Terapia de casal e estratégias de resolução de conflito

Fazer revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito, identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico e refletir sobre a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Essas são as questões abordadas no artigo “Terapia de Casal e Estratégias de Resolução de Conflito: Uma Revisão Sistemática”, publicado na edição 37.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

A pesquisa é de autoria das (os) doutorandas (os) em Psicologia Crístofer Batista da Costa e Clarisse Pereira Mosmann, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Marina Zanella Delatorre e Adriana Wagner, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O CFP divulga semanalmente, no portal institucional e nas redes sociais, um artigo da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. A revista tem uma versão eletrônica na plataforma SciELO. É uma forma de a autarquia fortalecer a busca pelo conhecimento científico, divulgando-o para a categoria e para a sociedade.

O objetivo da pesquisa foi realizar uma revisão sistemática de artigos científicos sobre psicoterapia de casal e estratégias de resolução de conflito e identificar variáveis envolvidas no processo terapêutico em oito bases de dados: Academic Search Complete, Biblioteca Cochrane, Ibecs, Lilacs, Medline, PsycINFO, SciELO e Web of Science, no período de 2006 a 2015.

Os pesquisadores encontraram 238 artigos, sendo incluídos 13 estudos após a avaliação de três juízes independentes. As abordagens comportamental e cognitivo-comportamental se destacaram em relação à sistêmica e à psicodinâmica. Observou-se ainda o consenso sobre o papel da comunicação, da empatia, do perdão, do apoio mútuo e da confiança para a resolução dos conflitos conjugais. Constatou-se, porém, que há falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas. A análise da literatura forneceu um panorama internacional, composto por perspectivas de consenso, já estabelecidos, inconsistências que devem ser superadas e carência de estudos, especialmente no Brasil, contexto potencial de investigação da temática.

Em entrevista, Cristofer Batista da Costa contou mais detalhes da pesquisa.

 

Qual a relevância do tema?

A motivação para realizar uma revisão sistemática sobre terapia de casal e estratégias de resolução de conflito nasceu das reflexões, entre alunos de uma turma de doutorado, sobre a prática clínica baseada em evidências, ou seja, a utilização de técnicas e métodos de tratamento comprovados cientificamente. Na oportunidade, discutimos e identificamos certo desconhecimento entre nós sobre quais eram as abordagens recomendadas e que efetivamente funcionavam nos atendimentos de casais, nas distintas teorias disponíveis. Verificamos que os nossos questionamentos poderiam ser respondidos através da literatura científica, por meio de estudos que investigaram e avaliaram terapia de casal e estratégias de resolução de conflito. Incluímos as estratégias, pois se sabe ser um fator fundamental à conjugalidade e, portanto, implicado na terapia.

Além disso, por meio do levantamento e da análise dos dados provenientes da revisão sistemática teríamos um “mapa” de como estava o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, o que se sabia e o que ainda precisava ser investigado e respondido. Nesse sentido, a revisão se torna relevante e útil tanto para os profissionais da área clínica como para os pesquisadores.

 

Quais os principais resultados da pesquisa?

Realizar estudos sobre os processos de psicoterapia de casal é um desafio em termos de pesquisa. Embora os autores dos artigos analisados tenham observado os procedimentos metodológicos necessários, verificou-se a necessidade de aumentar ainda mais o rigor científico, especialmente no que se refere à descrição das características dos casos analisados e da comparação entre abordagens distintas. Essa comparação possivelmente não é profícua já que cada abordagem tem objetivos e formas de compreender e tratar diferentes, com base em uma determinada perspectiva teórica.

Os aspectos mais focalizados nos tratamentos de casal, segundo os estudos analisados, foram: comunicação, empatia, perdão, apoio mútuo, confiança e resolução de conflitos. Esse resultado, portanto, pode ser útil na clínica psicológica como um indicador de questões relevantes que podem ser utilizadas na psicoterapia conjugal, seja como hipótese, entendimento ou recurso à disposição do psicoterapeuta.

 

Como superar inconsistências e carência de estudos no Brasil em relação à falta de homogeneidade e de clareza na utilização de conceitos e técnicas da terapia de casal?

A Ciência Psicológica tem avançado muito nos últimos anos, o que se deve à realização de pesquisas nos cursos de pós-graduação e centros de pesquisa. Nesse sentido, o investimento público e privado em pesquisa é uma forma de se continuar avançando no conhecimento científico. O diálogo entre a Psicologia e as demais áreas do conhecimento, especialmente a da saúde, é essencial e ocorre se os nossos argumentos, enquanto profissionais da saúde, forem consistentes e a nossa prática efetiva, o que se pode alcançar por meio da pesquisa científica. As inconsistências e a falta de homogeneidade indicam que ainda precisamos avançar na investigação deste tema dentro da Psicologia. Portanto, na medida em que houver investimento e, consequentemente, a possibilidade de realizar pesquisas de forma organizada e sistemática, a precisão no uso dos conceitos e técnicas tende a aumentar.

Leia o artigo na íntegra.

Faltam profissionais de Psicologia para atuar na educação inclusiva 

#CFPAcessível #PraCegoVer: Descrição da imagem: Imagem dividida em quatro quadros. Três na cores: amarelo, azul e lilás. O outro com uma foto da entrevistada Diva Conde, em formato de desenho. No parte debaixo, mais para a esquerda, no quadro lilás, mostra a seguinte inscrição: “Confira entrevista com Diva Lúcia Conde – Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (ABEP)”. No canto direito, entre os quadros azul e amarelo, vários lápis de cor, de diferentes tamanhos, cores, larguras, e formas.

