Argumentos para descriminalizar e legalizar o aborto no Brasil

“Por que a Psicologia brasileira é favorável à legalização e à descriminalização do aborto? Porque o aborto mobiliza elementos socioculturais estruturantes e violentos na sociedade e promove sofrimentos e fragilidades nas mulheres que o praticam. E isso tem a ver com a Psicologia: onde há opressão, onde há violência que subjuga, que provoca sofrimento.” Assim, a psicóloga Sandra Sposito, integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), fez a defesa da posição institucional sobre o tema em audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF).

Sandra Sposito participou, junto com a psicóloga Letícia Gonçalves, nesta sexta-feira (3), da Arguição de Descumprimento de Preceito Federal (ADPF) 442, que trata da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. A defesa do ponto de vista do CFP foi transmitida pelo site institucional.

O CFP foi uma das 47 instituições e entidades selecionadas a apresentar argumentos sobre aspectos interpretativos dos arts. 124 e 126 do Decreto-lei nº 2.848/1940 (Código Penal), que tratam do aborto. Os critérios de seleção foram a representatividade técnica, a atuação ou expertise e a garantia da pluralidade e paridade da composição da audiência.

O aborto

No Brasil, o aborto é permitido em somente em gravidez resultante de estupro, em casos de risco de vida para a gestante e em anencefalia fetal.

Segundo o Ministério da Saúde, é a terceira causa de mortalidade da mulher, apesar de o país ter uma das maiores coberturas de métodos contraceptivos no mundo: 269 milhões de contraceptivos foram entregues à população nos últimos 17 anos. Esta cobertura, inclusive, fez a taxa de fecundidade nacional cair em 2017: 1,67% filho por mulher de 15 a 49 anos, abaixo da taxa de reposição recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Casos de aborto inseguro geram, ainda, uma sobrecarga para o Sistema Único de Saúde (SUS), com 250 mil hospitalizações por ano, das quais 15 mil complicações graves e 5 mil extremamente graves. O resultado é uma morte a cada dois dias.

Transexuais

É papel da Psicologia, como ciência e profissão, estudar a subjetividade humana, cuidar das pessoas e das coletividades em suas vulnerabilidades, sofrimentos e conflitos. Também é seu papel dar suporte no âmbito da saúde mental, nos processos de promoção de autonomia e cidadania. “O gênero feminino, historicamente associado à maternidade compulsória, socialmente responsável isoladamente pelos processos reprodutivos, responsável moralmente pela educação e cuidado dos filhos, vem buscando transcender esse aprisionamento nos papéis de gênero atribuído a elas. Numa luta histórica para se desvincular do lugar de domesticação, dependência e subalternidade”, explica Sposito.

Ao apresentar a posição da Psicologia, Sposito também falou que a gravidez e a escolha em mantê-la ou não também é um direito a ser garantido aos homens transexuais, que, apesar de pertencerem ao gênero masculino, podem permanecer com suas capacidades reprodutivas preservadas.

“Impedir o aborto, criminalizá-lo, é manter o lugar de não autonomia das mulheres e homens trans que desejem interromper uma gravidez. E mais do que isso, é impedir cidadania, é promover marginalização e estigmatização.”

Singularidade do sujeito

Letícia Gonçalves, por sua vez, disse que estudos brasileiros que privilegiam a singularidade do sujeito têm revelado dimensões importantes sobre aborto e sofrimento psíquico. Pesquisas de Daniela Pedroso e Francisco Viana com serviços de aborto legal indicam que, em condições adequadas, a interrupção voluntária da gestação tem significativo potencial de sensação de alívio, por parte das mulheres, bem como de retomada das dimensões cotidianas de trabalho e relacionais. Mesmo assim, sentimentos de incômodo foram relatados frente aos estigmas que significam o aborto, para parte da população.

Ela conta que, em casos nos quais a gravidez é resultante de estupro, há observância de reações diferentes daquelas que intencionam inferir que o aborto em si produz adoecimento psíquico. “Revela a multiplicidade das experiências subjetivas com a realização do aborto.”

