Transexualidade não é transtorno mental, oficializa OMS

A Organização Mundial de Saúde (OMS) oficializou nesta terça-feira (21) durante a 72º Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, a retirada da classificação da transexualidade como transtorno mental da 11º versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde (CID). A informação já havia sido divulgada em 2018, porém a oficialização da normativa foi feita na ocasião.

Pela nova edição da CID 11, a transexualidade sai, após 28 anos, da categoria de transtornos mentais para integrar o de “condições relacionadas à saúde sexual” e é classificada como “incongruência de gênero”.

Antes mesmo da decisão da OMS, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) já havia publicado a Resolução CFP n°01/2018, que orienta a atuação profissional de psicólogas e psicólogos no Brasil para que travestilidades e transexualidades não sejam consideradas patologias.

Segundo a conselheira do CFP, Sandra Sposito, a retirada da transexualidade do rol de transtornos mentais é realmente um momento histórico que consolida décadas de luta e de estudos que vêm avançando no sentido de garantir que cada pessoa possa ter autonomia para definir e viver o seu gênero, ou seja, preserva a autonomia das pessoas construírem de maneira bastante singular e única a sua identidade de gênero.

“A retirada da transexualidade do rol de patologias significa o respeito a essas identidades, representa o respeito e a manutenção da dignidade dessas pessoas que estão vivenciando as identidades de gênero de uma maneira diversa daquela que hegemonicamente e historicamente era esperado que todos nós vivenciássemos”, complementa a conselheira.

Resolução CFP nº 01/2018

A Resolução CFP nº 01/2018 tem o objetivo de impedir o uso de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminação e veda a colaboração com eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias.

A conselheira Sandra Sposito explica que o CFP, mostrando o protagonismo da Psicologia brasileira, antecipou-se à OMS ao publicar a Resolução, que está perfeitamente articulada com os estudos internacionais e os novos paradigmas que envolvem a compreensão do gênero na constituição da subjetividade humana.

“Não há doença, não há patologia, não há desvio. E quando publicamos a nossa Resolução CFP nº 01/2018, consolidamos isso, formalizamos para toda a categoria no Brasil a perspectiva não patologizante das transexualidades”.

A Resolução CFP nº 01/2018 foi publicada em 29 de janeiro de 2018, após ter sido aprovada por unanimidade pelas(os) delegadas(os) da Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças do Sistema Conselhos de Psicologia (Apaf), que reúne representantes de todos os conselhos regionais e do federal.

A 01/2018 está baseada em três pilares: transexualidades e travestilidades não são patologias; a transfobia precisa ser enfrentada; e as identidades de gênero são autodeclaratórias.

Cada país terá até 1º de janeiro de 2022 para se adaptar à nova CID. A edição anterior estava em vigor desde maio de 1990, ano em que o termo “homossexualismo” foi removido da lista e deixou de ser entendido como doença.

Nota de Pesar: João W. Nery

Nota de Pesar do Conselho Federal de Psicologia
João W. Nery

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) manifesta profundo pesar pelo falecimento do psicólogo e militante LGBTI João W. Nery e presta solidariedade a sua família, nas pessoas de sua companheira, Sheila Salewski, e de seu filho.

Militante incansável e símbolo da luta pelos direitos das pessoas trans no Brasil, João Nery foi o primeiro homem transexual, ou trans homem, a passar por uma cirurgia de redesignação genital no país, ainda na década de 70, de forma clandestina. Ele faleceu nesta sexta-feira (26/10) em decorrência de um câncer.

Sua trajetória, da infância e adolescência de descobertas, à experiência adulta de ser pai, está documentada nos livros autobiográficos “Viagem Solitária: memórias de um transexual 30 anos depois” (2011) e “Erro de Pessoa” (1984). O escritor ainda trabalhava na obra “Velhice transviada”.

Histórias de vida como a de João Nery e de milhares de outras pessoas trans, marcadas pelo sofrimento e pela exclusão relacionados à identidade, à sexualidade e à afetividade, demandam posicionamento da Psicologia enquanto ciência e profissão. Em atenção a essas vidas, o CFP, no exercício de suas competências legais de autarquia responsável pela orientação profissional de psicólogas e psicólogos no Brasil, expediu, em janeiro deste ano, a Resolução CFP 01/2018.

Com base na produção científica mais atual e em consonância com o Código de Ética Profissional, a Resolução CFP 01/2018 orienta a atuação profissional de psicólogas e psicólogos a partir do pressuposto, corroborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de que as travestilidades e as transexualidades não são doenças ou patologias, não sendo permitidas práticas psicológicas voltadas à “cura” de tais condições.

Com a Resolução 01/2018, o CFP afirma que compete a psicólogas e psicólogos, nos diversos campos do exercício profissional, o atendimento voltado à promoção da vida, do bem estar e da dignidade de pessoas travestis e transexuais, contribuindo ainda para a eliminação de qualquer forma de preconceito ou discriminação contra essa população.

Inspirado na história e no legado de João Nery, o Conselho Federal de Psicologia seguirá irredutível na defesa da vida e na promoção do respeito e da dignidade da população LGBTI. Defender, divulgar e fazer cumprir a Resolução CFP 01/2018 será nossa homenagem permanente a sua memória.

