Edição 38.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão está disponível

O primeiro número de 2018 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão, edição 38.1, está disponível na plataforma SciELO e, em breve, chegará às bibliotecas das universidades e faculdades com cursos de Psicologia de todo o Brasil. O compromisso da PCP é promover diálogos entre prática profissional, formação e pesquisa, de forma a contribuir para a produção de conhecimento em Psicologia e para o enfrentamento dos desafios impostos pela conjuntura política e econômica do país.

Nesta publicação, a editora Neuza Guareschi aborda em seu texto “Ética, Política e Práticas Profissionais” que uma reflexão sobre ética, política e a prática profissional em Psicologia é extremamente oportuna e bastante associada à crise institucional pela qual passa o País. Ela destaca como exemplos o não respeito à diversidade, à diferença, ou de como a prática profissional precisa ser pensada para a alteridade e não para um seqüestro e tortura deste outro. Segundo ela, a decisão judicial sobre a Resolução no 001/1999 se encaixa nesse contexto.

Excelência

Editada desde 1979, a “Psicologia: Ciência e Profissão” é uma publicação científica de excelência internacional, classificada com a nota A2 no sistema Qualis de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. Atualmente, a revista está indexada nas bases da SciELO; Lilacs (Bireme); Clase; Latinex; PsycINFO; Redalyc; e Psicodoc.

Confira a edição 38.1.

Leia o editorial “Ética, Política e Práticas Profissionais”

Leia todas as edições da Revista Psicologia: Ciência e Profissão

 

Modos de ler em meios digitais: transformações da experiência

Como a mediação digital afeta a experiência de leitura das pessoas? O artigo “Modos de ler livros em meios digitais: transformações da experiência”, publicado na edição 37.3 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, é resultado de pesquisa empírica realizada para investigar a leitura de livros digitalmente mediada. A autora do artigo é Luciana Dadico, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP).

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

Na pesquisa, Dadico informa que a investigação partiu da hipótese de que a mediação digital afeta a experiência de ler, a despeito de se considerar a literatura uma arte alográfica. Foram entrevistados quatro leitores adultos, residentes no Estado de São Paulo, de forma semiaberta, gravada e sem uso de questionário. As entrevistas produziram imagens dos objetos em foco na pesquisa, a partir das quais foi investigada a percepção de tais objetos e as relações estabelecidas com eles pelos leitores.

A autora categorizou os modos como os leitores liam os livros na tela, permitindo individualizar padrões que participam da experiência de leitura: a leitura flutuante, a leitura frenética e a leitura eficiente, ancoradas em elementos específicos da obra e empreendidas por um leitor utilitarista e receoso de se aventurar em experiências novas. Ela considera que as tendências de leitura apontadas participam de e na estruturação de novas formas da experiência e da formação cultural do indivíduo na era digital.

Em entrevista, Luciana Dadico explicou mais detalhes de seu trabalho.

Entrevista

O que a motivou a pesquisar o tema?

Quando iniciei as pesquisas de meu doutorado, a digitalização dos textos, que já avançara em seu uso pessoal e nos meios jornalísticos, começava a ganhar também o mercado editorial. As revistas científicas vinham sendo progressivamente transferidas para os meios digitais, enquanto os livros (de literatura e didáticos) começavam a ser disponibilizados tanto na internet quanto em dispositivos de leitura, agora vendidos também pelas grandes redes de livraria.

Essas transformações geravam uma grande inquietação, uma vez que, como sabemos, a leitura de livros esteve tradicionalmente no centro não apenas das práticas educacionais, mas do próprio projeto burguês de formação do indivíduo. Esse fenômeno, que remonta ao Renascimento, gestou no Ocidente a ideia de que a livre circulação de livros, aliada à educação universal, seria responsável por conferir ao indivíduo maior liberdade de pensamento, um maior poder individual em relação à sociedade e às suas instituições. O indivíduo culturalmente formado seria mais capaz de se autodeterminar e de controlar melhor os rumos de sua existência. As ideias mesmas de indivíduo e de subjetividade surgem, em certo sentido, associadas à prática de ler livros que se consolidou na modernidade.

Mas se, como McLuhan e outros defendiam, “o meio é a mensagem” – quer dizer, o objeto mediador é diretamente responsável por ditar as características de sua recepção –, o que ocorreria então na passagem da leitura de livros para a leitura de obras em meios digitais? O modo como lemos seria afetado? Esta foi a pergunta que motivou as minhas pesquisas iniciais.

