Senado: CFP participa de audiência sobre violência nas escolas

A escola é um espaço de reprodução de violência e preconceito? Crescem os casos de “bullying” e de violência entre alunos e professores? Essas foram algumas das questões discutidas na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, no dia 30 de maio.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) foi representado no debate pela psicóloga Ângela Ferreira Soligo, presidente da Associação Brasileira de Ensino em Psicologia (Abep). Também participaram representantes do Ministério da Educação (MEC), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), da Secretaria de Educação do Distrito Federal e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). 

Pesquisa – Os preconceitos e as violências não ocorrem somente entre alunos, mas também, reciprocamente, na relação alunos e equipe escolar. Ângela Soligo lembrou que “a escola é vista como produtora e reprodutora de violência e preconceitos e também é alvo de violência, por meio de políticas públicas que desqualificam a escola e o trabalho docente.”

Ela citou a pesquisa “Violência e preconceitos na escola”, realizada entre 2013 e 2015, em parceira do Fórum de Entidades da Psicologia Brasileira (Fenpb), representado pelo CFP, com a Abep, a Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), a Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi) e dez universidades federais, duas de cada região brasileira. O trabalho envolveu escolas públicas, com estudantes do ensino fundamental e médio, equipe escolar e pais, de todos os estados brasileiros.

A representante do CFP mostrou a presença de preconceitos nas escolas ligados a gênero, à raça, à orientação sexual, à condição de classe e a outros aspectos físicos. Também relatou muitas formas de violência que ocorrem na escola, como agressão física, verbal, simbólica, humilhação, isolamento e frisou que há relação entre violência e preconceitos.

Para a psicóloga, outro dado importante vem dos estudantes: eles querem escuta, diálogo e que a equipe escolar não se omita diante da violência e dos preconceitos. “É preciso entender a violência não somente na dimensão intra-escolar, pois ela reflete a violência social instituída.”

Soligo também destacou a importância do diálogo no enfrentamento da violência e dos preconceitos e disse que estudos apontam na direção oposta ao que propõe o projeto “Escola sem partido”. “Esse projeto é tóxico para a educação brasileira, pois tenta impedir a reflexão e o enfrentamento dos problemas. O poder público tem o dever de recusá-lo e de defender a educação, a escola, os professores e os estudantes.” 

Direitos Humanos

Daniel Aquino Ximenes, diretor de Políticas de Educação do MEC, defendeu a tolerância e o respeito a LGBTs, negros, índios e mulheres. Ele afirmou que o respeito à diversidade é determinante para a redução da violência nas escolas. Para Ximenes, a educação em direitos humanos e a mediação de conflitos são pontos essenciais no enfrentamento e na prevenção da violência.

Heleno Araújo Filho, presidente da CNTE, afirmou que a violência escolar tem sido denunciada pela entidade desde os anos 1990 e que o ensino dos direitos humanos é fundamental para construção de uma cultura de paz.

Representante da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal, a doutora em Educação Ruth Meyre Mota Rodrigues relacionou a violência à LGBTfobia, a questões de gênero e ao racismo. Ela afirmou que esses são os pontos mais importantes da discussão da violência nas escolas. Para ela, o movimento “Escola sem partido” pode dificultar a abordagem desses temas pelos professores. 

Documentário

Jornalista da TV Brasil, Cintia Vargas disse que a emissora tem feito matérias especiais sobre o assunto e lembrou ser preciso um cuidado especial para tratar desses casos, para evitar que jovens sejam ainda mais estigmatizados. “Produzimos um especial chamado ‘Cicatrizes da tristeza’, sobre jovens que se automutilam e descobrimos a ligação desses casos com agressões e ‘bullying’ nas escolas. Para a nossa surpresa, o número de casos é bem grande.” 

Com informações da Agência Senado (foto: Roque de Sá)

Assista a audiência pública realizada no dia 30 de maio na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal

https://youtu.be/NOEI55_UOLg

 

 

 

 

 

 

O vínculo entre cuidadores e crianças nas instituições

O estabelecimento de vínculos entre cuidadores e crianças no contexto das instituições de acolhimento: um estudo teórico é tema de artigo publicado na edição 38.1 da Revista Psicologia: Ciência e Profissão. O texto, de autoria de Blenda Carine Dantas de Medeiros e João Batista Martins, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), faz um breve resgate teórico sobre as políticas de acolhimento para crianças e adolescentes no Brasil e analisa as produções acadêmicas que apontam aspectos das relações estabelecidas nesses espaços de acolhimento, a partir de pesquisas bibliográficas.