Estudos que relacionam aborto e estigma social, diz Letícia, mostram a relevância de se considerar normas e estereótipos de gênero como produtores de estigmas sociais, que colocam mulheres que abortam em posições de inferioridade. “O estigma se apresentaria em três dimensões: a percepção da sua existência, a experiência com a discriminação que ele produz e a internalização pela mulher, produzindo sentimentos tais como culpa e vergonha. Desta maneira incorpora as dimensões sociais e culturais na produção de saúde ou adoecimento.”

Livre exercício da sexualidade

Em seus estudos sobre moralidades e aborto, Letícia fez um mapeamento das posições públicas sobre a questão e chama a atenção para a análise de dados sobre o que têm sido dito sobre, não só o aborto, mas sobre o livre exercício da sexualidade pelas mulheres, exercício este que não é crime no Brasil.

Para Letícia, ao exercício da sexualidade das mulheres têm sido atribuídos adjetivos que as caracterizam como irresponsáveis e promíscuas, e à deliberação sobre o aborto outros adjetivos, como assassinas, monstruosas, criminosas. “Estas posições performáticas são violências psicológicas contra as mulheres e atribuo a isto boa parte dos fatores de risco que podem não somente produzir algum dano psíquico às mulheres cisexuais, como impedir o acesso a estas e aos homens trans sexuais aos cuidados integrais à saúde.”

Sandra Sposito e Letícia Gonçalves defenderam, em nome do CFP, a ADPF 442, mostrando-se contrárias às violências psicológicas que produzem iniquidades de classe, gênero, raça, idade, região e orientação sexual no Brasil.

Histórico

O Sistema Conselhos de Psicologia, que representa mais de 317 mil profissionais da área, é gerido de forma democrática e representativa e desde 2010 vem se manifestando publicamente em defesa da legalização do aborto: “Os/as delegados/as do VII Congresso Nacional de Psicologia vêm manifestar seu apoio à legalização da prática do aborto no Brasil, independente de a gravidez ser decorrente de violência ou haver risco de morte para a mulher”.

Em 2012, a Psicologia reafirmou sua posição, por ocasião de proposta de juristas e parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM) a respeito da revisão do Código Penal, no que se refere à descriminalização do aborto no país.

 

 

CFP defende descriminalização e legalização do aborto no Brasil

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil, pois entende que a defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres faz parte da defesa dos seus direitos humanos. Representantes da instituição vão apresentar os argumentos sobre aspectos interpretativos dos arts. 124 e 126 do Decreto-lei nº 2.848/1940, o Código Penal brasileiro, que versam sobre aborto, no dia 3 de agosto de 2018, durante audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF).

A audiência resulta da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que pede a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. A relatora da ação, requerida pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), é a ministra Rosa Weber, que deferiu a participação de 47 instituições, segundo critérios de representatividade técnica, atuação ou expertise e garantia da pluralidade e paridade da composição da audiência.

Assista a audiência pela TV Justiça, que será realizada, dias 3 e 6 de agosto, das 8h40 às 12h50 e das 14h30 às 18h50, no anexo II-B do STF, sala da Primeira Turma. A participação do CFP será no dia 3, às 11h30, com duração aproximada de 20 minutos, e transmissão ao vivo pelo site e redes sociais do CFP.

Estatísticas

No Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 31% dos casos de gravidez terminam em abortamento (quase três em cada dez mulheres grávidas abortam). As estimativas do Ministério da Saúde mostram que, todos os anos, ocorrem cerca de 1,4 milhão de abortamentos espontâneos ou inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos.

Dados de 2016, da Pesquisa Nacional de Aborto, de autoria de Debora Diniz, Marcelo Medeiros e Alberto Madeiro, revelam que, aos 40 anos, quase uma em cada cinco mulheres brasileiras fez um aborto. Em 2015, foram cerca de meio milhão de abortos no país. Segundo os pesquisadores, o aborto é frequente na juventude, mas ocorre também com frequência entre adultas jovens. “Essas mulheres já são ou se tornarão mães, esposas e trabalhadoras em todas as regiões do Brasil, todas as classes sociais, todos os grupos raciais, todos os níveis educacionais e pertencerão a todas as grandes religiões do país. Isto não quer dizer, porém, que o aborto ocorra de forma homogênea em todos os grupos sociais.”

