A Epidemia das Drogas Psiquiátricas

O presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini, participou, nesta segunda-feira (30/10), no Rio de Janeiro, da abertura do “Seminário Internacional – A Epidemia das Drogas Psiquiátricas: causas, danos e alternativas”. O evento, que se estende até o dia 1o, ocorre no auditório da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Giannini disse que a forma como uma sociedade cuida das pessoas que estão em sofrimento mental intenso revela sua natureza. “É um tema que nos define como sociedade, como civilização.” Falou, ainda, que as drogas psiquiátricas são uma mercadoria. “Têm uma lógica de mercado e, caso não tomemos cuidado, fundos públicos são construídos e usados para capitalizar investimentos privados.” Ele lembrou também o protagonismo que as psicólogas adquiriram com a Reforma Psiquiátrica, fato inexistente no modelo manicomial.

A mesa de abertura, mediada pelo presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Paulo Amarante, foi composta pela presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, pelo diretor da ENSP, Hermano Albuquerque de Castro, e pelo presidente do CFP, Rogério Giannini.

Nísia Lima falou sobre a necessidade de um projeto progressista no Brasil e a afirmação do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos direitos de cidadania. “Precisamos de um projeto que respeite a condição humana, que respeite o cuidado efetivo. Temos que ter alternativas de atenção no campo da saúde mental que não sejam marcadas pela hospitalização, pela medicalização e pela falta de respeito e acolhimento.”

Hermano Castro antecipou que está previsto um debate sobre a reforma psiquiátrica no Cone Sul no seminário Cuba Salud, que ocorre a cada dois anos em Havana. “Brasil, a Argentina e o Uruguai são os países que mais avançaram na região no tema.”

Paulo Amarante explicou que o momento é de início de uma nova era na Reforma Psiquiátrica. O processo avançou muito nos campos do trabalho, da geração de renda e da transformação das relações sociais entre os sujeitos com diagnósticos psiquiátricos e a sociedade. “Mas ainda é preciso desmontar os mitos criados pela aliança da indústria farmacêutica com a Psiquiatria, que diz que o aumento dos diagnósticos é resultado do aperfeiçoamento científico da Psiquiatria, que consegue diagnosticar mais e melhor.”

A programação inclui convidados (as) internacionais, como Laura Delano e Robert Whitaker, dos Estados Unidos, e Jaakko Seikkula, da Finlândia, e nacionais, como Biancha Angelucci, Cecília Collares, Helena Rego Monteiro, Maria Aparecida Moyses, Rossano Cabral Lima e Walter Oliveira.

A abertura do evento pode ser vista aqui.

O evento está sendo transmitido ao vivo e tem tradução simultânea.

Crédito das fotos: Virginia Damas/CCI/ENSP/Fiocruz

 

Visitas itinerantes: Conselho Federal de Psicologia em Minas Gerais

O Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04) recebeu, nos dias 20 e 21 de outubro, o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini, a vice-presidente, Ana Sandra Fernandes, a conselheira-tesoureira, Norma Cosmo, e o conselheiro-secretário, Pedro Paulo Bicalho.

Para a presidenta do CRP-MG, Dalcira Ferrão, a reunião reafirma a parceria entre as instituições e alinha os campos de atuação conjunta.

A Resolução CFP 01/99, que regulamenta a atuação de psicólogas e psicólogos em relação à orientação sexual, comunidades terapêuticas e outras temas dos Direitos Humanos foram temas da pauta de discussões entre as entidades.

Neste ano, a diretoria do CFP já esteve nos CRPs do Ceará, da Paraíba, de Alagoas, de Pernambuco, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Mato Grosso do Sul, de Tocantins e do Rio Grande do Norte. O objetivo das visitas é aproximar as instituições, conhecer as realidades locais e ajustar diretrizes de âmbito nacional.

Os desafios da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas

Audiência pública para discutir os desafios e limites da política nacional de saúde mental, álcool e outras drogas foi agendada, dia 24 de outubro, das 10h às 12h30, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.

Criada pela Lei nº 10.216/2001, a Política Nacional de Saúde Mental é um marco na proteção e na defesa dos direitos humanos, ao consolidar um modelo humanizado de atenção à saúde mental, priorizando reabilitação psicossocial e a reinserção social das pessoas em sofrimento psíquico ou dependência química. A audiência pública doa dia 24 vai discutir os desafios atuais em cenário de cortes de recursos e de retrocessos.

