Ciência e Profissão é uma publicação científica de excelência internacional, classificada com a nota A2 no sistema Qualis de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação.

A criação da Revista PCP se deu no ano das comemorações do centenário do laboratório de Wundt, na Alemanha – instituído oficialmente em 1879 e considerado o marco da Psicologia como saber científico. 

É nesta perspectiva de ciência enquanto ação política, que a PCP reúne artigos originais referentes à atuação profissional da(o) psicóloga(o), à pesquisa, ao ensino ou à reflexão crítica sobre a produção de conhecimento na área da Psicologia. Sua principal missão é contribuir para a formação profissional da(o) psicóloga(o) brasileira(o), bem como socializar o conhecimento produzido por aqueles que pesquisam e/ou atuam na área. 

Atualmente, a revista está indexada nas bases da SciELO; Lilacs (Bireme); Clase; Latinex; PsycINFO; Redalyc; Psicodoc e Google Scholar.

Saiba mais:

Leia os primeiros artigos de 2023 publicados pela revista PCP 

Leia os artigos de 2022 publicados pela revista PCP 

Saiba como publicar na revista PCP 

Leia toda a produção da PCP desde 1979

Revista Ciência e Profissão: Nova edição está disponível para leitura

A Revista Psicologia, Ciência e Profissão (PCP), edição 38.2, já está disponível na plataforma SciELO. Em breve, o periódico chegará às bibliotecas das universidades e faculdades de Psicologia de todo o Brasil. O compromisso da PCP é promover diálogos entre prática profissional, formação e pesquisa, de forma a contribuir para a produção de conhecimento em Psicologia e para o enfrentamento dos desafios impostos pela conjuntura política e econômica do país.

Nesta publicação, a editora da revista, Neuza Guareschi, explica no texto “Formação em Psicologia, Práticas Profissionais e Produção de Saberes” que 12, dos 14 artigos publicados nesta edição são relacionados ao tema da formação em Psicologia e da instrumentalização de técnicas e metodologias utilizadas nessa área, seja no campo das práticas profissionais ou no da produção de saberes. Segundo Guareschi, a intenção em abordar a formação com uma aproximação entre a Psicologia como campo de práticas profissionais e de produções de saberes é para pensar seus modos de se constituir como uma possibilidade de conhecimento para analisar as realidades nos diferentes contextos da sociedade em que está implicada.

Excelência – Editada desde 1979, a “Psicologia: Ciência e Profissão” é uma publicação científica de excelência internacional, classificada com a nota A2 no sistema Qualis de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. Atualmente, a revista está indexada nas bases da SciELO; Lilacs (Bireme); Clase; Latinex; PsycINFO; Redalyc; e Psicodoc.

Confira a edição 38.2 

Leia o editorial “Formação em Psicologia, Práticas Profissionais e Produção de Saberes”

Leia todas as edições da Revista Psicologia: Ciência e Profissão

Impactos do terremoto de 2010 em imigrantes haitianos

Quais os impactos psicológicos que um terremoto de grandes proporções causa na vida das pessoas? Por que emigram para outro país, após a tragédia? Essas indagações estão presentes no artigo “Reconstrução em movimento: impactos do terremoto de 2010 em imigrantes haitianos”, publicado na edição 38.1 da revista Psicologia: Ciência e Profissão.

O texto é de autoria das pesquisadoras Allyne Fernandes Oliveira Barros e Lucienne Martins-Borges, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O CFP publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

Impactos – Segundo as autoras, a dificuldade do país em responder ao ocorrido, que agravou a situação precária da maioria de sua população, levou muitos haitianos a emigrarem, principalmente para o Brasil. O processo migratório, principalmente nas migrações involuntárias, implica diversas mudanças e pode levar o sujeito a um estado de vulnerabilidade psíquica, pois muito daquilo que o orientava em sua existência é ameaçado pelo contato com diferentes culturas.

