Justiça Federal de Goiás extingue ação contra Resolução CFP 01/2018

Extinto o processo sem julgamento de mérito. Essa foi a sentença que o juiz federal Juliano Taveira Bernardes, da 4ª Vara Cível da Seção Judiciária de Goiás, proferiu na tarde de ontem (3), em Goiânia, sobre a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal em Goiás contrária à Resolução 01/2018 do Conselho Federal de Psicologia (CFP). A norma, que orienta os profissionais da Psicologia a atuar, no exercício da profissão, de modo que as travestilidades e transexualidades não sejam consideradas patologias, foi publicada em 29 de janeiro pelo CFP, após aprovação por unanimidade pelos delegados da Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia, que reúne representantes de todos os conselhos regionais e do federal.

Dois dias após sua publicação, o Ministério Público Federal em Goiás instaurou procedimento preparatório para apurar eventual ilegalidade da resolução. O CFP, então, apresentou sua justificativa, encaminhando nota técnica ao Judiciário, na qual explica que a Resolução 01/2018 responde a demandas científicas, profissionais e jurídico-constitucionais que há uma década vêm sendo debatidas no âmbito da autarquia, “impulsionando-a a exercer o seu poder normativo conferido pela Constituição de 1988 com vistas a vedar práticas profissionais que possam constituir atos discriminatórios no exercício da profissão”. O CFP também explica que “’as terapias de conversão, reversão, readequação ou reorientação de identidade de gênero das pessoas transexuais e travestis’ constituem ato discriminatório que viola a plena afirmação e reconhecimento da dignidade da pessoa transexual, ao considerar a livre expressão da sua sexualidade uma patologia que pode ou deve ser curada”. Destaca, ainda, que é função institucional normatizar a profissão no Brasil, por meio do Sistema Conselhos.

Em abril, o MPF ajuizou a ação civil pública e, em 28 de abril, o CFP protocolou sua manifestação na Justiça Federal de Goiás. Em 2 de maio, em audiência com o juiz Juliano Taveira Bernardes, a Gerência Jurídica do CFP reafirmou a inadequação da ação civil pública como instrumento processual para fazer o controle da constitucionalidade da Resolução.

Sentença

Em sua sentença de 3 de maio, o juiz afirmou que a Resolução CFP 01/2018 não é semelhante à Resolução CFP 01/1999, alvo de questionamentos no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Tratam-se de duas resoluções “formal e materialmente diversas”, sentenciou o magistrado. “A primeira resolução cuida da questão das práticas homoeróticas e da patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas. A segunda versa, especificamente, sobre tratamento de pessoas transexuais e travestis, incluindo, na dicção do CFP, questões relativas a ‘transexualidades’ e ‘travestilidades’”.

Resolução CFP 01/2018

A Resolução CFP 01/2018 determina que, em sua prática profissional, psicólogas e psicólogos devem atuar de forma a contribuir para a eliminação da transfobia e orienta, ainda, que não favoreçam qualquer ação de preconceito e nem se omitam frente à discriminação de pessoas transexuais e travestis.

A norma impede o uso de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminação e veda a colaboração com eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias.

Entenda o caso

O que diz a Resolução 01/2018?

A norma orienta os profissionais da Psicologia a atuar, no exercício da profissão, de modo que as travestilidades e transexualidades não sejam consideradas patologias. Foi publicada em 29 de janeiro pelo CFP, após aprovação por unanimidade pelos delegados da Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia, que reúne representantes de todos os conselhos regionais e do federal.

A Resolução CFP 01/2018 é igual à Resolução CFP 01/99?

Não. Tratam-se de duas resoluções “formal e materialmente diversas”, conforme a sentença do juiz federal Juliano Taveira Bernardes. “A primeira resolução cuida da questão das práticas homoeróticas e da patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas. A segunda versa, especificamente, sobre tratamento de pessoas transexuais e travestis, incluindo, na dicção do CFP, questões relativas a ‘transexualidades’ e ‘travestilidades’”.