O CFP publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade. 

Levantamento

Blenda Medeiros e João Batista Martins explicam que analisaram as produções acadêmicas que apontam aspectos das relações estabelecidas nesses espaços de acolhimento, a partir de pesquisas bibliográficas realizadas nos bancos de dados Parthenon e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), com os seguintes descritores: “mãe social”, “mães sociais”, “cuidador* resident*” e “acolhimento”, em combinações diferentes e variando os campos de busca.

Disseram, ainda, que a leitura dos artigos, teses e dissertações permitiram discutir algumas questões relacionadas ao trabalho de cuidadores residentes e ao estabelecimento de vínculos com as crianças e adolescentes acolhidos, com destaque para os tensionamentos vivenciados por esses profissionais, que podem levá-los ao adoecimento decorrente do trabalho. Com mais questionamentos que esclarecimentos, fica a certeza da urgência em direcionar o olhar para a identidade profissional e pessoal dos cuidadores residentes, que assumem profissionalmente um lugar de referência afetiva constante e um acompanhamento diário de crianças e adolescentes em situação acolhimento.

Blenda Medeiros explicou mais detalhes do artigo. 

O que a motivou a pesquisar o tema?

Conheci o trabalho de cuidadores residentes em casas-lares durante a realização de minha pesquisa de campo do mestrado, em uma instituição de acolhimento do interior do Rio Grande do Norte. À medida que realizava as observações participantes do mestrado, com foco nas crianças, o trabalho das cuidadoras me chamou a atenção e despertou uma curiosidade epistemológica que me levou a conhecer as especificidades dessa atuação. A singularidade das relações que ali se desenvolviam, com crianças acolhidas referindo-se à sua cuidadora como mãe, e as cuidadoras atribuindo-lhes um lugar de filho para além da instituição, foi o que mais me despertou o interesse em entender como se dava o estabelecimento de vínculos nesses espaços. Era comum, por exemplo, as cuidadoras se referirem a egressos da instituição como filhos, e aos filhos destes como seus netos, mantendo vínculos afetivos com esses sujeitos e suas famílias, bem como contatos frequentes por meio de ligações telefônicas ou até mesmo recebendo visitas em seu ambiente de trabalho. A partir dessa curiosidade crescente, que me instigava a conhecer as particularidades dessas relações e das funções que assumem, desenvolvi um projeto de doutorado com foco no trabalho que cuidadores residentes realizavam nesses espaços de acolhimento, suas características e nas relações ali desenvolvidas.

Quais os resultados do levantamento?

Na revisão de literatura, a formação de vínculos entre cuidadores e crianças e adolescentes acolhidos foi um tema bastante presente. A leitura e a análise das pesquisas selecionadas para compor este estudo teórico nos fez perceber como a complexidade que perpassa o trabalho de cuidadores residentes se apresenta nas diversas instituições pesquisadas.

O paradoxo entre a ação profissional e o lugar de referência afetiva ocupado pelos cuidadores residentes é algo a se destacar: cuidadores entrevistados em diversas pesquisas abordaram tanto os aspectos técnicos e específicos à profissão que exercem, quanto o desenvolvimento de relações de afeto e de caráter maternal, com falas que envolviam não só os cuidados físicos e materiais para com as crianças e adolescentes, mas também os cuidados que se dão no âmbito das relações desenvolvidas no espaço do acolhimento e, muitas vezes, para além dele.

O peso emocional intrínseco às particularidades desse trabalho, que envolve uma carga de trabalho exaustiva, além do cuidado de crianças e adolescentes com histórico de violação de seus direitos e em caráter excepcional e provisório, nos leva a endossar a necessidade de um acompanhamento psicológico específico a ser ofertado aos cuidadores residentes.

Leia o artigo O estabelecimento de vínculos entre cuidadores e crianças no contexto das instituições de acolhimento: um estudo teórico.

Conapir debate enfrentamento às desigualdades raciais

O enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial no Brasil é o que une lideranças e representantes da sociedade civil, governos municipais, estaduais e federal na IV Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (IV Conapir), que ocorrerá, dias 27 a 30 de maio, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), em Brasília (DF). O Conselho Federal de Psicologia (CFP) faz parte da comissão organizadora do evento, representado pela conselheira Célia Zenaide.