Para respondê-la, no entanto, era preciso descobrir primeiro como as pessoas liam livros em papel – coisa que, curiosamente, ninguém nunca tinha se perguntado em 500 anos história da imprensa. Talvez porque nunca ninguém tivesse antes pensado que a leitura e a escrita em papel estariam um dia sob julgamento. Por isso, minhas pesquisas do doutorado foram dedicadas, em primeiro lugar, ao estudo da leitura do livro em papel. Só depois, no pós-doutorado, passei ao estudo da leitura em meios digitais – agora em melhores condições de compreender e comparar as duas.

Como as pesquisas mostraram, é preciso considerar que nossa maneira de ler não é diretamente moldada pela forma do meio em que ela ocorre, em sentido causal e linear (como defendia McLuhan), embora a leitura seja, claro, afetada pelo meio. De maneira um tanto mais complexa, podemos dizer que nossos modos de ler se inserem em uma estrutura de experiência, transformada pelo uso dos meios digitais. Isso fez com que o foco de minhas pesquisas se ampliasse, passando a abarcar essa estrutura de experiência constituída na era digital – a qual inclui a experiência de ler livros, em papel e na tela.

Quais resultados você destaca em seu estudo?

Existe, como suspeitávamos, uma diferença grande nos modos de ler livros em papel e em meios digitais. De maneira geral, os resultados mostraram que a leitura de livros em meios digitais é mais veloz, mas há um prejuízo na qualidade dessa leitura.

Como e por que isto ocorre? Algumas características do dispositivo digital (como a luminosidade e o deslizar vertical do texto na tela) concorrem para uma apreensão mais superficial e veloz do texto, promovendo uma leitura flutuante e mesmo frenética. Nesse último caso, é como se o leitor “devorasse” o livro (mais do que ocorria no livro em papel), mas não estivesse disposto a perder muito tempo com ele, se demorando em descrições mais longas ou longos períodos reflexivos. Isso, em parte, porque a distração durante a leitura se dá de um modo diverso. O leitor que lê em papel tende a divagar ao se distrair da leitura: lembra coisas, associa imagens àquilo que está lendo, faz pausas para refletir.

O leitor que tem uma tela diante de si tende a voltar seus momentos de distração para o próprio aparelho e suas possibilidades de navegação: abre o email, o Twitter, o Facebook, consulta um dicionário, ouve uma música, então tende a empregar menos seus próprios recursos subjetivos para enriquecer sua experiência de leitura – que, consequentemente, se empobrece. O leitor pode até adquirir mais informações nessas novas formas de ler, mas não necessariamente tem uma melhor experiência de leitura.

A leitura flutuante, por sua vez, contribui para uma melhor apreensão das formas do texto, mas essa ocorre em função da superficialidade dessa leitura, de modo descolado dos conteúdos imanentes da obra, prejudicando a apreensão estrutural da obra pelo leitor. Por isso, denomino essa leitura formalista.

Considerando que, ao pensar em termos de uma estrutura de experiência, e não na relação imediata entre leitura e suporte do livro, é preciso destacar o fato de que também a leitura em papel acaba afetada pelos modos de ler constituídos em meio digital – assim como a própria leitura em meio digital é herdeira dos modos de ler que historicamente se constituíram no manuseio dos livros em papel. Ou seja: todos nós hoje lemos de maneira diferente, uma vez que estamos inevitavelmente inseridos em uma cultura digital.

Isso não significa, obviamente, que a aquele que lê em meio digital não consiga analisar um livro apenas porque ele foi digitalizado. Estamos falando de tendências. Uma coisa que causa preocupação, porém, é o fato de que, progressivamente, vai se aprofundando a cisão entre os leitores especializados (treinados para realizar uma análise imanente da obra literária) e o leitor comum, que progressivamente vai sendo desprovido de instrumentos para incrementar, por si mesmo, sua capacidade leitora – o que nos empurra em direção contrária às possibilidades de emancipação que um certo projeto de formação cultural associado à leitura de livros comportava.

É possível extrair uma porção de consequências objetivas e subjetivas desses fenômenos e, mais diretamente, dos novos modos de ler. Mas acho que os pontos que destaquei já dão ao leitor da revista uma boa ideia do que vem ocorrendo nessa passagem da leitura dos livros em papel para os meios digitais.

Leia o artigo de Luciana Dadico na íntegra.