Pela vida das mulheres

A sociedade civil está mobilizada e organizou o “Nem presa, nem morta, Festival Pela Vida das Mulheres”. O evento vai reunir pessoas de todo o Brasil, entre 3 e 6 de agosto, no Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília. Rodas de conversa, espaços de acolhimento, oficinas, manifestações culturais e artísticas, projeção da audiência ao vivo e shows. Veja a programação. Participe e marque presença no evento. (Inserir link do evento https://www.facebook.com/events/1679233825465542/)

Audiência pública sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que pede a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação

Data: 3 de agosto de 2018 (sexta-feira)
Hora: 11h30
Como assistir: www.cfp.org.br

Leia a Carta de Posicionamento do Conselho Federal de Psicologia

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil, pois entende que a defesa dos Direitos Sexuais e Reprodutivos das mulheres faz parte da defesa dos seus Direitos Humanos. A autonomia das mulheres sobre seus corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de decidir ou não interromper uma gravidez. A Psicologia deve se posicionar agindo sobre as situações que favorecem situações de vulnerabilidade social e psicológica, que provocam intensas situações de sofrimento psíquico, como é o caso da manutenção de uma gravidez que não foi escolhida pela gestante. Atualmente, o aborto no Brasil é crime previsto no artigo 128, incisos I e II do Código Penal Brasileiro. A lei data da década de 20 e autoriza a interrupção da gestação em apenas dois casos: risco de vida para a mãe e/ou estupro.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Guttmacher, nos Estados Unidos, chamado Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo Mundo de 1995 a 2008, revelou que as interrupções de gravidez sem assistência clínica – ou seja, de risco e clandestinas – aumentaram de 44 para 49 por cento e que 220 em cada cem mil mulheres acabam morrendo, principalmente no continente africano. O estudo foi publicado no periódico The Lancet.

Segundo o estudo, em todo o mundo, os abortos inseguros foram a causa de 220 mortes por 100 mil procedimentos em 2008 – 35 vezes mais do que a taxa de abortos legais nos Estados Unidos – e de quase uma em cada sete do total de mortes maternas. As regiões que correm mais riscos de aborto inseguro são a América Central e do Sul, além da África Central e ocidental, onde 100% de todas as interrupções da gravidez foram inseridas nesta categoria. Anualmente, cerca de 8,5 milhões de mulheres em países em desenvolvimento sofrem complicações sérias decorrentes do aborto sem condições de segurança.

O relatório também alertou sobre o uso crescente do medicamento chamado misoprostol, utilizado no tratamento de úlceras gástricas. Apesar de ser ilegal, seu uso tem aumentado em países onde há leis restritivas ao aborto.
No Brasil, a OMS estima que 31% dos casos de gravidez terminam em abortamento (quase três em cada dez mulheres grávidas abortam). Já conforme estimativas do Ministério da Saúde, todos os anos ocorrem cerca de 1,4 milhão de abortamentos espontâneos e ou inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos.

Com base nestes dados, percebemos que a lei atual impede que estas mulheres tenham direito a sua cidadania e aos seus direitos humanos sexuais e reprodutivos, direitos estes estabelecidos por importantes Conferências Internacionais de Direitos Humanos que produziram Documentos dos quais o Brasil é signatário.

Sabe-se que a lei que criminaliza o aborto não impede, ou sequer reduz a sua incidência, e não dá conta da complexidade da temática da questão. O debate sobre a liberdade de optar por não seguir com a gestação é distante da realidade e necessidades das mulheres.

O CFP se posiciona conforme os Tratados Internacionais assinados pelo Estado brasileiro, nos quais o governo se compromete a garantir o acesso das mulheres brasileiras aos direitos reprodutivos e aos direitos sexuais, referendando a autonomia destas frente aos seus corpos.

O conselho também segue os encaminhamentos do VII Congresso Nacional de Psicologia (CNP), entre eles a discussão dos Projetos de Lei que regulamentam o aborto seguro e a garantia do diálogo com os movimentos que lutam pela legalização do aborto. Lembramos ainda a moção aprovada no VII CNP, de apoio à legalização do aborto:
“Reconhecendo tanto a complexidade do tema, quanto os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e entendendo a situação de sofrimento decorrente da criminalização e da falta de acesso aos serviços de saúde, os/as delegado(as) do VII Congresso Nacional de Psicologia vêm manifestar seu apoio à legalização da prática do aborto no Brasil, independente de a gravidez ser decorrente de violência ou haver risco de morte para a mulher”.

