Quando nossas vidas importam: CFP participa de seminário LGBT

A conjuntura política brasileira impede o avanço das demandas da população LGTB. A análise dos participantes do 14º Seminário LGBT do Congresso Nacional, realizado nessa quarta-feira (13/6), em Brasília, foi unânime. Durante o evento, parceria de oito comissões temáticas da Câmara e do Senado, a audiência destacou a pauta conservadora e antidemocrática do Congresso Nacional e do governo brasileiro.

Sandra Spósito, representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), convidou todas (os) as (os) participantes para defender a Resolução CFP 01/99, destacou que a Psicologia não trata a homossexualidade como doença e que o entendimento sobre a transexualidade segue o mesmo caminho.

Parlamentares e representantes de movimentos sociais LGBT falaram da necessidade de conter o avanço conservador no Congresso Nacional. O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) explicou que a proposta do evento era enumerar ideias para proposições legislativas e estratégias políticas que possam impedir que projetos que tentem “barrar nossa cidadania” sejam aprovados. “Os artistas, os trabalhadores da cultura e os movimentos sociais estão nas ruas pedindo diretas já e essa luta nos diz respeito, porque só a democracia pode garantir o avanço da luta da comunidade LGBT por cidadania plena.”

Tensionamentos – A deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ) falou sobre as lutas para barrar projetos de Decretos Legislativos que buscam sustar os efeitos da Resolução CFP 01/99. Para a parlamentar, “doentes são os homofóbicos. Doentes são os LGBTfóbicos”. O deputado Bacelar (Pode-BA) citou, entre as medidas conservadoras, a retirada pelo Ministério da Educação das expressões “identidade de gênero” e “orientação sexual” da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Em seguida, Andrey Lemos, da União Nacional LGBT (UnaLGBT), a conselheira Sandra Spósito, Thais Paz, do Coletivo LGBT do Movimento dos Sem Terra (MST), Marina Reidel, da Coordenação LGBT do Ministério dos Direitos Humanos, e dom Maurício Andrade, bispo da Diocese Anglicana de Brasília, fizeram a mediação do debate com o público.

Sandra Spósito disse que o avanço das visões conservadoras e fundamentalistas afetam diversos espaços de atuação da Psicologia e provoca tensionamentos. Ao lembrar a tramitação do Projeto de Decreto Legislativo 539/2016 que busca sustar a Resolução 01/99, disse que essas iniciativas de retorno às concepções patologizantes significam retrocesso à garantia de direitos e alimentam visão distorcida e preconceituosa das expressões homossexuais. Spósito contou que o CFP defende o processo de despatologização das identidades trans. “As pessoas trans precisam de cuidados relacionados aos diversos processos de mudanças corporais, mas isso não significa que estejam doentes.” Ela falou ser necessário articular esforços para enfrentar tentativas de legislar em prol da patologização das pessoas LGBT. “Temos que mobilizar todo mundo. Isso é uma pauta da Psicologia, das profissões da área da saúde, do movimento LGBT, das famílias LGBT, e de um projeto de sociedade baseado na prerrogativa da diversidade e dos direitos humanos.”

Cotidiano – Spósito destacou também que esse tipo de conflito não atinge somente a Psicologia, mas outras profissões, como o Serviço Social, e ramos da Educação e da Saúde, nos quais os profissionais estão sendo confrontados no seu cotidiano e necessitam responder a temas como o respeito ao nome social e à diversidade sexual.

Em março, representantes de diferentes conselhos profissionais decidiram, durante reunião em Brasília, articular ações para defender a Resolução CFP nº 01/1999, que estabelece normas de atuação para psicólogas (os) em relação à orientação sexual. A decisão foi tomada na sede do CFP por dirigentes da autarquia e representantes do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Conselho Federal de Farmácia (CFF), Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-03), Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee) e Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi).

Assista os vídeos 1 e 2 do XIV Seminário LGBT do Congresso Nacional:

Saiba mais:

Em defesa da Resolução 01/1999

CFP participa de reunião de conselho de combate à discriminação LGBT

CFP apoia posicionamento da ALGBT sobre censura de livros didáticos em Rondônia

Com informações da Agência Câmara de Notícias.