As pesquisadoras esclarecem que o objetivo do artigo foi analisar quais os impactos psicológicos do terremoto, que, além de levar a experiência do imprevisível, foi seguido de uma migração necessária para a continuidade e a reconstrução da vida. Os resultados demonstram que a lembrança traumática, as perdas de pessoas próximas, da casa, do trabalho e da educação foram acrescidas às dificuldades de uma migração que, apesar de facilitada legalmente, é vivida com dificuldade de integração pela maioria desses sujeitos. Em contrapartida, o desejo de reconstrução da história individual e coletiva se apresenta como importante força na vida dessas pessoas, que, mesmo a distância, procuram compartilhar projetos com os conterrâneos.

Allyne Barros, uma das autoras do artigo, explica mais detalhes da pesquisa.

Entrevista – Qual a proposta da pesquisa?

A imigração é tema de trabalho e inquietações em nossa trajetória profissional há algum tempo. Desde 2012, escutamos imigrantes e refugiados de diversas nacionalidades na Clínica Intercultural, um projeto de extensão universitária da Universidade Federal de Santa Catarina em Florianópolis. Esse projeto, cuja proposta é oferecer atendimento psicológico a sujeitos deslocados de seus países de origem por diversas razões, se inspira em um trabalho ainda mais antigo e consolidado: a experiência do Service d’aide Psychologique aux Imigrants e Refugiés (Sapsir), de Québec, no Canadá. Fundado pelos professores Jean-Bernard Pocreau e Lucienne Martins Borges, em 2000, o Sapsir integra a rede pública de saúde e assistência social da cidade. Quando Lucienne se torna professora na UFSC, passa a se questionar sobre os imigrantes e refugiados que residem em Florianópolis.

Migrar não é uma novidade para haitianos; mas migrar após um desastre natural que enuncia e denuncia mais uma etapa da catástrofe social da história do Haiti e, ainda, se deslocar para um país que não compunha o destino final desses sujeitos outrora, nos chamou atenção. Era inegável que a ocorrência do terremoto teve impactos em suas vidas, mas não era claro que tipo de desdobramentos psicológicos essa vivência tinha, ainda mais alguns anos depois. Essa dúvida, intensificada pelo cotidiano clínico no projeto de extensão, motivou a tomar este tema o de minha pesquisa de mestrado, orientado pela professora. Lucienne.

Quais os resultados do levantamento?

O primeiro, e talvez menos inédito, é que a ideia de desastre natural está cada vez mais em desuso. Enquanto terminologia, é útil para a busca de estudos que investigam fenômenos da natureza que ocorrem “independentemente” da ação humana em sua origem. No entanto, os impactos desses fenômenos e a qualificação de desastre estarão sempre associados ao impacto em sujeitos e grupos. Nesse ponto, podemos considerar tanto os impactos objetivos quanto subjetivos. Estes impactos estão engendrados em um panorama histórico, político, social e cultural. Por isso, um terremoto que ocorre no Haiti tem desdobramentos absolutamente diferentes do que um terremoto da mesma magnitude que ocorra em um outra lugar. Forçar um contingente significativo de sujeitos a migrar, alterar os destinos dessa rota e apostar na migração enquanto solução singular e coletiva foram características daquele terremoto de 2010 ocorrido no Haiti. Trata-se de um país que historicamente sedia eventos catastróficos no que concerne aos efeitos e não por características “intrínsecas” ao espaço geográfico, por exemplo, como a disposição das placas tectônicas. O ponto central é sua disposição no espaço geopolítico, que necessita do “tremor” de uns para a “estabilidade” de outros. A aposta na escuta das narrativas dos próprios sujeitos frente ao que lhes ocorreu os situa em uma outra posição no campo discursivo e, portanto, no campo social. Assim, percebeu-se a partir das entrevistas que as estratégias de sobrevivência psíquica frente a eventos extremos se constroem coletivamente, ainda que no plano singular os caminhos variem. Em outras palavras, percebeu-se que as bases estruturais da formação subjetiva, engendradas na cultura compartilhada entre aqueles sujeitos, foi fundamental para a continuidade da vida. O terremoto não atingiu a aposta desses sujeitos em viver juntos, não virou assunto do qual não se podia falar. Diferente das violências decorrentes da violação mais direta de outro sujeito humano, presente nos crimes de lesa humanidade, a ocorrência desse fenômeno implicou em solidariedade mútua frente ao desamparo político e social, contribuindo para a construção de narrativas que apontaram para construções futuras.

