18 de maio: CFP participa de atividades alusivas ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Ao longo da última semana, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) representou a Psicologia em atividades relacionadas ao 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes.

Promovidas em Brasília e capitaneadas pela campanha nacional “Faça Bonito. Proteja nossas crianças e adolescentes”, a programação incluiu sessões solenes alusivas ao Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, realizadas na Câmara dos Deputados e no Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, espaços que também sediaram o Seminário Atendimento/Atenção Integral às Crianças, Adolescentes e suas famílias em situação de violência sexual.

As participações do CFP nas discussões sobre o tema têm ocorrido por meio da conselheira do CFP Marina Poniwas, que atualmente preside o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), órgão deliberativo da política de promoção e defesa dos direitos da população infantojuvenil brasileira.

“A partir do projeto ético-político da profissão, a Psicologia brasileira contribui com o debate, reflexões, formulações de propostas para que crianças e adolescentes sejam, de fato, compreendidos como sujeitos de direitos e que possam participar ativamente dos espaços de deliberação de políticas que lhes digam respeito”, pontuou a conselheira.

Marina Poniwas explica que a cabe à categoria assumir o importante papel de participação ativa na formulação de políticas públicas que abarquem a defesa intransigente dos direitos humanos, bem como a garantia de direitos de crianças e adolescentes, historicamente assujeitados e colocados na condição de ‘menores’.

“Atuar no controle social de políticas públicas é agir para que os corpos de crianças e adolescentes sejam instrumento de vida, ferramentas de bem viver, de aprendizado e conquistas, e não recipiente de dores, cicatrizes e lembranças que as impeçam de sonhar, de saber como são capazes e potentes”, destaca Poniwas.

O acolhimento às vítimas e testemunhas

Cabe à Psicologia promover o acolhimento psicológico adequado e a proteção da saúde psicoemocional de vítimas e testemunhas de abuso, exploração e violência sexual, por meio de ações interdisciplinares, intersetoriais e bem articuladas, de modo a contribuir para que o cuidado profissional alcance a amplitude humana e busque oferecer um modo de vida livre e seguro para todas as infâncias e adolescências.

Para a conselheira do CFP e presidente do Conanda, “pensar no combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes exige ações para além de estratégias que atendam a criança e adolescente quando a violência já ocorreu”.

Marina Poniwas explica que a Psicologia, como ciência e profissão, a partir do projeto ético-político da profissão “contribui para o enfrentamento dos processos de violência que ocorrem no cotidiano das crianças e adolescentes. Violências que tem como base estruturas sociais desiguais e processos que naturalizam as violência de gênero”.

Por fim, a conselheira defende a contribuição da Psicologia brasileira com a proteção e o cuidado ao segmento infantojuvenil, que tem o Estatuto da Criança e do Adolescente como ferramenta de justiça social.

Sobre o 18 de maio

Há 51 anos, em 18 de maio de 1973, Araceli Crespo, uma criança capixaba de apenas 8 anos, foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada. Os agressores da menina nunca foram punidos.

No ano 2000, em memória ao caso e diante de uma forte mobilização social em defesa dos direitos infantojuvenis, o 18 de maio foi instituído por lei como Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Artigos e Referências Técnicas do CFP

Em 2020, no âmbito do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), o CFP lançou as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) na Rede de Proteção às Crianças e Adolescentes em Situação de Violência Sexual. O documento tem embasamento no marco legal de proteção à infância e à adolescência no país.

No mesmo ano, o CFP também publicou um caderno de artigos sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O conteúdo aponta desafios para a consolidação do ECA e traz reflexões para auxiliar na construção de práticas de proteção integral e promoção de direitos humanos. 

Debate virtual

Para ampliar a participação de psicólogas e psicólogos neste importante debate, o CFP realizou na terça-feira desta semana (21), às 14h, a live “Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”.

Com transmissão ao vivo pelo canal do CFP no Youtube, o evento reuniu especialistas para um diálogo virtual a respeito de demandas de diagnósticos de abuso sexual e o compromisso da Psicologia com a proteção integral de crianças e adolescentes.

A live está disponível no canal do CFP no YouTube.