Seminário discute crise do sistema carcerário brasileiro

O sistema prisional vive grave crise no Brasil. Entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, pelo menos 120 mortes ocorreram nos presídios brasileiros. O confronto entre as facções criminosas, a superlotação, o encarceramento em massa, a tortura no cárcere e a morosidade da justiça são algumas das causas do agravamento da crise. Dados da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, a população carcerária em 2015 era superior a 714 mil prisioneiros, colocando o Brasil na quarta posição do mundo, com 193 pessoas presas a cada 100 mil. Integrantes da comissão visitaram o Brasil em agosto de 2015.

O Projeto de Lei 499/2015, recentemente aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, reivindica a volta do exame criminológico e aumenta os prazos para progressão de regime. O exame foi abolido em 2003 pela Lei 10.792. Para Paulo Maldos, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), os exames criminológicos possuem uma concepção positivista, maniqueísta e não tem aprovação do CFP sob o ponto de vista ético-científico. A conclusão foi apresentada pelo conselheiro durante o Seminário de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. O evento, cujo debate girou sobre as crises e perspectivas do sistema penitenciário brasileiro, ocorreu nessa quarta-feira (7/6), em Brasília.

Segundo Maldos, esses exames servem para estrangular os benefícios legais, como progressão de regras para liberdade condicional, contribuindo para a superlotação das penitenciarias brasileiras. “É impossível prever o comportamento de uma pessoa, no caso, o comportamento criminoso, com base em exames psicológicos”. Segundo a legislação em vigor, requisitar o exame criminológico fica a critério do juiz.

Além de Maldos, participaram do seminário a coordenadora-geral de Promoção à Cidadania do Departamento Penitenciário Nacional, Mara Fregapani Barreto, o presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, Fábio Tofic Simantob, a pesquisadora Viviane Balbuglio, do programa Justiça Sem Muros do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, a representante da Associação Nacional dos Defensores Públicos, Alessa Pagan Veiga, e o perito do Mecanismo de Combate à Tortura, José Ribamar Araújo e Silva. O coordenador nacional da Pastoral Carcerária, Pétalla Brandão Timo, o representante do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Cristiano Ávila Maronna, a diretora da Associação de Familiares de Internos e Internas do Sistema Penitenciário do DF e Entorno, Darlana Ribeiro Godoi, a pesquisadora Monique de Carvalho Cruz, da Justiça Global, o coordenador nacional da Pastoral Carcerária, Valdir João Silveira, e o representante do Conectas, Pétalla Brandão Timo, também debateram o tema.

ABEP enfatiza que formação em Psicologia deve ser presencial

Em nota divulgada no último dia 2 de junho, a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP) repudiou o conteúdo do Decreto Presidencial nº 9.057, de 25 de maio de 2017, que regulamenta a oferta de cursos na modalidade a distância desde a educação básica até o ensino superior. Na prática, o decreto autoriza a oferta de cursos de graduação em nível superior realizados exclusivamente pela internet, até mesmo na área da saúde.

Segundo a ABEP, o Decreto nº 9.057/2017 surge em total descompasso com as deliberações do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e dos Conselhos Federais e as Associações de Ensino das profissões de saúde, que já se posicionaram contrários à existência de graduações ministradas totalmente na modalidade a distância.

“A modalidade EAD deve ser adotada com parcimônia, sem considerá-la um substituto da educação básica e da formação superior inicial. […] formar não é apenas oferecer conteúdos teóricos, metodológicos e/ou práticos, mas envolve convivência, debate, acesso a experiências práticas individuais e coletivas, bem como a inúmeras práticas formativas extra-classe”, afirma trecho da nota da ABEP.

A Associação Brasileira de Ensino em Psicologia classifica como inadequada a possibilidade de graduação em Psicologia ministrada exclusivamente pela modalidade EAD, “em função da natureza do saber psicológico, da diversidade e complexidade da constituição da ciência psicológica, bem como do sentido do que deve ser a formação profissional – que representa mais que absorção de conteúdos e aprendizagem de técnicas; implica a construção da identidade profissional, que se realiza no encontro, nas trocas coletivas”.

