Psicologia e Inteligência Artificial: CFP participa do I Simpósio de Pesquisa em Ciberpsicologia e Interações Sociais

Diante dos desafios impostos pela era digital, e com o intuito de acompanhar e compreender os avanços das tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) participou do I Simpósio de pesquisa em ciberpsicologia e interações sociais, realizado em Maceió/AL entre  2 e 5 de setembro. 

Organizado pelo GT em Ciberpsicologia e Interações Sociais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), o evento teve como tema Interfaces multidisciplinares da ciberpsicologia: educação, saúde e tecnologia nas interações sociais contemporâneas, reunindo pesquisadoras(es),  e profissionais interessadas(os) nos efeitos das tecnologias digitais nas experiências humanas e nas dinâmicas sociais atuais.

O Conselho Federal de Psicologia foi representado por Carolina Roseiro e Virgílio Bastos, conselheiros federais, que  participaram do debate sobre a inteligência artificial no redesenho das profissões e ocupações, bem como seus impactos para  a Psicologia e o exercício profissional. 

Integraram ainda mesa voltada à discussão sobre inteligência artificial no contexto da Psicologia, com a participação de dois integrantes do Grupo de Trabalho (GT) do CFP sobre IA: os professores Adriano Peixoto e Leonardo Martins. Durante o debate, abordaram o uso das novas tecnologias, com foco na aplicação na saúde e nas implicações teóricas da inteligência artificial em conceitos centrais da Psicologia, como consciência, subjetividade, alteridade e toda a complexa dinâmica da relação entre humanos e máquinas.

“Foi uma oportunidade importante para o CFP estabelecer contato com uma comunidade de pesquisadores que vêm discutindo temáticas relevantes, como os avanços tecnológicos, seus impactos na Psicologia e a influência das redes sociais na configuração dos processos e fenômenos psicológicos”, enfatizou o conselheiro Virgílio Bastos.

Durante o simpósio, foram apresentadas também as ações que o CFP tem realizado nessa área, como a criação do GT sobre Inteligência Artificial, a elaboração de nota técnica e a divulgação de conteúdos pelas redes sociais do Conselho Federal de Psicologia sobre o uso responsável e ético da inteligência artificial. “Hoje as IAs são acessíveis para qualquer uso. Já existem IAs programadas para uso terapêutico no mundo, mas o problema é que essas ferramentas têm limitações técnicas e éticas para uma abordagem adequada de contextos, o que é um risco para a saúde mental”, pontuou a conselheira federal, Carolina Roseiro.

Ações do CFP

Desde abril de 2024, o CFP vem aprofundando o debate sobre os impactos da IA na Psicologia, promovendo oficinas, encontros com Conselhos Regionais de Psicologia de todo o país e seminários nacionais, com foco em aspectos éticos, técnicos e políticos. Em outubro do mesmo ano, foi criado um GT sobre Inteligência Artificial, responsável por elaborar diretrizes que assegurem o uso ético e responsável da IA no exercício profissional. 

Em 2025, o tema segue central nas pautas da Assembleia das Políticas, da Administração e das Finança (APAF) e ganhou força institucional com a entrada do CFP no Conselho Consultivo da Frente Parlamentar Mista da Saúde, onde atua na construção de propostas para a regulamentação do uso de IA na área da saúde, em defesa de práticas que valorizem o trabalho humano e garantam segurança ética e técnica à população. Em julho, o CFP publicou uma Nota de Posicionamento reforçando que, apesar dos avanços tecnológicos, a atuação da(o) psicóloga(o) permanece insubstituível, especialmente na escuta clínica e na compreensão do sofrimento psíquico.

A realização do I Simpósio de Pesquisa em Ciberpsicologia e Interações Sociais contou com apoio institucional do Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio da Política de Patrocínio e Apoio Institucional (PPAI-CFP). Essa política, estabelecida pela Resolução CFP 20/2023, tem como objetivo apoiar a disseminação da produção científica, fortalecer a Psicologia como prática profissional e contribuir para o alcance da categoria, estimulando atividades e eventos com relevância científica, profissional e social, em consonância com a defesa e garantia dos direitos humanos.

Para mais informações sobre esse tema, acesse os canais oficiais do CFP.

CFP alerta para riscos de proposta de uso de inteligência artificial em saúde mental no SUS

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou nesta sexta-feira (5) nota de posicionamento sobre o programa “e-Saúde Mental no SUS”, recentemente anunciado pelo governo federal. A iniciativa prevê o uso de uma plataforma digital voltada ao diagnóstico e suporte ao tratamento na atenção primária à saúde.

Na manifestação, o CFP ressalta que mudanças dessa natureza exigem cautela técnica, segurança jurídica e ampla construção coletiva, envolvendo profissionais, gestoras(es), pesquisadoras(es) e usuárias(os).

O Conselho Federal de Psicologia afirma que a atuação de psicólogas e psicólogos é essencial e insubstituível no cuidado em saúde mental, mesmo com o avanço das tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA). 

Entre os pontos destacados pelo CFP, estão a impossibilidade de delegar a algoritmos funções como aliança terapêutica, manejo de crises e avaliação de riscos; os limites da IA diante das dimensões sociais, históricas e culturais do sofrimento psíquico; a proteção de direitos e a importância do sigilo e da ética profissional; e a necessidade de ampliar equipes multiprofissionais no Sistema Único de Saúde, em vez de adotar a tecnologia como solução paliativa.

O documento também cita experiências internacionais em que o uso de IA em saúde foi restringido ou suspenso, como na Itália, na Austrália e no Reino Unido, e reforça a necessidade de regulação rigorosa para evitar riscos à qualidade do cuidado e à privacidade.

