Relatório sobre manicômios judiciários denuncia graves violações de diretos

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“Este relatório é um documento histórico e urgente. Uma denúncia pública e técnica que escancara o que o Brasil insiste em esconder atrás dos muros e das grades dos estabelecimentos de custódia e tratamento psiquiátrico: a continuidade de práticas de tortura, de abandono, de medicalização forçada e de violações diversas a pessoas com deficiência psicossocial em conflito com a lei mantidas nos manicômios judiciários e instituições congêneres”.

Assim a presidenta do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Alessandra Almeida, sintetizou o relatório da Inspeção Nacional Desinstitucionalização dos Manicômios Judiciários, lançado nesta 2ª feira (28/7), na sede do CFP, em Brasília/DF.

O documento traz um diagnóstico sobre o funcionamento e as atuais condições de manicômios judiciários em todo o país – além de identificar o processo de fechamento dessas instituições, a partir da Resolução nº 487/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que criou a Política Antimanicomial do Poder Judiciário.

A inspeção foi realizada dez anos após o primeiro diagnóstico feito pelo CFP sobre o tema, em 2015, e mostra que esses estabelecimentos seguem unindo o pior da prisão e do hospício. De acordo com o estudo, a negligência, a lógica do castigo, a violação e o abandono estatal que chega a resultar em prisões perpétuas são marcas dessas instituições.

O levantamento é resultado de uma ampla articulação entre o Sistema Conselhos de Psicologia, por meio de suas Comissões de Direitos Humanos, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça.

Para o desembargador Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Luís Lanfredi, a inspeção nacional é resultado de uma ação colaborativa que une o conhecimento e a especialidade da Psicologia ao fazer da Justiça:

“O Conselho Nacional de Justiça celebra um documento realizado com critério e que traz toda força e potencial das lentes especializadas sobre o que é cuidado em saúde mental. É preciso dizer: o conhecimento técnico e específico da Psicologia é absolutamente fundamental para que possamos, enquanto técnicos do Direito, aproximar o abstrato do concreto – trazer essa realidade em registro apoia o trabalho da Justiça para que efetivamente atue em uma perspectiva expressiva do que as pessoas precisam”, destacou o magistrado.

Dados da inspeção nacional

Para o levantamento, equipes de Conselhos de Psicologia de todo o país inspecionaram in loco um total de 42 instituições – incluindo as de caráter asilar, como Estabelecimentos de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (ECTPs), hospitais psiquiátricos, alas prisionais e comunidades terapêuticas –, além de serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que acolhem internos no processo de desinstitucionalização. As visitas ocorreram entre janeiro a março de 2025, em 21 unidades federativas, nas cinco regiões brasileiras.

A inspeção identificou 2.053 pessoas com deficiência psicossocial em conflito com a lei institucionalizadas em ECTPs e outros locais de características asilares – condição que viola as determinações da Lei 10.216/2001, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica.

O relatório sistematiza 26 aspectos críticos relacionados à garantia de direitos e às condições de cuidado dessa população. Os dados revelam violências institucionais sistemáticas, como contenções físicas e químicas sem respaldo clínico, agressões físicas e verbais, isolamento punitivo, violação de vínculos familiares e ausência de canais de denúncia.

O documento também pontua que as instituições de características asilares contam com problemas como infraestrutura degradada, restrições severas à circulação, falta de acessibilidade e superlotação. O acesso à água potável e à alimentação é limitado e insalubre. Faltam itens básicos para a higiene pessoal e roupas de cama.

Os registros também apontam a inexistência ou descaracterização de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), além do isolamento institucional devido à falta de articulação com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e outras políticas públicas.

As vistorias identificam ainda diversas formas de precarização do trabalho, com equipes incompletas, vínculos instáveis, ausência de formação continuada e condições indignas.

“O que o levantamento realizado pelo Conselhos Federal de Psicologia identifica nessas instituições asilares é um contexto de violações sistemáticas e institucionalizadadas. São práticas que contrariam frontalmente a prescrição de cuidado e atenção à saúde que devem ser direcionadas à essa população, conforme o que estabelece a Lei 10.216/2001, Convenções Internacionais das quais o Brasil é signatário e uma série de dispositivos e normativas que orientam a política de saúde mental no país. Um cenário chocante e inadmissível, que reafirma a importância fundamental da Resolução 487/2023 do CNJ e a desinstitucionalização dessa população”, destaca a presidenta do CFP, Alessandra Almeida.