Leia na íntegra a “Nota pública contra o esfacelamento da educação superior no Brasil”, divulgada pela ABEP.

CFP repudia assassinato sistemático de trabalhadores rurais

A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CNDH/CFP) vem a público se posicionar contra o assassinato sistemático de trabalhadores rurais, ato que se tornou rotina no Pará e em diversos outros estados do Brasil.

No dia 24 de maio de 2017, em uma operação policial no município de Pau d’Arco/PA, dez trabalhadores rurais, dos quais sete de uma mesma família, foram mortos por policiais, que dizem ter sido recebidos com tiros pelos trabalhadores. Esta tese, todavia, foi desmentida por representantes de vários órgãos federais e estaduais que estiveram no local, como a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, a Defensoria Pública da União, a Procuradoria-Geral do Pará e o Conselho Nacional dos Direitos Humanos. Outro fato que aponta para a hipótese de uma chacina sãos relatos de que pelo menos um trabalhador teria sido baleado pelas costas, de acordo com integrantes do Núcleo Avançado de Perícias de Parauapebas/PA. Nenhum policial saiu ferido da operação, portanto, narrativas de que os policiais teriam sido recebidos à bala não se sustentam.

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, 2016 foi ano recorde de assassinatos no campo, no Brasil. Em 2017, houve chacina de trabalhadores rurais, por capangas de fazendeiros, por policiais ou milícias no Rio Grande do Norte e no Mato Grosso. Há casos recorrentes de sérios conflitos agrários contra trabalhadores rurais também no Paraná, em Minas Gerais, em São Paulo, no Ceará, no Mato Grosso do Sul, em Goiás, no Tocantins, na Bahia e no Amazonas. Mais de 955 áreas já foram mapeadas no país como palcos de conflitos agrários. A maioria delas está nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Como parte de sua atribuição, a Comissão Nacional de Direitos de Humanos do Conselho Federal de Psicologia aponta e dá visibilidade ao aspecto e ao sofrimento psíquico decorrentes da violação dos direitos humanos. Lembramos que mortes inesperadas, rupturas bruscas e com agravante dos corpos terem sido lesionados e desprezados podem causar, nos familiares, grave vivência de aniquilamento, desespero e revolta, dificultando, assim, a elaboração do processo de luto.

Chamamos a atenção sobre a importância de reivindicarmos uma agenda de construção ativa de direitos relacionados à questão da terra no país, seguida do acompanhamento da execução e do cumprimento do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil e de um monitoramento e providências sistemáticas face aos frequentes atentados à vida dos trabalhadores rurais e às mortes no campo decorrentes da hiperexploração do trabalho rural e das disputas de terras no país.

Comissão Nacional de Direitos Humanos
Conselho Federal de Psicologia

Luta antimanicomial: evento em BH faz homenagem a Marcus Vinícius

Para destacar a importância da luta antimanicomial na consolidação da reforma psiquiátrica, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), o Fórum Mineiro de Saúde Mental e o Sindicato das (os) Psicólogas (os) de Minas Gerais vão promover, dia 30 de maio, em Belo Horizonte, o simpósio “Se o encanto me encontrar dessa vez, deixo ele entrar: uma homenagem a Marcus Vinícius e à luta antimanicomial”. O evento, que encerra as comemorações do Sistema Conselhos, será realizado às 9h30, no Museu da Imagem e do Som Santa Tereza.

Há 30 anos, em 18 de maio, 350 trabalhadores de saúde mental presentes ao II Congresso de Trabalhadores da Saúde Mental ocuparam as ruas de Bauru, em São Paulo, e fizeram a primeira manifestação pública organizada no Brasil pela extinção dos manicômios. A atitude marcou uma ruptura, pois eles se recusaram a exercer o papel de agente da exclusão e da violência institucionalizadas, “que desrespeitam os mínimos direitos da pessoa humana”.