O CFP tem ainda como diretriz-base o Código de Ética Profissional do Psicólogo que determina, segundo os seus Princípios Fundamentais, que:
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

E ainda, de acordo com o Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;

O CFP luta pela promoção da saúde da mulher, tanto física quanto mental, e pelo reconhecimento e integração dos diversos momentos e vivências na subjetividade da mulher, entre eles a decisão de ter filhos. Defendemos, sobretudo, o acolhimento e escuta para as mulheres em situação de aborto!

Sistema Conselhos de Psicologia inicia pesquisa sobre RAPS

O Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) vai iniciar, no dia 28 de agosto, coleta de dados sobre a atuação de profissionais da Psicologia na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A pesquisa pretende resultar na elaboração de mais uma referência técnica do Crepop para o exercício profissional.

A coleta de dados tem duas etapas, a quantitativa e a qualitativa. O questionário on-line pode ser respondido por todas as psicólogas a partir de 28 de agosto. A etapa qualitativa será desenvolvida paralelamente à fase quantitativa, com a coleta realizada nos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) de todo o país. Para participar dessa fase, é preciso ficar atenta aos calendários locais de atividades dos regionais.

Contribua com a construção de referências técnicas do Crepop. Participe da pesquisa.

Psicologia e educação: três motivos para ter assento no CNEDH

Construir uma cultura em direitos humanos. Com este objetivo, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) tomou assento no Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos em maio de 2018. A seleção é inédita por dois motivos. É a primeira vez que a autarquia está no CNEDH e o CFP é o único órgão profissional fiscalizador com assento na instituição. Estão, ao lado da instituição distintas entidades, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Ministério da Educação, Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). São 16 no total.

O último processo seletivo, publicado em dezembro de 2017, buscou selecionar duas instituições de ensino superior e quatro entidades da sociedade civil e movimentos sociais com relevante atuação na área de educação em direitos humanos para compor o CNEDH no biênio 2018-2019. O mandato dos membros é de dois anos, permitida uma recondução, após novo processo.

Os integrantes do CNEDH se reúnem trimestralmente e o órgão é vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos. Os temas são pautados pelas ocorrências cotidianas. Agora, uma dos temas é a reforma do ensino médio. Para a conselheira Regina Pedroza, que tomou assento no CNEDH ao lado do conselheiro Paulo Maldos, “o ensino médio não pode ser pensado de forma desvinculada do ensino fundamental e do superior”.

Pedroza e Maldos fazem parte da comissão temática da educação superior. Essas comissões acompanham e avaliam a implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. São cinco comissões: educação básica, educação superior, educação não-formal, educação dos profissionais dos Sistemas de Justiça e Segurança e educação e mídia.

A conselheira Regina Pedroza explica a importância da atuação do CFP no CNEDH nesta pequena entrevista.

Três perguntas para Regina Pedroza

Por que o CFP decidiu se candidatar?
Periodicamente, há espaço para novas representações da sociedade civil e, em dezembro de 2017, decidimos pleitear a candidatura do CFP. Tenho um histórico importante na área da educação em direitos humanos e cidadania na pós-graduação da UnB. O conselheiro Paulo Maldos também participa do espaço.

Que tipo de recomendações poderiam ser feitas em relação ao ensino religioso?
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu recentemente pela obrigatoriedade de oferta do ensino religioso pelas escolas, sendo optativa aos estudantes a frequência às aulas. Elaboramos um parecer sobre o tema e vamos levar essa discussão à sociedade.

Até setembro, temos que elaborar um parecer sobre direitos humanos no ensino superior. Acredito que todos os cursos de graduação deveriam contemplar, de alguma forma, esse tema, mas não é assim que funciona.

A universidade pode ofertar uma disciplina ou também esse conteúdo pode ser transversal. O que ocorre é que alguns professores, por iniciativa própria, falam sobre o tema, mas precisamos construir uma cultura em direitos humanos. Mais importante do que uma disciplina é pensar em todas as cadeiras essa questão.

O psicólogo, principalmente, precisa pensar a respeito, porque nossa área está em vários lugares. Onde tiver relações interpessoais, há Psicologia.

Acredito, assim, ser extremamente importante este lugar que o CFP ocupa, tanto para se inserir nessa formação como também para conhecer o que está sendo feito.