CFP participa de seminário sobre alta letalidade de pessoas sob custódia do Estado

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) participou na quarta-feira (8) do seminário “Letalidade nos espaços de privação de liberdade: uma questão de justiça e saúde pública”. O diálogo reuniu representantes de órgãos públicos e de entidades da sociedade civil.

Realizado pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e organizado pelas comissões permanentes de Direitos da População Privada de Liberdade e do Direito Humano à Alimentação Adequada, o seminário foi idealizado a partir de denúncias sobre as graves violações aos direitos humanos e à alta letalidade de pessoas sob custódia do Estado brasileiro.

“O cenário é completamente desolador. De tortura persistente, extra-muros, porque além da tortura física dentro dos espaços de privação de liberdade, a tortura psicológica está muito presente”, explica a conselheira e vice-presidenta do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Alessandra Almeida, que coordena a Comissão Permanente de Direitos da População Privada de Liberdade e integra a atual composição da mesa diretora do CNDH.

Alessandra Almeida destaca que não só a saúde mental das pessoas encarceradas fica fragilizada, mas também a de familiares e pessoas próximas, “por toda a gama de situações que passam, como a de ver seu ente em situações muitas vezes deploráveis”, pontua.

Com transmissão aberta ao público, o seminário apresentou à sociedade e a órgãos governamentais e do sistema de justiça histórias que evidenciam violações de direitos de pessoas privadas de liberdade. “A proposta foi chamar o Estado brasileiro para que nos auxilie no desafiador enfrentamento a essa política de morte que é operacionalizada no sistema carcerário brasileiro”, destacou a conselheira e vice-presidenta do CFP.

Violação de direitos

Alessandra Almeida conta que, para além das mortes violentas, a falta de acesso à saúde e assistência psicossocial, bem como a fome ocasionada pela alimentação inadequada, a baixa qualidade da água e a insalubridade, estão entre os fatores que contribuem para o adoecimento e morte de pessoas em situação de cárcere.

Para salientar os índices alarmantes de mortalidade de pessoas privadas de liberdade, a programação foi subsidiada por dados da pesquisa Letalidade prisional: uma questão de justiça e de saúde pública, iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

“Nesse cenário, no qual as condições degradantes do sistema penitenciário figuram como engrenagens constitutivas das mortes por doenças, observa-se a existência de um verdadeiro massacre, simbolizado pelo fato de que, somente entre os anos de 2014 e 2017, dos 6.368 presos e presas que morreram nos cárceres brasileiros, 3.670 casos (57,6%) foram classificados como ‘mortes naturais’. Desses óbitos, 472 nem sequer foram esclarecidos, sendo categorizados pelos distintos estados como ‘causa indeterminada’”, enumera a pesquisa.

Como desdobramento do encontro, as(os) representantes das comissões permanentes de Direitos da População Privada de Liberdade e do Direito Humano à Alimentação Adequada pretendem construir uma Recomendação ao governo brasileiro, “para que sejam providenciadas ações práticas para ao menos mitigar a letalidade prisional por meio de políticas públicas, bem como garantir melhores condições no acesso à alimentação adequada, saúde e bem-estar desta população”, destaca Alessandra Almeida.

A Psicologia no sistema prisional

“A Psicologia brasileira tem reconhecida atuação no sistema de justiça, é uma produtora de conhecimentos nesse campo há 40 anos, com especial atenção à luta pela exigibilidade dos direitos humanos de pessoas inseridas no sistema prisional”, ressalta a vice-presidenta do CFP.

Ela explica que profissionais e especialistas psicólogas(os) guardam conexão direta com o tema, referenciados no próprio Código de Ética da Profissão, no atendimento a pessoas encarceradas e seus familiares, e nas contribuições participativas nas instâncias de controle social e de defesa de direitos, não só nas unidades de reclusão, mas também no sistema socioeducativo e nas instituições totais, como comunidades terapêuticas.

Um exemplo recente está na oposição da Autarquia à realização de exame criminológico para progressão de regime de pessoas encarceradas, prevista na Lei 14.843/2024.

O Conselho Federal de Psicologia considera que a medida representa um verdadeiro retrocesso diante de um já fragilizado sistema prisional. Isso porque a realização do exame criminológico impõe à(ao) profissional da Psicologia a obrigatoriedade de um procedimento inadequado, em detrimento de sua autonomia e saber não apenas técnico-científico, mas também ético-político.