Com o lema “Por uma sociedade sem manicômios”, o congresso discutiu as formas de cuidado aos que apresentam sofrimento mental grave e representou um marco histórico do Movimento da Luta Antimanicomial, inaugurando uma nova trajetória da reforma psiquiátrica brasileira.

O manifesto diz que o Estado que gerencia os serviços de saúde mental é o mesmo que impõe e sustenta os mecanismos de exploração e de produção social da loucura e da violência. “O compromisso estabelecido pela luta antimanicomial impõe uma aliança com o movimento popular e a classe trabalhadora organizada.”

O manicômio expressa uma estrutura presente nos diversos mecanismos de opressão da sociedade, como a opressão nas fábricas, nas instituições de adolescentes, nos cárceres, a discriminação contra negros, homossexuais, índios e mulheres, esclarece outro trecho do manifesto. “Lutar pelos direitos de cidadania dos doentes mentais significa incorporar-se à luta de todos os trabalhadores por seus direitos mínimos à saúde, justiça e melhores condições de vida.”

“Se o encanto me encontrar dessa vez, deixo ele entrar: uma homenagem a Marcus Vinícius e à luta antimanicomial”

Programação

9h30 – Mesa de abertura

10h – Homenagem a Marcus Vinícius de Oliveira e Silva: leitura de poemas

10h30 – Conferência: “Cartografia da luta pela democracia no Brasil e futuros possíveis”, Peter Pál Pelbart, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Coordenação: Cláudia Natividade, presidenta do CRP-MG

11h30 – Abertura da exposição em homenagem a Marcus Vinícius e à luta antimanicomial e lançamento do livro “O avesso do niilismo: cartografias do esgotamento”, de Peter Pál Pelbart

Intervalo

13h30 – Mesa: “Quando o encanto me encontrar, deixarei que ele me alcance como um raio que me parte, o ser total que eu sou”

“O encontro com a Psicologia”, Ana Bock, professora da PUC-SP

“O encontro com a Luta Antimanicomial”, Marta Elizabete de Souza, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais

“O encontro com os Direitos Humanos”, Marcelo Magalhães Andrade, professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenador do Coletivo Balance de Redução de Danos.

Coordenação: Rogério Giannini, presidente do CFP

16h – Encerramento: Apresentação cultural dos usuários de saúde mental
O evento é gratuito e as vagas estão sujeitas à lotação do espaço.

As inscrições podem ser realizadas no local. Haverá emissão de certificados.

Informações: estagio.rp@crp04.org.br.

Se o encanto me encontrar dessa vez, deixo ele entrar: uma homenagem a Marcus Vinícius e à luta antimanicomial

Data: 30 de maio (terça-feira)
Hora: 09h30
Local: Museu da Imagem e do Som Santa Tereza, Rua Estrela do Sul, 89, Belo Horizonte, MG

Presidentes e tesoureiros do Sistema Conselhos reunidos

Presidentes e tesoureiros de todos os Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Psicologia estão reunidos nesta sexta-feira (19) na sede do CFP em Brasília/DF para os últimos preparativos da Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (APAF) que acontece este fim de semana.

Na abertura dos trabalhos, a vice-presidente do CFP, Ana Sandra Nóbrega, lembrou com tristeza o falecimento da psicóloga Rosimeire Aparecida Silva na última segunda-feira (15/5), uma grande perda para o Sistema Conselhos de Psicologia. Numa singela homenagem, todos os participantes da reunião e da equipe técnica do CFP, que apoia a realização da atividade, fizeram um momento de aplauso em memória da colega que foi uma importante militante da defesa dos direitos humanos e do exercício ético da Psicologia.

APAF ao vivo

Realizada pelo menos duas vezes ao ano, a Assembleia do Sistema Conselhos é composta por conselheiros federais e regionais de Psicologia. O CFP tem até três delegados e o número de representantes regionais varia de um a três, dependendo do número de profissionais inscritos no CRP.

A partir de amanhã, às 9h, os dois dias de reunião (20 e 21/5) serão transmitidos em tempo real, a partir das 9h, pelo site cfp.org.br.