Como usar a experiência da Psicologia no Haiti para pessoas que passam por desastres naturais e humanitários?

Em primeiro lugar, é fundamental destacar que não se tratou de um trabalho de Psicologia no Haiti, mas de um trabalho de pesquisa em Psicologia com sujeitos naturais do Haiti que se encontravam no Brasil na condição de imigrantes após a ocorrência do terremoto de 2010. Compreendemos que não há experiência transponível, pois isso implicaria desconsiderar o seu tempo, contexto e aspectos culturais dos sujeitos envolvidos em desastres naturais e humanitários.

Talvez possamos começar justamente por essas características para afirmar que os resultados da pesquisa apontam para a importância de criação de espaços de escuta dos sujeitos afetados por esses eventos. Não nos referimos aqui à exclusividade da psicoterapia, mas sim de um cuidado em busca de promoção de espaços de acolhimento que não gerem mais rupturas, separações e perdas. A impossibilidade imediata de soluções frente a eventos de caráter traumático muitas vezes remete à condição humana de desamparo, ou seja, faz lembrar de maneira radical que não se pode escapar do mal-estar. Portanto, o sentido do trabalho inicial é o de, junto à oferta de condições que garantam a vida em seu caráter mais elementar, trabalhar no sentido do resgate daquilo que constitui o sujeito: na presença de um outro sensível à sua condição, à sua diferença, a seus limites e suas forças. Não há receita, mas pode-se dizer que algumas propostas iniciais se situam no reconhecimento do que fez nascer aquela comunidade atingida e não no aniquilamento de sua história.

Leia o artigo “Reconstrução em movimento: impactos do terremoto de 2010 em imigrantes haitianos” na íntegra.

Edição 38.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão está disponível

O primeiro número de 2018 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão, edição 38.1, está disponível na plataforma SciELO e, em breve, chegará às bibliotecas das universidades e faculdades com cursos de Psicologia de todo o Brasil. O compromisso da PCP é promover diálogos entre prática profissional, formação e pesquisa, de forma a contribuir para a produção de conhecimento em Psicologia e para o enfrentamento dos desafios impostos pela conjuntura política e econômica do país.

Nesta publicação, a editora Neuza Guareschi aborda em seu texto “Ética, Política e Práticas Profissionais” que uma reflexão sobre ética, política e a prática profissional em Psicologia é extremamente oportuna e bastante associada à crise institucional pela qual passa o País. Ela destaca como exemplos o não respeito à diversidade, à diferença, ou de como a prática profissional precisa ser pensada para a alteridade e não para um seqüestro e tortura deste outro. Segundo ela, a decisão judicial sobre a Resolução no 001/1999 se encaixa nesse contexto.

Excelência

Editada desde 1979, a “Psicologia: Ciência e Profissão” é uma publicação científica de excelência internacional, classificada com a nota A2 no sistema Qualis de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. Atualmente, a revista está indexada nas bases da SciELO; Lilacs (Bireme); Clase; Latinex; PsycINFO; Redalyc; e Psicodoc.

Confira a edição 38.1.

Leia o editorial “Ética, Política e Práticas Profissionais”

Leia todas as edições da Revista Psicologia: Ciência e Profissão

 

Modos de ler em meios digitais: transformações da experiência

Como a mediação digital afeta a experiência de leitura das pessoas? O artigo “Modos de ler livros em meios digitais: transformações da experiência”, publicado na edição 37.3 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, é resultado de pesquisa empírica realizada para investigar a leitura de livros digitalmente mediada. A autora do artigo é Luciana Dadico, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP).