“Nos posicionamos de forma muito frontal contra o PL da Saidinha, por inúmeras razões, mas especialmente pela exigência do exame criminológico. Historicamente, nós construímos um argumento muito contundente, de que não é possível realizar esse tipo de atividade e, especialmente, prever se uma pessoa vai reincidir ou não”, explica a conselheira e vice-presidenta do CFP.

Para ela, “não é aceitável formar um perfil fechado de pessoas propensas ao crime. Nós entendemos que o encarceramento em massa brasileiro envolve outros elementos, como a situação dos ambientes em que estão as pessoas em situação de privação, por regra, espaços adoecedores e de tortura”. 

Sancionada em abril (com veto) pela presidência da República e atualmente em análise do veto pelo Congresso Nacional, a normativa, conhecida como Lei da Saidinha, dispõe ainda sobre o monitoramento eletrônico de pessoas sob custódia do Estado e restringe o benefício da saída temporária.

Saiba mais

Para saber mais sobre aspectos do sistema prisional brasileiro à luz da Psicologia, a atuação da categoria no sistema prisional, bem como dados sobre a situação carcerária no país, acesse o documento Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) no Sistema Prisional.

Nota CFP amplia olhar sobre as referências técnicas da Psicologia junto aos povos indígenas

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançou na quarta-feira (24), a Nota às Referências Técnicas de Atuação de Psicólogas(os) junto aos Povos Indígenas, elaborada para aprofundar discussões sobre o fazer da Psicologia com e para estas comunidades.

O momento simbólico aconteceu em Brasília, durante a programação do Acampamento Terra Livre, na plenária que discutiu a saúde mental e o bem viver dos povos originários. O diálogo teve mediação e condução de indígenas psicólogas(os) e profissionais atuantes no tema, que falaram à comunidade, a estudantes indígenas e não-indígenas e a profissionais da Psicologia.

Ao considerar as especificidades dos diferentes modos de vida, ritos, culturas e territórios em que habitam os povos originários, a Nota amplia as reflexões presentes no documento Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) junto aos Povos Indígenas, produzido em 2022 no âmbito do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), como uma resposta às demandas da própria categoria.

A indígena psicóloga e conselheira do CFP, Nita Tuxá – também integrante da Comissão de Direitos Humanos do CFP e que coordenou a elaboração do documento – explica que “a Nota Técnica busca contribuir e ampliar o debate acerca da atuação prática da Psicologia, uma demanda da categoria em trazer as discussões que estão em pauta nesse momento”. 

Segundo a conselheira, o documento oferece importantes marcadores – a exemplo da adoção de uma política de cotas pelo CFP. “Hoje nós temos dentro do Sistema Conselhos de Psicologia a presença de pessoas indígenas, compondo as instâncias regionais e federal”, destaca.

Além de Nita Tuxá, a Nota Técnica teve a colaboração das(os) psicólogas(os) Edinaldo Rodrigues Xukuru, Geni Núñez e Raquel Diniz. O documento está organizado em seções que apresentam contribuições teóricas para pensar a atuação da Psicologia junto a povos tradicionais, além de perspectivas para essa atuação dentro e fora de territórios indígenas.

Psicologia e Povos Indígenas

A Nota Técnica lançada pelo CFP aborda temas essenciais, como a representatividade indígena no Sistema Conselhos de Psicologia; a necessidade de ampliar a participação da categoria nos diversos contextos em que vivem os povos indígenas, para além dos territórios tradicionais; a incidência dos povos indígenas na política institucional; os conflitos territoriais nas perspectivas naturalista e desenvolvimentista; e a busca permanente dos povos originários pelo direito ao bem viver.

O conceito do bem viver se relaciona com a busca pela relação harmoniosa com o território, a natureza e os povos tradicionais entre si e com o todo, em contraponto com o modelo de exploração dos recursos naturais. A saúde mental e a existência desses povos depende de uma mudança social e política, em que os direitos humanos e sociais dos indígenas sejam respeitados.

Nita Tuxá ressalta a importância da inclusão de pessoas indígenas nos movimentos de incidência política, nos espaços e equipamentos sociais e na oferta de políticas de saúde indígena dedicadas às especificidades e diversidade dos povos originários.