A quarta edição do Conapir terá como tema “O Brasil na década dos afrodescendentes: reconhecimento, justiça, desenvolvimento e igualdade de direitos”. Há, ainda, quatro subtemas e 12 eixos ou grupos de trabalhos com diversos assuntos que permeiam a realidade das populações negra, quilombola, cigana, judaica, árabe e palestina.

Como o enfrentamento ao racismo e à desigualdade racial permeia a prática profissional da Psicologia, o CFP solicita aos profissionais da área que participarão do Conapir o preenchimento de um formulário para promover o contato entre os que atuam ou militam no campo da igualdade racial.

Conapir

A cada quatro anos, a conferência reúne representantes da sociedade civil e do governo para dialogar sobre as políticas públicas para o enfrentamento do racismo no Brasil. As discussões da IV Conapir serão orientadas por quatro subtemas: do reconhecimento dos afrodescendentes; da garantia de justiça aos afrodescendentes; do desenvolvimento dos afrodescendentes e discriminação múltipla ou agravada dos afrodescendentes.

Tema e subtemas são norteados pelo Plano Plurianual 2016-2019 e pelo Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir), que buscam consolidar a transversalidade das políticas para a população negra e de superação do racismo.

CFP homologa resultado final do XI concurso de título de especialista

O Diário Oficial da União (DOU) publicou, no dia 14 de maio, a homologação do resultado final do XI concurso de provas e títulos para concessão do título de especialista em Psicologia e respectivo registro. A concessão do título é regulada pelas Resoluções nº 13/2007 e nº 03/2016 do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

O concurso, que foi executado pelo Instituto Quadrix, teve três fases: prova objetiva, de caráter eliminatório; prova discursiva, de caráter eliminatório; e prova de títulos, de caráter classificatório. As especialidades contempladas no concurso são: Neuropsicologia; Psicologia Hospitalar; Psicologia Clínica; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia do Trânsito; Psicologia Social; Psicologia em Saúde; Psicomotricidade; Psicologia Escolar/Educacional; e Psicopedagogia.

As provas objetiva e discursiva foram realizadas em todas as capitais brasileiras no dia 4 de fevereiro. Confira a homologação do resultado final do XI concurso de provas e títulos para concessão do título de especialista.

CFP é selecionado como representante do CNEDH

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) agora faz parte do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos (CNEDH). O CFP, representado por Regina Pedroza e Paulo Maldos, foi selecionado para compor a instância para o biênio 2018-2019 por meio de edital. A posse foi no dia 14 de maio.

O CNEDH é instância de natureza consultiva, vinculada à Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR). Cumpre função relevante para a consolidação da Política Nacional de Educação em Direitos Humanos. A revisão do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e a implementação das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (EDH) estão entre suas principais competências.

O comitê é dividido em cinco categorias: órgãos públicos, organismos internacionais, instituições de ensino superior, sociedade civil e especialistas.

Espaço de políticas – O conselheiro Paulo Maldos destacou que o CNEDH é espaço no qual a sociedade civil e o Estado brasileiro discutem as políticas nacionais que dizem respeito à educação e aos direitos humanos na sociedade. “É importante que o CFP esteja presente para contribuir na construção dessas políticas, principalmente nesse momento em que os direitos humanos são tão pouco compreendidos e muito agredidos na sociedade, nessas bolhas de ódio que existem na internet, nas agressões aos setores mais vulnerabilizados.”

Maldos reforça que a Psicologia tem muito a contribuir no sentido de trazer para a reflexão desses espaços a construção de políticas em direitos humanos e nas questões da subjetividade, que, por um lado, podem levar à violência e à intolerância, ou também podem resultar em uma convivência saudável pautada pela ética e pelo respeito. “Então, os profissionais da Psicologia têm muito a dizer sobre como construir políticas de educação em direitos humanos que contribuam para qualificar nossa vida em sociedade.”

As entidades que vão compor as comissões permanentes e os grupos de trabalho do colegiado vão ser escolhidas no dia 25 de maio.

Saiba mais sobre o CNEDH.

Retratos da Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social

Representantes da Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (Conpas) e dos Conselhos Regionais de Psicologia se encontraram, dias 11 e 12 de maio, em Brasília, na sede do Conselho Federal de Psicologia (CFP), para fazer um balanço da Campanha de Combate ao Preconceito contra Usuárias e Usuários do Sistema Único de Assistência Social (Suas) nos estados e também monitorar as atividades planejadas para 2018. Na reunião, que contou com  representantes de 20 Conselhos Regionais de Psicologia e teve como propósito estreitar o diálogo com os regionais, iniciou-se, ainda, o planejamento da Mostra de Práticas de Psicologia no Suas, prevista para 2019.