 

Ampliar o conceito de educação inclusiva para além das demandas sensoriais e motoras (no caso, o enfrentamento contra a discriminação por gênero, etnia, raça, religião) e inserir profissionais da Psicologia nas políticas públicas brasileiras do setor. Esses foram os pontos abordados pela professora Diva Lúcia Gautério Conde na segunda entrevista da série sobre o tema antes da realização do debate online do dia 25 de abril.

A discussão, que será transmitida da sede da autarquia, a partir das 18h30, tem como tema “Quais as contribuições da Psicologia para Educação Inclusiva?” e contará com a participação de representantes de entidades das áreas de educação, pesquisa e ensino da Psicologia. A atividade será transmitida em tempo real pelo site e mídias digitais do CFP.

Diva Lúcia Conde é professora na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na qual se doutorou em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social. É também conselheira presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-05) e presidente da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep). O CFP e a Abep integram o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (Fenpb).

Dia 25 de abril às 18h30 AO VIVO aqui

Confira a entrevista com Lúcia Conde.

Qual o cenário da educação inclusiva no Brasil?

Tomando como referência a proposição inicial, ainda nos anos 1990, que pleiteava trazer para o interior das escolas regulares os chamados alunos com necessidades especiais, certamente é possível apontar ganhos na afirmação do princípio da educação inclusiva, no Brasil, a partir da LDBEN 9394/97, tendo como indicador o aumento das matrículas de estudantes com deficiências. A circulação de deficientes nos pátios das escolas e sua presença nas salas de aula compõe um cenário ainda novo.

Pode-se dizer que isto ocorre ainda em quantidades muito abaixo das necessidades educacionais deste grupo populacional, uma vez que a inclusão implica também garantir os meios de acesso e cuidados cotidianos a cada estudante, e quase a totalidade dos municípios brasileiros não tem destinado os recursos básicos essenciais a estas demandas, provendo transporte e pessoal especializado, por exemplo. Por outro lado, é lamentável ver o quão pouco se avançou, pedagogicamente, nos processos educacionais com deficientes no âmbito do ensino regular.

Há ainda, mais recentemente, a ampliação do conceito de educação inclusiva para além das deficiências sensoriais e motoras, abrindo o desafio da inclusão escolar que enfrente a discriminação por gênero, etnia, raça, religião, que vem historicamente excluindo estudantes do ambiente escolar regular, criando para estes estudantes demandas extraordinárias de superação para que se mantenham dentro da escola.

A educação inclusiva implica o manejo de ações diversas que garantam o bem estar, o desenvolvimento e a aprendizagem de todas (os).

 

Quais contribuições da Psicologia para educação inclusiva?

As contribuições da Psicologia têm ocorrido a partir das possibilidades de atuação prática, quando profissionais do campo psi participam dos espaços tradicionalmente destinados à educação de deficientes. Vygotsky e Wallon partem de sua atividade profissional no atendimento e cuidado de deficientes para a formulação de constructos importantes sobre o desenvolvimento e a aprendizagem. Foi ainda de certa forma comum, nos currículos dos cursos de Psicologia, a disciplina Psicologia de Excepcionais, voltada principalmente para os cuidados com estudantes com Síndrome de Down, com o apontamento da estimulação precoce e contínua como possibilidade necessária de desenvolvimento.

Entretanto não há no país políticas públicas que insiram profissionais da Psicologia no acompanhamento de processos de inclusão e produzindo questões e desafios para a Psicologia no âmbito do cotidiano escolar. O contato tem sido principalmente por meio dos equipamentos dos Sistemas Únicos de Saúde (SUS) e de Assistência Social (Suas), em situações onde problemas e dificuldades maiores já se instalaram, conforme indicados pelos profissionais da Educação. A inserção de profissionais da Psicologia é urgente e necessária para a população e para a própria Psicologia, como possibilidade objetiva de contribuição a partir dos saberes já acumulados, e também como fonte de questionamento e desafio teórico.

Como a Abep atua para ampliar a educação inclusiva na Psicologia?

A Abep é uma entidade voltada para o acompanhamento e problematização da formação em Psicologia. Ela tem contribuído pautando debates, acolhendo artigos para publicação na revista Psicologia Ensino & Formação, além de participar ativamente, por meio de campanhas junto ao Sistema Conselho e entidades da Psicologia, como a Abrapee.

Educação inclusiva avança, mas ainda falta acessibilidade

#CFPAcessível #PraCegoVer: Descrição da imagem: Imagem dividida em quatro quadros. Três na cores: amarelo, azul e salmão. O outro com uma foto da entrevistada Sônia Shima, em formato de desenho. No parte debaixo, mais para a esquerda, no quadro salmão, mostra a seguinte inscrição: “Confira entrevista com Sônia Shima – Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional”. No canto direito, entre os quadros azul e amarelo, vários lápis de cor, de diferentes tamanhos, cores, larguras, e formas.

Qual o cenário da educação inclusiva no Brasil? Quais são as contribuições da Psicologia para o tema? Para responder essas perguntas, o Conselho Federal de (CFP) publica, a partir desta semana, entrevistas com especialistas no tema do debate online marcado para 25 de abril. As discussões serão transmitidas da sede da autarquia, a partir das 18h30, em tempo real pelo site e pelas mídias digitais do CFP. Representantes de entidades das áreas de educação, pesquisa e ensino da Psicologia vão falar sobre as “as contribuições da Psicologia para Educação Inclusiva?”