Desinstitucionalização de pacientes

Para além de apontar as graves violações presentes nos manicômios judiciários, a inspeção também revela que a desinstitucionalização de pacientes impulsionada pela Resolução CNJ 487/2023 já está em andamento.

Em ao menos 11 estados, instituições da RAPS ilustram o início das transformações fundamentais à desinstitucionalização, com boas práticas em andamento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), Equipes de Avaliação e Acompanhamento de Medidas Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei (EAP-Desint), além Unidades Básicas de Saúde e de Hospital Geral.

“O documento mostra a força viva do movimento antimanicomial brasileiro, expresso em uma rede de atenção psicossocial dinâmica e capaz de se reinventar e de promover efetivamente o cuidado em liberdade. São dados que reforçam a missão da Psicologia brasileira na defesa do cuidado em liberdade e da proteção da dignidade de todas as pessoas”, ressaltou a conselheira Clarissa Guedes, que integrou a equipe de coordenação do relatório.

Dados serão levados a autoridades públicas

Os dados e informações coletados pela Inspeção Nacional serão formalmente levados a autoridades públicas a fim de subsidiar ações práticas relacionadas à política de cuidado em saúde mental no Brasil.

Reuniões e visitas técnicas já estão sendo articuladas com órgãos como Ministério da Saúde, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Defensoria Pública da União e Conselho Nacional de Saúde. Também haverá uma agenda de diálogos junto a ministros do Supremo Tribunal Federal para subsidiar a análise da Corte quanto a ação que trata da Política Antimanicomial brasileira.

Acesse o Relatório de Inspeção Nacional.

Acesse também a galeria de imagens do evento.

Cuidado em liberdade: CFP anuncia experiências selecionadas para a etapa nacional da I Mostra de Práticas Profissionais na RAPS

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O Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou nesta segunda-feira (28) os trabalhos selecionados nas fases regionais da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), iniciativa promovida por meio do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP).

Com o tema “A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje, sempre!”, a Mostra busca destacar e valorizar o trabalho da Psicologia na RAPS, evidenciando as práticas comprometidas com o cuidado em liberdade, a promoção dos direitos humanos e a escuta qualificada de pessoas em sofrimento psíquico ou com demandas relacionadas ao uso prejudicial de álcool e outras drogas.

Realizada entre novembro de 2024 e julho de 2025, a Mostra reuniu experiências de todo o país com foco na luta antimanicomial e na implementação de cuidados psicossociais em liberdade, em diferentes contextos.

Ao todo, 27 práticas foram selecionadas pelos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) para participar da etapa nacional, que ocorreu nos dias 24 e 25 de julho de 2025, na sede do CFP em Brasília (DF). A seleção foi feita por uma comissão julgadora, que analisou a relevância, a inovação e o impacto das ações apresentadas.

Por fim, serão selecionadas 7 práticas selecionadas para a etapa Nacional. Confira todas as práticas abaixo:

CRP 01 (DF): Companhia Atravessa a Porta: cuidado, criação artística e cultura antimanicomial
CRP 02 (PE): A psicologia como ‘máquina de guerra’: estratégias inventivas de produção de vida em um Centro de Atenção Psicossocial
CRP 03 (BA): Vivência na oficina Giro Cultural no CAPSad Gregório de Matos em Salvador-BA: potencialidade e desafios na garantia do Direito à Cidade
CRP 04 (MG): Liga dos Campeões InterCAPS: o futebol como instrumento do cuidado em liberdade
CRP 05 (RJ): A interseccionalidade como ferramenta prática para a Atenção Psicossocial: Breve relato sobre o Censo Psicossocial
CRP 06 (SP): Kilombinho: uma prática afrorreferenciada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Infantojuvenil
CRP 07 (RS): Exposição ecos do inconsciente: diálogos entre arte e saúde mental
CRP 08 (PR): Desinstitucionalização e cuidado em liberdade: um relato de experiência sobre o atendimento de internos asilares do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico paranaense – o Complexo Médico Penal – realizado pela Defensoria Pública do Estado do Paraná
CRP 09 (GO): Um dia de lazer nas águas quentes! Aos usuários do CAPS de Cristalina (GO)
CRP 10 (PA): Caps fluvial de Abaetetuba: uma proposta de saúde mental no território das águas
CRP 10 (AP): Pedrinhas azuis: atendimento humanizado a crianças atípicas na Amazônia
CRP 11 (CE): Grupo de Gestão Autônoma da Medicação (GAM) em um CAPS Geral de Fortaleza – CE: fortalecendo o protagonismo dos usuários na produção de saúde e projetos de vida
CRP 12 (SC): A experiência de Enloucrescer e a atuação da Psicologia nas ações de reabilitação psicossocial em Blumenau (SC)
CRP 13 (PB): Grupo bem viver: experiência de cuidado em saúde mental com idosos no Cariri Paraibano
CRP 14 (MS): Saúde e Equidade: estratégias de assistência à saúde para populações vulneráveis em Ribas do Rio Pardo
CRP 15 (AL): Entre redes e territórios: A psicologia viva no cuidado psicossocial quilombola em Alagoas
CRP 16 (ES): Liberdade para Sentir: o impacto do “Clubinho das Emoções” no desenvolvimento infantil
CRP 17 (RN): Iluminarte: a arte que ilumina a vida, a vida que ilumina a arte!
CRP 18 (MT): O Papel da Responsabilidade Técnica na Implementação de Protocolos de Atendimentos Psicológicos Hospitalares
CRP 19 (SE): Da solidão à comunhão: um grupo de ouvidores em diálogo
CRP 20 (AM): A Psicologia na Central Integrada de Alternativas Penais do Amazonas (CIAPA): na promoção do acesso ao cuidado em liberdade
CRP 20 (RR): Grupo Conviver: Promoção De Saúde Mental Para Idosos
CRP 21 (PI): Tessitura de cuidados psicológicos perinatais a mulheres internadas em leitos de saúde mental de Hospital-Maternidade: entre itinerâncias, protocolos, desafios e articulações na RAPS
CRP 22 (MA): Do silêncio ao singular: caminhos da Psicologia no cuidado em liberdade e na luta antimanicomial
CRP 23 (TO): Fortalecimento da Política Antimanicomial no Poder Judiciário do Estado do Tocantins: um relato de extensão universitária
CRP 24 (RO): Hortoterapia No Caps I Em Colorado Do Oeste
CRP 24 (AC): Relato de experiência: atendimento psicológico à pacientes ribeirinhos usuários do serviço de saúde mental na cidade mais ocidental do Brasil.

Manifestações Artísticas

Além das experiências profissionais, a Mostra também contempla manifestações artístico-culturais produzidas por usuárias(os) da RAPS. Das 68 inscrições de todo o Brasil, foram pré-selecionadas 10 obras de arte, a partir dos seguintes critérios:

Criatividade e originalidade;
Adequação ao tema proposto;
Impacto visual e artístico;
Potencial de comunicação da mensagem proposta.

Os 3 primeiros lugares estamparão a publicação dos Anais e essa definição se dará por votação popular, disponível até o dia 3 de agosto de 2025, por meio de formulário online e voto único. A iniciativa reforça o protagonismo de quem vivencia o cuidado em liberdade e reconhece a arte como expressão de resistência, cuidado e transformação.

Vote aqui!

Próximos passos

A I Mostra Nacional de Práticas Profissionais na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) integra as ações do CFP em defesa da Reforma Psiquiátrica, da luta antimanicomial e da consolidação de uma Psicologia comprometida com os direitos das(os) usuárias(os) da saúde mental e com os princípios do cuidado em liberdade.

A cerimônia de premiação das práticas vencedoras ocorrerá durante o 23º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), no dia 5 de setembro de 2025, em Manaus (AM).

12º Congresso Nacional da Psicologia conclui atividades e define o de  diretrizes de ação para o próximo triênio

O 12º Congresso Nacional da Psicologia (CNP) foi concluído neste domingo (6), em Brasília (DF), após quatro dias de debates e votações que definiram os rumos da Psicologia brasileira para o próximo triênio. 

Realizado desde 1994, o CNP é o principal espaço democrático e participativo da categoria, reunindo profissionais, estudantes e pessoas convidadas para deliberar as diretrizes que orientarão as gestões do Conselho Federal (CFP) e dos Conselhos Regionais (CRPs) de Psicologia (CRPs). Nesta edição, o CNP teve como tema “Psicologia e Democracia: a pluriversalidade do nosso fazer. Por uma Psicologia pluriversa e inclusiva”, reafirmando o compromisso da profissão com a promoção de direitos, a diversidade e a defesa da democracia.