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

Na pesquisa, Dadico informa que a investigação partiu da hipótese de que a mediação digital afeta a experiência de ler, a despeito de se considerar a literatura uma arte alográfica. Foram entrevistados quatro leitores adultos, residentes no Estado de São Paulo, de forma semiaberta, gravada e sem uso de questionário. As entrevistas produziram imagens dos objetos em foco na pesquisa, a partir das quais foi investigada a percepção de tais objetos e as relações estabelecidas com eles pelos leitores.

A autora categorizou os modos como os leitores liam os livros na tela, permitindo individualizar padrões que participam da experiência de leitura: a leitura flutuante, a leitura frenética e a leitura eficiente, ancoradas em elementos específicos da obra e empreendidas por um leitor utilitarista e receoso de se aventurar em experiências novas. Ela considera que as tendências de leitura apontadas participam de e na estruturação de novas formas da experiência e da formação cultural do indivíduo na era digital.

Em entrevista, Luciana Dadico explicou mais detalhes de seu trabalho.

Entrevista

O que a motivou a pesquisar o tema?

Quando iniciei as pesquisas de meu doutorado, a digitalização dos textos, que já avançara em seu uso pessoal e nos meios jornalísticos, começava a ganhar também o mercado editorial. As revistas científicas vinham sendo progressivamente transferidas para os meios digitais, enquanto os livros (de literatura e didáticos) começavam a ser disponibilizados tanto na internet quanto em dispositivos de leitura, agora vendidos também pelas grandes redes de livraria.

Essas transformações geravam uma grande inquietação, uma vez que, como sabemos, a leitura de livros esteve tradicionalmente no centro não apenas das práticas educacionais, mas do próprio projeto burguês de formação do indivíduo. Esse fenômeno, que remonta ao Renascimento, gestou no Ocidente a ideia de que a livre circulação de livros, aliada à educação universal, seria responsável por conferir ao indivíduo maior liberdade de pensamento, um maior poder individual em relação à sociedade e às suas instituições. O indivíduo culturalmente formado seria mais capaz de se autodeterminar e de controlar melhor os rumos de sua existência. As ideias mesmas de indivíduo e de subjetividade surgem, em certo sentido, associadas à prática de ler livros que se consolidou na modernidade.

Mas se, como McLuhan e outros defendiam, “o meio é a mensagem” – quer dizer, o objeto mediador é diretamente responsável por ditar as características de sua recepção –, o que ocorreria então na passagem da leitura de livros para a leitura de obras em meios digitais? O modo como lemos seria afetado? Esta foi a pergunta que motivou as minhas pesquisas iniciais.

Para respondê-la, no entanto, era preciso descobrir primeiro como as pessoas liam livros em papel – coisa que, curiosamente, ninguém nunca tinha se perguntado em 500 anos história da imprensa. Talvez porque nunca ninguém tivesse antes pensado que a leitura e a escrita em papel estariam um dia sob julgamento. Por isso, minhas pesquisas do doutorado foram dedicadas, em primeiro lugar, ao estudo da leitura do livro em papel. Só depois, no pós-doutorado, passei ao estudo da leitura em meios digitais – agora em melhores condições de compreender e comparar as duas.

Como as pesquisas mostraram, é preciso considerar que nossa maneira de ler não é diretamente moldada pela forma do meio em que ela ocorre, em sentido causal e linear (como defendia McLuhan), embora a leitura seja, claro, afetada pelo meio. De maneira um tanto mais complexa, podemos dizer que nossos modos de ler se inserem em uma estrutura de experiência, transformada pelo uso dos meios digitais. Isso fez com que o foco de minhas pesquisas se ampliasse, passando a abarcar essa estrutura de experiência constituída na era digital – a qual inclui a experiência de ler livros, em papel e na tela.

Quais resultados você destaca em seu estudo?

Existe, como suspeitávamos, uma diferença grande nos modos de ler livros em papel e em meios digitais. De maneira geral, os resultados mostraram que a leitura de livros em meios digitais é mais veloz, mas há um prejuízo na qualidade dessa leitura.