Como a questão dos direitos humanos perpassa os currículos dos ensinos fundamental, médio e superior?
Vou dar um exemplo. Eu acompanhava uma professora da educação fundamental em Sobradinho e ela queria muito falar sobre direitos humanos para as crianças. Como, no entanto, abordar essa questão junto aos alunos? Propus que vivenciássemos o tema. Havia, junto à escola, um parque de diversões e eu convidei as crianças para ir até lá. Elas responderam: “Não, tia, a gente não pode ir a esse parquinho.” Parquinho não é para criança?, perguntei. “O parquinho está todo quebrado”. E isto está direito?, respondi. “Não, não está direito”. Então, precisamos fazer algo para endireita-lo. E fomos ao parque e as crianças começaram a pensar sobre o que estava direito e o que não estava. Foram, assim, percebendo que o parque deveria estar limpo e protegido. Perceberam, assim, que as crianças têm direitos.

No ensino médio, há milhões de questões que podem ser abordadas e que a Escola sem Partido está querendo que proibir. Querem tirar o direito de a juventude pensar problemas de seu cotidiano. A questão da sexualidade na adolescência é muito complexa e os jovens têm o direito de pensar e discutir essas questões. Precisam de acolhimento e de futuro.

Na educação superior, um tema complicado é o da competição e as pessoas vivem uma pressão muito grande. É preciso, então, discutir o tema das cotas. Além de problematizar a questão da entrada de negros e indígenas e também de estudantes das escolas públicas, é necessário pensar a permanência dessas pessoas na universidade. Os alunos ricos, que pagaram caro pela educação, não aceitam conviver com os estudantes que vivem na Estrutural, por exemplo.

Tive um aluno negro, nascido no interior do Maranhão. Por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele entrou no curso de Psicologia da UnB. Sua família ficou exultante. Ele ingressou na universidade, mas, no terceiro semestre me procurou e disse que não se sentia acolhido. Foi embora. Largou o curso. Não suportou conviver com os colegas.

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CFP é selecionado como representante do CNEDH

 

Última etapa do 9º Seminário de Psicologia e Políticas Públicas

O 9º Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas já tem data marcada para sua última etapa regional: 9 de agosto, em Teresina (PI). O evento, que terá como tema “Seguridade social e processos de subjetivação em tempos de crise e desmonte das políticas públicas”, será realizado no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Piauí, localizado à Rua Governador Tibério Nunes, s/n, bairro Cabral, das 9h às 18h.

Para receber notificações sobre a transmissão ao vivo, confirme presença no link do evento no facebook https://www.facebook.com/events/290945074987503/

O objetivo do encontro é discutir os impactos da conjuntura política nas políticas públicas e como esta afeta o exercício de profissionais da Psicologia. O evento também propõe discutir a conjuntura regional e produzir mobilizações e ações em favor das políticas públicas.

O seminário é realizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os Conselhos Regionais de Psicologia de Pernambuco (2ª Região), Bahia (3ª Região), Ceará (11ª Região), Paraíba (13ª Região), Alagoas (15ª Região), Rio Grande do Norte (17ª Região), Sergipe (19ª Região), Piauí (21ª Região) e Maranhão (22 a Região), por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop).

Confira a programação

9h – 10h
Abertura
CFP
Representantes dos CRPs PE, BA, CE, PB, AL, RN, SE, PI e MA

10h – 11h
Palestra sobre análise de conjuntura da política brasileira e impactos nas políticas públicas
Solange Maria Teixeira, da Universidade Federal do Piauí (UFPI)

11h – 12h
Debate

12h – 14h
Almoço

14h – 15h
Mesa de debate sobre Seguridade Social e Psicologia: desafios para atuação em tempos de desmonte
Diego Mendonça Viana (conselheiro presidente do CRP/CE)
Mariana Priolli (Universidade de São Paulo/USP)
Raíssa Bezerra Palhano (Conselheira do Crepop e presidenta da Comissão de Direitos Humanos do CRP/MA)

15h – 16h
Debate

16h – 16h15
Intervalo

16h15 – 17h15
Mesa de debates sobre desmonte das políticas públicas e processos de subjetivação: impactos na vida dos usuários
Vanilson (Mov. Poprua/RN)
João Paulo Sales Macedo (UFPI)
Andréa Esmeraldo, conselheira do CFP, representante da Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (Conpas)

17h15 – 18h
Debate

Encerramento
Marisa Helena – conselheira Crepop

Nova carteira de identidade profissional da Psicologia

Um grupo de trabalho (GT) está elaborando nova resolução para contemplar as mudanças propostas para a nova carteira de identidade profissional (CIP) da Psicologia e estuda a possibilidade de incorporação com o documento nacional de identificação (DNI). Os integrantes do GT se reuniram nesta quinta-feira (19), na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em Brasília, para discutir o tema.