Ao longo da etapa nacional, mais de 400 profissionais e estudantes de Psicologia eleitas(os) participaram das atividades, com base em propostas debatidas nas etapas preparatórias, os Pré-Congressos e Congressos Regionais da Psicologia (Coreps), realizados em todo o país. 

Do total de 235 propostas que chegaram ao 12º CNP, 187 foram aprovadas pelo pleno de pessoas delegadas, dialogando com os  três eixos temáticos do Congresso.

As propostas aprovadas irão compor o Caderno de Deliberações do 12º CNP, documento que servirá de base para a atuação institucional do CFP e dos CRPs entre 2025 e 2028.

“As atividades ao longo desses quatro dias concluem um processo amplo de escuta e diálogo da categoria, numa construção coletiva de diretrizes que irão orientar o fazer científico e profissional de mais de meio milhão de profissionais em todo o país. As mais de 180 propostas aprovadas refletem a diversidade de práticas e os desafios da Psicologia no seu exercício ético e profissional, e reforçam o papel fundamental da nossa ciência profissão”, pontuou Rodrigo Acioli, coordenador do 12º CNP.

Encaminhamentos

Além da aprovação de 187 diretrizes, a Plenária apreciou 24 moções apresentadas pelas(os) delegadas(os), reafirmando o compromisso da Psicologia com o cuidado à saúde integral e sua interface com pautas urgentes da sociedade.

As manifestações trouxeram à reflexão a importância da Psicologia em lutas como das pessoas LGBTQIA+, das pessoas com deficiência e das pessoas negras. Esses grupos trouxeram temas como visibilidade, direitos e representatividade, diversidade de corpos e territórios e a efetividade de políticas de inclusão nos processos participativos.

Eleições Sistema Conselhos de Psicologia

Como parte da programação do evento, na tarde de domingo (6) a Comissão Eleitoral Especial (CEE) apresentou as chapas homologadas para o pleito que ocorre de 23 a 27 de agosto deste ano. 

O regimento eleitoral prevê que cada chapa homologada para a Consulta Nacional e para os Conselhos Regionais tenham espaço de divulgação de suas propostas, no período entre 7 de julho e 22 de agosto, como mecanismo de transparência e fortalecimento do processo democrático. 

As atividades do 12º CNP foram transmitidas ao vivo pelo canal do CFP no YouTube. As sessões estão disponíveis para quem quiser rever os debates e decisões que marcaram essa importante etapa da história da Psicologia brasileira.

Confira a galeria de imagens do 12º CNP.

Conheça as chapas que concorrem à Consulta Nacional para o CFP e às eleições dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) no site eleicoespsicologia.org.br.

Encontro de Ouvidorias do Sistema Conselhos de Psicologia reforça atuação integrada e democrática

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) sediou, no dia 6 de junho, o 2º Encontro de Ouvidorias do Sistema Conselhos de Psicologia. O evento reuniu representantes das Ouvidorias dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) de todo o país com o objetivo de ampliar a troca de experiências, consolidar boas práticas e fortalecer a atuação conjunta desses espaços fundamentais para o diálogo com a categoria e com a sociedade.

A proposta do encontro foi criar um espaço de construção coletiva, com foco na definição de temas prioritários que orientarão as atividades de um grupo de trabalho específico ao longo do ano.

Entre os objetivos centrais está a elaboração de um manual de padronização de atendimento que irá subsidiar a atuação das Ouvidorias no Sistema Conselhos, promovendo mais eficiência, transparência e uniformidade nas respostas às demandas recebidas.

O conselheiro-presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho, destacou a importância do sistema integrado de ouvidorias. “Muito importante esse momento. Somos uma profissão que se constrói a partir da noção de escuta. Vocês engrandecem a Psicologia brasileira estando nesse lugar”, afirmou.

“O encontro é mais uma etapa de fortalecimento das Ouvidorias do Sistema Conselhos de Psicologia”, aponta o conselheiro do CFP responsável pela área de Ouvidoria, Roberto Chateaubriand.

Segundo o conselheiro federal, um dos principais desafios é adaptar as concepções tradicionais de ouvidoria no país à realidade específica do Sistema Conselhos, distinguindo o que se refere ao atendimento geral e o que é, de fato, atribuição da Ouvidoria.