Os debatedores convidados foram a psicóloga Ilana Katz representante do Conselho Federal de Psicologia, o presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Paulo Amarante, Lumena Furtado e Aldemyro de Figueiredo Rolim, representantes da Subcomissão de Drogas e Saúde Mental do CNDH e da Associação Brasileira de Redução de Danos (Aborda), respectivamente.

Segundo o presidente do Centro de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol), Leonardo Pinho, o país vive cortes de programas e ações direcionadas aos usuários das políticas públicas de saúde mental, álcool e outras drogas, como também anúncios de retorno de financiamento de leitos psiquiátricos. “A audiência do dia 24 faz parte do processo de mobilização para defender a reforma psiquiátrica e o aprofundamento e ampliação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).”

O evento será transmitido ao vivo pela página da CDHM no facebook https://www.facebook.com/cdhmcamara/. 

Serviço

Audiência pública sobre Desafios da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas

Data: 24/10/2017

Hora: 10h às 12h30

Local: Câmara dos Deputados, Anexo II, Pav. Superior, Ala A, Plenário 9. Brasília

Telefone: (61) 3216-6570

Sistema Conselhos exige justiça para Marcus Vinicius de Oliveira

Representantes das Comissões de Direitos Humanos dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia, após reunião em Brasília, dia 6 de outubro, saíram em marcha até o Ministério da Justiça para exigir celeridade nas investigações relacionadas ao violento assassinato do psicólogo Marcus Vinícius de Oliveira. Em frente ao órgão, levantaram faixas e falaram do crime, da impunidade e da esperança.

Logo após a manifestação, o presidente do CFP, Rogério Giannini, e a coordenadora da CDH, Ana Luíza Castro, entregaram pessoalmente, no Ministério da Justiça, ofício pedindo mais empenho das autoridades no caso. Passados 1 ano e 8 meses da morte de Marcus Vinicius, nem mesmo o inquérito policial foi concluído.

Familiares de Marcus Vinícius acompanharam a manifestação. A companheira, Marta Cerqueira Melo, a irmã, Eveline de Oliveira Silva, e o sobrinho, André Luiz de Oliveira Macedo, estiveram presentes ao ato.

Comissões de Direitos Humanos dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia exigiram, dia 6 de outubro, celeridade do Ministério da Justiça nas investigações do assassinato do psicólogo

Militante em defesa dos direitos humanos, o psicólogo Marcus Vinicius de Oliveira foi assassinado no dia 4 de fevereiro de 2016, no município de Pirajuía, distrito de Jaguaripe (BA). Sempre atento às questões sociais, Marcus Vinicius militava em defesa dos direitos humanos e das populações mais vulneráveis.

No documento enviado ministro Torquato Júnior, o Conselho Federal de Psicologia explica que “o assassinato de Marcus Vinícius soma-se ao preocupante e crescente número de casos de violência contra ativistas dos direitos humanos em nosso país, para os quais exigimos justiça”.

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Mais eficiência na gestão do Sistema Conselhos de Psicologia

Representantes de Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Psicologia (CFP) estiveram reunidos, dia 30 de setembro, em Brasília (DF), para planejar ações conjuntas de qualificação e atualização dos procedimentos administrativo-financeiros. O objetivo foi aprimorar os instrumentos e processos de trabalho para tornar mais eficientes a gestão das instituições.

A reunião do Grupo de Trabalho Financeiro, criado pela Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia (Apaf), teve a participação de integrantes dos conselhos regionais do Rio de Janeiro (CRP-05), Goiás (CRP-09), Pará/Amapá (CRP-10), Santa Catarina (CRP-12), Paraíba (CRP-13), Mato Grosso (CRP-18), Sergipe (CRP-19) e Amazonas/Acre/Rondônia/Roraima (CRP-20).

“A revisão constante dos processos internos de gestão administrativa e financeira é fundamental para que a gestão dos Conselhos de Psicologia se mantenha atualizada às regras de conduta da boa administração pública”, explica Norma Cosmo, diretora-tesoureira do CFP.