Como e por que isto ocorre? Algumas características do dispositivo digital (como a luminosidade e o deslizar vertical do texto na tela) concorrem para uma apreensão mais superficial e veloz do texto, promovendo uma leitura flutuante e mesmo frenética. Nesse último caso, é como se o leitor “devorasse” o livro (mais do que ocorria no livro em papel), mas não estivesse disposto a perder muito tempo com ele, se demorando em descrições mais longas ou longos períodos reflexivos. Isso, em parte, porque a distração durante a leitura se dá de um modo diverso. O leitor que lê em papel tende a divagar ao se distrair da leitura: lembra coisas, associa imagens àquilo que está lendo, faz pausas para refletir.

O leitor que tem uma tela diante de si tende a voltar seus momentos de distração para o próprio aparelho e suas possibilidades de navegação: abre o email, o Twitter, o Facebook, consulta um dicionário, ouve uma música, então tende a empregar menos seus próprios recursos subjetivos para enriquecer sua experiência de leitura – que, consequentemente, se empobrece. O leitor pode até adquirir mais informações nessas novas formas de ler, mas não necessariamente tem uma melhor experiência de leitura.

A leitura flutuante, por sua vez, contribui para uma melhor apreensão das formas do texto, mas essa ocorre em função da superficialidade dessa leitura, de modo descolado dos conteúdos imanentes da obra, prejudicando a apreensão estrutural da obra pelo leitor. Por isso, denomino essa leitura formalista.

Considerando que, ao pensar em termos de uma estrutura de experiência, e não na relação imediata entre leitura e suporte do livro, é preciso destacar o fato de que também a leitura em papel acaba afetada pelos modos de ler constituídos em meio digital – assim como a própria leitura em meio digital é herdeira dos modos de ler que historicamente se constituíram no manuseio dos livros em papel. Ou seja: todos nós hoje lemos de maneira diferente, uma vez que estamos inevitavelmente inseridos em uma cultura digital.

Isso não significa, obviamente, que a aquele que lê em meio digital não consiga analisar um livro apenas porque ele foi digitalizado. Estamos falando de tendências. Uma coisa que causa preocupação, porém, é o fato de que, progressivamente, vai se aprofundando a cisão entre os leitores especializados (treinados para realizar uma análise imanente da obra literária) e o leitor comum, que progressivamente vai sendo desprovido de instrumentos para incrementar, por si mesmo, sua capacidade leitora – o que nos empurra em direção contrária às possibilidades de emancipação que um certo projeto de formação cultural associado à leitura de livros comportava.

É possível extrair uma porção de consequências objetivas e subjetivas desses fenômenos e, mais diretamente, dos novos modos de ler. Mas acho que os pontos que destaquei já dão ao leitor da revista uma boa ideia do que vem ocorrendo nessa passagem da leitura dos livros em papel para os meios digitais.

Leia o artigo de Luciana Dadico na íntegra.

 

A polícia e suas polícias: clientela, hierarquia, soldado e bandido

Estudar os efeitos de reconhecimento e desconhecimento das relações no trabalho que permeiam o discurso de soldados da Polícia Militar: como falam de seu trabalho e, por meio de sua fala, se posicionam e posicionam sua clientela, sua hierarquia, seu objeto de trabalho (os “bandidos”) e eles próprios. Este é o tema do artigo da pesquisadora Erika Ferreira de Azevedo, da Escola Britânica de São Paulo. “A polícia e suas polícias: clientela, hierarquia, soldado e bandido” foi publicado na edição 37.3 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

Na pesquisa, Azevedo entrevistou dez policiais militares de São Paulo e buscou analisar que lugar a violência ocupou no discurso de cada um deles. Tentou, ainda, refletir sobre a dubiedade do verdadeiro objetivo do trabalho policial, deslizando facilmente do cuidado da população desamparada ao cuidado de si, desamparado sob a pressão da farda.

Entrevista

Qual o motivo da pesquisa?