 

A polícia e suas polícias: clientela, hierarquia, soldado e bandido

Estudar os efeitos de reconhecimento e desconhecimento das relações no trabalho que permeiam o discurso de soldados da Polícia Militar: como falam de seu trabalho e, por meio de sua fala, se posicionam e posicionam sua clientela, sua hierarquia, seu objeto de trabalho (os “bandidos”) e eles próprios. Este é o tema do artigo da pesquisadora Erika Ferreira de Azevedo, da Escola Britânica de São Paulo. “A polícia e suas polícias: clientela, hierarquia, soldado e bandido” foi publicado na edição 37.3 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

Na pesquisa, Azevedo entrevistou dez policiais militares de São Paulo e buscou analisar que lugar a violência ocupou no discurso de cada um deles. Tentou, ainda, refletir sobre a dubiedade do verdadeiro objetivo do trabalho policial, deslizando facilmente do cuidado da população desamparada ao cuidado de si, desamparado sob a pressão da farda.

Entrevista

Qual o motivo da pesquisa?

O principal motivo foi uma preocupação com questões sociais e um interesse profundo em compreender o que permeia as questões sobre a segurança pública. Acredito que a Psicologia deveria se debruçar mais sobre a questão sob vários vieses, recortes e nortes teóricos, de forma a enriquecer a bagagem teórica sobre o assunto. O interesse em entrevistar policiais diretamente, ou seja, entrevistar o soldado que está nas ruas, na linha de fogo, veio a partir da constatação de que ainda há poucas pesquisas realizadas sobre esse sujeito na nossa área. Há muito que se diz – e não somente na Psicologia – sobre o policial, mas pouca se escuta o que esse sujeito tem a dizer. Não falo aqui de dar voz, porque ele já a tem, mas de fazer uma escuta – e analisar o que é dito – para compreendermos como ele, que sai às ruas e, muitas vezes, mata ou morre, se constitui sujeito. Creio que isso possa lançar luz sobre os problemas que cercam a atuação de policiais e de alguma forma contribuir para que busquemos soluções para essas questões.

 

Quais os principais resultados?

O foco da análise do meu trabalho foi como o soldado policial militar se posiciona em relação a sua clientela, a si mesmo, à hierarquia da qual faz parte e ao objeto de seu trabalho: a criminalidade representada pela figura do bandido. Muito marcante foi a questão do controle e da ordem para os policiais; tanto a questão do controle de si – quando perguntados sobre o que era mais importante, a resposta “chegar na hora e de barba feita” foi unânime – quanto o controle da clientela. De fato, chama atenção a forma como a clientela é posicionada, fenômeno também observado em outras pesquisas. A clientela é dividida entre a clientela desejável – no caso dos meus entrevistados, aqueles desprovidos de algo que coloca o policial na posição de herói, porque é a clientela que se permite ordenar, aceita a ajuda e se subordina ao policial – e a clientela indesejável – aquela que questiona, critica, não “valoriza” o trabalho do policial, põe em cheque sua autoridade. Essa última clientela quase se confunde com a própria criminalidade. Há muita dualidade nas formas com que o policial militar se posiciona em todas as instâncias. Outro aspecto analisado é a relação com a farda, que ora veste um herói, ora um “policialzinho”.

Como a Psicologia pode contribuir com a saúde mental dos policiais militares diante das pressões cotidianas?

Menciono ao menos duas pesquisas da pós-graduação em Psicologia que dialogam com meu trabalho e que apontam a importância do papel da Psicologia como vetor de saúde mental dos policiais militares. Não há dúvida que a Psicologia tem muito a contribuir, contudo, é evidente como a qualidade do trabalho policial, em última instância a qualidade da segurança pública, depende de uma revisão da própria dinâmica da instituição polícia militar.

Leia o artigo na íntegra.

A questão do consumo entre jovens

A visão dos jovens sobre a relação de consumo e seus efeitos nos modos de ser, pensar, sentir e se relacionar é tema do artigo “Consumo, Dinheiro e Diferenciações Sociais: Ditos de Jovens em uma Pesquisa-Intervenção”, de autoria de Inês HennigenBruno Eduardo Procopiuk Walter e Guilherme Machado Paim, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A pesquisa foi publicada na edição 37.3 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas públicas de Porto Alegre, com 35 jovens com idades entre 14 e 17 anos. A análise do discurso pautada nas contribuições foucaultianas os guiou na análise do que foi dito nos encontros. Nesse processo, emergiram questões como estratégias dos jovens para obter dinheiro, diferenciação e status social a partir do consumo e a internet enquanto necessidade de primeira ordem.

