Minas Gerais regulamenta a atuação de psicólogas(os) e assistentes sociais nas escolas

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) comemora as 460 vagas publicadas em edital de processo seletivo para contratação de profissionais da Psicologia e Serviço Social para ingresso ao quadro funcional da Secretaria de Educação de Minas Gerais (SEE-MG). A novidade foi regulamentada no dia 14 de janeiro, via Resolução 4.701, de 14 de janeiro de 2022 e publicada junto ao edital do Processo Seletivo Simplificado.

As(os) psicólogas(os) e assistentes sociais atuarão no cargo de Analista de Educação Básica (AEB) em núcleos que irão abarcar escolas de diversos municípios, conforme critérios estabelecidos pela SEE-MG. As(os) profissionais serão responsáveis pelo desenvolvimento de ações diretamente nas escolas a fim de cooperar para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Entre as atividades está, por exemplo, a orientação de equipes gestoras voltadas  à mediação de conflitos e à minimização dos problemas educacionais.

Para a conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP) Norma Cosmo, o estado de Minas Gerais, sai na frente, mostrando sua pujança na luta para regulamentação desta lei – em um trabalho que é fruto de articulação da Comissão de Orientação em Psicologia Escolar e Educacional do CRP-MG. “O trabalho de produção dessa resolução vai servir tanto para os municípios de Minas como para outros estados e municípios brasileiros que precisam de uma boa referência para regulamentar um serviço tão importante como este para a Psicologia Escolar”.

A conselheira Norma Cosmo também destacou o importante papel da Coordenação Nacional para a implementação da Lei nº 13.935/2019 nos estados. “Esse grupo trabalha na perspectiva de que outros estados e municípios avancem, não apenas no cumprimento da lei, como na orientação de práticas profissionais que concretamente alcancem o conjunto da comunidade escolar”.

Já a presidenta do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), Lourdes Machado, também celebra a novidade, destacando que a contratação de psicólogas(os) e assistentes sociais pela rede publica de educação básica vai “contribuir para que sejam construídas estratégias que promovam processos de ensino-aprendizagem plurais, inclusivos, considerando diferenças, desigualdades sociais e escolares e as necessidades das comunidades escolares”.

Lourdes Machado reconhece que a atuação conjunta de entidades foi ponto-chave para que a resolução fosse publicada. Ela destaca o protagonismo da Comissão de Orientação em Psicologia Escolar e Educacional do CRP-MG, que atuou de forma conjunta com o Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais (CRESS-MG), com a representação estadual da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), com o Sindicato das Psicólogas e dos Psicólogos de Minas Gerais (PSIND) e com a Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – Núcleo Minas Gerais (ABEP Minas), além dos Poderes Legislativo e Executivo.

Para o vice-presidente do CRESS-MG e coordenador da Comissão de Educação e Serviço Social, José Ribeiro, e a contratação anunciada pela SEE é fruto de duas décadas de mobilização entre órgãos que representam o Serviço Social e a Psicologia, e em articulação com o legislativo. “A atuação de assistentes sociais nesta política visa enfrentar desigualdades sociais e educacionais que se apresentam no ambiente escolar, contribuindo para o ingresso e permanência das e dos estudantes neste espaço”.

A regulamentação da atuação de psicólogas(os) e assistentes sociais em unidades de ensino se dá no contexto da Lei nº 13.935/2019 e é uma conquista que levou mais de 21 anos para ser alcançada. Entre os ganhos advindos com a legislação está o apoio à profissionais da Psicologia e do Serviço Social na elaboração de estratégias que garantam aprendizagem de qualidade para todas(os) as(os) estudantes, em uma perspectiva plural e inclusiva, considerando suas diferenças, desigualdades e dificuldades.

*Com informações do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG)

 

Dia Internacional da Mulher: Nós queremos ar

Mulheres unidas em marcha pelo bem viver, pela garantia de direitos e pelo enfrentamento aos retrocessos. É com esse mote que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) marca o Dia Internacional da Mulher e chama atenção para a necessidade de atentar às questões específicas que afligem as mulheres no Brasil e no mundo.

A Psicologia tem muito a falar sobre isso. Não apenas por ser formada hoje por quase 90% de mulheres, que lidam todos os dias, pessoal e profissionalmente, com as desigualdades e violências comuns da sociedade. Mas também porque aquilo que afeta a saúde mental das pessoas diz respeito ao fazer e ao saber psicológico.