A primeira entrevistada é com a professora da Universidade Estadual do Maringá e integrante da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), Sônia Mari Shima Barroco. O CFP e a Abrapee são entidades que integram o Fórum das Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB).

Dia 25 de abril às 18h30 AO VIVO aqui

Sônia Mari Shima Barroco é graduada em Psicologia pela UEM. Tem pós-doutorado pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da Universidade de São Paulo (USP). É professora associada do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UEM, no qual é coordenadora adjunta. Tem experiência nas áreas de Psicologia e Educação, com ênfase em Psicologia Escolar.

 

Qual o cenário da educação inclusiva no Brasil?

Há dois marcos da educação inclusiva no Brasil: a Declaração de Salamanca, elaborada pela Unesco em 1994, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96). Em ambos, temos o direito ao atendimento educacional adequado às pessoas com deficiências e necessidades educacionais especiais (AEE) reconhecido. Desde aquela década, a implementação de propostas pela União, Estados e municípios tem sido ampliada.

O reconhecimento da educabilidade da pessoa com deficiência, da sua capacidade de aprender e de se desenvolver, desde que lhe sejam dadas mediações e recursos instrumentais condizentes à sua condição, tem sido alvo da luta travada pelas escolas, pelas famílias e pela sociedade. Pesquisas e práticas mostram como bom ensino promove a aprendizagem e movimenta o desenvolvimento, mas nem por isso contamos com concepção hegemônica a respeito da importância da boa escola para todos os alunos, com e sem deficiência. A boa escola permite a promoção da compensação cultural para problemas biológicos, anatômicos ou funcionais, e psíquicos.

Dos anos 1990 até a segunda década do Século XXI, pesquisas e maior visibilidade permitiu maior divulgação das diferentes possibilidades do existir humano. Isso se deve também ao acesso à informação e à divulgação das redes sociais. Contudo, ainda é preciso lutar pelas acessibilidades à matrícula, à permanência com dignidade na escola, às adequações arquitetônicas, ao conhecimento (com com profissionais habilitados e bem formados), à permanência nos estudos sem sofrimento de violência e bullying e à terminalidade dos estudos.

 

Quais são as contribuições da Psicologia para a educação inclusiva?

No texto “Contribuições da Psicologia Histórico-Cultural para a formação e atuação do psicólogo em contexto de Educação Inclusiva” abordamos essa questão. Podemos destacar que a teorização sobre o desenvolvimento humano é uma contribuição da Psicologia. Ao explicar como se dá a constituição do psiquismo humano e dos fatores que impactam sobre o ser, instrumentalizamos os profissionais e a família para o trabalho educacional inclusivo. Demonstrar que o psiquismo da pessoa (com ou sem deficiência) não se apresenta pronto quando do nascimento dá oportunidade à intervenção, à mediação cotidiana, comum e especializada, de modo a desenvolver o que está íntegro e a compensar, por vias alternativas ou colaterais, o que está complicado pela deficiência. Esse entendimento pautado em L. S. Vygotski permite vislumbrar o alcance de níveis mais avançados de desenvolvimento para pessoas surdas, cegas ou com limitações neuromotoras.

A Psicologia permite que a sociedade tenha uma compreensão mais complexa e integrada da aprendizagem e do desenvolvimento regulares e diferenciados por condições como essas. Contudo, também há que tornar evidente que as barreiras que limitam não são somente biológicas, podem ser atitudinais ou sociais.

Nas relações sociais estabelecidas é que são criados e empregados os limites à formação humana, como se poderia pleitear para todos os homens.

 

Como a Abrapee atua para ampliar a Educação inclusiva?

Além de participar ativamente da proposição, implementação e avaliação de políticas educacionais que impactam a formação e atuação de psicólogos, a Abrapee estimula e divulga pesquisas nas áreas de Psicologia Escolar e Educacional, promovendo e apoiando eventos estaduais, nacionais e internacionais.

No âmbito estadual, a associação promove encontros estaduais e, no nacional, realiza o Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional (Conpe). Ao criar condições para disseminar pesquisas e atividades profissionais, a associação permite a interlocução entre os profissionais e entre sujeitos de áreas diferentes, envolvendo estudantes e profissionais. Estimula, com isto, o debate, a avaliação, a crítica e a elaboração de novas proposições.

A Abrapee também apoia eventos propostos por outras associações, entidades e universidades que abordem temas relacionados à educação especial e/ou inclusiva e publica a Revista Psicologia Escolar e Educacional.

 

Congresso debate desafios da publicação científica em Psicologia

Buscar o desenvolvimento das publicações em Psicologia, o compartilhamento de informações e meios de resolver as demandas particulares de cada região do Brasil, de forma ética e cientificamente embasada. Com esse objetivo, pesquisadores, profissionais, professores e estudantes de Psicologia se reuniram, nos dias 23 e 24 de março, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo/SP, para o I Congresso Brasileiro da ABECIPsi: Desafios da publicação científica em Psicologia.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) esteve representado no evento promovido pela Associação dos Editores Científicos de Psicologia (ABECIPsi) pelo presidente Rogério Giannini e pela professora Neuza Maria de Fátima Guareschi, editora da Revista Psicologia: Ciência e Profissão.