 

 

 

 

GT Políticas para Mulheres inicia atividades nesta sexta-feira (11)

O grupo de trabalho (GT) Políticas para Mulheres, criado pela Assembleia de Política, Administração e Finanças (Apaf), reúne psicólogas de todas as regiões do país. A proposta do grupo é sistematizar informações, produzir documentos, referências e formas de enfrentamento da violência contra a mulher, a partir da Psicologia, em interseção com os feminismos.

O GT foi criado para discutir as políticas do Sistema Conselhos de Psicologia e produzir estratégias e subsídios sobre a questão da violência contra as mulheres, incluindo o feminicídio. No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na mesma década, foi registrado um aumento de 190,9% na vitimização de negras, índice que resulta da relação entre as taxas de mortalidade branca e negra. Para o mesmo período, a quantidade anual de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013. Do total de feminicídios registrados em 2013, 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

“O encontro reúne psicólogas de todas as regiões do país. Elas trazem contribuições das discussões da categoria em suas regiões”, explica a conselheira Sandra Spósito, do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

A psicóloga Alessandra Almeida, do CRP da Bahia (CRP-03), falou sobre a importância histórica e política do grupo: “Nós, mulheres de uma maneira geral, e psicólogas em especial, estamos saudando uma dívida antiga que a ciência Psicologia tem conosco”. Ela também lembrou que os índices de representação política das mulheres brasileiras são os menores dentro da América Latina e do mundo.

Além do CFP, o GT é composto por representantes dos seguintes Conselhos Regionais de Psicologia: 3 (Bahia), 8 (PR), 15 (AL), 16 (ES), 18 (MT) e 20 (AM, RR, AC e RO).

Contra a inclusão do Sistema Socioeducativo no Susp

16 de maio. Este é o novo prazo para que os defensores da socioeducação e das políticas destinadas à infância e à juventude pressionem os membros da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Na data, os senadores voltam a discutir o PLC 19/2018, que disciplina a organização e o funcionamento dos órgãos de segurança pública, cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) e institui o Sistema Único de Segurança Pública (Susp).

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) considera a inclusão do Sistema Socioeducativo no Susp uma ameaça à consolidação do campo socioeducativo e das políticas destinadas à infância e à juventude. Qualquer medida legislativa que busque retirar a gestão do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo da pauta de direitos humanos da criança e do adolescente e sua vinculação direta com o Susp deve ser combatida.

Outras entidades, como a Comissão Permanente da Infância e da Juventude do Grupo Nacional de Direitos Humanos (GNDH), o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e o Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA) também condenaram a inclusão do Sistema Socioeducativo no PLC 19/2018.

O GNDH, vinculado ao Conselho Nacional de Procuradores Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados, do Distrito Federal e Territórios e da União (CNPG), declarou em nota ser lamentável que estejam tentando com a proposição “travestir uma política essencialmente de direitos humanos em política de segurança pública”.

Também em nota, o Conanda reforçou a necessidade de diferenciar o atendimento ao adolescente que pratica ato infracional dos adultos que cometem infrações penais. Marcos normativos internacionais e nacionais propõem que ao adolescente ou jovem em cumprimento de medida socioeducativa, sejam aplicadas medidas de responsabilização, “mas também propõe a oferta de uma proposta de atendimento pedagógica socioeducativa adequada à condição de pessoa em desenvolvimento”.

A declaração do FNDCA tem o mesmo tom. A entidade declarou acreditar em um Sistema de Garantia de Direitos no qual o processo de responsabilização do adolescente possa adquirir um caráter educativo, “com o objetivo de reinstituir direitos, interrompendo a trajetória infracional e promovendo [sua] inserção social, educacional, cultural e profissional“.

Assim como o CFP, o GNDH, o Conanda e o FNDCA, várias entidades são contrárias ao PLC 19/2018. Leia a nota pública coletiva sobre o PLC 19/2018 assinada por 13 delas. Pressione o seu senador. Ligue ou escreva para ele. Acesse a lista de senadores da CCJ.