No cenário de pandemia da Covid-19, esses retrocessos se acentuam, trazendo ainda mais violação de direitos para as mulheres. São milhares de trabalhadoras da saúde na linha de frente do combate ao coronavírus, expostas ao contágio e, muitas vezes, sem os efetivos equipamentos de segurança. Além disso, com a pandemia, muitas mulheres tiveram a dupla jornada elevada ao máximo, assumindo o cuidado das crianças e das pessoas idosas, integralmente.

Em meio à pandemia, 12 estados brasileiros registraram aumento dos casos de feminicídios em 22% – somente no Acre, houve aumento de 300%. Não podemos esquecer das mulheres trabalhadoras da Educação, que neste momento de reabertura das escolas somam o risco da contaminação, como também as trabalhadoras da Política de Assistência Social, essenciais na sua função, precarizadas nas condições de trabalho e esquecidas na campanha vacinal.

Neste momento tão desafiador, o CFP não se furta em chamar a atenção da categoria, da sociedade e do Estado para o fato de que, além do estresse provocado pela insegurança laboral diante de planos de contingência ineficazes, as condições socioeconômicas desfavoráveis são importantes determinantes sociais em saúde, capazes de incidir de forma deletéria sobre a saúde mental da população em geral, principalmente a das mulheres.

Ao chamar a atenção para as determinantes sociais em saúde mental – conceito oriundo da Saúde Coletiva – o Conselho Federal de Psicologia convoca a categoria a apropriar-se da Resolução CFP nº 08/2020, que estabelece normas de atuação do exercício profissional em relação à violência de gênero. O documento é fruto do esforço do Grupo de Trabalho Políticas para Mulheres, formado pelo CFP e alguns Conselhos Regionais de Psicologia.

Direitos das Mulheres

O Conselho Nacional de Direitos das Mulheres (CNDM), do qual o CFP faz parte, publicou a Resolução nº 01/2021 adiando a realização da V Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, devido à pandemia, mas destacando a necessidade de continuarem as mobilizações na luta pela garantia de direitos, como a criação de Grupo de Trabalho para avaliação das políticas públicas na área a partir da 4ª Conferência Nacional de Políticas as Mulheres.

O CNDM também publicou a moção de apoio às recomendações do Conselho Nacional de Saúde (CNS) pelo estabelecimento de medidas emergenciais de proteção social e garantia dos direitos das mulheres, assim como para o acesso à vacinação enquanto estratégia de enfrentamento à pandemia da Covid-19.

Você que é profissional da Psicologia, faça parte desta luta pela garantia de direitos e pela proteção integral das mulheres.

Acesse a Resolução CFP nº 08/2020

CFP promove Diálogo Digital sobre o tema “Menos Armas, Mais Vidas”

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realiza na próxima quinta-feira (7), às 16h, o Diálogo Digital “Menos Armas, Mais Vidas”. A atividade tem como objetivo visibilizar o enfrentamento ao avanço do pensamento que busca ampliar o acesso às armas, fomentando a cultura do ódio e o desrespeito aos direitos humanos no país.

O evento irá reunir especialistas sobre o tema e será transmitido ao vivo pelas redes sociais do CFP (facebookYoutube e Instagram). Participe mandando perguntas para comunica@cfp.org.br ou utilizando a hashtag #dialogoscfp.

O Brasil tem cerca de 16 milhões de armas em circulação, possui uma média de 35 mil homicídios por ano, sendo o campeão mundial de mortes por arma de fogo, das quais as vítimas em sua maioria são jovens e negros.

Esses números podem aumentar ainda mais, por conta de um dos primeiros decretos presidenciais do atual governo de flexibilizar o porte de armas, inclusive para proprietárias(os) rurais e donas(os) de clube de tiro, que pode colocar mais de 250 mil armas na rua.

Nesse contexto, o CFP promove um diálogo para pensar qual é o papel da Psicologia na discussão de políticas públicas que defendam e promovam a vida, comprometidos com a defesa dos direitos humanos e de uma sociedade comprometida com a cultura de paz.

Livro ‘Violência e Preconceitos na Escola’ é lançado na Paraíba

O livro “Violência e Preconceitos na Escola: contribuições da Psicologia” foi lançado na última sexta-feira (14), durante o XII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (Abep). A publicação é resultado de pesquisa desenvolvida entre 2013 e 2015 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), da Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (Abep), da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), em parceria com 10 universidade federais e apresentada ao Ministério da Educação (MEC).

O livro é um convite a professoras(es), coordenadoras(es), pesquisadoras(es), psicólogas(os) e estudantes de Psicologia para pensarem sobre os fenômenos dos preconceitos e da violência no contexto escolar brasileiro. Para o CFP, ela é fruto de uma pesquisa que surgiu da preocupação com esses fenômenos, da constatação de que sua presença nas relações escolares demanda de docentes e gestoras(es) e compreensão de saberes para construir estratégias de enfrentamento.