No artigo, o enunciado “consumir é gastar dinheiro” se torna dizível a partir de mudanças históricas, como a transformação da nossa relação com os objetos de uso, e da posição do jovem enquanto dependente econômico de seus pais e responsáveis.

Inês Hennigen explica melhor o tema do estudo.

O que motivou a pesquisa?

Perceber a recorrência da questão do consumo é um atravessamento nada incidental nos modos de viver. Constatar, também, que, no Brasil, a grande maioria das pesquisas como foco em consumo e juventude aborda aspectos específicos, como consumo de alimentos/obesidade, de álcool, tabaco e de outras drogas, lícitas ou ilícitas. É algo sem dúvida importante, mas circunscrito.

Por entender a questão do consumo como um operador de expressiva magnitude e complexidade no que tange à produção de subjetividade no contemporâneo, desenvolvemos a pesquisa-intervenção para abrir espaço para que jovens pudessem conversar e se interrogar sobre o tema e, nesse movimento, dar oportunidade de conhecer suas práticas de consumo de modo mais amplo e alguns efeitos nos seus modos de ser, pensar, sentir e se relacionar.

Quais os principais resultados do estudo?

O fato de se tratar de uma pesquisa-intervenção que permitiu aos jovens discutir, pensar e problematizar aspectos – por vezes naturalizados – relacionados ao consumo e à condição de ser jovem pode ser entendido enquanto um resultado-efeito relevante.

Como enunciados que puderam ser conhecidos, destacamos aqueles forjados na relação como o dinheiro. O dito “consumir é gastar dinheiro”, que pode sinalizar certo apagamento do objeto do consumo, também remete à condição de dependente financeiro dos jovens; nesse sentido, obtê-lo envolve todo um jogo estratégico de práticas junto a pais e familiares, como tirar boas notas; pedir só parte, inteirando com o economizado, para soar mais aceitável, além de impulsionar ao trabalho ou à ideia de buscá-lo proximamente.

Outro resultado a destacar é que, apesar de reproduzirem o contraponto necessário/supérfluo, esse se atualiza, pois a conexão à internet é arrolada pelos jovens como necessidade de primeira ordem, equiparada à alimentação e ao transporte.

Por fim, o dinheiro e o consumo como operador de diferenciações sociais, e morais, está entre os resultados das discussões que destacamos no artigo.

Quais contribuições a Psicologia pode oferecer na produção de conhecimentos e de práticas relacionadas à juventude?

Desenvolver estudos sobre o tema, fomentando o debate e a reflexão sobre as distintas e multifacetadas práticas de consumo, por exemplo, o chamado consumo cultural, que vem sendo apontado, em campos como a comunicação e a antropologia do consumo, como bastante relevante na vivência dos jovens. Nessa direção, atentar para as práticas de consumo na intercessão com diferentes marcadores sociais, como gênero, raça e condição socioeconômica, pode ser uma abordagem ou desdobramento importante para futuras pesquisas e intervenções.

Entendemos que os jovens – assim como todos nós – têm se constituído no encontro com uma lógica de incitamento no sentido de terem uma vida para o consumo. São constantemente atravessados por discursos e práticas que cabe à Psicologia tensionar, buscando brechas para outras plurais formas de existir.

Pensamos ser interessante um trabalho, com vocação interdisciplinar, na direção do que temos nomeado uma educação quanto ao consumo – que não está pautada em um “fazer consumir” mais/menos ou “melhor”, de modo responsável ou sustentável. Essas discursividades, por vezes, são revestidas de tons instrumentais e moralizantes, quando não messiânico-redentores – mas preocupa-nos com os efeitos do consumo – e possibilidades que se abrem e fecham – na vida dos jovens.

Acompanhamento terapêutico como estratégia de cuidado

Acompanhamento Terapêutico: concepções e possibilidades em serviços de saúde mental, publicado na edição 37.3 da revista Psicologia: Ciência e Profissão, aborda a importância da prática em Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental em um hospital do interior de São Paulo. O texto – de autoria das pesquisadoras Amanda Candeloro CunhaDanielle Abdel Massih Pio e Thaís Munholi Raccioni, da Faculdade de Medicina de Marília, SP –discute a viabilidade local de inclusão desse dispositivo como estratégia de cuidado em saúde mental, dentro da perspectiva da clínica ampliada e reforma psiquiátrica.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

O trabalho foi realizado com profissionais da saúde de diferentes centros de atenção psicossocial e enfermaria psiquiátrica. Para a coleta de dados, foi utilizada a abordagem do grupo focal e, para a análise dos dados, o discurso do sujeito coletivo (DSC).