Na solenidade de abertura, Rogério Giannini falou da importância de espaços de reflexão sobre as publicações científicas na área da Psicologia. Segundo Giannini, congressos como este da ABECIPsi interessam não apenas às instituições que trabalham com a produção científica voltada para formação de psicólogas (os) – especialmente as universidades, com seus grupos de pesquisas e pesquisadores –, mas aos profissionais da Psicologia que no seu dia a dia buscam qualificar suas práticas.

O presidente do CFP também aproveitou para reafirmar o compromisso da autarquia de retomar o diálogo do Sistema de Conselhos com as entidades brasileiras, a exemplo da ABECIPsi, e internacionais, como a União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (ULAPSI), na construção de uma agenda comum em defesa da Psicologia como ciência e profissão. Giannini avalia que um espaço estratégico para essa construção coletiva é o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB), que reúne entidades científicas, profissionais, sindicais e estudantis. 

Contextualização histórica

Ao iniciar sua explanação sobre o tema “Publicação de qualidade em nível de graduação e pós-graduação em nações emergentes e em desenvolvimento: estratégias de superação”, a professora Neusa Guareschi fez um apanhado da organização da Psicologia no sistema de pós-graduação – história da Psicologia​, ​metodologias e disciplinas que se desenvolveram e se destacaram na pesquisa – a partir da contextualização da produção de periódicos nacionais, destacando as singularidades da revista editada trimestralmente pelo Sistema de Conselhos de Psicologia.

Em seguida, a editora da Revista Psicologia: Ciência e Profissão fez uma análise dos principais periódicos da área em circulação atualmente, pontuando suas condições técnicas e recursos. Para encerrar, Neusa exemplificou estratégias desenvolvidas para fazer frente às exigências de qualificação, tendo em vista a demanda de internacionalização.

Para Neuza Guareschi, o CFP desde os anos 1990 têm figurado entre as instituições que mais incentivam a produção científica na área da Psicologia, tendo atuado na organização da BVS Psi e no apoio à organização da própria ABECiPs​i. 

Reconhecimento

Os participantes do Congresso da ABECIPsi receberam exemplares da edição mais recente (37.1) da Revista Psicologia: Ciência e Profissão e elogiaram a publicação. O prof.º Manoel Antônio dos Santos da Universidade de São Paulo/USP fez questão de citar o constante aperfeiçoamento da revista em sua fala na mesa de abertura “As publicações científicas de pesquisadores brasileiros e desafios da internacionalização”.

“A revista Psicologia: Ciência e Profissão é uma das minhas preferidas. Elogiei a linha editorial, a organização logística e a equipe envolvida na produção. Disse ainda que é uma excelente opção para os autores que desejam compartilhar conhecimentos da Psicologia, que estão contribuindo para transformar as condições de vida da população, divulgarem seus relatos de experiência profissional e conhecerem experiências inovadoras nas várias áreas de atuação da Psicologia”, ressaltou o autor do artigo Transtorno Alimentar e Transmissão Psíquica Transgeracional em um Adolescente do Sexo Masculino, que compõe a edição 37.1 do periódico.

8 de março: lutar para avançar

Elas ocupam menos de 10% das cadeiras no Congresso Nacional. Nas redes sociais, submissão e coisificação da mulher são tidas como “naturais”. Apesar de dividir com os homens a responsabilidade do sustento da família, os salários continuam desiguais. Os problemas são muitos. Nesta entrevista, sequência da série de matérias sobre o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, a conselheira Sandra Spósito fala sobre como as mulheres, e também o CFP, podem transformar a sociedade, tornando-a menos patriarcal, menos machista e menos misógina.


Quais são as principais conquistas das mulheres brasileiras?

A situação das mulheres na sociedade brasileira é contraditória. Avançamos, ainda que tardiamente, na conquista do direito de votar (adquirido somente em 1934), mas não ocupamos cargos políticos nos Poderes Legislativo e Executivo. No Congresso Nacional, por exemplo, temos menos de 10% das cadeiras.

Conseguimos denunciar a violência de gênero resultante do machismo na sociedade brasileira e, a partir da ação dos movimentos de mulheres, aprovamos a Lei Maria da Penha e implantamos políticas públicas protetivas, caso das Delegacias da Mulher e das Casas Abrigos. Apesar disso, o discurso de ódio contra as mulheres é corriqueiro. Basta ver a “naturalização”, nas redes sociais, da submissão da mulher e de sua apropriação como objeto.

Retiramos do Código Penal Brasileiro o “crime contra a honra”, que permitia, ou autorizava, que homens tirassem a vida das mulheres sob a alegação de que mancharam sua imagem e honradez. Mesmo assim, o feminicídio ainda é comum.

Conquistamos o direito ao trabalho, dividindo com os homens a responsabilidade do sustento de uma família ou de um lar, mas os salários continuam desiguais. As mulheres ganham menos, ocupando os mesmos cargos e realizando as mesmas atividades.

DSC_0135 (1)Quais os desafios para superar o patriarcalismo, o machismo e a misoginia?

Na sociedade machista, sexo/gênero é destino. Pertencer ao gênero feminino implica experienciar vulnerabilidades decorrentes da desigualdade construída a partir da violência de um gênero, o masculino, sobre outro, o feminino, calcada na visão da inferioridade e fragilidade das mulheres.

Esta vulnerabilidade ainda pode ser intensificada, se associada a outros vetores de opressão, como o racismo, a LGBTfobia, a pobreza, impondo sobre as mulheres negras, lésbicas, trans e da periferia um imenso hiato social de acesso à educação, a postos de trabalhos e às expressões culturais e esportivas.