 

O CFP pode publicar uma resolução relacionada às questões das transexualidades e travestilidades?

Sim, é competência do Conselho Federal de Psicologia normatizar a profissão e a Resolução 01/2018 responde a demandas científicas, profissionais e jurídico-constitucionais que há uma década vêm sendo debatidas no âmbito da autarquia. As terapias de conversão, reversão, readequação ou reorientação de identidade de gênero das pessoas transexuais e travestis constituem ato discriminatório que viola a plena afirmação e reconhecimento da dignidade da pessoa transexual, ao considerar a livre expressão da sua sexualidade uma patologia que pode ou deve ser curada.

CFP aprova nova resolução sobre avaliação psicológica

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) aprovou por unanimidade, na Assembleia de Política, Administração e Finanças (Apaf) de dezembro de 2017, resolução que estabelece diretrizes para a realização de avaliação psicológica no exercício profissional e revoga as Resoluções n° 02/2003, nº 06/2004 e n° 05/2012 e as Notas Técnicas n° 01/2017 e 02/2017.

A aprovação da Resolução 09/2018, que regulamenta a Avaliação Psicológica está em consonância com os avanços vivenciados pela área de avaliação psicológica e revela os esforços conjuntos coordenados pelo CFP e CRPs, com o apoio da categoria e das entidades científicas da área.

Sua publicação coincide com os 15 anos do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi) e com a necessidade de avaliação dos estudos normativos dos testes que foram avaliados quando de sua criação.

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Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos completa 15 anos

O Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi), que completa 15 anos em 2018, é a plataforma informatizada de avaliação de instrumentos desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) para avaliar a qualidade técnico-científico de testes psicológicos. Outra função é divulgar informações sobre as condições do uso profissional de instrumentos psicológicos à comunidade e aos profissionais da área.

O gerenciamento do Satepsi é feito pela Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, formada por especialistas com experiência e produção científica na área. A tarefa desse grupo é analisar e emitir pareceres sobre os testes psicológicos encaminhados ao CFP, com base nos parâmetros definidos em resolução. Além disso, a comissão decide, em casos de dúvidas, se determinado teste é ou não psicológico, orienta as editoras, de forma a garantir que o acesso aos testes seja exclusivo à categoria, e fornece orientações sobre o uso dos testes em diferentes contextos e finalidades.

Para comemorar os 15 anos do sistema, estão previstas a publicação de um número especial da revista “Psicologia Ciência e Profissão”, que será lançada no V Congresso Brasileiro de Psicologia, a reformulação do site e a revisão dos documentos da área.

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CFP aprova nova resolução sobre avaliação psicológica

Profissionais da Psicologia devem consultar o Satepsi

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) orienta que profissionais da Psicologia consultem o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi) regularmente para verificar a situação do teste que pretende utilizar. Em 2018, uma série de testes favoráveis teve ou terá seus estudos de normatização vencidos.

Conforme a Resolução 09/2018, os estudos de validade, precisão e normas dos testes psicológicos terão prazo máximo de 15 anos, a contar da data de aprovação do teste psicológico pela Plenária do CFP. Dessa forma, para identificar a data de validade do teste, é necessário verificar a data de plenária constante ao lado de cada teste no Satepsi.

Caso as editoras ou os responsáveis técnicos não apresentem novos estudos de padronização e normatização em prazo hábil para avaliação do CFP, esses testes serão considerados desfavoráveis para uso profissional. Novos estudos normativos dos testes que venceram ou vencerão em 2018 podem ser submetidos à avaliação do Satepsi, enquanto os estudos de validade e precisão ainda estiverem vigentes, de acordo com as Resoluções 02/2003 e 06/2009.

Não há prorrogação de prazo no caso de testes que não tiveram suas normas atualizadas, e profissionais da Psicologia devem suspender o uso desses instrumentos na prática profissional enquanto não houver envio por parte das editoras, autores ou responsável técnico, e avaliação comparecer favorável do Satepsi.