“É mais que importante que a Psicologia brasileira esteja conosco contra a tese do Marco Temporal, uma das questões que fundamentam a Nota Técnica, porque todo o enredo e narrativa dessa construção fala sobre a importância do território para os povos indígenas, do quanto o território é o promotor do bem viver”, explica a conselheira e indígena psicóloga.

Para Nita Tuxá, é necessário ressignificar a atuação profissional da categoria com cada povo indígena, observando a pluralidade de suas representações. 

“O convite é fazer uma Psicologia ética e política. Se pensarmos veredas de campos, temos a Psicologia Ambiental, a Psicologia da Saúde, a Psicologia Comunitária e tantas outras possibilidades do fazer. Precisamos entender que o Brasil é ‘pluri’ e que existem mais de 305 povos. Então são mais de 305 formas de existir, de expressar e de compreender o que seria também saúde ou adoecimento mental”, finaliza Nita Tuxá.

Situação alarmante da saúde indígena no Brasil

Estudo publicado em fevereiro deste ano pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que indígenas tiveram a maior taxa de suicídio do país em 2022, com 16,58 casos por 100 mil habitantes, contra 7,27 da população em geral.

Os dados oficiais, monitorados pelo Ministério da Saúde, indicam que, em 2022, foram 17,2 casos de suicídio por 100 mil habitantes. Entre 2015 e 2022, foram 1.030 ocorrências de suicídio entre as diferentes etnias do país, sendo que 55% (566) vitimaram jovens de 15 a 24 anos.

Dentre as graves violações de direitos humanos que atingem essas populações, o acesso à terra e ao território são aspectos que impactam fortemente sua saúde psicossocial. De acordo com o relatório Conflitos no Campo 2023, publicado neste mês pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), invasões, expulsões, despejos, ameaças, destruição de bens ou pistolagem sofridas por famílias no campo atingiram o número mais alto desde 1985.

De acordo com o monitoramento, em 2023 foram registrados 2.130 conflitos por terra, atingindo mais de 950 mil pessoas em todo o país. Segundo o levantamento,  as populações indígenas são as que mais frequentemente sofrem violências (29,6%) – seguidas por posseiros (18,7%), trabalhadores rurais sem terra (17,5%), quilombolas (15,1%) e assentados (6,7%).

A Psicologia e os povos indígenas

O Brasil definiu por lei o 19 de abril como Dia dos Povos Indígenas. O objetivo é dar visibilidade à resistência dos povos originários na luta contra o apagamento de suas culturas, diversidades, ritos e saberes tradicionais, e se posicionar pelo fim de todas as formas de negligência e discriminação a essas populações.

E a Psicologia brasileira integra este importante compromisso. Entre os dias 22 a 26 de abril, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) participa do Acampamento Terra Livre, maior assembleia indígena no país.

O fazer da Psicologia junto aos povos indígenas tem mobilizado cada vez mais atenção no Sistema Conselhos. Em 2022, o CFP apresentou à categoria e à sociedade o documento “Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) junto aos Povos Indígenas”, produzido no âmbito do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) como uma resposta às demandas de psicólogas e psicólogos, apresentadas no 8º Congresso Nacional de Psicologia.

Para ampliar as discussões da Referência e aprofundar questões direcionadas ao fazer psicológico junto a essas populações, o CREPOP irá lançar a “Nota à Referência Técnica de Atuação de Psicólogas(Os) Junto aos Povos Indígenas” produzida sob a coordenação da conselheira do CFP Nita Tuxá, com a colaboração de Edinaldo Rodrigues Xukuru, Geni Núñez e Raquel Diniz, profissionais da psicologia.

Será durante a programação do Acampamento Terra Livre 2024, no dia 24 de abril, às 14h, ao longo da Plenária “Saúde Mental e Bem Viver dos Povos Indígenas do Brasil”. Além dos responsáveis pela produção da Nota, irão compor a plenária as(os) integrantes da Comissão de Direitos Humanos do CFP Alexander Morais, Andreza Cristina da Costa Silva e Alessandra Almeida – também conselheira do CFP.

A programação completa do ATL encontra-se em https://apiboficial.org/atl2024