A luta das mulheres é contínua, necessária e feminista. As violências e vulnerabilidades resultantes das lógicas de opressão que marcam o funcionamento sócio-cultural não desaparecerão somente com a denúncia de sua existência, mas deixarão de funcionar por meio do enfrentamento cotidiano, com a efetivação de mecanismos protetivos, com a ampliação e a implementação de políticas públicas e educativas e com o impedimento da livre circulação de expressões machistas e misóginas nos espaços de convivência e redes sociais.

 

Como vê as condições do trabalho das mulheres psicólogas?

A Psicologia brasileira, formada por quase 90% de mulheres, é marcada pela incorporação das questões das desigualdades e das violências comuns da sociedade. As psicólogas sofrem, assim, as consequências das remunerações desiguais entre homens e mulheres nos mesmos cargos, de menores chances de promoção a cargos de chefia ou de coordenação, mesmo que possuam as mesmas qualificações que os homens.

Há, ainda, o assédio sexual e moral, geralmente direcionado às trabalhadoras, tendo em vista a vulnerabilidade inerente ao gênero feminino em uma sociedade patriarcal e machista.

Outra realidade a ser considerada são as duplas jornadas de trabalho das mulheres: nos espaços laboral e familiar, que podem se desdobrar em três ou mais, dependendo das demandas do trabalho doméstico, do cuidado com as crianças, com os adolescentes ou com os idosos. Os avanços no compartilhamento dessas atividades com o marido ou companheiro ainda são pouco significativos. Apesar de a mulher dividir com o homem as responsabilidades do sustento familiar com o trabalho remunerado, a recíproca não é comum, ou seja, não há divisão das responsabilidades sobre o trabalho doméstico e familiar com os homens.

O aborto e o direito das mulheres sobre os próprios corpos são questões polêmicas. Como o XVII Plenário do CFP analisa essa questão?

A Psicologia é uma profissão importante na defesa e na garantia da saúde como um direito. Sua atuação deve ser pautada pelo compromisso ético e político com a integridade e a dignidade das pessoas. Deve respeitar os diferentes modos de ser e de estar expressados pelas subjetividades contemporâneas.

A defesa da autonomia das pessoas sobre seus corpos e o entendimento que a vivência desta autonomia faz parte da construção de um estado de bem-estar é fundamental para que a Psicologia trate o aborto como uma questão de saúde. Reconhecemos que a criminalização da interrupção da gravidez transfere para a marginalidade milhares de mulheres que querem exercer o direito de decidir sobre seus corpos e suas vidas, colocando-as numa posição de vulnerabilidade física e psicológica de profundo risco e sofrimento. Muitas dessas mulheres morrem ou ficam com sequelas decorrentes de abortos inseguros. O aborto é um problema de saúde pública.

Descriminalizar a interrupção da gravidez é fundamental para que os corpos femininos sejam das mulheres. O Estado, predominantemente ocupado por homens, não pode interferir na condução e nas escolhas das vidas das mulheres.

 

Como a Psicologia pode ajudar a reduzir as desigualdades e as vulnerabilidades do mundo contemporâneo?

É preciso reconhecer as marcas identitárias de gênero na constituição das vivências e modos de ser e estar das mulheres. É preciso entender a construção histórica, social, cultural, discursiva e performática sobre o que é ser mulher hoje. É necessário partir de um referencial ético e político de desnaturalização do ser homem/ser mulher. Se o que entendemos por masculino e feminino é uma forma histórica e cultural de expressão de corpos e subjetividades, pode-se inferir que não há forma acabada de ser homem e de ser mulher, ou seja, há um porvir, um vir a ser em movimento.

Por fim, é necessário articular as práticas profissionais para constituição de masculinidades e feminilidades que extrapolem ou rompam com modelos baseados na violência, na desigualdade e na opressão. É importante estar conectado aos preceitos de defesa da vida digna, da integridade e do respeito às diversidades.

 

CFP realiza encontro nacional de Psicologia na Educação

Com o objetivo de atualizar e articular o movimento político pela inclusão da Psicologia no sistema educacional, representantes dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) se reunirão em encontro nacional em Brasília, no próximo dia 01 de abril. O evento, organizado e convocado pela Comissão Nacional de Psicologia na Educação do Conselho Federal de Psicologia (PSINAED), contará com rodada de avaliação do trabalho das comissões locais.

O “Encontro Nacional de Psicologia na Educação” acontece de 9h às 18h e contará com debate sobre as possibilidades e desafios da Psicologia na educação, apresentação do portal PSINAED, avaliação da conjuntura política e proposições e encaminhamentos regionais e nacional.

O portal PSINAED é uma iniciativa da Comissão para dar visibilidade à área da Psicologia no campo da Educação e apresentar os principais desafios e problemas do setor, contribuições teóricas para a formação e legislações, além de fornecer um mapeamento dos concursos em âmbito nacional – onde esse processo já ocorreu.

O CFP tem proposto à categoria um debate aprofundado sobre o tema, abordando a importância dos (as) profissionais psicólogos (as) no sistema educacional. A Psicologia nas escolas proporciona, de acordo com a Comissão, a prevenção, suporte, acompanhamento e desenvolvimento integral das crianças.