A supervisora da Ouvidoria do CFP, Ana Clara de Medeiros, também destacou o papel estratégico das Ouvidorias na melhoria dos serviços oferecidos. “Podemos pensar juntos aqui sobre como aprimorar fluxos e melhorar, assim, a percepção do público externo sobre o atendimento de todo o Sistema”.

O encontro contou ainda com debates e abordou temas como padronização de formulários, fluxos de demandas que chegam pelas ouvidorias e o uso do Sistema de Gestão Cadastral, Financeiro, Processos e Fiscalização (BRC) nas práticas do Sistema Conselhos.

A realização do 2º Encontro de Ouvidorias reforça o compromisso do CFP com a construção de uma Psicologia ética, participativa e atenta às demandas da categoria e da população.

Conselho Federal de Psicologia e UNOPS lançam orientações para apoio psicossocial pós-desastres

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) e o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS) lançam, nesta sexta-feira (30), uma nota técnica e uma cartilha com diretrizes sobre saúde mental e apoio psicossocial comunitário no contexto da reparação de danos extrapatrimoniais. Os documentos, elaborados a partir do desastre socioambiental causado pela atividade mineradora da Braskem em Maceió, têm como objetivo subsidiar a atuação de psicólogas(os) em Organizações da Sociedade Civil (OSCs), coletivos e lideranças locais na reparação de danos morais coletivos. Confira os documentos na íntegra: cartilha e nota técnica.

A publicação dos materiais se dá no contexto do Programa Nosso Chão, Nossa História, operacionalizado pelo UNOPS em Maceió para a reparação dos danos morais coletivos causados pelo desastre socioambiental. “O desastre em curso evidencia a necessidade de um olhar ampliado para todo o Brasil. Alinhar essa perspectiva com profissionais da Psicologia, que estão na linha de frente atendendo as comunidades, é fundamental. Esses danos se repetem em diversas outras ocorrências pelo país e merecem a mesma atenção dada aos danos patrimoniais. Afinal, estamos falando de memória, relações sociais e afetividades”, destaca Bernardo Bahia, gerente de projetos do UNOPS.

Os documentos apresentam conceitos fundamentais, como danos extrapatrimoniais — também chamados de danos morais coletivos —, deslocamento forçado e o que significa a reparação desses impactos. Eles também orientam profissionais da área sobre a abordagem em contextos semelhantes, destacando a importância da convivência comunitária, do fortalecimento dos laços sociais e da participação social da população atingida na busca por soluções. As diretrizes também devem contribuir para as políticas públicas e a integração com o Programa.

“Com esse trabalho, damos um passo significativo no diálogo com a categoria, a sociedade e o Estado, avançando em modelos de desenvolvimento que impactam a vida das pessoas. Essas produções conjuntas se aprofundam nas ações de reconstrução e destacam a importância da organização comunitária para promover uma coletividade resiliente”, destaca Alessandra Almeida, vice-presidente do CFP e responsável pela pauta. “Os documentos também trazem orientações objetivas sobre deslocamento forçado, isolamento territorial e danos extrapatrimoniais, aspectos fundamentais que não estavam presentes em diretrizes anteriores. Esses conceitos e orientações são apresentados de forma nítida nos novos documentos, fruto da parceria com o UNOPS”, acrescenta.

Projetos de reparação em saúde mental coletiva

Voltado à reparação de danos morais coletivos causados pela mineração da Braskem em Maceió, o Programa Nosso Chão, Nossa História desenvolve iniciativas em várias frentes de atuação, entre elas, a de saúde mental comunitária, por meio de projetos executados por organizações da sociedade civil. Os documentos elaborados com o CFP servirão como referência para orientar essas ações, fortalecendo a atuação de profissionais da área no apoio às comunidades atingidas.

Atualmente, o Programa contempla quatro projetos voltados à temática, desenvolvidos por organizações de Maceió: Instituto Jarede Viana, Fundação Universitária de Desenvolvimento e Extensão e Pesquisa (FUNDEPES), Fundação de Apoio ao Ensino, Extensão e Pesquisa de Alagoas e VERTEX. As iniciativas abordam temas como diagnóstico sobre saúde mental da população atingida, formação em apoio psicossocial comunitário, grupos de convivência e redes de apoio psicossocial.