A Lei 13.444/2017, sobre identificação civil nacional (ICN), e o Decreto 9.278/2018, regulamentador da Lei 7.116/1983, que assegura validade nacional às carteiras de identidade e regula sua expedição, fazem parte da legislação sobre o assunto. A proposta para a nova CIP e a resolução que a regulamentará serão tema da pauta da Assembleia das Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf) do Sistema Conselhos de Psicologia de dezembro de 2018.

O grupo de profissionais da Psicologia que estudam a nova CIP é composto por representantes do CFP, conselheira Sandra Sposito, e dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) da Bahia (3ª Região), José Santos, do Maranhão (20ª Região), Clorijava Santiago, do Mato Grosso (18ª Região), Junio Alves, do Rio de Janeiro (5ª Região), Thiago Melício, e do Rio Grande do Sul (7ª Região), Mariane Rodrigues.

Sandra Sposito explica que o papel do grupo é elaborar a proposta de uma carteira de identidade profissional mais completa, que agregue novos elementos e possa sintetizar várias informações de modo mais seguro, durável e prático. “Para isso, estamos realizando pesquisas sobre materiais duráveis, leiautes inclusivos e dispositivos de segurança.” Ela conta que, em breve, uma proposta será enviada para os CRPs opinarem e contribuírem para melhorar a proposta.

Tecnologia

A ideia é que a nova CIP seja confeccionada em formato similar ao do cartão de crédito, em policarbonato, material mais resistente e que oferece mais recursos de segurança. A nova carteira possuirá mais tecnologias, como a utilização de chip, que permite a inserção de certificado digital; QR Code; e também será proposta a carteira digital, similar a outros documentos, como o e-Título e e-CNH.

A modernização não será apenas no documento, mas em todo o processo, já que serão usados novos sistemas e equipamentos que vão agilizar o processo de captura de dados, de confecção e de entrega.

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Psicologia prepara manual de documentos da avaliação

Seis integrantes do Sistema Conselhos de Psicologia, Andréa Esmeraldo (CFP), Jonatha Rospide Nunes (CRP/TO), Losiley Alves Pinheiro (CRP/MA), Mari Ângela Calderari Oliveira (CRP/PR), Rodrigo Toledo (CRP/SP) e Shouzo Abe (CRP/GO), estão discutindo, nesta semana, a elaboração de uma minuta do manual de elaboração de documentos escritos produzidos por profissionais da Psicologia decorrentes de avaliação psicológica. Eles integram o grupo de trabalho que está revendo a Resolução CFP 7/2003, que institui o manual de produção de documentos.

Laudos e relatórios estão entre os documentos produzidos por profissionais da área resultantes da avaliação psicológica.

A conselheira Andréa Esmeraldo explica que o cenário vivido pela Psicologia quando da assinatura da resolução, há 15 anos, era muito diverso do de hoje. “Atualmente, a profissão está em lugares nunca imaginados. Necessitamos, assim, de novas intervenções, que demandam novos registros de ações em outros documentos.” O maior problema, segundo ela, é que a realidade atual não foi prevista pela resolução de 2003.

Naquele ano, a predominância da atuação da Psicologia era a clínica, saúde e trânsito, por exemplo. Hoje, a atuação é muito mais ampla e há interações com outros profissionais, de áreas muito distintas nas políticas públicas, como a Administração, a Assistência Social, a Enfermagem, a Fonoaudiologia, a Medicina, a Nutrição, a Pedagogia e até o Direito.

“Naqueles tempos, não se discutia intersetorialidade e tampouco interdisciplinaridade”, conta a conselheira. Ela também diz que a pretensão é terminar a minuta da nova resolução até o fim de 2018.