A Comissão de Educação do CFP é formada pelas psicólogas Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira, Fabiola de Sousa Braz Aquino, Ariadyne Barros Luz, Meire Viana, Raquel Souza Lobo Guzzo, Vera Lúcia Morselli, Claisy Maria Marinho-Araujo, Vanuza Célia Sales Silva, Rosângela Francischini  e Adna Fontenele.

Debate online

No último dia 4 de março, o CFP realizou debate sobre o tema com a participação de Raquel Guzzo (PsinaEd); Marilda Gonçalves Dias Facci, da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE); e Leandro da Costa Fialho, do Ministério da Educação (MEC).  Assista ao debate completo neste link: https://www.youtube.com/watch?v=UJOxrqaJCcQ

Encontro Nacional de Psicologia na Educação
Data/Período: 01 de abril de 2016
Local: CFP – Ed. Via Office – Sala 104 – SAF
Horário: 9h às 18h

 

 

Alagoas recebe fórum sobre exercício profissional em Psicologia

“O exercício profissional em debate” é o tema do Fórum Regional de Psicologia que acontecerá nos próximos dias 24 a 26 de fevereiro, na capital de Alagoas, Maceió. Realizado pelo Conselho Regional de Psicologia de Alagoas (CRP-15) em parceria com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o evento debaterá os problemas e desafios do cotidiano dos (as) profissionais psicólogos (as) nas mais diversas áreas de atuação.

Para aproximar a Psicologia às demandas da sociedade, os organizadores propõem a discussão acerca de temas relacionados à atuação em Psicologia em vários campos, como nas políticas públicas, assistência social, saúde mental, áreas jurídica e forense, trânsito, hospitalar, psicoterapia, neuropsicologia, avaliação psicológica, educação e outras.

O Fórum contará, ainda, com a participação de representantes de vários Conselhos Regionais, como do Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo e Santa Catarina.

As inscrições gratuitas, para profissionais e acadêmicos de Psicologia, poderão ser realizadas no prédio sede do CRP-15 (Maceió), na Subsede Arapiraca, ou no local do evento.

Fórum Regional de Psicologia: “O Exercício Profissional em Debate”
Quando: 24 a 26 de Fevereiro de 2016
Onde: Hotel Atlantic Suítes (antigo Meliá Maceió Hotel) / Maceió – Alagoas

Veja a programação completa em http://novo.crp15.org.br/

2ª Conferência Internacional de Psicologia LGBT e campos relacionados

Resultado de esforços internacionais de visibilidade e consolidação do campo de estudos LGBT na Psicologia, a 2ª Conferência Internacional de Psicologia LGBT e campos relacionados se inicia no próximo dia 8 março, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com a participação de profissionais da Psicologia e acadêmicos de vários países. O Conselho Federal de Psicologia (CFP), que faz parte do grupo realizador do evento, contará com estande no local e promoverá debate aberto sobre a despatologização da transexualidade, além de reunião das Comissões de Direitos Humanos e Ações LGBT do Sistema Conselhos de Psicologia.

Sob a temática “Enfrentar o impacto da discriminação contra pessoas LGBT em todo o mundo”, a segunda edição da Conferência pretende ampliar as redes de investigação e conhecimento sobre o impacto social, cultural e político da homo/lesbo/transfobia e da heteronormatividade nos modos de vida e processos de subjetivação contemporâneos. Serão realizadas discussões – reuniões abertas, simpósios, mostra prática, conferências e mesas redondas – para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento à discriminação e à restrição de direitos.

“A participação do CFP é fundamental, uma vez que este é o único evento sobre o tema no campo da Psicologia. Assim, reuniremos pesquisadores (as), ativistas e profissionais da área. A mostra de práticas será, também, um ótimo termômetro para sabermos como andam as ações profissionais da Psicologia com a população LGBT”, destaca psicólogo e professor Marco Aurélio Prado (UFMG), membro da Comissão de Direitos Humanos do CFP.

A autarquia da Psicologia promoverá uma reunião aberta sobre a despatologização das transexualidades que objetiva pensar, com vozes dissonantes, as múltiplas facetas da patologização das transexualidades e travestilidades; como a patologia acontece, seus efeitos e como participam as instituições e os profissionais neste processo. “Estamos em um momento importante de fazer uma séria de revisões sobre as experiências trans e o papel da medicina, da psicologia, das experiências das pessoas trans e etc. A reunião é uma tentativa de aglutinar vozes dissonantes e consoantes sobre o processo de despatologização no Brasil para pensarmos caminhos e estratégias de cidadania da população trans”, explica Prado.

A reunião acontece no dia 9 e tem a previsão da participação de representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), além de ativistas pela despatologização e professores universitários. Além de Prado, já estão confirmadas as presenças da psicóloga Rebeca Valadão Bussinger (UFES), Flavia do Bonsucesso Teixeira (UFU), Keyla Simpson (Articulação Nacional de Transexuais e Travestis – ANTRA), Roberto de Jesus (ILGA Brasil), Leonardo Peçanha (Instituto Brasileiro de Estudos em Transmasculinidade – Ibrat), Daniela Murta Amaral (UERJ) e Sônia Correa (Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS – ABIA).

O CFP realizará, ainda, uma mesa redonda com as Comissões de Direitos Humanos e ações LGBT do Sistema Conselhos de Psicologia para dar visibilidade às ações do Sistema na promoção e defesa dos Direitos Humanos e à contribuição do registro das atividades encampadas, com referência específica aos direitos da população LGBT. A mesa acontecerá no dia 10, às 17h.