Consulte, no site do Satepsi, a lista atualizada de testes psicológicos. Alguns já estão desfavoráveis. Veja na aba “Resultado Final”, pois já existem testes com “normas vencidas”.

Territórios, comunicação e democracia

No segundo dia do VIII Seminário Nacional de Psicologia e Direitos Humanos, Luiz Henrique Gomes de Moura, Bárbara Oliveira Souza e Aldo Zaiden Benvindo discutiram as questões subjetivas e as estratégias de enfrentamento das violações dos direitos humanos relacionadas com as cidades, os campos e outros territórios, considerando os processos de especulação imobiliária, violência, genocídio e gentrificação, fenômeno que atinge uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, afetando a população de baixa renda local. A discussão do dia 28 de abril foi coordenada pelo conselheiro Paulo Maldos.

Luiz Henrique Gomes de Moura, engenheiro florestal, fez uma leitura sobre o entendimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do cenário brasileiro e os impactos sobre os direitos humanos. “Entendemos que a nossa geração está numa quadra muito específica da história, a de uma crise estrutural do capitalismo”. Segundo ele, o período tem características específicas e consequências diretas sobre como vão se dar os conflitos nos territórios. “Estamos vivendo uma mudança do núcleo do funcionamento do capitalismo, que é do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro.”

Bárbara Oliveira Souza, doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB), apresentou algumas estratégias de luta e fez outros questionamentos, como o de humanidade em um país que viveu séculos de escravidão e na qual a desumanização chegou ao extremo. “A construção desses corpos marca muito o esvaziamento dessa relação com a alteridade, a partir desse olhar do outro.”

Aldo Zaiden Benvindo, psicólogo e mestre em Ciências Sociais pela UnB, fez a plateia refletir sobre a questão da dispersão do mundo atual e da explosão dos narcisismos e das individualidades. “São produtos de um golpe financista e da explosão do capitalismo, que é necessariamente fragmentar”.

Comunicação e democracia no VIII Seminário Nacional Psicologia e Direitos Humanos

Na segunda mesa do dia, as discussões trataram dos desafios da comunicação e da democracia diante da manipulação e da cultura de ódio nas ruas e redes. Os participantes, Beatriz Barbosa, Thiago De Souza Borges e Ricardo Poppi, falaram sobre o papel da mídia e a luta incessante para civilizá-la, sem perder de vista as reformas, as organizações alternativas e sua importância na democratização da comunicação. O debate, no qual também foram tratados a forma e o conteúdo da produção cultural dos meios de comunicação, os impactos na construção da subjetividade e o desprezo da condição do ser humano, foi coordenado pela psicóloga Roseli Goffman.

A jornalista Beatriz Barbosa, especialista em Direitos Humanos e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, falou sobre o uso das redes sociais para essa propagação de violência atual e sobre a escolha por um sistema de comunicação privado, aliado ao governo, em detrimento da constituição de uma comunicação pública. “Os meios de comunicação hoje têm um papel central na desestabilização do governo, na legitimação do impeachment e na manutenção do atual governo”, disse, ao lembrar que mesmo com 70% da população tenha acesso à internet no Brasil, ainda sim a televisão continua sendo a principal fonte de informação das pessoas.

O capitalismo de dados no VIII Seminário Nacional de Psicologia e Direitos Humanos

O também jornalista Thiago de Souza Borges, integrante e fundador do coletivo Periferia em Movimento, falou sobe violação de direitos nas periferias da cidade de São Paulo, onde o coletivo atua na luta contra o genocídio e na discussão sobre gênero, sexualidade, cultura, identidade, moradia, mobilidade e direito à comunicação. “Produzimos conteúdo, nosso alcance médio é de 120 mil pessoas por mês, mas precisamos pensarmos por quê e para quem estamos produzindo esses conteúdos?”