Uma das principais pautas tratadas na reunião do GT Financeiro foi a atualização do Manual de Procedimentos Administrativos, Financeiros e Contábeis (Resolução CFP 10/2007), que orienta os Conselhos Federal de Regionais de Psicologia quanto ao planejamento e execução orçamentária, a elaboração de planos de trabalho, organização de cadastros e cobranças e processamento de receitas e despesas.

O material produzido pelo GT Financeiro será apresentado para deliberação do Sistema Conselhos de Psicologia na próxima Apaf, marcada para 16 a 18 de dezembro, na sede do Conselho Federal de Psicologia em Brasília (DF).

Formação na área de saúde exige prática presencial

“Não é possível ensinar Psicologia de forma impessoal, a distancia. Não é possível ensinar sem considerar as interações de quem ensina e quem aprende”. A fala é do presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini, durante o debate sobre precarização do ensino de Psicologia no Brasil no 13º Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional (Conpe). O evento foi realizado entre 27 e 30 de setembro, em Salvador (BA).

A conselheira-tesoureira do CFP, Norma Cosmo, também reforçou o posicionamento contrário do CFP na ampliação do ensino a distancia na Psicologia. “É fundamental uma formação humanitária no encontro com as peculiaridades de cada sujeito”. Logo, “a prática presencial é necessária na interação com o outro, centrada no cuidado ao ser humano”.

Para a conselheira Regina Pedroza, é necessário fazer uma discussão mais aprofundada sobre o tema.  “Está havendo uma mercantilização da educação, vista como produto gerador de lucro.”

Em junho, o CFP apoiou nota divulgada pela Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep) em repúdio ao conteúdo do Decreto Presidencial nº 9.057, de 25 de maio de 2017. O documento legal autoriza, na prática, a oferta de cursos de graduação em nível superior realizados exclusivamente pela internet, até mesmo na área da saúde.

Crepop – No dia 28, profissionais da Educação, integrantes das comissões de educação de 12 conselhos regionais, da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee), da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) decidiram que será feito um mapeamento de todos os profissionais que trabalham com educação básica, profissional e superior no Brasil. Essa é uma forma de os Centros de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (Crepops) regionais se articularem para difusão, junto às universidades, dos cadernos de referências técnicas.

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Direitos de quilombolas violados em Alcântara

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) promoveu, dia 20 de setembro, em Brasília, audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir a situação das comunidades quilombolas localizadas nas proximidades da base militar de Alcântara/MA. A falta de informações sobre ampliação da área e ausência de representantes do Ministério da Defesa para explicar o caso geraram questionamentos dos participantes do evento.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) foi representado na sessão pelo psicólogo Paulo Maldos, também integrante do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Maldos criticou a falta de informações por parte do governo brasileiro e alertou sobre a paralisia nos processos de identificação, certificação e titulação das terras indígenas e quilombolas no Brasil. Ausência de políticas públicas e de diálogo do Estado brasileiro com os povos tradicionais também foi apontada pelo conselheiro como preocupante.

Maldos destacou a forte tensão entre a população diante de rumores sobre eventual ampliação do Centro de Lançamento de Alcântara. O conselheiro também lembrou a entrevista do ministro da Defesa, Raul Jungmann, sobre a ampliação da base. Após visita à base espacial, Jungmann teria dado declarações à imprensa do Maranhão dizendo que precisava de mais 12 mil hectares para ampliar o centro. Falou, ainda, da retomada de discussões para acordo com os Estados Unidos da América. Informações sobre deslocamentos emergenciais de comunidades inteiras, discutidas em reuniões governamentais, também vazaram do Palácio do Planalto. “Não temos, no entanto, nenhuma informação oficial sobre ampliação, acordos e deslocamentos. Não há diálogo dos órgãos da Presidência da República com as comunidades.”

Paulo Maldos explicou que o CNDH vai elaborar relatório sobre as comunidades quilombolas em Alcântara e enumerou alguns pontos: “É necessário respeito aos direitos territoriais quilombolas em Alcântara; é preciso resguardar acordos institucionais históricos já realizados.” Ele lembrou, ainda, que a aplicação da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) implica diálogo com as comunidades.