Programação CFP (Sujeita a alterações)
Reunião Aberta Despatologização das transexualidades
Dia 9, das 9h – 10h30
Mesa Redonda Comissões de Direitos Humanos e Ações LGBT do Sistema Conselhos
Dia 10, às 17h
Estande durante todo o evento

Confira a programação completa do evento em http://www.lgbtpsychology2016.pt.vu

Vídeo aprofunda debate sobre Psicologia e a despatologização das identidades trans

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançou, no último dia 29, o vídeo “A despatologização das transexualidades e travestilidades pelo olhar da Psicologia – Parte II”, que traz um debate aprofundado sobre a atuação da Psicologia em relação à despatologização, abordando a responsabilidade dos (as) psicólogos (as) nos consultórios, ambulatórios, no sistema único de saúde, pesquisas acadêmicas e serviços públicos. A peça audiovisual faz parte de série realizada pela campanha “Despatologização das Identidades Trans e Travestis”.

No formato de entrevista, o vídeo conta com a fala de psicólogos (as) e acadêmicos (as), que falam do papel ético, político e profissional da categoria na luta pela despatologização, trazendo à luz as dificuldades enfrentadas, como a formação precária dos (as) psicólogos (as) em relação às temáticas de diversidade de gênero e sexual, a vinculação à psiquiatria no fornecimento de diagnósticos, problemas das pessoas trans e transexuais no acesso ao sistema de saúde, assim como a importância da valoração da experiência das pessoas que vivem as transformações de todas as formas, frente ao conhecimento científico e profissional.

Para os (as) entrevistados (as), os profissionais da psicologia e estudantes devem assumir seu papel em busca pela despatologização dos diagnósticos no Brasil. Membro da Comissão de Direitos Humanos do CFP, o professor e doutor Marco Aurélio Máximo Prado (UFMG) destaca o caráter patologizante na formação recebida pelos (as) psicólogos (as) nas universidades em relação aos temas da diversidade sexual e de gênero. “A história da psicologia normatiza e patologiza as sexualidades e as transexualidades. Hoje o nosso fazer está completamente regulado pela posição da Psiquiatria, que não é a nossa (posição)… estamos fazendo um trabalho que não é nosso, estamos fazendo um trabalho que a Psiquiatria decidiu sobre as transexualidades como um transtorno mental e transtorno sexual”, lamenta. Para o psicólogo, deve-se desconstruir e  questionar a atual formação e posicionamento da categoria.

O CFP e os entrevistados consideram que despatologizar as identidades significa ampliar os direitos de acesso à saúde e cidadania, e não limitar. “Essa ideia de que é importante ter um diagnóstico, porque isso permite às pessoas ter acesso à saúde, é uma ideia falsa, porque há muitas possibilidades de acesso à saúde que não passam por nenhum diagnóstico de patologia, como a gravidez, por exemplo”, destacou Prado. “Esse argumento de que se precisa da patologização para o acesso ao serviço e é por isso que a gente faz, tem que desconfiar um pouco disso. Qual o papel ético/político do psicólogo no sentido da desconstrução desta patologização? Se o psicólogo é um profissional de saúde mental, ele vai ter um papel preponderante aí nesta desconstrução”, reforçou no vídeo a professora, coordenadora do Laboratório Integrado em Diversidade Sexual e de Gênero, Políticas e Direitos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Anna Paula Uziel.

A parte II do vídeo traz, ainda, um panorama sobre a atuação dos ativistas na luta por direitos igualitários na história da sociedade e, mais especificamente, na luta pela despatologização. Citando os movimentos sociais, como o negro, o feminista e o LGBTTT o vídeo fala das conquistas e avanços já realizados na busca pela igualdade, pela legitimidade das relações, pelo direito à diferença, ao reconhecimento das equivalências sociais, e à visibilidade em vários espaços sociais e na ciência.  Para os (as) entrevistados (as), é essencial que a Psicologia valorize a experiência de quem fala – dos transexuais e dos travestis.  “Os movimentos feministas, os movimentos LGBTs, passaram anos e ainda passam, tentando descolar a sexualidade de reprodução, orientação sexual de identidade de gênero. Quando a gente faz essa junção para falar da necessidade da adequação entre o corpo e o gênero, isso me parece um grande retrocesso”, ressaltou Uziel.

A professora doutora Tatiana Lionço (Universidade de Brasília – UnB) também opina que narrativas psicológicas sobre transexualidade devem ser levadas em consideração pela ciência. “Eu acredito em uma Psicologia que leve em conta, fundamentalmente, as vozes dos sujeitos na construção dos discursos psicológicos sobre esses sujeitos (eles próprios). Nós não podemos retroceder nesse ponto… são as pessoas transexuais que nos ensinam sobre a transexualidade, e não o contrário. Por que o afã tecnicista faz com que muitos profissionais coloquem a voz da pessoa trans em segundo plano, aí eles vão se revestir de todo um arcabouço ‘conceitual’, que muitas vezes faz com que eles não consigam escutar o que a pessoa trans tem a dizer”, destacou.

Campanha

Participam ainda das entrevistas a professora Jaqueline Gomes de Jesus, doutora em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações (UnB) e o professor Emerson Fernando Rasera (USP). Dividido em duas partes, o primeiro episódio de “A despatologização das transexualidades e travestilidades pelo olhar da Psicologia” abordou os problemas vividos pelas pessoas trans e travestis e a patologização de suas identidades. Estas peças videográficas terão prosseguimento com os títulos “A luta pela despatologização no mundo”, sobre o avanço da ciência, o histórico e momento atual e a luta e organização de movimentos sociais pela despatologização; e “Visões diversas da despatologização no Brasil”, em que será abordada a realidade brasileira, a visão das pessoas trans e as dificuldades do sistema de saúde brasileiro, além de possíveis alternativas.