Confira a galeria de imagens da reunião desta sexta-feira (19)

 

 

 

“Não existe manicômio humanizado. O que trata é a liberdade”

O Plenário Ulisses Guimarães da Câmara dos Deputados transformou-se nesta quarta-feira (17/5) em espaço de debate sobre os avanços e desafios da atenção à saúde mental no Brasil. A Sessão Solene pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial, convocada pelos deputados Erika Kokay (PT-DF) e Jean Wyllys (Psol-RJ), antecipa as comemorações do 18 de maio em todo o país.

Passadas três décadas desde a primeira manifestação social pública em defesa da reforma psiquiátrica (Manifesto de Bauru) e 16 anos de criação da rede substitutiva aos manicômios no Brasil, ainda é preciso defender a liberdade como o centro da atenção psicossocial, segundo o presidente do Conselho Federal de Psicologia, Rogério Giannini. “Não existe manicômio bom, humanizado. O que trata é a liberdade. A atenção se faz no cotidiano, pelas equipes de saúde mental da rede substitutiva e com a presença das famílias”, disse.

Segundo Rogério, a reforma psiquiátrica precisa ser construída no dia a dia. “Não se trata apenas de um conjunto de tarefas a cumprir, mas criar espaços, dar condições de que a reforma seja sustentável pela vida cotidiana. É na presença dos profissionais de saúde, dos usuários, dos familiares e das forças que defendem essa causa que a reforma psiquiátrica se organiza, se reinventa e se sustenta a cada dia”.

Para a deputada Erika Kokay, defender o princípio da reforma psiquiátrica é defender uma sociedade efetivamente democrática, em que caibam todos. “Estar na luta antimanicomial significa resgatar a nossa própria humanidade, a nossa subjetividade que está ameaçada por uma opressão que nos quer iguais, em padrões estabelecidos pelo mercado.”

Janice de Carvalho, da Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial (Renila), avalia a criação de espaços comunitários abertos e a redução gradativa de manicômios e hospitais psiquiátricos como avanços importantes, mas reconhece que ainda há muito por fazer. “Neste país de tantos retrocessos, nosso movimento é de resistência. Como dizia Eduardo Galeano [escritor uruguaio], é necessário nos desgastar, morrer por algo sem o qual não vale a pena viver.” Carvalho também pediu aos presentes um minuto de silêncio em homenagem à psicóloga mineira Rosimeire Aparecida da Silva, militante histórica do movimento antimanicomial que faleceu esta semana.

Medicalização – José Alves, representante da Associação Amigos do São Vicente, deu um depoimento pessoal como usuário dos serviços de atenção à saúde mental em Brasília (DF). “O livro dessa história sou eu mesmo. A gente tem que saber e ver de verdade o que é saúde mental, o que é doença mental. Muitas vezes tratamos como doente só quem toma remédio psicotrópico. Doença mental é algo que às vezes cada um de nós tem e não percebe. Vamos ver onde estamos adoecendo as pessoas? Vamos ter cuidado porque manicômio não é só hospital; a nossa casa também pode ser um manicômio.”

O médico psiquiatra Paulo Duarte Amarante concorda que a luta antimanicomial não é apenas contra o hospício em si, mas também contra a medicalização excessiva da sociedade. Segundo ele, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera o uso indiscriminado de antidepressivos como um problema de saúde pública mais sério que a própria depressão. “Proponho que a gente possa seguir o exemplo da Câmara inglesa ao criar uma comissão parlamentar permanente de investigação sobre medicalização, drogas prescritas, financiamento e pesquisa na área”, declarou o presidente de honra da Associação Médica de Saúde Mental (Abrasme) e membro do Comitê de Participação da Conferência Permanente pela Saúde Mental no Mundo (Copersamm).

Compromisso – Ao final da solenidade, o deputado Jean Wyllys fez um compromisso público em nome no Legislativo. “Tudo o que foi apresentado aqui em termos de legislação, a Frente Parlamentar dos Direitos Humanos e a bancada de deputados (as) progressistas desta casa irá tocar, seja no sentido de barrar projetos contrários à expressão dessa cidadania, seja na promoção de projetos que assegurem a saúde mental, contrários ao encarceramento e aos manicômios.” Para ele, a luta antimanicomial não pode estar descolada de outras lutas, como a defesa dos povos indígenas, a política de drogas, pelos direitos LGBT, pelos direitos sexuais e reprodutivos. “Essas lutas são nossas, de todas as pessoas comprometidas com a democracia e os direitos humanos.”