O conselheiro sugeriu aos integrantes da CDHM da Câmara dos Deputados e à Frente Parlamentar Mista de Defesa da Soberania Nacional que solicitem uma posição do governo brasileiro. “Precisamos parar de discutir rumores e começar a debater dados, de forma que possamos ter ciência em relação à soberania nacional e se há consequências para o território quilombola. As comunidades também necessitam saber o que estão discutindo sobre sua área, de forma que possam dialogar sobre seu futuro.”

Encaminhamentos

• Solicitar audiência com o Supremo Tribunal Federal para tratar da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 3239, que questiona o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por comunidades quilombolas;

• Solicitar informações às autoridades sobre recentes assassinatos de lideranças quilombolas no campo, especialmente na Bahia;

• Cobrar do Ministério da Defesa transparência sobre eventual ampliação do Centro de Lançamento de Alcântara, especialmente quanto à: situação das comunidades quilombolas que podem vir a ser atingidas; possível violação do acordo firmado entre o Estado brasileiro e as comunidades quilombolas em 2008, que delimitava a dimensão de espaço a ser utilizada pelo Centro de Lançamento de Alcântara; eventuais negociações entre o Brasil e os Estados Unidos da América e outros países interessados no Centro de Lançamento de Alcântara.

• Cobrar do Ministério da Defesa respeito à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), especialmente quanto à necessidade de diálogo entre o Estado brasileiro e as comunidades quilombolas impactados por medidas administrativas ou legislativas;

• Solicitar informações às autoridades sobre a falta de licença ambiental de funcionamento do Centro de Lançamento de Alcântara;

• Solicitar audiência com o Ministério da Defesa para tratar da atual situação dos quilombolas da região de Alcântara;

• Convocar o Ministério da Defesa para prestar explicações sobre o Centro de Lançamento de Alcântara; e

• Diligência para verificar a situação de violações de direitos humanos de quilombolas na região de Alcântara.
Além do CFP/CNDH, estiveram presentes representantes do Ministério Público Federal (MPF), da Defensoria Pública da União (DPU) e da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Com informações da Agência Câmara

CFP adere ao Alerta Feminista em favor dos direitos das mulheres

O Conselho Federal de Psicologia assinou, dia 31 de agosto, o “Alerta Feminista” em favor dos direitos das mulheres para a legalização do aborto. O documento, iniciativa da Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, foi criado para reforçar a luta do movimento feminista diante do atual cenário político.

“O poder legislativo brasileiro está tomado por uma bancada racista, machista, fundamentalista, violadora-de-direitos, que se fortalece através de ataques sórdidos à autonomia das mulheres”, diz o texto. No tema dos direitos reprodutivos os projetos de lei conservadores impactam negativamente as mulheres, mais intensamente as mulheres negras e dos setores populares, com menos acesso a direitos.

O movimento da Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto existe desde 2008 e luta pelo direito ao aborto legal para todas as mulheres brasileiras, pelo tratamento do problema do aborto na esfera da saúde pública ao invés da esfera penal, que criminaliza e mata principalmente as mulheres pobres e negras, e deixa todas as mulheres em situação de vulnerabilidade.

Confira o Calendário de Mobilizações:

27 de setembro – 2ª Virada Feminista Online #PrecisamosFalarSobreAborto 24 h – Este ano a Virada começará à meia noite do dia 26 de setembro para terminar à meia noite do dia 27. Vocês poderão assistir tudo ao vivo pelo facebook e, semanalmente, uma circular como esta será emitida a todas as organizações signatárias do Alerta FEMINITA com mais informações. Nos dias 11, 12 e 13 de setembro haverá um Esquenta da Virada Feminista Online às 19h e às 20h, também via facebook.

28 de setembro – Atos públicos em diferentes cidades do país.

Criança Feliz: o Estado volta ao passado

É a ideia de infância que determina as políticas de um governo para essa faixa da população. No Brasil, a opção do governo federal tem sido por uma definição defasada, se considerarmos que, entre 2016 e 2017, os municípios deixaram de receber mais de R$ 471 milhões para políticas públicas da assistência social, área que, a partir da Constituição de 1988, adquiriu caráter de política pública, deixando para trás o viés assistencialista.

Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), o corte orçamentário foi de 19% no período. As reduções nas políticas da assistência social são contrastantes com outras ações do governo federal, pois, no mesmo período, o então Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário criou o Programa Primeira Infância (Criança Feliz) no Sistema Único de Assistência Social (Suas), com orçamento de R$ 328 milhões em 2017.

Os municípios, que já enfrentavam dificuldades para manter os atuais programas, em razão da insuficiência de recursos e da falta de reajustes anuais dos pisos de cofinanciamento, ficaram, então, com os orçamentos mais comprometidos.

“Esse corte de recursos e a proposta do Programa Criança Feliz são muito preocupantes, pois comprometem determinantemente a execução dos princípios, diretrizes e objetivos do SUAS, bem como das garantias estabelecidas no Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016)”, afirma Fabiana Itaci, psicóloga integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Retirada de recursos da rede de assistência social

De acordo com as informações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) o Programa Criança Feliz repassa recursos e apoio técnico às prefeituras a 2.547 municípios para desenvolvimento de ações de proteção à primeira infância. Até agora, segundo o MDS, R$ 93,4 milhões foram repassados aos municípios para acompanhar crianças beneficiárias do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O ponto central do programa é a visita domiciliar de técnicos para mostrar às famílias a maneira correta de estimular o desenvolvimento dos filhos nos primeiros mil dias de vida.

O problema de gestão da política, como aponta o psicólogo Joari Carvalho, que atua em Suzano (SP), é que as prefeituras já desenvolvem ações socioassistenciais e, em busca de mais recursos, em período de orçamentos reduzidos ou congelados, acabam aderindo ao Criança Feliz sem analisar o que terão de investir ou reordenar dos serviços atuais para que o programa funcione e cumpra suas finalidades. Aí reside o problema, pois as equipes municipais já estão comprometidas com ações previstas para os serviços atuais da assistência social, que poderiam ser aprimorados e cobrir adequadamente o atendimento a crianças no período da primeira infância, conforme a lei que regulamenta a Política Nacional da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016). “Bastariam reforço de recursos e apoio técnico das esferas estaduais e federal”, afirma Joari.

Recursos municipais que deveriam ser utilizados em políticas, programas e ações de assistência social estão sendo aparentemente desviados para o cofinanciamento do Criança Feliz. Joari explica: “É um desvio da finalidade da Política de Estado para uma ação pontual de um governo”. Em vez de investir na estruturação do acompanhamento e no atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), criou-se um programa paralelo, que concorre com ações sociassistenciais ou as sobrecarrega. Apesar de ter objetivos e procedimentos diferentes, o Criança Feliz atribui a gestão dos acompanhamentos às equipes do Cras, em particular à coordenação.

Direitos civis ameaçados pelo Criança Feliz

Na opinião da psicanalista Ilana Katz, a luta pelos direitos civis sempre perde quando se tenta hierarquizar e decidir qual direito é prioritário ou fundamental. “Direitos não se negociam. Nenhum, e para ninguém”, afirma Katz, que enxerga proposição assistencialista nos discursos do governo sobre o programa. Na apresentação do Criança Feliz no portal do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) há referências à inibição do comportamento agressivo e violento na adolescência, ao acompanhamento para famílias beneficiadas pelo Bolsa Família com bebês ou crianças até 3 anos, por meio de assistentes sociais que vão orientar “como criar as crianças em melhores condições”.

Katz vê semelhanças entre os pressupostos do Criança Feliz e os conceitos de infância anteriores à Constituição de 1988. Ela volta no tempo e lembra a história recente do Brasil. Em 1927, a criação do Código de Menores Mello Mattos se baseava em doutrina que afirmava ser dever do Estado assistir os menores abandonados ou de famílias consideradas inaptas ao cuidado do filho. Essa categoria era aplicada às famílias pobres, negras e excluídas dos direitos de cidadania. O saneamento social era a proposta desse código do início da República, que atribuía à infância dos pobres o sentido de periculosidade, como escreveu a pesquisadora Isadora Simões Souza em “Determinantes da institucionalização de crianças e adolescentes em tempos de doutrinação da proteção integral”, sua dissertação de mestrado na Universidade Nova de Lisboa, em 2017.