As peças audiovisuais fazem parte de campanha em prol da despatologização das identidades transexuais e travestis, iniciada em 2014 pela autarquia, que conta com a realização de debates e um site especializado no tema (despatologizacao.cfp.org.br)

Assista:

Parte I

Parte II

Dia da Visibilidade Trans: entrevista com Leonardo Tenório

Dia 29 de janeiro é celebrado o Dia da Visibilidade Trans. Criada em 2004 pelo Ministério da Saúde, a data surgiu com o movimento de travestis e transexuais do Brasil. Na época, o ministério lançou  a campanha “Travesti e Respeito” em reconhecimento à dignidade dessa população.  Ainda hoje, a população brasileira de travestis e transexuais tem grande dificuldade no acesso à educação, ao trabalho e à saúde, assim como sofre violência e é desrespeitada de forma contumaz.

O CFP está publicando entrevistas com pessoas trans sobre a importância deste dia. Confira, abaixo, a realizada com Leonardo Tenório, que trabalha no Espaço Trans do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e foi presidente da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT).

Em novembro de 2014, o CFP iniciou campanha de comunicação em apoio à luta pela despatologização das Identidades Trans e Travestis, ação em que profissionais da psicologia,  pesquisadores e pesquisadoras, ativistas, pessoas transexuais e travestis  são convidados (as) a debater o fazer psicológico no processo de transexualização, à luz dos Direitos Humanos, bem como do panorama dos debates políticos em torno da luta no Brasil e no mundo. Além de vídeos  sobre o tema, a campanha conta com a realização de debates online e um site especial: http://despatologizacao.cfp.org.br/

1. Qual a importância desse dia da visibilidade para a luta pelos direitos humanos das pessoas trans?

Leonardo Tenório – O dia da visibilidade trans no Brasil serve como um momento de dizermos que nós existimos. Por incrível que pareça, nós não somos poucos. Estamos em todos os municípios e bairros e existimos em todos os períodos históricos da humanidade e em todos os continentes. A verdade é que a sociedade é tão preconceituosa conosco que vivemos em guetos, em bolhas sociais em que só frequentam as próprias pessoas trans, lésbicas e gays simpatizantes, pessoas que estudam gênero e sexualidade, movimentos sociais, profissionais do sexo etc. Muitas travestis ainda têm o hábito de só saírem de suas casas à noite. O preconceito é tão grande que não transitamos livremente na sociedade como pessoas cisgêneras fazem. Ou por conta do preconceito mesmo, em espaços de sociabilidade e de lazer, ou em espaços de garantia de direitos sociais, como instituições de ensino, estabelecimentos de saúde, mercado de trabalho formal, órgãos públicos ou empresas privadas – em função da grande quantidade de vezes em que somos desrespeitados ou constrangidos em função de nossa identidade de gênero.

Leonardo2. Qual são os maiores desafios na luta pelo reconhecimento dos direitos das pessoas trans?

Leonardo Tenório – Os maiores desafios da visibilidade trans são passar para a população em geral que nós somos seres humanos como quaisquer outros; e que nossa identidade de gênero trans é uma forma de ser humano. Não é anormal, perversa ou patológica – como o preconceito da transfobia leva as pessoas a acreditarem. Somos pessoas comuns que precisamos de afeto, família, trabalho, estudo, lazer, renda, moradia etc.

3. Como a Psicologia pode, na sua visão, participar ainda mais nessa luta?

Leonardo Tenório – A Psicologia poderia ajudar as pessoas trans encampando a luta pela Despatologização das Identidades Trans nos conselhos de classe, associações profissionais e cursos de psicologia; também criando redes de psicólogos e psicólogas que possam atender respeitosamente as pessoas trans em seus consultórios no particular, no SUS e nas universidades. Em função do sofrimento decorrente de diversas situações de preconceito e abandono, muitas pessoas trans possuem demanda psicoterápica – além de precisarmos da emissão de laudos ou relatórios psicológicos para subsidiar cirurgias transexualizadoras e ações judiciais para mudança de prenome e sexo nos documentos; e ainda pensando no atendimento, que o profissional da Psicologia se negue a realizar diagnóstico de transexualidade. Nossa forma de ser não é uma doença. Nenhum profissional da saúde tem a capacidade de saber qual é a identidade de gênero de uma pessoa. Só quem pode dizer quem ela é, e como ela quer se apresentar socialmente e se deseja realizar uma ou outra modificação corporal, em que momento e como, é a própria pessoa trans. Empoderamento para saber lidar com as normas de gênero impostas pela sociedade heterocisnormativa e, assim, utilizar sua autonomia para promover a própria saúde, são as chaves para que pessoas trans consigam ter efetivo cuidado de sua saúde mental e integral, na minha opinião.

4. Qual a importância de campanhas como essa de um Conselho profissional?

Leonardo Tenório – É importante que os conselhos profissionais, como o CFP, participem da luta pela saúde de todos e das minorias populacionais, como a de transexuais, travestis, transgêneros e intersexuais, pois acredito fazer parte de sua missão e do propósito da existência da própria categoria profissional.