Amanda Cunha e Daniele Pio abordam mais detalhes sobre a construção da pesquisa em entrevista.

 

Entrevista

Qual o mote da pesquisa?

O interesse pela temática emergiu da prática de uma das pesquisadoras, enquanto residente de um programa de residência multiprofissional em saúde mental, que se dá em diferentes cenários e dispositivos de saúde mental, da atenção primária a serviços ambulatoriais e terciários. Foi possível perceber que a prática do acompanhamento terapêutico (AT) seria de grande importância dentro dos serviços, pensando na possibilidade da continuidade do cuidado, no fortalecimento da autonomia e na prática intersetorial e interdisciplinar. Considerando a escassez de estudos sobre a prática e também o aparente desconhecimento da atividade nos serviços de saúde mental, buscamos iniciar um debate sobre a temática, proporcionando possibilidades de uma futura inclusão desse dispositivo clínico nos serviços do município.

Quais os principais resultados do estudo?

Todos os serviços participantes da pesquisa faziam parte da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), cujas dificuldades encontradas atrelavam-se a empecilhos, não impedimentos, dos serviços na exploração de seus potenciais extra-hospitalares e das possibilidades existentes no território. Com relação ao AT, as maiores dificuldades se referiam a competências profissionais, dificuldades internas, justificadas principalmente pela falta de recursos humanos, e dificuldades externas, relacionadas à necessidade de comunicação entre os serviços da rede e de novas políticas públicas de saúde. Assim, apesar de o trabalho ter se direcionado a uma intervenção extra-hospitalar específica, possibilitou uma discussão mais ampla, que se refere à transição da lógica hospitalocêntrica para uma estrutura de serviços de base territorial, na qual é preciso se atentar para as dificuldades ainda presentes nesse processo, que interferem no funcionamento da rede de saúde mental e, consequentemente, no cuidado extra-hospitalar. Apesar das dificuldades apontadas, a pesquisa permitiu um espaço para viabilizar a construção desse trabalho nos serviços, o qual se apresenta como uma potente estratégia para a reforma em saúde mental.

Como ampliar a discussão sobre os estudos sobre teoria e prática do acompanhamento terapêutico?

Acreditamos que a construção de espaços interdisciplinares de discussão dentro das equipes de saúde mental pode favorecer a formação permanente dos profissionais, ampliando seus recursos teóricos e práticos, não só do AT, mas das demais estratégias possíveis de serem utilizadas no cuidado em saúde mental. Essa pesquisa buscou contribuir para a construção desses espaços e, com a publicação, também propiciar maior alcance sobre a teoria e a prática do AT.

Confira a íntegra do artigo.

Disponível nova edição da Psicologia: Ciência e Profissão

A edição 37.4 da revista “Psicologia: Ciência e Profissão (PCP)” já está disponível na plataforma SciELO e, em breve, chegará às bibliotecas das universidades e faculdades com cursos de Psicologia de todo o Brasil. O compromisso da PCP é promover diálogos entre prática profissional, formação e pesquisa, de forma a contribuir para a produção de conhecimento em Psicologia e para o enfrentamento dos desafios impostos pela conjuntura política e econômica do país.

A editora Neuza Guareschi, no texto Diversidade na Produção de Conhecimento em Psicologia, reforça que, além das temáticas recorrentes, principalmente, a formação em Psicologia e o campo das políticas públicas, esta edição traz artigos que dizem respeito à família, à mulher e à violência e também textos sobre juventude e infância. 

Excelência

 Editada desde 1979, a “Psicologia: Ciência e Profissão” é uma publicação científica de excelência internacional, classificada com a nota A2 no sistema Qualis de avaliação de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. Atualmente, a revista está indexada nas bases da SciELO; Lilacs (Bireme); Clase; Latinex; PsycINFO; Redalyc; e Psicodoc.

Confira a edição 37.4.

Leia o editorial “Diversidade na Produção de Conhecimento em Psicologia”

“Não existe manicômio humanizado. O que trata é a liberdade”

O Plenário Ulisses Guimarães da Câmara dos Deputados transformou-se nesta quarta-feira (17/5) em espaço de debate sobre os avanços e desafios da atenção à saúde mental no Brasil. A Sessão Solene pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial, convocada pelos deputados Erika Kokay (PT-DF) e Jean Wyllys (Psol-RJ), antecipa as comemorações do 18 de maio em todo o país.