Ainda participaram do evento Lúcio Costa, representante do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Ministério da Justiça; Tânia Inessa, coordenadora do Projeto Interdisciplinar em Saúde Mental do Centro Universitário de Brasília (UniCeub); Alexandre Ribeiro Vanderley, psicanalista e coordenador do ponto de cultura Tá pirando, pirado, pirou, do Rio de Janeiro; e Eva Faleiros, assistente social, diretora do Centro de Convivência e Recriação do Espaço Social (Inverso).

A atividade também foi marcada por apresentações culturais individuais e em grupos de usuários em acompanhamento psíquico no Distrito Federal, que acabaram por emocionar o público.

Debate Digital: Dia Nacional da Luta Antimanicomial

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizou no dia 17 de maio, o debate “Luta Antimanicomial: A liberdade cuida, o cuidado liberta”, em comemoração ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio). A atividade foi transmitida em tempo real pelo site www.cfp.org.br e integra a celebração da data, instituída há 30 anos após a publicação do Manifesto de Bauru.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial representa um marco no combate ao estigma e à exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave. A proposta de dedicar um dia para lembrar a luta contra o aprisionamento de pessoas diagnosticadas com “transtornos mentais” surgiu em 1987, durante o II Congresso de Trabalhadores da Saúde Mental, realizado em Bauru (SP).

Com o lema “Por uma sociedade sem manicômios”, o congresso discutiu as formas de cuidado com os que apresentam sofrimento mental grave e representou um marco histórico do Movimento da Luta Antimanicomial, inaugurando uma nova trajetória da Reforma Psiquiátrica brasileira.

O diálogo foi conduzido pelo presidente do CFP, Rogério Giannini, por Paulo Duarte Amarante e Ivarlete Guimarães de França. Amarante é mestre em Medicina Social, doutor em Saúde Pública e presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme). A psicóloga França, do CRP-07/RS, é especialista em saúde e trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e ativista da saúde mental.

Debate Dia Nacional da Luta Antimanicomial

“A liberdade cuida, o cuidado liberta”

Data: 17 de maio de 2017
Horário: 15h
Transmissão ao vivo pelo site cfp.org.br

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Terapia de casal e estratégias de resolução de conflito

Fazer revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito, identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico e refletir sobre a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Essas são as questões abordadas no artigo “Terapia de Casal e Estratégias de Resolução de Conflito: Uma Revisão Sistemática”, publicado na edição 37.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

A pesquisa é de autoria das (os) doutorandas (os) em Psicologia Crístofer Batista da Costa e Clarisse Pereira Mosmann, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Marina Zanella Delatorre e Adriana Wagner, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O CFP divulga semanalmente, no portal institucional e nas redes sociais, um artigo da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. A revista tem uma versão eletrônica na plataforma SciELO. É uma forma de a autarquia fortalecer a busca pelo conhecimento científico, divulgando-o para a categoria e para a sociedade.

O objetivo da pesquisa foi realizar uma revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito e identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico em oito bases de dados: Academic Search Complete, Biblioteca Cochrane, Ibecs, Lilacs, Medline, PsycINFO, SciELO e Web of Science, no período de 2006 a 2015.

Os pesquisadores encontraram 238 artigos, sendo incluídos 13 estudos após a avaliação de três juízes independentes. As abordagens comportamental e cognitivo-comportamental se destacaram em relação à sistêmica e à psicodinâmica. Observou-se ainda o consenso sobre o papel da comunicação, da empatia, do perdão, do apoio mútuo e da confiança para a resolução dos conflitos conjugais. Constatou-se, porém, que há falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas. A análise da literatura forneceu um panorama internacional, composto por perspectivas de consenso, já estabelecidos, inconsistências que devem ser superadas e carência de estudos, especialmente no Brasil, contexto potencial de investigação da temática.