Ricardo Poppi, graduado em Ciência Política pela UnB, fechou o debate falando sobre o uso das plataformas digitais e a independência do ciberespaço frente ao capitalismo de dados. Ele citou o escândalo da Cambrigde Analytica, que fez uso da Psicologia como uma arma para a violação dos direitos humanos de pelo menos 87 milhões de pessoas em todo o mundo. “Parte do uso que a empresa fez de nossos dados foi para atender a necessidade de clientes.”

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Debates marcados pela manutenção de direitos e contrários à intolerância

A guerra contra e entre os pobres

Corpos em disputa, uma discussão interseccional das diferenças

Corpos em disputa, uma discussão interseccional das diferenças

Para debater a produção histórica de violação de direitos de mulheres, LGBTs, negros e negras, a organização do VIII Seminário Nacional Psicologia e Direitos Humanos convidou Jaqueline Gomes de Jesus, Symmy Larrat e Dora Lúcia Berttulio. A coordenação do debate, na tarde do dia 27, ficou sob responsabilidade da conselheira Sandra Elena Sposito.

As discussões giraram em torno da intersecção entre gênero, raça e etnia, classe social e sexualidades. Debateu, ainda, a complexidade que envolve o campo de disputa de narrativas sobre os corpos, os processos de (des)identificação com essas narrativas em diferentes movimentos sociais e espaços de militâncias feministas, LGBTs e movimentos negros.

A conselheira Sandra Sposito fez alguns questionamentos: “Temos nos apresentado à sociedade como uma das maiores articulações nacionais na área de direitos humanos. Esse é um potencial de luta dentro da profissão. É, então, momento de nos reconhecermos enquanto grupo e coletividade. Por isso, é importante ouvir e dialogar com nossos convidados para que possamos redimensionar e alinhar nossa ação. Cabe a nós intensificarmos esse potencial. Esse é o nosso compromisso ético-político dentro da sociedade brasileira”.

Jaqueline Gomes de Jesus, professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), falou sobre o papel de profissionais da área no enfrentamento do privilégio que existe a um determinado grupo social. “Em nosso saber fazer Psicologia, reproduzimos o pensamento judaico-cristão e a ideia maniqueísta de bem e mal”. Ela diz que precisamos construir muitas respostas, refletir e enfrentar os problemas, criando novas estratégias. “Precisamos pensar os outros como sujeitos produtores de conhecimento”.

Symmy Larrat, presidenta da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), afirmou que foi sua identidade e militância que a levou a outros lugares. Falou, ainda, sobre sua construção enquanto travesti e militante. “Estamos lutando para sair de uma tutela na qual querem colocar nossos corpos. Colocam diferenças e dividem as pessoas para manter o poder de poucos. Diferenças de classe, de raça e de gênero.”

Lembrou que os corpos são culpabilizados sobre o que sofreram e que não servem para os processos sociais existentes, como ter uma conta no banco, como estudar em uma escola. “Existe uma série de exclusões contra nossos corpos. A minha bandeira é o meu corpo e não tem como escondê-lo. É preciso falar de direitos humanos como uma possibilidade de fazer justiça a toda essa incoerência e sofrimento.”

Dora Lúcia Bertúlio, doutora em Direito Penal, afirmou estar esperançosa. “O CFP está tratando dessas questões tão fundamentais para a sociedade.” Falou, também, sobre questões raciais e direitos humanos, mais especificamente das mulheres negras.

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A guerra contra e entre os pobres

 

A guerra contra e entre os pobres

Em “A guerra contra e entre os pobres”, Tâmara Caroline Almeida Terso, Marcelle Gomes Figueira e Raull Santiago da Silva debateram a segurança pública, as drogas, o encarceramento, a desmilitarização das polícias e o extermínio da juventude negra. A mesa, promovida pelo VIII Seminário Nacional Psicologia e Direitos Humanos, foi coordenada, na tarde do dia 27, por Lumena Almeida Castro Furtado.