“Em parceria com o CFP, o Programa Nosso Chão fortalece a atenção às comunidades atingidas, colocando em prática diretrizes essenciais para a promoção da saúde mental, o bem-estar e a resiliência das comunidades. Também reafirma a importância da participação da população atingida no processo de reparação. Além disso, a nota e a cartilha servem como referência para outras iniciativas voltadas a contextos de recuperação de desastres no Brasil”, destaca Renata Ferreira, coordenadora social do UNOPS.

Para Jefferson Bernardes, conselheiro do CFP e professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a parceria fortalece uma construção coletiva voltada para um contexto sensível e urgente. “A Psicologia historicamente participa dessas ações no país e entende que a verdadeira reparação ocorre por meio do diálogo, da escuta ativa e do respeito às necessidades das comunidades”, destaca.

Apoio psicossocial comunitário

De acordo com o Comitê Interagências da Organização das Nações Unidas (IASC), apoio psicossocial comunitário é uma abordagem que visa promover o bem-estar psicológico e social das pessoas dentro de suas comunidades, especialmente em contextos de vulnerabilidade, crises ou emergências. O IASC define que essa forma de apoio integra aspectos emocionais, sociais e culturais, buscando fortalecer a resiliência individual e coletiva, a autonomia e os laços comunitários.

Confira a íntegra dos documentos:

Cartilha
Nota técnica

CFP publica relatório final da III Mostra Nacional de Práticas em Psicologia no SUAS  

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio da Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (CONPAS), publicou nesta segunda-feira (26) o relatório final da III Mostra Nacional de Práticas em Psicologia no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Realizada nas cinco regiões brasileiras entre junho e julho de 2024,  as etapas  promoveram debates sobre  experiências, saberes e práticas da Psicologia na efetivação dos direitos socioassistenciais, em diálogo com a realidade dos territórios.

Ao todo, 175 trabalhos foram apresentados por profissionais, estudantes, docentes e pesquisadoras(es) de Psicologia, além de outras(os) trabalhadoras(es) das políticas públicas que atuam de forma intersetorial no SUAS. A Mostra contou com a participação de 544 pessoas nas etapas regionais, que ocorreram em Aracaju/SE (Região Nordeste), Campo Grande/MS (Região Centro-Oeste), Porto Alegre/RS (Região Sul), Manaus/AM (Região Norte) e São Paulo/SP (Região Sudeste).

Com o tema geral “SUAS: O trabalho da Psicologia na efetivação dos direitos socioassistenciais”, a III Mostra promoveu o debate a partir de cinco eixos: intersetorialidade na construção da proteção social; implicações dos direitos humanos no trabalho da Psicologia; interseccionalidade como instrumento de enfrentamento da fome e das violências; atuação nos territórios amazônicos; e participação social como dimensão ética, técnica e política da profissão.

Ao longo dos diálogos, cada etapa apresentou  elementos que convergem com a perspectiva de uma atuação profissional pautada no compromisso e responsabilidade social da Psicologia no SUAS, com todas as formas de ser e estar no mundo, considerando a necessidade de respeitar as diversidades sociais. 

“A Mostra é um espaço de resistência e articulação coletiva, onde se reafirma o compromisso da Psicologia com os direitos humanos e com o fortalecimento do SUAS”, ressalta a conselheira federal e coordenadora da CONPAS/CFP, Neuza Guareschi.

Demandas e desafios regionais

As  etapas regionais evidenciaram especificidades locais ao promoverem discussões que permearam o campo da atuação prática nos diversos contextos em que a Psicologia está inserida no SUAS, demonstrando a relevância e a força da categoria em todo o território nacional.

Realizada em Aracaju, a etapa Nordeste abriu a III Mostra com foco na intersetorialidade e interseccionalidade na proteção social. Contou com 116 participantes e 54 trabalhos apresentados. Debates e rodas de conversa abordaram o papel da Psicologia no SUAS, controle social e precarização do trabalho. As atividades reforçaram ainda a importância da formação e mobilização da categoria na região.

Com 88 participantes e 24 trabalhos, a etapa Centro-Oeste destacou a diversidade territorial e os desafios da atuação em contextos rurais, urbanos e originários. A programação debateu também direitos humanos e saúde das(os) trabalhadoras(es) do SUAS, com  foco na precarização, no enfrentamento ao assédio moral e na necessidade de articulação com gestões municipais. 