Passadas três décadas desde a primeira manifestação social pública em defesa da reforma psiquiátrica (Manifesto de Bauru) e 16 anos de criação da rede substitutiva aos manicômios no Brasil, ainda é preciso defender a liberdade como o centro da atenção psicossocial, segundo o presidente do Conselho Federal de Psicologia, Rogério Giannini. “Não existe manicômio bom, humanizado. O que trata é a liberdade. A atenção se faz no cotidiano, pelas equipes de saúde mental da rede substitutiva e com a presença das famílias”, disse.

Segundo Rogério, a reforma psiquiátrica precisa ser construída no dia a dia. “Não se trata apenas de um conjunto de tarefas a cumprir, mas criar espaços, dar condições de que a reforma seja sustentável pela vida cotidiana. É na presença dos profissionais de saúde, dos usuários, dos familiares e das forças que defendem essa causa que a reforma psiquiátrica se organiza, se reinventa e se sustenta a cada dia”.

Para a deputada Erika Kokay, defender o princípio da reforma psiquiátrica é defender uma sociedade efetivamente democrática, em que caibam todos. “Estar na luta antimanicomial significa resgatar a nossa própria humanidade, a nossa subjetividade que está ameaçada por uma opressão que nos quer iguais, em padrões estabelecidos pelo mercado.”

Janice de Carvalho, da Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial (Renila), avalia a criação de espaços comunitários abertos e a redução gradativa de manicômios e hospitais psiquiátricos como avanços importantes, mas reconhece que ainda há muito por fazer. “Neste país de tantos retrocessos, nosso movimento é de resistência. Como dizia Eduardo Galeano [escritor uruguaio], é necessário nos desgastar, morrer por algo sem o qual não vale a pena viver.” Carvalho também pediu aos presentes um minuto de silêncio em homenagem à psicóloga mineira Rosimeire Aparecida da Silva, militante histórica do movimento antimanicomial que faleceu esta semana.

Medicalização – José Alves, representante da Associação Amigos do São Vicente, deu um depoimento pessoal como usuário dos serviços de atenção à saúde mental em Brasília (DF). “O livro dessa história sou eu mesmo. A gente tem que saber e ver de verdade o que é saúde mental, o que é doença mental. Muitas vezes tratamos como doente só quem toma remédio psicotrópico. Doença mental é algo que às vezes cada um de nós tem e não percebe. Vamos ver onde estamos adoecendo as pessoas? Vamos ter cuidado porque manicômio não é só hospital; a nossa casa também pode ser um manicômio.”

O médico psiquiatra Paulo Duarte Amarante concorda que a luta antimanicomial não é apenas contra o hospício em si, mas também contra a medicalização excessiva da sociedade. Segundo ele, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera o uso indiscriminado de antidepressivos como um problema de saúde pública mais sério que a própria depressão. “Proponho que a gente possa seguir o exemplo da Câmara inglesa ao criar uma comissão parlamentar permanente de investigação sobre medicalização, drogas prescritas, financiamento e pesquisa na área”, declarou o presidente de honra da Associação Médica de Saúde Mental (Abrasme) e membro do Comitê de Participação da Conferência Permanente pela Saúde Mental no Mundo (Copersamm).

Compromisso – Ao final da solenidade, o deputado Jean Wyllys fez um compromisso público em nome no Legislativo. “Tudo o que foi apresentado aqui em termos de legislação, a Frente Parlamentar dos Direitos Humanos e a bancada de deputados (as) progressistas desta casa irá tocar, seja no sentido de barrar projetos contrários à expressão dessa cidadania, seja na promoção de projetos que assegurem a saúde mental, contrários ao encarceramento e aos manicômios.” Para ele, a luta antimanicomial não pode estar descolada de outras lutas, como a defesa dos povos indígenas, a política de drogas, pelos direitos LGBT, pelos direitos sexuais e reprodutivos. “Essas lutas são nossas, de todas as pessoas comprometidas com a democracia e os direitos humanos.”

Ainda participaram do evento Lúcio Costa, representante do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Ministério da Justiça; Tânia Inessa, coordenadora do Projeto Interdisciplinar em Saúde Mental do Centro Universitário de Brasília (UniCeub); Alexandre Ribeiro Vanderley, psicanalista e coordenador do ponto de cultura Tá pirando, pirado, pirou, do Rio de Janeiro; e Eva Faleiros, assistente social, diretora do Centro de Convivência e Recriação do Espaço Social (Inverso).