Os debatedores abordaram os temas e, ao analisar os impactos subjetivos das violações de direitos na vivência da pobreza e violência, fizeram um recorte de sua relação com a Psicologia e os direitos humanos.

Tâmara Terso, da Enegrecer, defendeu políticas antirracistas e lembrou que o racismo e o capitalismo andam juntos. “Para desconstruir um, é necessário desconstruir o outro.” O coletivo nacional de Juventude Enegrecer é uma expressão do movimento social negro criado em 2009, em Salvador (BA).

Falou, ainda, do mito da democracia racial e do fato de a história contada ser uma história racista. É uma opção das elites econômicas e políticas retirar direitos da população negra. Para elas, o imperativo é a manutenção de privilégios.

“Vamos perdendo nossos filhos”

Terso contou que, nos territórios, assiste-se ao crescimento da intolerância religiosa e ao aumento dos discursos intolerantes dos jornais do meio-dia construindo o imaginário de que bandido bom é bandido morto. “E assim vamos perdendo nossos filhos”. Por isso, Terso sugere a reconstrução do estado, sugere outras bases epistemológicas, que não as europeias, para combater o genocídio negro.

Marcelle Gomes Figueira, da Universidade de Brasília (UnB), apontou, por sua vez, que um dos desafios da segurança pública no Brasil é o mandato em aberto das polícias e também da métrica de avaliação das ações policiais. “Existe um protocolo para uso de gás lacrimogênio e gás de pimenta que não é respeitado no Brasil. Não se pode usá-los em vias próximas de escolas, de hospitais”.

Dados de 2017 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que a polícia matou 4.222 pessoas. Em contraste, as mortes resultantes de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, foram de 2.666 no período. “A polícia conseguiu matar mais gente do que os criminosos.”

O debate da descriminalização das drogas no Brasil, para a pesquisadora, é fundamental para se alterar esse paradigma de violência. Figueira lembrou que as regiões com maior concentração de drogas são os entornos dos presídios, no Rio, em Bangu, no Distrito Federal, em São Sebastião. “E nos presídios, nada entra e nada sai sem a conivência das polícias. Como a relação estado e crime é estreita, a bala que matou Marielle Franco foi comprada pela Polícia Federal. Isso mostra que, no Brasil, não se governa contra o crime, mas com o crime.”

Disputas de narrativas no VIII Seminário Nacional Psicologia e Direitos Humanos

Raull Santiago, do Papo Reto, contou que o coletivo do Complexo do Alemão, composto por moradores, mototaxistas e comerciantes, tem como proposta fazer comunicação de sobrevivência. “O desafio é continuar falando dos conflitos, mas atrair a atenção para o que há de interessante. Nosso trabalho é usar a comunicação para disputar narrativas.”

Santiago assinala que os habitantes do morro não estão inseridos nas políticas públicas. “Somos os inimigos. Se está na favela, é criminoso”.

Ele lembra que morrer é caro. Na favela se morre muitas vezes, segundo o comunicador. “Há o assassinato do corpo, há o assassinato da imagem e há o assassinato da justiça.” A política pública para a favela não pode ser só a da arma, diz Santiago. “Parece que sempre tem alguém com uma arma entre a ideia e nós.”

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Debates marcados pela manutenção de direitos e contrários à intolerância

 

Campanha de combate ao preconceito no Suas agora em Libras

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio da Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (Conpas), publicou, na manhã desta quarta-feira (25/4), no canal da instituição no YouTube, cinco vídeos da Campanha de Combate ao Preconceito contra a Usuária e o Usuário da Assistência Social, todos com interpretação na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A campanha começou em dezembro de 2017, durante a XI Conferência Nacional de Assistência Social. A ação foi construída em parceria com o Fórum Nacional de Usuárias e Usuários da Assistência Social (FNUSuas). À época, as conselheiras do CFP Fabiana Itaci, Andréa Esmeraldo e Célia Zenaide e a representante do FNUSuas e vice-presidente do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), Rosângela Maria Soares dos Santos, apresentaram a identidade visual e o primeiro vídeo da campanha.