Em entrevista, Cristofer Batista da Costa contou mais detalhes da pesquisa.

 

Qual a relevância do tema?

A motivação para realizar uma revisão sistemática sobre terapia de casal e estratégias de resolução de conflito nasceu das reflexões, entre alunos de uma turma de doutorado, sobre a prática clínica baseada em evidências, ou seja, a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Na oportunidade, discutimos e identificamos certo desconhecimento entre nós sobre quais eram as abordagens recomendadas e que efetivamente funcionavam nos atendimentos de casais, nas distintas teorias disponíveis. Verificamos que os nossos questionamentos poderiam ser respondidos através da literatura científica, por meio de estudos que investigaram e avaliaram terapia de casal e estratégias de resolução de conflito. Incluímos as estratégias, pois se sabe ser um fator fundamental à conjugalidade e, portanto, implicado na terapia.

Além disso, por meio do levantamento e da análise dos dados provenientes da revisão sistemática teríamos um “mapa” de como estava o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, o que se sabia e o que ainda precisava ser investigado e respondido. Nesse sentido, a revisão se torna relevante e útil tanto para os profissionais da área clínica como para os pesquisadores.

 

Quais os principais resultados da pesquisa?

Realizar estudos sobre os processos de psicoterapia de casal é um desafio em termos de pesquisa. Embora os autores dos artigos analisados tenham observado os procedimentos metodológicos necessários, verificou-se a necessidade de aumentar ainda mais o rigor científico, especialmente no que se refere à descrição das características dos casos analisados e da comparação entre abordagens distintas. Essa comparação possivelmente não é profícua já que cada abordagem tem objetivos e formas de compreender e tratar diferentes, com base em uma determinada perspectiva teórica.

Os aspectos mais focalizados nos tratamentos de casal, segundo os estudos analisados, foram: comunicação, empatia, perdão, apoio mútuo, confiança e resolução de conflitos. Esse resultado, portanto, pode ser útil na clínica psicológica como um indicador de questões relevantes que podem ser utilizadas na psicoterapia conjugal, seja como hipótese, entendimento ou recurso à disposição do psicoterapeuta.

 

Como superar inconsistências e carência de estudos no Brasil em relação à falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas da terapia de casal?

A Ciência Psicológica tem avançado muito nos últimos anos, o que se deve à realização de pesquisas nos cursos de pós-graduação e centros de pesquisa. Nesse sentido, o investimento público e privado em pesquisa é uma forma de se continuar avançando no conhecimento científico. O diálogo entre a Psicologia e as demais áreas do conhecimento, especialmente a da saúde, é essencial e ocorre se os nossos argumentos, enquanto profissionais da saúde, forem consistentes e a nossa prática efetiva, o que se pode alcançar por meio da pesquisa científica. As inconsistências e a falta de homogeneidade indicam que ainda precisamos avançar na investigação deste tema dentro da Psicologia. Portanto, na medida em que houver investimento e, consequentemente, a possibilidade de realizar pesquisas de forma organizada e sistemática, a precisão no uso dos conceitos e técnicas tende a aumentar.

Leia o artigo na íntegra.

Faltam profissionais de Psicologia para atuar na educação inclusiva 

#CFPAcessível #PraCegoVer: Descrição da imagem: Imagem dividida em quatro quadros. Três na cores: amarelo, azul e lilás. O outro com uma foto da entrevistada Diva Conde, em formato de desenho. No parte debaixo, mais para a esquerda, no quadro lilás, mostra a seguinte inscrição: “Confira entrevista com Diva Lúcia Conde – Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (ABEP)”. No canto direito, entre os quadros azul e amarelo, vários lápis de cor, de diferentes tamanhos, cores, larguras, e formas.

 

Ampliar o conceito de educação inclusiva para além das demandas sensoriais e motoras (no caso, o enfrentamento contra a discriminação por gênero, etnia, raça, religião) e inserir profissionais da Psicologia nas políticas públicas brasileiras do setor. Esses foram os pontos abordados pela professora Diva Lúcia Gautério Conde na segunda entrevista da série sobre o tema antes da realização do debate online do dia 25 de abril.