Durante o lançamento da publicação, o presidente do CFP, Rogério Giannini, explicou que a pesquisa é uma iniciativa que evidencia um método de atuar do CFP, que é de atuar em temas relevantes da sociedade e em articulação com as políticas públicas. Giannini ressaltou também o importante reconhecimento do MEC, na época de construção da pesquisa, sobre a “relevância que a Psicologia tem e da nossa capacidade e expertise para aportar conhecimento para um tema tão importante e de tão forte impacto na vida das pessoas”.

“O CFP assume o compromisso com o campo da Educação e com a difusão de saberes psicológicos de relevância social, que ao mesmo contribuam com o aperfeiçoamento da atuação profissional e com a construção de relações sociais mais humanas e justas”, pontou Giannini.

A presidenta da Abep, Ângela Soligo, lembrou que a divulgação do projeto foi atropelada pelo impeachment em 2016. Ressaltou, ainda, a importância do lançamento da pesquisa e que ela é fruto de um trabalho intenso, de dois anos, que não foi fácil. “É o resultado do investimento em algo que a gente acredita, que a Psicologia tem muitas contribuições a dar ao campo da Educação”.

Ainda no lançamento do livro, a professora da Universidade de São Paulo (USP), Marilene Proença, falou sobre as estratégias e procedimentos metodológicos. Ela explicou que, em primeiro lugar, foi feito um levantamento de toda a produção bibliográfica documental sobre o tema, incluindo documentos do MEC e secretarias dos estados e municípios e a elaboração de uma plataforma nacional para inserção dos dados bibliográficos.

“Nós achávamos fundamental que isso não ficasse apenas para o grupo de pesquisa, mas que fosse uma plataforma que pudesse ser publicizada e atualizada de tempos em tempos”. O segundo passo foi a realização de oficinas participativas com alunas(os), com adultos e equipes escolares e familiares por meio das rodas de conversa.

Em seguida, a professora da UEM, Marilda Facci, apresentou os resultados da primeira e segunda fase da pesquisa, concluindo que alunas(os), famílias e equipe escolar confirmam a vivência da violência e preconceitos na escola; “que a violência não está apenas nas agressões físicas, nos xingamentos, nos apelidos, mas também está no currículo escolar, que reproduz preconceitos, no silêncio e na omissão da escola e na desvalorização do trabalho do professor; que os alunos querem ser ouvidos; que família, escola e alunos precisam dialogar como princípio de enfrentamento das dificuldades; e que há pouco investimento na educação e desvalorização do conhecimento”.

Mara Pedrinho, da Fenapsi, falou sobre estratégias de enfrentamento, como a capacitação de professoras(es) (licenciaturas e formação continuada) e demais atores da escola, para lidar com situações de conflito e/ou acolhimento.

Aberto o VII Congresso da Alfepsi

Começou, na noite desta quarta-feira (5), no Rio de Janeiro, o VII Congresso da Associação Latino-Americana para Formação e Ensino em Psicologia (Alfepsi). Essa é a primeira vez que o Brasil é sede do congresso. Cerca de 330 trabalhos foram inscritos escritos para esta edição, que ocorre até o próximo sábado (8), no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A presidente da Alfepsi e da Abep, Ângela Soligo, lembrou, na abertura, que a democracia do Brasil e de países sul-americanos está sendo atacada. Falou, ainda, dos direitos duramente conquistados por seus povos e recordou os incêndios ocorridos no Centro Histórico de Salvador e no Rio de Janeiro, no Museu Nacional da República. “Um ataque a nossa memoria e direitos. Estamos aprendendo todo dia a tornar o sofrimento coletivo uma fatalidade.”

Soligo lembrou que a ciência Psicologia, defendida no congresso, não se restringe a teorias e métodos, sem dúvida necessários. “Estamos falando de uma Psicologia que se coloca ao lado dos nossos povos, que ponha seus conhecimentos a serviço da produção de saúde e bem-estar social.”

Por fim, disse que a contribuição do CFP para a realização do congresso foi indispensável para sua concretização.

Colonialismo

O presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini, falou sobre a alegria de participar de um evento desse porte, fruto da vontade política de instituições e da força e dedicação das pessoas que trabalharam muito para que o evento ocorresse. “Aqui, realizamos um pouco o sonho da grande pátria latino-americana, pela construção de um ensino e pesquisa plurais, diverso e que denuncie o colonialismo como método de dominação.”