A etapa Sul contou com 109 participantes e 44 trabalhos apresentados. Realizada em contexto de desastre climático no Rio Grande do Sul, teve como tema a interseccionalidade no enfrentamento da fome e das violências. Discussões abordaram emergências, segurança alimentar e saúde das(os) trabalhadoras(es). A programação incluiu minicursos, fóruns e rodas de conversa, com ampla articulação interinstitucional.

Em Manaus, a etapa Norte reuniu 55 participantes e  11 trabalhos apresentados. Os debates refletiram as especificidades da região amazônica, com foco em políticas públicas e direitos humanos nos territórios. Foram discutidas precarização do trabalho, resistência nos territórios e fortalecimento dos fóruns. A programação valorizou saberes locais e práticas coletivas diante dos desafios regionais.

Já a etapa Sudeste teve 176 participantes e 42 trabalhos apresentados. O evento destacou a participação social como eixo ético e político da Psicologia no SUAS. Discussões trataram de assédio moral, controle social, proteção à infância e violação de direitos. A etapa foi encerrada com uma carta de compromisso em defesa do SUAS e das(os) trabalhadoras(es).

Fórum de Trabalhadoras(es) e compromissos coletivos

Assim como nas edições anteriores, a III Mostra promoveu momentos dedicados à organização das(os) trabalhadoras(es) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por meio de rodas de conversa e do Fórum Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores do SUAS (FNTSUAS). As discussões abordaram condições de trabalho, assédio moral, falta de estrutura e reconhecimento profissional, além da necessidade de fortalecer os fóruns e sindicatos como espaços legítimos de mobilização.

Confira o relatório final da III Mostra Nacional de Práticas em Psicologia no SUAS.

 

Comissões de Avaliação Psicológica do Sistema Conselhos de Psicologia se reúnem em Brasília para debater desafios na área

Representantes das Comissões de Avaliação Psicológica dos Conselhos de Psicologia de todo o país realizaram em Brasília/DF, nos dias 28 e 29 de março,  um encontro que debateu os avanços e desafios na área, destacando os diferentes contextos de atuação e a atualização de normas técnicas.

Pela primeira vez, profissionais da Avaliação Psicológica de todo o Sistema Conselhos de Psicologia se reuniram para trocar experiências e identificar os entraves da temática  com o propósito de projetar ações para o futuro da profissão.

O presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Pedro Paulo Bicalho, reforçou durante a solenidade de abertura a necessidade de fortalecer a atuação das  comissões de avaliação psicológica em todo o território nacional. Para ele, iniciativas como o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi) e as Comissões Consultivas em Avaliação Psicológica (CCAP) contribuíram para moldar o fazer da profissão no campo da Avaliação Psicológica no país. “São esses encontros que concretizam isso que nós temos tanto orgulho de mencionar, que trabalhamos em um Sistema Conselhos de Psicologia”, afirmou Bicalho.

Evandro Peixoto, conselheiro federal e coordenador da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica (CCAP/CFP), observou  a diversidade de representações e a abrangência das diferentes áreas da Psicologia em torno da temática. Destacou ainda  a presença e a importância da avaliação psicológica em diversos contextos, como educação, trânsito, esporte e escolas. “Não há possibilidade de se sentir como um peixe fora d’água quando a gente fala de Avaliação Psicológica, porque justamente essa área tem esse espectro de horizontalidade”, pontuou o coordenador da CCAP. 

Diálogos

A programação do encontro teve início com uma mesa redonda sobre o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi), que explorou os desafios e avanços da área, bem como os procedimentos desse sistema. Ao longo do encontro, também foram discutidos tópicos como a avaliação psicológica em concurso público, a aplicação da avaliação para o manuseio de armas de fogo e a perícia psicológica no contexto do tráfego, com ênfase na segurança e na saúde mental. 

Juliana de Barros Guimarães, conselheira do CFP e especialista em perícia psicológica no trânsito, abordou as práticas de avaliação nesse contexto, considerando ainda  os impactos das decisões baseadas em avaliação psicológica para a segurança viária. 

Entre as(os) especialistas, também esteve presente Cristiane de Moura Faiad, que apresentou temas sobre avaliação psicológica em concurso público e para manuseio de arma de fogo, ao discutir aspectos técnicos e éticos nessas avaliações.

Durante os dois dias de atividades, as(os) participantes acessaram documentos de referência sobre as ações da CCAP, como a elaboração de pareceres, a atualização de documentos técnicos e normativos do CFP, a orientação para a categoria e para a sociedade sobre as normas relativas à avaliação psicológica, além de orientações jurídicas, por meio da Gerência Jurídica do CFP.