Em 1979, o Brasil viu segundo Código de Menores nascer. Apesar de alterar o primeiro, manteve as bases jurídicas do documento de 1927. Somente em 1988, a Constituição Federal modificou a compreensão do conceito de infância e da responsabilidade que o Estado tem em relação aos brasileiros dessa faixa etária. Dois anos depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propôs tomá-los como sujeitos de direitos e cidadãos plenos. A categoria “menor” foi abandonada nessa época, e também a doutrina de “situação irregular”, substituída pela de “proteção integral”.

Incapacitação pela pobreza

O programa Criança Feliz propõe acesso a políticas públicas para a infância como norteador da intervenção do visitador domiciliar encarregado do cuidado. Nesse sentido, a psicanalista Ilana Katz avalia que a condição de cidadania da infância estaria sendo respeitada. No entanto, além das políticas públicas para a infância estarem sofrendo impactos do desinvestimento do Estado, a proposição central da tutela presente no discurso sobre o Criança Feliz representa um retrocesso.

Como explica Katz, a dimensão assistencialista do programa do governo federal – ensinar os pais das famílias pobres a zelarem por seus filhos – sustenta a hipótese da “incapacitação pela pobreza” e retira da criança e do adolescente sua condição de sujeito de direitos. Na visão de Ilana, essa abordagem de “um agente do Estado se propor a dar dicas para os pais das famílias pobres sobre como cuidar da criança para que ela não se transforme num adolescente violento” fere os princípios da proteção integral e reassume caráter tutelar da política para a infância.

Joari Carvalho concorda que um dos principais problemas de concepção do programa é a focalização, que beira o discriminatório, em grupos muito específicos – apenas famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF) e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) com gestantes ou crianças. “Parece que o Criança Feliz parte do pressuposto de que basta dizer para a família o que tem que ser feito para garantir magicamente o pleno desenvolvimento da criança”, afirma.

Para a formulação de políticas públicas destinadas à infância, na opinião de Joari Carvalho, é necessário pensar as questões culturais, a relação das pessoas com o ambiente, os papéis de pais e mães, a violência nos grandes centros urbanos e, sobretudo, a falta de acesso às políticas sociais básicas a que as pessoas teriam direito, mas o próprio Estado não garante. “Não se discutiu nada disso, somente se mamães e papais estão cuidando da água, se passam repelente na criança. Pode até ter alguma pertinência, mas é uma simplificação grosseira diante da qual não podemos calar. Se a criança não se desenvolve direito, como eles preconizam, a culpa é da família? No meu entendimento, e de outros atores sociais, o desenvolvimento da criança deve ser pensado como resultado de um conjunto de responsabilidades a serem cumpridas também pela sociedade e pelo Estado, e não só das famílias, que acabam sendo culpabilizadas e ficam sem condições de se defender de mais uma violência contra quem já é vítima de inúmeras omissões do poder público”, avalia o psicólogo.

Controle social ignorado

Joari Carvalho ressalta também que não houve o devido diálogo com a sociedade para a criação do Programa Criança Feliz. “O debate ficou restrito aos formuladores.” Segundo Carvalho, muitos setores da sociedade civil foram ignorados ou pouco ouvidos na implantação súbita e verticalizada do Criança Feliz por questionarem o sentido ético e político da promoção, por parte da União, estados e municípios, de práticas inadequadas e praticamente fiscalizadoras do cuidado das famílias com suas crianças.

Exemplo de instituição que se posicionou contrária ao programa foi o Conselho Municipal de Assistência Social de São Paulo (Comas/SP). Em decisão publicada no Diário Oficial de São Paulo no dia 24 de fevereiro, o Comas deliberou pela não adesão de São Paulo ao programa alegando que o governo federal não havia fornecido informações suficientes em relação às questões técnicas operacionais, metodológicas e conceituais da iniciativa encabeçada pela primeira dama Marcela Temer. O Comas/SP também questionou a origem dos recursos federais e considerou que a falta dessa informação poderia “onerar ações continuadas da Política Municipal de Assistência Social existentes”.