Ser o que somos não tem preço. Viver uma mentira nos enlouquece” (João Nery, 2018)

Conselho Federal de Psicologia
27 de Outubro de 2018

CFP participa de audiência pública sobre direitos LGBTI

A luta contra a homofobia e pelos direitos da população LGBTI está na pauta do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Por isso, o CFP foi convidado a participar, em 17 de maio, data que marca o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados. A proposta é debater a agenda legislativa pelos direitos LGBTI+ e o Projeto de Lei 7292/2017, a “Lei Dandara”. O CFP será representado no evento pela conselheira Sandra Sposito.

Na ocasião, será entregue oficialmente à CDHM o abaixo-assinado da All Out e ALGBTI, intitulado Diga NÃO à ‘cura gay’!, que conta com mais de 43.800 assinaturas. O abaixo-assinado surgiu após um juiz do Distrito Federal ter decidido que profissionais da Psicologia poderiam oferecer atendimento profissional pertinente à reorientação sexual. Na prática, essa decisão abre brecha para tratamentos ou terapias que prometem corrigir a orientação sexual ou identidade de gênero de alguém, a chamada “cura gay”.

Direitos LGBTI

O CFP reforça que a homossexualidade não é patologia – ideia igualmente defendida pela Organização Mundial da Saúde desde 1990 – e acrescenta que a homossexualidade não representa distúrbio ou desvio psicológico e, portanto, não cabe reorientação. O CFP ainda reafirma que a Psicologia brasileira não será instrumento de promoção do sofrimento, do preconceito, da intolerância e da exclusão, premissas ratificadas pela Resolução CFP nº 01/99.

Da mesma forma, a Resolução CFP 01/2018 trata da identidade de gênero e orienta profissionais da Psicologia a atuar, no exercício da profissão, de modo que as travestilidades e transexualidades não sejam consideradas patologias.

A audiência, marcada para as 10h no Anexo II, Plenário 9 da Câmara, foi requerida pelos parlamentares Luizianne Lins (PT/CE) e Marcon (PT/RS), com apoio de Érika Kokay (PT/DF) e Jean Wyllys (PSOL/RJ).

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CFP reafirma resolução 01/2018 e direitos das pessoas trans

Em reunião no Ministério dos Direitos Humanos, nesta segunda-feira (23), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) discutiu a alteração do nome no registro civil por transexuais e travestis sem a necessidade de realização de cirurgia de redesignação genital, decidido por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) durante julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4275.

O conselheiro Pedro Paulo Bicalho representou o CFP no encontro, reafirmando a Resolução CFP 01/2018, que definiu normas de atuação de profissionais da Psicologia em relação às pessoas travestis e transexuais.

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No Dia da Visibilidade Trans, CFP publica Resolução CFP 01/2018

CFP premiado por combate à transfobia

Dentro das comemorações do Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) participou, na noite desta segunda-feira (29), da IV Semana da Visibilidade Trans Hanna Suzart e recebeu o prêmio “Parceiros do combate à Transfobia em 2017″, pela Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (RedTrans Brasil). A premiação ocorreu no Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília.

O conselheiro Pedro Paulo Bicalho representou o CFP na cerimônia, destacando a publicação, no Dia da Visibilidade Trans, da Resolução CFP 01/2018, que orienta os profissionais da Psicologia a atuar, no exercício da profissão, de modo que as travestilidades e transexualidades não sejam consideradas patologias. “A democracia brasileira possui uma dívida histórica com a população trans que precisa ser reparada. A Psicologia brasileira também tem uma dívida histórica. Somos muito orgulhosos por termos, há 19 anos, uma resolução que afirma que a homossexualidade não é desvio, não é patologia, não é perversão. Mas essa resolução é relativa à orientação sexual e não à identidade de gênero. Neste dia 29, fizemos essa reparação, ao promulgarmos uma resolução que fala diretamente sobre as questões de identidade de gênero”, explicou Pedro Paulo na cerimônia.

O evento contou, ainda, com o lançamento de duas cartilhas, uma sobre saúde do homem trans e outra com informações importantes sobre pessoas travestis e transexuais, além da apresentação do novo site da Rede Trans Brasil.

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CFP debate visibilidade trans e Resolução 01/99

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No Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais (29/1), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou a Resolução CFP 01/2018, que orienta os profissionais da Psicologia a atuar, no exercício da profissão, de modo que as travestilidades e transexualidades não sejam consideradas patologias.

A resolução tinha sido aprovada, por unanimidade, na Assembleia das Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf) de dezembro de 2017, que reúne delegações da categoria.

A resolução determina que, em sua prática profissional, psicólogas e psicólogos devem atuar de forma a contribuir para a eliminação da transfobia e orienta, ainda, que não favoreçam qualquer ação de preconceito e nem se omitam frente à discriminação de pessoas transexuais e travestis. Na prática, a nova norma complementa a Resolução 01/99.

A norma recém-aprovada impede o uso de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminação e veda a colaboração com eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias.

Diálogos Digitais Visibilidade Trans

No mesmo dia, o CFP promoveu o debate online sobre visibilidade trans, transmitido em tempo real pelas redes sociais da entidade.

Mediado pelo conselheiro Pedro Paulo Bicalho, o debate contou com a participação de Symmy Larrat, Alessandra Ramos, Adriana Sales, Tathiane Araújo, Leonardo Luiz da Cruz Lima, Suzana Konstantinos Livadias, Céu Cavalcanti e Ludymilla Santiago, além da participação do público.

Reveja o Diálogo Digital sobre Visibilidade Trans:

 

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