Comissão de Avaliação Psicológica (CCAP)

A realização desse encontro integra as ações planejadas da CCAP/CFP, como eventos de orientação para os Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) sobre as demandas da avaliação psicológica e demonstra o compromisso contínuo da CCAP com a atualização da profissão, com a inclusão social e com o aprimoramento das práticas de avaliação psicológica em contextos diversos.

A CCAP/CFP desempenha um papel central na regulamentação da avaliação psicológica em diversas áreas, como concursos públicos, segurança e processos judiciais. Atualiza constantemente, ainda, os instrumentos e normativas no campo, garantindo que a profissão se adapte às necessidades atuais e aos avanços das pesquisas científicas.

Saiba mais sobre as ações da CCAP/CFP e o Satepsi em satepsi.cfp.org.br.

Acesse a galeria de imagens do evento.

Participe da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais da RAPS

Inscreva seu relato de experiência, até 2 de maio, na I Mostra Nacional de Práticas Profissionais da RAPS. A iniciativa busca reconhecer práticas inovadoras que impactam os serviços e políticas de saúde mental, dando visibilidade ao trabalho das(os) profissionais que atuam nesses serviços.

A Mostra integra um conjunto de ações voltadas a fortalecer a atuação de profissionais da Psicologia nos serviços de saúde mental. A iniciativa também inclui um levantamento sobre os principais desafios para a efetivação do cuidado em liberdade, identificados por profissionais que atuam na RAPS.

As sete práticas vencedoras na categoria Relato de Experiência serão premiadas com R$ 2 mil cada. As três melhores Manifestações artísticas votadas receberão prêmios em dinheiro, com valores de R$ 500 até R$ 2 mil. O prazo para participar dessa modalidade vai até 27 de junho e é de responsabilidade dos respectivos Conselhos Regionais de Psicologia.

As práticas profissionais serão avaliadas em etapas regionais, realizadas pelos Conselhos Regionais em cada estado, com o apoio da Rede Crepop. As melhores práticas serão selecionadas para a Etapa Nacional, que acontecerá em Brasília/DF. A cerimônia de premiação dos trabalhos vencedores está prevista para o dia 5 de setembro de 2025, durante o 23o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), em Manaus (AM).

Acesse o edital, confira a retificação do edital e participe.

Nota de Pesar: Iray Carone

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) lamenta o falecimento da psicóloga Iray Carone, referência nos estudos de Psicologia Social, relações raciais e teoria crítica no Brasil. 

Iray Carone foi docente e pesquisadora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Ela introduziu no Brasil os estudos de Psicologia Social voltados às relações raciais e à indústria cultural, ao analisar a mídia e sua relação com a sociedade..

Formada em Psicologia, Carone obteve doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1975), com reconhecimento do título pela USP (1988). Realizou pós-doutorados na Universidade da Califórnia em Berkeley (1985), New School for Social Research (1989), Universidade Columbia (2001) e Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha (2010-2011).

Sua produção acadêmica abrange duas principais linhas de pesquisa: Psicologia Social e Teoria Crítica, com ênfase nas relações raciais no Brasil e nos estudos de Theodor W. Adorno sobre a indústria cultural; Epistemologia da Psicologia, com foco em paradigmas científicos e na função cognitiva da linguagem metafórica nas teorias psicológicas. 

Como professora da USP, sua abordagem crítica e interdisciplinar contribuiu para formar gerações com um pensamento crítico e engajado sobre a ciência e a profissão. Foi titular no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da USP, onde lecionou disciplinas sobre metodologia crítica e teoria psicossocial. Entre 1998 e 2008, coordenou o programa de iniciação científica Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, na Universidade Paulista.

Ao tempo em que reconhece a importância desse  legado para a Psicologia e o conjunto da sociedade, o Conselho Federal de Psicologia se solidariza com a família e amigos de Iray Carone.

Psicologia e direito à Saúde Integral

Neste Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reafirma o compromisso ético, científico e político da Psicologia brasileira com a defesa e a promoção da saúde em sua concepção integral.

O Código de Ética da Profissão aponta que “O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades”.

É sob esses pilares, que psicólogas e psicólogos desempenham papel fundamental na saúde mental como parte de um cuidado integral e que compreende cada pessoa em sua totalidade, com respeito às suas experiências, identidades e subjetividades.