Apesar da orientação contrária, a Prefeitura de São Paulo manteve a defesa da implantação do programa, insinuando que não precisava da aprovação pelo Comas/SP. Em agosto, conseguiu a aprovação do Criança Feliz, em processo que implicou alterações de composição do conselho, radicalização dos debates e polarização das opiniões.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) apoia as entidades (coletivos de usuárias/os e trabalhadoras/es; conselhos municipais e estaduais) que se posicionam criticamente em relação ao Programa Criança Feliz e ao desrespeito ao controle social das políticas de Assistência Social.

Comunidades terapêuticas são estabelecimentos de saúde?

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) e 28 entidades da saúde mental, luta antimanicomial e direitos humanos enviaram, no dia 30 de maio, uma Carta à Procuradoria Federal dos Direitos dos Cidadãos do Ministério Público Federal manifestando preocupação sobre a portaria do Ministério da Saúde que classifica as comunidades terapêuticas (CTs) como estabelecimentos de saúde (Portaria SAS/MS nº 1482/2016).

Pela classificação do Ministério da Saúde, as comunidades terapêuticas deveriam figurar como locais voltados à promoção de práticas corporais, artísticas, culturais, físicas, promoção nutricional e educação em saúde. No entanto, inspeções realizadas nos últimos anos demonstram que esses estabelecimentos – na contramão dos princípios da reforma psiquiátrica e da política de redução de danos na saúde mental – têm figurado como ambientes de reprodução das práticas manicomiais e violação de direitos humanos.

Outra questão preocupante, ressaltada pelas entidades, é o gradativo desmonte das políticas públicas de saúde mental, a partir do deslocamento de repasses da Rede de Atenção Psicossocial (RAP) para financiamento das comunidades terapêuticas.

Além dos aspectos relacionados ao atendimento oferecido aos usuários, é necessário avaliar, com critério, como se dá prática psicológica nas comunidades terapêuticas. “Até que ponto as (os) psicólogas (os) conseguem atuar nestes espaços preservando os princípios éticos da profissão?”, questiona o psicólogo clínico Paulo Aguiar, membro do Conselho Federal de Psicologia.

Para discutir essa e outras questões relacionadas à atenção em saúde mental nas comunidades terapêuticas, o CFP vai promover, no dia 15 de agosto, às 16h, o Diálogo Digital – Comunidades terapêuticas são estabelecimentos de saúde?

O bate-papo, que será transmitido ao vivo pelo site www.cfp.org.br, contará com as presenças do psicólogo Paulo Aguiar, membro do Conselho Federal de Psicologia; da procuradora federal Deborah Duprat, da Procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF); do psicólogo Lucio Costa, perito do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT); de Leonardo Penafiel Pinho, presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol) e membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH); e da psicóloga Fernanda Magano, vice-presidente da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi).

Você pode participar do Diálogo Digital – Comunidades terapêuticas são estabelecimentos de saúde? em tempo real, enviando perguntas pelo Youtube, Facebook e Twitter com a #DialogosCFP ou pelo e-mail comunica@cfp.org.br.

Diálogos Digitais

Comunidades terapêuticas são estabelecimentos de saúde?

Data: 15 de agosto de 2017 (terça-feira)
Hora: 16h
Transmissão ao vivo pelo site www.cfp.org.br
Confirme presença aqui: https://www.facebook.com/events/289598954849689/

Conheça os convidados do Diálogo Digital – Comunidades terapêuticas são estabelecimentos de saúde?

Deborah Duprat

Subprocuradora-geral da República, procuradora federal dos Direitos do Cidadão no Ministério Público Federal. Mestre em Direito e Estado pela Universidade de Brasília (UnB).

Fernanda Magano

Vice-presidente da Federação Nacional de Psicólogos (Fenapsi) e presidente do Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo (SinPsi-SP). Psicóloga no Núcleo de Observação Criminológica da Coordenadoria de Saúde da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo.

Leonardo Pinho

Presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (Unisol), membro da Mesa Diretora do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e diretor da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme).

Lúcio Costa

Psicólogo perito do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT). Mestre em Educação, Sociedade e Movimentos Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e pesquisador no Observatório Nacional de Saúde Mental e Justiça Criminal da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Paulo Aguiar

Psicólogo clínico, membro do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e coordenador da pós-graduação em Saúde Mental e Dependência Química do Centro Universitário Redentor do Rio de Janeiro, realizada pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) em cursos do Recife (PE).