Agenda

Nesta quinta-feira (19), eles estão discutindo o rol de documentos e sua estrutura. O próximo passo é a redação. Andréa conta que os integrantes do gt pretendem convidar especialistas na área para ter um olhar externo sobre todo o processo.

O trabalho do grupo foi apresentado durante o Encontro Nacional das Comissões de Orientação, Ética e Fiscalização, que reuniu cerca de 140 pessoas no CFP, em Brasília, entre 16 e 18 de julho.

Diretrizes da Psicologia são apresentadas no Conselho de Saúde

Para elaborar uma minuta das diretrizes nacionais curriculares dos cursos de graduação em Psicologia, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoveu, em parceria com a Associação Brasileira de Ensino da Psicologia (Abep) e a Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), 118 reuniões preparatórias, cinco encontros regionais, o nacional e a consulta pública.

O documento foi apresentado nesta terça-feira (17) aos integrantes da Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho (CIRHRT). A apresentação foi feita pelas presidentas da Abep, Ângela Soligo, e da Fenapsi, Fernanda Magano, e pelo diretor da Abep João Coin de Carvalho. A CIRHRT integra o Conselho Nacional de Saúde (CNS)

Soligo explicou os elementos desencadeadores de todo o processo: demandas de coordenadoras, docentes e discentes de Psicologia, pesquisas sobre formação e estudos da Abep. Além, disso, ela ressaltou as diretrizes nacionais para os cursos da área de saúde estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e a necessidade de enfrentar as políticas do Ministério da Educação (MEC), que preveem a promoção de cursos de graduação de saúde totalmente a distância.

Ela disse que todo o processo de revisão das diretrizes foi organizado de forma a permitir participação ampla e democrática da categoria.

Os princípios norteadores das diretrizes da Psicologia são os direitos humanos, a laicidade, o respeito às diferenças e o enfrentamento das desigualdades, além do compromisso social, a formação generalista, ética e cientificamente orientada. A vinculação às políticas públicas, em especial às de saúde, educação e assistência social também foi lembrada por Soligo. Ela também analisou o perfil do egresso, as metodologias de ensino e avaliação, a pesquisa e a extensão, os estágios, a licenciatura e a educação a distância.

Para Soligo, esses elementos apontam para a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, para a dimensão histórica, cultural e social da subjetividade, assim como para a pluralidade teórica e metodológica da Psicologia.

Na avaliação de Fernanda Magano, a CIRHRT é uma instância importante para o debate relacionado às profissões de saúde. De acordo com ela, a apreciação das DCNs pela comissão foi tranquila e produtiva. “Os representantes das entidades de saúde consideraram que o trabalho está consistente e atingiu os objetivos esperados, de acordo com as diretrizes propostas pelo CNS.”

Leia a minuta das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Gradução em Psicologia.

Encontro Nacional das Comissões de Orientação, Ética e Fiscalização

“A sociedade brasileira atravessa uma crise moral aguda e isso demonstra a importância de intervir a reafirmar a relevância da ética”. Esse foi o tom da conselheira Júnia Maria Campos Lara ao abrir o Encontro Nacional das Comissões de Orientação, Ética e Fiscalização, na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em Brasília. O psicólogo Aluízio Lopes de Brito explicou que a proposta era discutir as realidades e as vivências dos Conselhos Regionais de Psicologia. “Pensar suas dificuldades e desafios cotidianos.” O evento foi aberto no dia 16.

O encontro teve a proposta de capacitar, atualizar e elaborar procedimentos comuns, de forma a construir entendimentos para possíveis lacunas do Código de Processamento Disciplinar (CPD).

Júnia Lara explicou que os códigos de ética profissional indicam como o indivíduo deve se comportar no âmbito profissional, mas o Código de Ética da Psicologia oferece um grau de liberdade “que nos torna ainda mais responsáveis por nossas ações, por nossas escolhas, entre o certo e o errado, entre o bem e o mal”.

Brito contou que os principais temas tratados foram dúvidas sobre orientação e ética no trato da interpretação do CPD. No caso da fiscalização, a questão é a complexidade do trabalho da Psicologia nas políticas públicas e na relação com a sociedade. “Temos situações cada vez mais únicas e singulares que demandam do orientador-fiscal de cada regional uma habilidade reflexiva, conhecimento da legislação e também da dimensão do ser humano e da sociedade.” Para ele, quanto maior o diálogo sobre o papel da Psicologia nas políticas públicas com a sociedade, menos demandas de fiscalização direta haverá, porque aumentando o entendimento, “teremos um profissional mais comprometido com a legislação que rege a profissão”.