No Brasil, o CFP aponta que softwares dessa natureza devem ter aprovação prévia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme a RDC 657/2022, e que o país ainda precisa avançar em marcos regulatórios específicos para a área da saúde mental.

O Conselho Federal de Psicologia enfatiza ainda que não se opõe ao uso de tecnologias, mas rejeita projetos que desconsiderem fundamentos éticos, científicos e jurídicos, além da participação social. Para o CFP, o fortalecimento do SUS deve se basear no investimento em pessoas e na ampliação das equipes de saúde, tendo a Psicologia como dimensão central do cuidado em saúde mental.

Leia a nota pública na íntegra.

CFP realiza encontro para debater os impactos da Inteligência Artificial no exercício profissional da Psicologia

As tecnologias digitais, especialmente as de Inteligência Artificial (IA), estão redefinindo de forma rápida os processos de produção do conhecimento em todas as áreas, incluindo a Psicologia. Ferramentas de IA estão sendo cada vez mais utilizadas para analisar grandes conjuntos de dados, identificar padrões comportamentais e prever tendências em saúde mental, comportamento humano e interações sociais.

Diante do desafio imposto por essa nova realidade, essas e outras questões foram debatidas no “Seminário: Inteligência Artificial e Exercício Profissional da Psicologia”, realizado no dia 24 de outubro em Brasília/DF, na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O encontro buscou mapear a adoção de tecnologias baseadas em inteligência artificial, analisando suas implicações éticas, sociais e profissionais. A atividade teve como proposta a troca de experiências e conhecimentos no campo, de modo a fomentar o diálogo sobre os principais desafios emergentes nessa área.

O evento contou com a participação de conselheiras e conselheiros do XIX Plenário, representantes dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) e de instituições que integram o Fórum das Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (Fenpb) – além de pesquisadoras e pesquisadores da área.

Diálogos

Durante diálogo sobre o uso do Chat GPT, o psicólogo e pesquisador Ricardo Primi, da Universidade São Francisco (USF), destacou as possibilidades de uso da inteligência artificial relacionada à psicometria, frisando a análise de conteúdo, a avaliação da personalidade a partir de entrevistas, a análise fatorial de itens usando embeddings e a correção automática de testes com respostas construídas, entre outros pontos. Para ele, a Psicometria com o uso da Inteligência Artificial pode representar o futuro da da Avaliação Psicológica na era marcada pela inteligência artificial.

O psicólogo Thiago Pavin abordou as tendências da indústria de IA para a saúde mental e o campo da regulação, realçando que muitos estudos sobre o tema estão sendo conduzidos e, nesse sentido, todas essas tecnologias deverão, em breve, tornar-se melhores. O psicólogo pontuou ainda que as profissões serão fortemente impactadas pela Inteligência Artificial, exigindo que as(os) profissionais aprendam a operar essas ferramentas, e que o mau uso da IA tende a ser combatido por governos e pelo mercado.

Thiago Pavin elencou ainda sugestões ao Sistema Conselhos de Psicologia. Entre elas, criar um Grupo de Trabalho para debater e propor resoluções sobre o tema; fomentar pesquisas e a organização de bancos de dados nacionais para treinos e validação de modelos; inspirar-se na experiência do Satepsi para testes psicológicos; estabelecer os padrões de qualidade e catalogar as soluções recomendadas para divulgar à sociedade.

Leonardo Fernandes Martins, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ressaltou que os agentes conversacionais (sistema guiados por IA) precisam servir de apoio ao processo de cuidado e de modelo de suporte ao terapeuta, auxiliando em questões como transcrição, prontuários, triagem inicial, visão ampliada dos processos de saúde e adoecimento, dentre outros.

A pesquisadora e professora Laisa Marcorela Andreoli Sartes,do Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Outras Drogas (Crepeia), apresentou o painel “Inteligência Artificial nas intervenções digitais: impactos nos treinamentos do terapeuta e no engajamento às intervenções”. Para ela, figuram como desafios a garantia de que as respostas automáticas não substituam a intervenção humana em situações complexas, assim como o fato de que a personalização do uso dessas ferramentas não tornea interação impessoal ou mecanizada. Outro fator destacado pela pesquisadora foi o tratamento dos dados sensíveis dos pacientes em cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados. Em sua avaliação, a IA pode ser muito útil e facilitar o acesso ao atendimento psicológico efetivo, mas a Inteligência Artificial em Psicologia precisa de validação humana.

Bruno Grossman, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (da PUC-Rio), abordou o potencial de persuasão em larga escala habilitada por Inteligência Artificial. Em sua avaliação, a IA proporcionará um futuro no qual exista a perspectiva de que cada pessoa terá um assistente de IA pessoal, com uso de voz e vídeo em tempo real, capacidade de criar relações íntimas em massa e algoritmos simulando intimidade para influenciar opiniões, votos, decisões de compras e crenças – acarretando impacto à saúde das pessoas e um desafio ao campo da Psicologia em lidar com essas questões.

No último painel do encontro, a pesquisadora Laura Soares chamou atenção para os impactos da Inteligência Artificial no Sistema de Justiça, levantando questões sobre o uso da IA nessa área e de que forma a Psicologia deverá atuar frente aos desafios. Para ela, a tecnologia pode promover celeridade, mas há preocupações éticas e com relação à garantia dos direitos humanos que precisam orientar os debates sobre o tema. Nesse sentido, a Psicologia brasileira precisa assumir protagonismo nos debates que irão afetar suas práticas junto ao Sistema de Justiça.

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