A proposta é provocar o debate sobre questões que perpassam diariamente a vida das pessoas que acessam os benefícios, programas e serviços da Assistência Social. Os 12 depoimentos de usuárias e usuários do Suas contradizem as ideias de que a responsabilização individual pela situação de pobreza, a acusação de vagabundagem e a visão de que a situação de vulnerabilidade social é resultado de escolhas pessoais.

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Os retrocessos da Política de Drogas no Brasil

O Sistema Conselhos de Psicologia, representado por integrantes dos Conselhos Regionais abaixo relacionados e do Conselho Federal, reunidos no Fórum Social Mundial, entre 13 a 17 de março de 2018, em Salvador, faz um alerta técnico sobre os retrocessos em curso no campo das políticas sobre drogas, em especial os promovidos pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad). Trata-se de um enfrentamento ao que o Ministério da Justiça vem chamando de “guinada à abstinência”.

Como membro do Conad, o Conselho Federal de Psicologia participou da reunião de 10 de março de 2018, em Brasília, na qual testemunhou a aprovação de uma nova resolução, a 01/2018, feita com limitação do debate, obscurantismo e distorções da Política de Redução de Danos e da própria Política Nacional sobre Drogas. A aprovação ocorreu de modo atropelado, desrespeitando o direito à fala e ao debate e o próprio regimento do Conad, pois a representação do CFP teve seu pedido de vistas negado, em desacordo com as normas do próprio conselho.

A nova resolução, apresentada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, tem como eixo a defesa do modelo de abstinência e das comunidades terapêuticas, em detrimento da Política de Redução de Danos e dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), e deixa evidente a articulação dessa medida com as alterações da Política de Saúde Mental proposta pelo coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro. A deturpação das informações científicas sobre a Política de Redução de Danos que embasou a aprovação da resolução é tamanha que o ministro Osmar Terra chegou a afirmar que a abstinência é proibida no Brasil, e que as drogas legalizadas no país, o que não se comprova. Ao contrário, a perspectiva da redução de danos (RD) busca promover ações para minimizar qualquer dano de natureza biológica, psicossocial e econômica dos usuários de substâncias psicoativas sem condicionar o fato à abstinência. O abandono do uso de drogas é até um propósito desejável da redução de danos, entretanto, reconhece que não deve e não pode condicionar a atenção à pessoa que usa drogas à exigência de algo que, naquele momento, ela não sente necessidade ou não consegue realizar.

Outro grave problema provocado pela resolução e que muito preocupa o Sistema Conselhos de Psicologia é o avanço do financiamento público das comunidades terapêuticas (CTs) e o consequente esfacelamento da Rede de Atenção Psicossocial e sucateamento dos Caps AD. Entendemos, assim, o motivo de a resolução do Conad citar a nova portaria do Ministério da Saúde. Conforme comprovado em diferentes relatórios técnicos e artigos científicos publicados nos últimos anos, o modelo asilar oferecido pelas CTs é de pouca eficácia no tratamento dos problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, sendo o modelo ambulatorial, como o ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos Caps AD, o que alcança maiores índices de sucesso. Essa realidade se torna ainda pior quando se observam as violações de direitos humanos ocorridas nas CTs, violações que contribuem para agravos no tratamento e comprovadas em inspeções realizadas pelo CFP, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) do Ministério Público Federal e Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT).

Uma das ações para tentar barrar tantos retrocessos é a (re)articulação da Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos, parceria de diversas entidades com o Sistema Conselhos de Psicologia. O relançamento das frentes estaduais por todo o país é fundamental para construirmos estratégias de discussão e enfrentamento a partir das realidades locais.

Em relação ao desrespeito ao processo democrático ocorrido durante a reunião do dia 1º de março, o CFP estuda medidas jurídicas contra a aprovação da nova resolução do Conad.

Brasília, 25 de abril de 2018.

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