Programação

O encontro foi dividido em três fases. No dia 16, as Comissões de Orientação e Ética (COE) de todos os Conselhos Regionais de Psicologia discutiram mediação no Sistema Conselhos, ética, aspectos jurídicos do processo disciplinar e ouviram relatos de experiências dos CRPs da Bahia (CRP 3ª Região) e de São Paulo (CRP 6ª Região) sobre o tema.

No dia 17 foi a vez de integrantes das COEs e das Comissões de Orientação e Fiscalização (COF) se encontrarem. O programa contemplou a apresentação do Relatório da Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas e da Resolução CFP n. 11/2018, que trata de acompanhamento psicológico por meio de Tecnologias de Informação e Comunicação, as TICs, e também as implicações da implantação do Sistema Eletrônico de Informações (SEI) nos processos éticos.

No último dia, exclusivo para participantes das COFs, os aspectos jurídicos do processo disciplinar no âmbito da fiscalização foram apresentados e também os resultados dos grupos de trabalho que analisaram a Resolução CFP n. 007/2003, que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica, e a revisão da Política de Orientação e Fiscalização. Não faltou no programa relato de experiência sobre diplomas falsos e cursos irregulares e discussão sobre escuta especializada e depoimento especial e a Resolução CFP n. 09/2018, que normatiza a avaliação psicológica (Resolução CFP n. 09/2018).

Intercâmbio

A presidente da COF do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 6ª Região), Regiane Aparecida Piva, disse valorizar muito esses encontros. “Para além da temática, valorizo a possibilidade de conhecer as realidades regionais.” Para ela, a Psicologia brasileira precisa andar em conjunto, respeitando, porém, as diversidades de cada região e também as diferenças de ideias e pensamentos. “A gente precisa ouvir, necessita trocar.”

A expectativa da gerente técnica do CRP/MG (CRP 4ª Região), Flávia Santana, era participar desse intercâmbio e entender como se dá o trabalho dentro de ambas as comissões, a COE e a COF, escutar as dificuldades, as especificidades e também a experiência, o que já deu certo, o que não foi possível. Por isso, “o encontro foi momento importante de troca, de dividir as angústias, de pensar a melhor forma de fazer”.

O encontro terminou nesta quarta-feira (18).

Encontro reúne integrantes da luta de prevenção e combate à tortura

Profissionais da Psicologia de todo o país precisam contribuir com a criação e o fortalecimento de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, de forma a poder contribuir, como sociedade civil, com a construção do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT). Somente assim a Psicologia conseguirá contribuir, de forma fundamental, humanista e civilizatória, para a erradicação dessa prática desumana e criminosa de nosso meio.

O apelo do conselheiro Paulo Maldos foi feito após sua participação, entre 3 e 5 de julho, em Brasília, do 3º Encontro Nacional de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, do qual participaram integrantes do Conselho Federal de Psicologia (CFP), de Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs), de comitês e mecanismos nacionais e estaduais, do Sistema de Justiça, do Poder Executivo e da sociedade civil. Vítimas e familiares também marcaram presença.

Maldos explica que o encontro foi estratégico, pois foi possível avaliar a construção do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. Ele contou que pessoas de várias partes do Brasil que integram os comitês e mecanismos estaduais, puderam compartilhar uma agenda comum, de reflexão e avaliação da luta de prevenção e combate à tortura. “A ideia é levar esse debate para todo o Brasil e, com o olhar específico da Psicologia, pensar outros temas, como drogas, privação da liberdade, etnia, raça, LGBT e mulheres”.

A conselheira Márcia Badaró disse que o encontro serviu como oportunidade para “discutir as melhores estratégias para que a sociedade brasileira compreenda a necessidade da implantação desses órgãos, comitês e mecanismos na política de Estado”.

O CFP é um dos membros do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT), organizador do evento, ao lado do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT).

Leia a Carta de Brasília, elaborada durante o III Encontro Nacional de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura.

Leia mais sobre o encontro.

Tenha acesso aos textos e apresentações do evento: https://terceiroencontro.wordpress.com/2018/07/13/apresentacoes-e-textos/