O presidente do congresso e conselheiro-secretário do CFP, Pedro Paulo Bicalho, explicou que o papel do encontro ultrapassa a problematização das lógicas e racionalidades que fazem funcionar os pensamentos colonizados. “O congresso incita a pensar sobre os desafios postos para que possa ampliar a compreensão da construção das subjetividades latino-americanas e suas implicações para uma psicologia socialmente referenciada.”.

O professor Marcus Aguiar, do Instituto de Psicologia da UFRJ, e a vice-presidenta da Abep, Eliz Marine Wiggers, ressaltaram a importância da realização da Alfepsi na cidade do Rio de Janeiro. Para Eliz Marine, o evento é como “um fôlego de esperança, um rompimento e uma afronta aos tempos difíceis que estamos vivenciando”. Para Marcus Aguiar, é preciso “aproximar e estabelecer mais parcerias entre países vizinhos”.

O professor Davi Ramires Alcuña lembrou a história de criação da Alfepsi. Fundada em maio de 2011, em Cajamarca, no Peru, a entidade atua para contribuir na formação e no desenvolvimento de profissionais de Psicologia da América Latina.

Na conferência de abertura, o professor Manuel Calviño falou sobre as dimensões psicossociais da Psicologia latinoamericana, como utopia, compromisso colaboração: “São os bichos raros”.

Reconhecimentos

A abertura também foi noite de reflexões críticas, reconhecimentos e homenagens. Segundo Pedro Paulo Bicalho, o evento foi pensado “como uma festa feminista, para servir de inspiração ao longo do congresso”.

O grupo Moça Proza organizou uma roda de samba e, em seguida, o maracatu do Baque Mulher lembrou o machismo e o racismo presentes em nossa sociedade. Mostraram, ainda, nossa matriz de origem africana: o samba, ícone da manifestação cultural da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil.

Para completar, Tia Lúcia, moradora do Morro do Alemão, ofereceu caldos aos participantes, iniciativa da organização do congresso de dar visibilidade e oportunidade aos pequenos produtores e incentivando o que é produzido localmente.

 

Argumentos para descriminalizar e legalizar o aborto no Brasil

“Por que a Psicologia brasileira é favorável à legalização e à descriminalização do aborto? Porque o aborto mobiliza elementos socioculturais estruturantes e violentos na sociedade e promove sofrimentos e fragilidades nas mulheres que o praticam. E isso tem a ver com a Psicologia: onde há opressão, onde há violência que subjuga, que provoca sofrimento.” Assim, a psicóloga Sandra Sposito, integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP), fez a defesa da posição institucional sobre o tema em audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF).

Sandra Sposito participou, junto com a psicóloga Letícia Gonçalves, nesta sexta-feira (3), da Arguição de Descumprimento de Preceito Federal (ADPF) 442, que trata da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. A defesa do ponto de vista do CFP foi transmitida pelo site institucional.

O CFP foi uma das 47 instituições e entidades selecionadas a apresentar argumentos sobre aspectos interpretativos dos arts. 124 e 126 do Decreto-lei nº 2.848/1940 (Código Penal), que tratam do aborto. Os critérios de seleção foram a representatividade técnica, a atuação ou expertise e a garantia da pluralidade e paridade da composição da audiência.

O aborto

No Brasil, o aborto é permitido em somente em gravidez resultante de estupro, em casos de risco de vida para a gestante e em anencefalia fetal.

Segundo o Ministério da Saúde, é a terceira causa de mortalidade da mulher, apesar de o país ter uma das maiores coberturas de métodos contraceptivos no mundo: 269 milhões de contraceptivos foram entregues à população nos últimos 17 anos. Esta cobertura, inclusive, fez a taxa de fecundidade nacional cair em 2017: 1,67% filho por mulher de 15 a 49 anos, abaixo da taxa de reposição recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Casos de aborto inseguro geram, ainda, uma sobrecarga para o Sistema Único de Saúde (SUS), com 250 mil hospitalizações por ano, das quais 15 mil complicações graves e 5 mil extremamente graves. O resultado é uma morte a cada dois dias.

Transexuais

É papel da Psicologia, como ciência e profissão, estudar a subjetividade humana, cuidar das pessoas e das coletividades em suas vulnerabilidades, sofrimentos e conflitos. Também é seu papel dar suporte no âmbito da saúde mental, nos processos de promoção de autonomia e cidadania. “O gênero feminino, historicamente associado à maternidade compulsória, socialmente responsável isoladamente pelos processos reprodutivos, responsável moralmente pela educação e cuidado dos filhos, vem buscando transcender esse aprisionamento nos papéis de gênero atribuído a elas. Numa luta histórica para se desvincular do lugar de domesticação, dependência e subalternidade”, explica Sposito.