O principal motivo foi uma preocupação com questões sociais e um interesse profundo em compreender o que permeia as questões sobre a segurança pública. Acredito que a Psicologia deveria se debruçar mais sobre a questão sob vários vieses, recortes e nortes teóricos, de forma a enriquecer a bagagem teórica sobre o assunto. O interesse em entrevistar policiais diretamente, ou seja, entrevistar o soldado que está nas ruas, na linha de fogo, veio a partir da constatação de que ainda há poucas pesquisas realizadas sobre esse sujeito na nossa área. Há muito que se diz – e não somente na Psicologia – sobre o policial, mas pouca se escuta o que esse sujeito tem a dizer. Não falo aqui de dar voz, porque ele já a tem, mas de fazer uma escuta – e analisar o que é dito – para compreendermos como ele, que sai às ruas e, muitas vezes, mata ou morre, se constitui sujeito. Creio que isso possa lançar luz sobre os problemas que cercam a atuação de policiais e de alguma forma contribuir para que busquemos soluções para essas questões.

 

Quais os principais resultados?

O foco da análise do meu trabalho foi como o soldado policial militar se posiciona em relação a sua clientela, a si mesmo, à hierarquia da qual faz parte e ao objeto de seu trabalho: a criminalidade representada pela figura do bandido. Muito marcante foi a questão do controle e da ordem para os policiais; tanto a questão do controle de si – quando perguntados sobre o que era mais importante, a resposta “chegar na hora e de barba feita” foi unânime – quanto o controle da clientela. De fato, chama atenção a forma como a clientela é posicionada, fenômeno também observado em outras pesquisas. A clientela é dividida entre a clientela desejável – no caso dos meus entrevistados, aqueles desprovidos de algo que coloca o policial na posição de herói, porque é a clientela que se permite ordenar, aceita a ajuda e se subordina ao policial – e a clientela indesejável – aquela que questiona, critica, não “valoriza” o trabalho do policial, põe em cheque sua autoridade. Essa última clientela quase se confunde com a própria criminalidade. Há muita dualidade nas formas com que o policial militar se posiciona em todas as instâncias. Outro aspecto analisado é a relação com a farda, que ora veste um herói, ora um “policialzinho”.

Como a Psicologia pode contribuir com a saúde mental dos policiais militares diante das pressões cotidianas?

Menciono ao menos duas pesquisas da pós-graduação em Psicologia que dialogam com meu trabalho e que apontam a importância do papel da Psicologia como vetor de saúde mental dos policiais militares. Não há dúvida que a Psicologia tem muito a contribuir, contudo, é evidente como a qualidade do trabalho policial, em última instância a qualidade da segurança pública, depende de uma revisão da própria dinâmica da instituição polícia militar.

Leia o artigo na íntegra.

Acompanhamento terapêutico como estratégia de cuidado

Acompanhamento Terapêutico: concepções e possibilidades em serviços de saúde mental, publicado na edição 37.3 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, aborda a importância da prática em Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental em um hospital do interior de São Paulo. O texto – de autoria das pesquisadoras Amanda Candeloro CunhaDanielle Abdel Massih Pio e Thaís Munholi Raccioni, da Faculdade de Medicina de Marília, SP –discute a viabilidade local de inclusão desse dispositivo como estratégia de cuidado em saúde mental, dentro da perspectiva da clínica ampliada e reforma psiquiátrica.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

O trabalho foi realizado com profissionais da saúde de diferentes centros de atenção psicossocial e enfermaria psiquiátrica. Para a coleta de dados, foi utilizada a abordagem do grupo focal e, para a análise dos dados, o discurso do sujeito coletivo (DSC).

Amanda Cunha e Daniele Pio abordam mais detalhes sobre a construção da pesquisa em entrevista.

 

Entrevista

Qual o mote da pesquisa?

O interesse pela temática emergiu da prática de uma das pesquisadoras, enquanto residente de um programa de residência multiprofissional em saúde mental, que se dá em diferentes cenários e dispositivos de saúde mental, da atenção primária a serviços ambulatoriais e terciários. Foi possível perceber que a prática do acompanhamento terapêutico (AT) seria de grande importância dentro dos serviços, pensando na possibilidade da continuidade do cuidado, no fortalecimento da autonomia e na prática intersetorial e interdisciplinar. Considerando a escassez de estudos sobre a prática e também o aparente desconhecimento da atividade nos serviços de saúde mental, buscamos iniciar um debate sobre a temática, proporcionando possibilidades de uma futura inclusão desse dispositivo clínico nos serviços do município.