A atividade também foi marcada por apresentações culturais individuais e em grupos de usuários em acompanhamento psíquico no Distrito Federal, que acabaram por emocionar o público.

Terapia de casal e estratégias de resolução de conflito

Fazer revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito, identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico e refletir sobre a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Essas são as questões abordadas no artigo “Terapia de Casal e Estratégias de Resolução de Conflito: Uma Revisão Sistemática”, publicado na edição 37.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

A pesquisa é de autoria das (os) doutorandas (os) em Psicologia Crístofer Batista da Costa e Clarisse Pereira Mosmann, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Marina Zanella Delatorre e Adriana Wagner, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O CFP divulga semanalmente, no portal institucional e nas redes sociais, um artigo da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. A revista tem uma versão eletrônica na plataforma SciELO. É uma forma de a autarquia fortalecer a busca pelo conhecimento científico, divulgando-o para a categoria e para a sociedade.

O objetivo da pesquisa foi realizar uma revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito e identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico em oito bases de dados: Academic Search Complete, Biblioteca Cochrane, Ibecs, Lilacs, Medline, PsycINFO, SciELO e Web of Science, no período de 2006 a 2015.

Os pesquisadores encontraram 238 artigos, sendo incluídos 13 estudos após a avaliação de três juízes independentes. As abordagens comportamental e cognitivo-comportamental se destacaram em relação à sistêmica e à psicodinâmica. Observou-se ainda o consenso sobre o papel da comunicação, da empatia, do perdão, do apoio mútuo e da confiança para a resolução dos conflitos conjugais. Constatou-se, porém, que há falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas. A análise da literatura forneceu um panorama internacional, composto por perspectivas de consenso, já estabelecidos, inconsistências que devem ser superadas e carência de estudos, especialmente no Brasil, contexto potencial de investigação da temática.

Em entrevista, Cristofer Batista da Costa contou mais detalhes da pesquisa.

 

Qual a relevância do tema?

A motivação para realizar uma revisão sistemática sobre terapia de casal e estratégias de resolução de conflito nasceu das reflexões, entre alunos de uma turma de doutorado, sobre a prática clínica baseada em evidências, ou seja, a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Na oportunidade, discutimos e identificamos certo desconhecimento entre nós sobre quais eram as abordagens recomendadas e que efetivamente funcionavam nos atendimentos de casais, nas distintas teorias disponíveis. Verificamos que os nossos questionamentos poderiam ser respondidos através da literatura científica, por meio de estudos que investigaram e avaliaram terapia de casal e estratégias de resolução de conflito. Incluímos as estratégias, pois se sabe ser um fator fundamental à conjugalidade e, portanto, implicado na terapia.

Além disso, por meio do levantamento e da análise dos dados provenientes da revisão sistemática teríamos um “mapa” de como estava o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, o que se sabia e o que ainda precisava ser investigado e respondido. Nesse sentido, a revisão se torna relevante e útil tanto para os profissionais da área clínica como para os pesquisadores.

 

Quais os principais resultados da pesquisa?

Realizar estudos sobre os processos de psicoterapia de casal é um desafio em termos de pesquisa. Embora os autores dos artigos analisados tenham observado os procedimentos metodológicos necessários, verificou-se a necessidade de aumentar ainda mais o rigor científico, especialmente no que se refere à descrição das características dos casos analisados e da comparação entre abordagens distintas. Essa comparação possivelmente não é profícua já que cada abordagem tem objetivos e formas de compreender e tratar diferentes, com base em uma determinada perspectiva teórica.

Os aspectos mais focalizados nos tratamentos de casal, segundo os estudos analisados, foram: comunicação, empatia, perdão, apoio mútuo, confiança e resolução de conflitos. Esse resultado, portanto, pode ser útil na clínica psicológica como um indicador de questões relevantes que podem ser utilizadas na psicoterapia conjugal, seja como hipótese, entendimento ou recurso à disposição do psicoterapeuta.

 

Como superar inconsistências e carência de estudos no Brasil em relação à falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas da terapia de casal?

