CFP realiza encontro em Boa Vista para dialogar sobre Psicologia e saúde indígena

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoveu no dia 1º de outubro o encontro “Psis pela Saúde Indígena”, no Centro de Educação (CEDUC) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), em Boa Vista. A iniciativa é parte de um conjunto de ações para fortalecer a atuação psicossocial na região Norte do Brasil.

O evento reuniu cerca de 70 psicólogos e psicólogas que trabalham com populações indígenas em Roraima e estados vizinhos, além de representantes do Conselho Regional de Psicologia da 20ª Região (CRP-AM/RR). Na ocasião, o CFP, foi representado por Izabel Hazin (conselheira-secretária), Célia Mazza (conselheira-tesoureira), Nita Tuxá e as conselheiras da Região Norte, Isadora Canto e Fabiane Fonseca.

Esta é a primeira vez que a atual gestão promove esse encontro na região focado especificamente em conhecer e dar suporte às(aos) profissionais da Saúde e Assistência Social, evidenciando o compromisso do Conselho Federal com as questões indígenas na Psicologia. “Essa aproximação junto à categoria é essencial para que possamos entender as necessidades e desafios que enfrentamos”, afirmou Izabel Hazin.

Durante sua apresentação, a conselheira Nita Tuxá destacou as novas dinâmicas sociais na região Norte, especialmente a crescente presença de indígenas nas cidades, tanto territorializados quanto desterritorializados, em meio a significativas transformações culturais. “É um erro pensar que a atuação junto às populações indígenas se limita a seus territórios, pois há uma diversidade de povos que requer também políticas públicas variadas”, enfatizou.

Nita Tuxá reconheceu ainda que muitos profissionais da Psicologia desconhecem a realidade indígena, o que dificulta a efetividade de seu trabalho. “Precisamos entender que, mesmo com lacunas na formação, temos ferramentas para atuar junto a essas populações. A principal delas é que o profissional se encontre disponível para um processo de interculturalidade”, ressaltou a conselheira.

Atuação do Sistema Conselhos

O Sistema Conselhos tem discutido temas relacionados à atuação das psicólogas e psicólogos na região Norte, incluindo reflexões sobre a prática profissional, com base em resoluções, referências técnicas e no Código de Ética.

Em agosto deste ano, o CFP promoveu um debate em Brasília sobre a saúde mental de povos indígenas, reunindo entidades do movimento indígena e órgãos governamentais com o objetivo de desenvolver diálogos que promovam o bem-viver e a saúde mental dessa população.

Em 2024, foi lançada uma edição atualizada das Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) junto aos Povos Indígenas, desenvolvidas pelo Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop).

O processo eleitoral dos Conselhos Regionais agora exige cotas para candidaturas de grupos identitários, como pessoas com deficiência, negras, trans e indígenas, uma medida pioneira que reforça a inclusão.

Seções em Foco

O CFP realizou no dia 2 de outubro, também em Boa Vista/RR, o evento “Seções em Foco: processos administrativos e compartilhamento de práticas”. O encontro reuniu representantes do Conselho Federal e das Seções dos estados do Amapá, de Roraima e do Acre, bem como suas respectivas sedes: CRPs 10 (Pará), 20 (Manaus) e 24 (Rondônia), em agenda que integrou um conjunto de iniciativas para fortalecer a atuação da Psicologia na região Norte do país.

O objetivo foi discutir assuntos comuns da dinâmica entre as instâncias do Sistema Conselhos, promover a troca de experiências e melhorar as práticas de gestão. Entre os temas, a Resolução CFP nº 04/2023, prestação de contas, requisitos para desmembramento, Programa de sustentabilidade, Programa Nacional de Tecnologia da Informação e Escola de Governança.

O presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho, e as conselheiras Célia Mazza, Izabel Hazin, Nita Tuxá, Isadora Canto e Fabiane Fonseca representaram o Conselho Federal na atividade.

Confira a galeria de fotos do encontro “Psis pela Saúde Indígena”.

Especialistas alertam para os riscos da contaminação por mercúrio às populações indígenas

Psicólogas(os) especialistas chamam atenção para os perigos à saúde e ao desenvolvimento das populações indígenas em função da contaminação por mercúrio proveniente dos garimpos. O alerta foi feito em debate virtual realizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) na última quinta-feira (9).

O diálogo ouviu pesquisadoras e pesquisadores sobre estudos no Brasil e na América do Sul sobre o impacto do mercúrio no cotidiano das populações indígenas com o intuito de propor estratégias de atuação da Psicologia frente a esse desafio.

O presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho, explicou que a Psicologia brasileira está atenta à questão indígena e que o tema se encontra no cerne dos debates entre as(os) profissionais da categoria. “A garantia da saúde indígena está sendo anunciada para o mundo como um grande enfrentamento que a sociedade brasileira precisa fazer. E, no dia de hoje, estamos aqui para dizer o quanto este também é um tema para a Psicologia brasileira. As questões indígenas hoje estão no palco das nossas discussões”, apontou.

Para a conselheira-secretária do CFP, Izabel Hazin, a temática indígena abre uma agenda de desafios para a nossa ciência e profissão. “Essa é uma agenda que precisa ser pensada numa perspectiva da Psicologia indígena, que é transversal. Então, é preciso pensar em avaliação, é preciso pensar em desenvolvimento, é preciso pensar na construção de instrumentos que sejam socioculturalmente circunscritos”, ressaltou.

A conselheira Nita Tuxá, primeira indígena psicóloga a integrar um plenário do CFP, pontuou os danos às comunidades indígenas provocados pela exploração em seus territórios. “São populações que estabelecem uma relação de muita intimidade e pertencimento com aquele chão, com aquele rio, com aquele lugar. Não é só o campo biológico, são danos psicossociais, são danos cosmológicos, são danos que implicam na não-promoção do bem-viver”.

Impactos à saúde física e mental

A professora de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Chrissie Ferreira de Carvalho, falou como a Psicologia se faz presente nos estudos e projetos em populações contaminadas. Ela contou que as populações ribeirinhas estão expostas ao mercúrio de forma crônica, passando de mãe para filhas e filhos. Apontou ainda os efeitos desta longa contaminação pelo metal: “Mesmo uma concentração baixa de mercúrio, um pouco maior do considerado normal, já gera efeitos negativos na cognição humana”, explicou a psicóloga.

Cassio Santos Lima, doutor em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), destacou que estudos têm identificado risco à saúde de maneira geral e do funcionamento cognitivo às populações ribeirinhas expostas ao mercúrio. “Em níveis elevados, o mercúrio gera um efeito negativo para a cognição e a cognição é fundamental para aspectos básicos de aprendizagem, de funcionalidade. Então, é importante que a Psicologia faça parte desse debate, justamente para conseguir viabilizar políticas públicas”, defendeu.

O psicólogo colombiano e professor da Corporação Universitária do Caribe (CECAR) César Argúmedos de La Ossa alertou que os efeitos da exposição ao mercúrio são ainda mais graves na fase do desenvolvimento gestacional. “Especialmente nos últimos anos, os estudos na área da Psicologia, mais especialmente da Neuropsicologia, têm mostrado que o neurodesenvolvimento é a área mais afetada nas crianças e é muito mais grave quando essa exposição começa ainda no desenvolvimento no período da gravidez”, alertou.

O debate virtual foi transmitido ao vivo e segue disponível nas plataformas digitais do Conselho Federal de Psicologia.

Referências Técnicas

Em 2022, o Conselho Federal de Psicologia lançou as “Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas junto aos Povos Indígenas”, com diretrizes para atuação das(os) profissionais da Psicologia na área.

As Referências Técnicas são recursos que o Conselho Federal de Psicologia oferece às(aos) psicólogas(os) que atuam no âmbito das políticas públicas como instrumento para a qualificação e a orientação de sua prática profissional.

As obras são elaboradas no âmbito do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop). Visite o site do CFP para baixar a publicação em PDF

Estado de violência

No Brasil de hoje, as violências às quais os povos indígenas e outros segmentos sociais vulnerabilizados estão submetidos evidenciam uma realidade de negação de seus direitos, como a garantia e a preservação da integridade física e cultural, a permanência em seus territórios, a liberdade e a igualdade a todos os povos e indivíduos.

A situação de violência vem crescendo e atingindo populações como as indígenas, quilombolas e povos tradicionais. Impossível não recordar do assassinato do índio Galdino, há 21 anos, em Brasília, no qual o ódio, a intolerância e o desprezo ao diferente foram evidenciados, como um anúncio do que estava por vir. Exemplos recentes são a morte do menino Kaingang nos braços de sua mãe, em Imbituba (SC), em 2015, e o assassinato da liderança Marcondes Namblá, que morreu espancado em Penha, no mesmo estado, em 2018.

Para unificar as lutas em defesa dos direitos originários dos povos indígenas, o Acampamento Terra Livre (ATL) vai reunir em Brasília, entre 23 e 27 de abril de 2018, povos e organizações indígenas de todas as regiões do país, unidos sob a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Para o conselheiro Paulo Maldos, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), o ATL deve ser reconhecido e valorizado como espaço de preservação dos direitos dos povos indígenas, da diversidade étnica e cultural brasileira, de forma a “favorecer um clima de respeito em nosso país de convivência pacífica de todos os diferentes”.