A discussão, que será transmitida da sede da autarquia, a partir das 18h30, tem como tema “Quais as contribuições da Psicologia para Educação Inclusiva?” e contará com a participação de representantes de entidades das áreas de educação, pesquisa e ensino da Psicologia. A atividade será transmitida em tempo real pelo site e mídias digitais do CFP.

Diva Lúcia Conde é professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na qual se doutorou em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social. É também conselheira presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-05) e presidente da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep). O CFP e a Abep integram o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (Fenpb).

Dia 25 de abril às 18h30 AO VIVO aqui

Confira a entrevista com Lúcia Conde.

Qual o cenário da educação inclusiva no Brasil?

Tomando como referência a proposição inicial, ainda nos anos 1990, que pleiteava trazer para o interior das escolas regulares os chamados alunos com necessidades especiais, certamente é possível apontar ganhos na afirmação do princípio da educação inclusiva, no Brasil, a partir da LDBEN 9394/97, tendo como indicador o aumento das matrículas de estudantes com deficiências. A circulação de deficientes nos pátios das escolas e sua presença nas salas de aula compõe um cenário ainda novo.

Pode-se dizer que isto ocorre ainda em quantidades muito abaixo das necessidades educacionais deste grupo populacional, uma vez que a inclusão implica também garantir os meios de acesso e cuidados cotidianos a cada estudante, e quase a totalidade dos municípios brasileiros não tem destinado os recursos básicos essenciais a estas demandas, provendo transporte e pessoal especializado, por exemplo. Por outro lado, é lamentável ver o quão pouco se avançou, pedagogicamente, nos processos educacionais com deficientes no âmbito do ensino regular.

Há ainda, mais recentemente, a ampliação do conceito de educação inclusiva para além das deficiências sensoriais e motoras, abrindo o desafio da inclusão escolar que enfrente a discriminação por gênero, etnia, raça, religião, que vem historicamente excluindo estudantes do ambiente escolar regular, criando para estes estudantes demandas extraordinárias de superação para que se mantenham dentro da escola.

A educação inclusiva implica o manejo de ações diversas que garantam o bem estar, o desenvolvimento e a aprendizagem de todas (os).

 

Quais contribuições da Psicologia para educação inclusiva?

As contribuições da Psicologia têm ocorrido a partir das possibilidades de atuação prática, quando profissionais do campo psi participam dos espaços tradicionalmente destinados à educação de deficientes. Vygotsky e Wallon partem de sua atividade profissional no atendimento e cuidado de deficientes para a formulação de constructos importantes sobre o desenvolvimento e a aprendizagem. Foi ainda de certa forma comum, nos currículos dos cursos de Psicologia, a disciplina Psicologia de Excepcionais, voltada principalmente para os cuidados com estudantes com Síndrome de Down, com o apontamento da estimulação precoce e contínua como possibilidade necessária de desenvolvimento.

Entretanto não há no país políticas públicas que insiram profissionais da Psicologia no acompanhamento de processos de inclusão e produzindo questões e desafios para a Psicologia no âmbito do cotidiano escolar. O contato tem sido principalmente por meio dos equipamentos dos Sistemas Únicos de Saúde (SUS) e de Assistência Social (Suas), em situações onde problemas e dificuldades maiores já se instalaram, conforme indicados pelos profissionais da Educação. A inserção de profissionais da Psicologia é urgente e necessária para a população e para a própria Psicologia, como possibilidade objetiva de contribuição a partir dos saberes já acumulados, e também como fonte de questionamento e desafio teórico.

Como a Abep atua para ampliar a educação inclusiva na Psicologia?

A Abep é uma entidade voltada para o acompanhamento e problematização da formação em Psicologia. Ela tem contribuído pautando debates, acolhendo artigos para publicação na revista Psicologia Ensino & Formação, além de participar ativamente, por meio de campanhas junto ao Sistema Conselho e entidades da Psicologia, como a Abrapee.