Quais os principais resultados do estudo?

Todos os serviços participantes da pesquisa faziam parte da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), cujas dificuldades encontradas atrelavam-se a empecilhos, não impedimentos, dos serviços na exploração de seus potenciais extra-hospitalares e das possibilidades existentes no território. Com relação ao AT, as maiores dificuldades se referiam a competências profissionais, dificuldades internas, justificadas principalmente pela falta de recursos humanos, e dificuldades externas, relacionadas à necessidade de comunicação entre os serviços da rede e de novas políticas públicas de saúde. Assim, apesar de o trabalho ter se direcionado a uma intervenção extra-hospitalar específica, possibilitou uma discussão mais ampla, que se refere à transição da lógica hospitalocêntrica para uma estrutura de serviços de base territorial, na qual é preciso se atentar para as dificuldades ainda presentes nesse processo, que interferem no funcionamento da rede de saúde mental e, consequentemente, no cuidado extra-hospitalar. Apesar das dificuldades apontadas, a pesquisa permitiu um espaço para viabilizar a construção desse trabalho nos serviços, o qual se apresenta como uma potente estratégia para a reforma em saúde mental.

Como ampliar a discussão sobre os estudos sobre teoria e prática do acompanhamento terapêutico?

Acreditamos que a construção de espaços interdisciplinares de discussão dentro das equipes de saúde mental pode favorecer a formação permanente dos profissionais, ampliando seus recursos teóricos e práticos, não só do AT, mas das demais estratégias possíveis de serem utilizadas no cuidado em saúde mental. Essa pesquisa buscou contribuir para a construção desses espaços e, com a publicação, também propiciar maior alcance sobre a teoria e a prática do AT.

Confira a íntegra do artigo.

Disponível nova edição da Psicologia: Ciência e Profissão

A edição 37.4 da revista “Psicologia: Ciência e Profissão (PCP)” já está disponível na plataforma SciELO e, em breve, chegará às bibliotecas das universidades e faculdades com cursos de Psicologia de todo o Brasil. O compromisso da PCP é promover diálogos entre prática profissional, formação e pesquisa, de forma a contribuir para a produção de conhecimento em Psicologia e para o enfrentamento dos desafios impostos pela conjuntura política e econômica do país.

A editora Neuza Guareschi, no texto Diversidade na Produção de Conhecimento em Psicologia, reforça que, além das temáticas recorrentes, principalmente, a formação em Psicologia e o campo das políticas públicas, esta edição traz artigos que dizem respeito à família, à mulher e à violência e também textos sobre juventude e infância. 

Excelência

 Editada desde 1979, a “Psicologia: Ciência e Profissão” é uma publicação científica de excelência internacional, classificada com a nota A2 no sistema Qualis de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. Atualmente, a revista está indexada nas bases da SciELO; Lilacs (Bireme); Clase; Latinex; PsycINFO; Redalyc; e Psicodoc.

Confira a edição 37.4.

Leia o editorial “Diversidade na Produção de Conhecimento em Psicologia”

Terapia de casal e estratégias de resolução de conflito

Fazer revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito, identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico e refletir sobre a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Essas são as questões abordadas no artigo “Terapia de Casal e Estratégias de Resolução de Conflito: Uma Revisão Sistemática”, publicado na edição 37.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

A pesquisa é de autoria das (os) doutorandas (os) em Psicologia Crístofer Batista da Costa e Clarisse Pereira Mosmann, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Marina Zanella Delatorre e Adriana Wagner, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O CFP divulga semanalmente, no portal institucional e nas redes sociais, um artigo da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. A revista tem uma versão eletrônica na plataforma SciELO. É uma forma de a autarquia fortalecer a busca pelo conhecimento científico, divulgando-o para a categoria e para a sociedade.