Impactos do terremoto de 2010 em imigrantes haitianos

Quais os impactos psicológicos que um terremoto de grandes proporções causa na vida das pessoas? Por que emigram para outro país, após a tragédia? Essas indagações estão presentes no artigo “Reconstrução em movimento: impactos do terremoto de 2010 em imigrantes haitianos”, publicado na edição 38.1 da revista Psicologia: Ciência e Profissão.

O texto é de autoria das pesquisadoras Allyne Fernandes Oliveira Barros e Lucienne Martins-Borges, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O CFP publica artigos da revista no site e nas redes sociais – a versão eletrônica da Psicologia: Ciência e Profissão está na SciELO – para disseminar o conhecimento científico para a categoria e a sociedade.

Impactos – Segundo as autoras, a dificuldade do país em responder ao ocorrido, que agravou a situação precária da maioria de sua população, levou muitos haitianos a emigrarem, principalmente para o Brasil. O processo migratório, principalmente nas migrações involuntárias, implica diversas mudanças e pode levar o sujeito a um estado de vulnerabilidade psíquica, pois muito daquilo que o orientava em sua existência é ameaçado pelo contato com diferentes culturas.

As pesquisadoras esclarecem que o objetivo do artigo foi analisar quais os impactos psicológicos do terremoto, que, além de levar a experiência do imprevisível, foi seguido de uma migração necessária para a continuidade e a reconstrução da vida. Os resultados demonstram que a lembrança traumática, as perdas de pessoas próximas, da casa, do trabalho e da educação foram acrescidas às dificuldades de uma migração que, apesar de facilitada legalmente, é vivida com dificuldade de integração pela maioria desses sujeitos. Em contrapartida, o desejo de reconstrução da história individual e coletiva se apresenta como importante força na vida dessas pessoas, que, mesmo a distância, procuram compartilhar projetos com os conterrâneos.

Allyne Barros, uma das autoras do artigo, explica mais detalhes da pesquisa.

Entrevista – Qual a proposta da pesquisa?

A imigração é tema de trabalho e inquietações em nossa trajetória profissional há algum tempo. Desde 2012, escutamos imigrantes e refugiados de diversas nacionalidades na Clínica Intercultural, um projeto de extensão universitária da Universidade Federal de Santa Catarina em Florianópolis. Esse projeto, cuja proposta é oferecer atendimento psicológico a sujeitos deslocados de seus países de origem por diversas razões, se inspira em um trabalho ainda mais antigo e consolidado: a experiência do Service d’aide Psychologique aux Imigrants e Refugiés (Sapsir), de Québec, no Canadá. Fundado pelos professores Jean-Bernard Pocreau e Lucienne Martins Borges, em 2000, o Sapsir integra a rede pública de saúde e assistência social da cidade. Quando Lucienne se torna professora na UFSC, passa a se questionar sobre os imigrantes e refugiados que residem em Florianópolis.

Migrar não é uma novidade para haitianos; mas migrar após um desastre natural que enuncia e denuncia mais uma etapa da catástrofe social da história do Haiti e, ainda, se deslocar para um país que não compunha o destino final desses sujeitos outrora, nos chamou atenção. Era inegável que a ocorrência do terremoto teve impactos em suas vidas, mas não era claro que tipo de desdobramentos psicológicos essa vivência tinha, ainda mais alguns anos depois. Essa dúvida, intensificada pelo cotidiano clínico no projeto de extensão, motivou a tomar este tema o de minha pesquisa de mestrado, orientado pela professora. Lucienne.

Quais os resultados do levantamento?