Ao apresentar a posição da Psicologia, Sposito também falou que a gravidez e a escolha em mantê-la ou não também é um direito a ser garantido aos homens transexuais, que, apesar de pertencerem ao gênero masculino, podem permanecer com suas capacidades reprodutivas preservadas.

“Impedir o aborto, criminalizá-lo, é manter o lugar de não autonomia das mulheres e homens trans que desejem interromper uma gravidez. E mais do que isso, é impedir cidadania, é promover marginalização e estigmatização.”

Singularidade do sujeito

Letícia Gonçalves, por sua vez, disse que estudos brasileiros que privilegiam a singularidade do sujeito têm revelado dimensões importantes sobre aborto e sofrimento psíquico. Pesquisas de Daniela Pedroso e Francisco Viana com serviços de aborto legal indicam que, em condições adequadas, a interrupção voluntária da gestação tem significativo potencial de sensação de alívio, por parte das mulheres, bem como de retomada das dimensões cotidianas de trabalho e relacionais. Mesmo assim, sentimentos de incômodo foram relatados frente aos estigmas que significam o aborto, para parte da população.

Ela conta que, em casos nos quais a gravidez é resultante de estupro, há observância de reações diferentes daquelas que intencionam inferir que o aborto em si produz adoecimento psíquico. “Revela a multiplicidade das experiências subjetivas com a realização do aborto.”

Estudos que relacionam aborto e estigma social, diz Letícia, mostram a relevância de se considerar normas e estereótipos de gênero como produtores de estigmas sociais, que colocam mulheres que abortam em posições de inferioridade. “O estigma se apresentaria em três dimensões: a percepção da sua existência, a experiência com a discriminação que ele produz e a internalização pela mulher, produzindo sentimentos tais como culpa e vergonha. Desta maneira incorpora as dimensões sociais e culturais na produção de saúde ou adoecimento.”

Livre exercício da sexualidade

Em seus estudos sobre moralidades e aborto, Letícia fez um mapeamento das posições públicas sobre a questão e chama a atenção para a análise de dados sobre o que têm sido dito sobre, não só o aborto, mas sobre o livre exercício da sexualidade pelas mulheres, exercício este que não é crime no Brasil.

Para Letícia, ao exercício da sexualidade das mulheres têm sido atribuídos adjetivos que as caracterizam como irresponsáveis e promíscuas, e à deliberação sobre o aborto outros adjetivos, como assassinas, monstruosas, criminosas. “Estas posições performáticas são violências psicológicas contra as mulheres e atribuo a isto boa parte dos fatores de risco que podem não somente produzir algum dano psíquico às mulheres cisexuais, como impedir o acesso a estas e aos homens trans sexuais aos cuidados integrais à saúde.”

Sandra Sposito e Letícia Gonçalves defenderam, em nome do CFP, a ADPF 442, mostrando-se contrárias às violências psicológicas que produzem iniquidades de classe, gênero, raça, idade, região e orientação sexual no Brasil.

Histórico

O Sistema Conselhos de Psicologia, que representa mais de 317 mil profissionais da área, é gerido de forma democrática e representativa e desde 2010 vem se manifestando publicamente em defesa da legalização do aborto: “Os/as delegados/as do VII Congresso Nacional de Psicologia vêm manifestar seu apoio à legalização da prática do aborto no Brasil, independente de a gravidez ser decorrente de violência ou haver risco de morte para a mulher”.

Em 2012, a Psicologia reafirmou sua posição, por ocasião de proposta de juristas e parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM) a respeito da revisão do Código Penal, no que se refere à descriminalização do aborto no país.

 

 

Encontro Nacional das Comissões de Orientação, Ética e Fiscalização

Ética, Orientação e Fiscalização. Este é o tema do Encontro Nacional COE-COF 2018, que começa nesta segunda-feira (16), das 9h às 18h30, na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), em Brasília. A organização de encontros anuais nesta temática é uma das atribuições da Secretaria de Orientação e Ética (SOE) do CFP, visando a unidade das diretrizes e eficiência das ações de orientação e fiscalização no Sistema Conselhos de Psicologia.

Com previsão de receber cerca de 140 participantes de todo o Brasil e de todos os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP), o encontro é um evento interno da autarquia, e está dividido em três fases. No dia 16, as Comissões de Orientação e Ética (COE) de todos os CRPs vão participar de discussão sobre mediação no Sistema Conselhos. No dia 17 será a vez de integrantes das COEs e das Comissões de Orientação e Fiscalização (COF) se encontrarem. O último dia do evento (18) será exclusivo para participantes das COFs, com ênfase na fiscalização.