A Ciência Psicológica tem avançado muito nos últimos anos, o que se deve à realização de pesquisas nos cursos de pós-graduação e centros de pesquisa. Nesse sentido, o investimento público e privado em pesquisa é uma forma de se continuar avançando no conhecimento científico. O diálogo entre a Psicologia e as demais áreas do conhecimento, especialmente a da saúde, é essencial e ocorre se os nossos argumentos, enquanto profissionais da saúde, forem consistentes e a nossa prática efetiva, o que se pode alcançar por meio da pesquisa científica. As inconsistências e a falta de homogeneidade indicam que ainda precisamos avançar na investigação deste tema dentro da Psicologia. Portanto, na medida em que houver investimento e, consequentemente, a possibilidade de realizar pesquisas de forma organizada e sistemática, a precisão no uso dos conceitos e técnicas tende a aumentar.

Leia o artigo na íntegra.

Congresso debate desafios da publicação científica em Psicologia

Buscar o desenvolvimento das publicações em Psicologia, o compartilhamento de informações e meios de resolver as demandas particulares de cada região do Brasil, de forma ética e cientificamente embasada. Com esse objetivo, pesquisadores, profissionais, professores e estudantes de Psicologia se reuniram, nos dias 23 e 24 de março, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo/SP, para o I Congresso Brasileiro da ABECIPsi: Desafios da publicação científica em Psicologia.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) esteve representado no evento promovido pela Associação dos Editores Científicos de Psicologia (ABECIPsi) pelo presidente Rogério Giannini e pela professora Neuza Maria de Fátima Guareschi, editora da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

Na solenidade de abertura, Rogério Giannini falou da importância de espaços de reflexão sobre as publicações científicas na área da Psicologia. Segundo Giannini, congressos como este da ABECIPsi interessam não apenas às instituições que trabalham com a produção científica voltada para formação de psicólogas (os) – especialmente as universidades, com seus grupos de pesquisas e pesquisadores –, mas aos profissionais da Psicologia que no seu dia a dia buscam qualificar suas práticas.

O presidente do CFP também aproveitou para reafirmar o compromisso da autarquia de retomar o diálogo do Sistema de Conselhos com as entidades brasileiras, a exemplo da ABECIPsi, e internacionais, como a União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (ULAPSI), na construção de uma agenda comum em defesa da Psicologia como ciência e profissão. Giannini avalia que um espaço estratégico para essa construção coletiva é o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB), que reúne entidades científicas, profissionais, sindicais e estudantis. 

Contextualização histórica

Ao iniciar sua explanação sobre o tema “Publicação de qualidade em nível de graduação e pós-graduação em nações emergentes e em desenvolvimento: estratégias de superação”, a professora Neusa Guareschi fez um apanhado da organização da Psicologia no sistema de pós-graduação – história da Psicologia​, ​metodologias e disciplinas que se desenvolveram e se destacaram na pesquisa – a partir da contextualização da produção de periódicos nacionais, destacando as singularidades da revista editada trimestralmente pelo Sistema de Conselhos de Psicologia.

Em seguida, a editora da Revista Psicologia: Ciência e Profissão fez uma análise dos principais periódicos da área em circulação atualmente, pontuando suas condições técnicas e recursos. Para encerrar, Neusa exemplificou estratégias desenvolvidas para fazer frente às exigências de qualificação, tendo em vista a demanda de internacionalização.

Para Neuza Guareschi, o CFP desde os anos 1990 têm figurado entre as instituições que mais incentivam a produção científica na área da Psicologia, tendo atuado na organização da BVS Psi e no apoio à organização da própria ABECiPs​i. 

Reconhecimento

Os participantes do Congresso da ABECIPsi receberam exemplares da edição mais recente (37.1) da Revista Psicologia: Ciência e Profissão e elogiaram a publicação. O prof.º Manoel Antônio dos Santos da Universidade de São Paulo/USP fez questão de citar o constante aperfeiçoamento da revista em sua fala na mesa de abertura “As publicações científicas de pesquisadores brasileiros e desafios da internacionalização”.

“A revista Psicologia: Ciência e Profissão é uma das minhas preferidas. Elogiei a linha editorial, a organização logística e a equipe envolvida na produção. Disse ainda que é uma excelente opção para os autores que desejam compartilhar conhecimentos da Psicologia, que estão contribuindo para transformar as condições de vida da população, divulgarem seus relatos de experiência profissional e conhecerem experiências inovadoras nas várias áreas de atuação da Psicologia”, ressaltou o autor do artigo Transtorno Alimentar e Transmissão Psíquica Transgeracional em um Adolescente do Sexo Masculino, que compõe a edição 37.1 do periódico.