O primeiro, e talvez menos inédito, é que a ideia de desastre natural está cada vez mais em desuso. Enquanto terminologia, é útil para a busca de estudos que investigam fenômenos da natureza que ocorrem “independentemente” da ação humana em sua origem. No entanto, os impactos desses fenômenos e a qualificação de desastre estarão sempre associados ao impacto em sujeitos e grupos. Nesse ponto, podemos considerar tanto os impactos objetivos quanto subjetivos. Estes impactos estão engendrados em um panorama histórico, político, social e cultural. Por isso, um terremoto que ocorre no Haiti tem desdobramentos absolutamente diferentes do que um terremoto da mesma magnitude que ocorra em um outra lugar. Forçar um contingente significativo de sujeitos a migrar, alterar os destinos dessa rota e apostar na migração enquanto solução singular e coletiva foram características daquele terremoto de 2010 ocorrido no Haiti. Trata-se de um país que historicamente sedia eventos catastróficos no que concerne aos efeitos e não por características “intrínsecas” ao espaço geográfico, por exemplo, como a disposição das placas tectônicas. O ponto central é sua disposição no espaço geopolítico, que necessita do “tremor” de uns para a “estabilidade” de outros. A aposta na escuta das narrativas dos próprios sujeitos frente ao que lhes ocorreu os situa em uma outra posição no campo discursivo e, portanto, no campo social. Assim, percebeu-se a partir das entrevistas que as estratégias de sobrevivência psíquica frente a eventos extremos se constroem coletivamente, ainda que no plano singular os caminhos variem. Em outras palavras, percebeu-se que as bases estruturais da formação subjetiva, engendradas na cultura compartilhada entre aqueles sujeitos, foi fundamental para a continuidade da vida. O terremoto não atingiu a aposta desses sujeitos em viver juntos, não virou assunto do qual não se podia falar. Diferente das violências decorrentes da violação mais direta de outro sujeito humano, presente nos crimes de lesa humanidade, a ocorrência desse fenômeno implicou em solidariedade mútua frente ao desamparo político e social, contribuindo para a construção de narrativas que apontaram para construções futuras.

Como usar a experiência da Psicologia no Haiti para pessoas que passam por desastres naturais e humanitários?

Em primeiro lugar, é fundamental destacar que não se tratou de um trabalho de Psicologia no Haiti, mas de um trabalho de pesquisa em Psicologia com sujeitos naturais do Haiti que se encontravam no Brasil na condição de imigrantes após a ocorrência do terremoto de 2010. Compreendemos que não há experiência transponível, pois isso implicaria desconsiderar o seu tempo, contexto e aspectos culturais dos sujeitos envolvidos em desastres naturais e humanitários.

Talvez possamos começar justamente por essas características para afirmar que os resultados da pesquisa apontam para a importância de criação de espaços de escuta dos sujeitos afetados por esses eventos. Não nos referimos aqui à exclusividade da psicoterapia, mas sim de um cuidado em busca de promoção de espaços de acolhimento que não gerem mais rupturas, separações e perdas. A impossibilidade imediata de soluções frente a eventos de caráter traumático muitas vezes remete à condição humana de desamparo, ou seja, faz lembrar de maneira radical que não se pode escapar do mal-estar. Portanto, o sentido do trabalho inicial é o de, junto à oferta de condições que garantam a vida em seu caráter mais elementar, trabalhar no sentido do resgate daquilo que constitui o sujeito: na presença de um outro sensível à sua condição, à sua diferença, a seus limites e suas forças. Não há receita, mas pode-se dizer que algumas propostas iniciais se situam no reconhecimento do que fez nascer aquela comunidade atingida e não no aniquilamento de sua história.

Leia o artigo “Reconstrução em movimento: impactos do terremoto de 2010 em imigrantes haitianos” na íntegra.

CFP e ANS discutem revisão do rol de procedimentos da Psicologia

A revisão do rol de procedimentos para ampliação da cobertura, a diferenciação dos serviços clínicos prestados e a expansão do número de atendimentos mínimos obrigatórios de saúde foram os temas tratados em duas reuniões realizadas, dia 3 de maio, na sede da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no Rio de Janeiro.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) foi representado no encontro pelos conselheiros Pedro Paulo Bicalho e Rosane Granzotto e o psicólogo Alexandre Trzan.

A avaliação do Fator de Qualidade em Saúde Suplementar e a obrigatoriedade do uso do CID-10 (Código Internacional de Doenças) também foram tema da pauta. 

Normatização – Para a conselheira Rosane Granzotto, o exercício da psicologia clínica na saúde suplementar tem se ampliado significativamente desde que a “consulta e sessão com psicólogo” e a “sessão de psicoterapia” passaram a ser obrigatoriamente oferecidas pelos planos de saúde. A normatização desses serviços, porém, além de seguir os padrões da medicina, acabam gerando problemas técnicos e éticos no exercício profissional, como a limitação de procedimentos, de tempo e do número de sessões, além da baixa remuneração. Granzotto explica que, para adequar os serviços aos parâmetros técnicos e éticos, o CFP participa de comissões e grupos de trabalho junto à ANS. “As últimas reuniões foram pontuais para estabelecer relações mais diretas com a agência e agilizar os encaminhamentos na direção da melhoria das condições de trabalho do profissional da Psicologia na saúde suplementar.”