O objetivo da pesquisa foi realizar uma revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito e identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico em oito bases de dados: Academic Search Complete, Biblioteca Cochrane, Ibecs, Lilacs, Medline, PsycINFO, SciELO e Web of Science, no período de 2006 a 2015.

Os pesquisadores encontraram 238 artigos, sendo incluídos 13 estudos após a avaliação de três juízes independentes. As abordagens comportamental e cognitivo-comportamental se destacaram em relação à sistêmica e à psicodinâmica. Observou-se ainda o consenso sobre o papel da comunicação, da empatia, do perdão, do apoio mútuo e da confiança para a resolução dos conflitos conjugais. Constatou-se, porém, que há falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas. A análise da literatura forneceu um panorama internacional, composto por perspectivas de consenso, já estabelecidos, inconsistências que devem ser superadas e carência de estudos, especialmente no Brasil, contexto potencial de investigação da temática.

Em entrevista, Cristofer Batista da Costa contou mais detalhes da pesquisa.

 

Qual a relevância do tema?

A motivação para realizar uma revisão sistemática sobre terapia de casal e estratégias de resolução de conflito nasceu das reflexões, entre alunos de uma turma de doutorado, sobre a prática clínica baseada em evidências, ou seja, a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Na oportunidade, discutimos e identificamos certo desconhecimento entre nós sobre quais eram as abordagens recomendadas e que efetivamente funcionavam nos atendimentos de casais, nas distintas teorias disponíveis. Verificamos que os nossos questionamentos poderiam ser respondidos através da literatura científica, por meio de estudos que investigaram e avaliaram terapia de casal e estratégias de resolução de conflito. Incluímos as estratégias, pois se sabe ser um fator fundamental à conjugalidade e, portanto, implicado na terapia.

Além disso, por meio do levantamento e da análise dos dados provenientes da revisão sistemática teríamos um “mapa” de como estava o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, o que se sabia e o que ainda precisava ser investigado e respondido. Nesse sentido, a revisão se torna relevante e útil tanto para os profissionais da área clínica como para os pesquisadores.

 

Quais os principais resultados da pesquisa?

Realizar estudos sobre os processos de psicoterapia de casal é um desafio em termos de pesquisa. Embora os autores dos artigos analisados tenham observado os procedimentos metodológicos necessários, verificou-se a necessidade de aumentar ainda mais o rigor científico, especialmente no que se refere à descrição das características dos casos analisados e da comparação entre abordagens distintas. Essa comparação possivelmente não é profícua já que cada abordagem tem objetivos e formas de compreender e tratar diferentes, com base em uma determinada perspectiva teórica.

Os aspectos mais focalizados nos tratamentos de casal, segundo os estudos analisados, foram: comunicação, empatia, perdão, apoio mútuo, confiança e resolução de conflitos. Esse resultado, portanto, pode ser útil na clínica psicológica como um indicador de questões relevantes que podem ser utilizadas na psicoterapia conjugal, seja como hipótese, entendimento ou recurso à disposição do psicoterapeuta.

 

Como superar inconsistências e carência de estudos no Brasil em relação à falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas da terapia de casal?

A Ciência Psicológica tem avançado muito nos últimos anos, o que se deve à realização de pesquisas nos cursos de pós-graduação e centros de pesquisa. Nesse sentido, o investimento público e privado em pesquisa é uma forma de se continuar avançando no conhecimento científico. O diálogo entre a Psicologia e as demais áreas do conhecimento, especialmente a da saúde, é essencial e ocorre se os nossos argumentos, enquanto profissionais da saúde, forem consistentes e a nossa prática efetiva, o que se pode alcançar por meio da pesquisa científica. As inconsistências e a falta de homogeneidade indicam que ainda precisamos avançar na investigação deste tema dentro da Psicologia. Portanto, na medida em que houver investimento e, consequentemente, a possibilidade de realizar pesquisas de forma organizada e sistemática, a precisão no uso dos conceitos e técnicas tende a aumentar.

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