O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizou na sexta-feira (1º) a condecoração do “Prêmio João W. Nery –Práticas de Promoção de Cuidado, Respeito e Dignidade das Pessoas Trans”. A entrega das premiações ocorreu em Brasília/DF, em cerimônia marcada por relatos de luta que permearam os trabalhos selecionados.
Ao todo, foram premiados oito trabalhos em três categorias (transafirmative, exclusiva para profissionais trans; cisaliades; e coletivas), distribuídos em três eixos temáticos. Cada trabalho foi condecorado com a quantia de R$ 2 mil, além de placa celebrativa e certificado de premiação. Outras três iniciativas receberam menções honrosas.
Confira a lista completa de trabalhos premiados no fim da matéria.
A premiação leva o nome do psicólogo que, nos anos 1970, após realizar sua cirurgia de redesignação sexual, foi impedido de seguir exercendo a profissão – e se tornou um ativista na luta pelos direitos das pessoas trans.
O presidente do Conselho Federal de Psicologia, Pedro Paulo Bicalho, ressaltou que João Nery deve ser sempre lembrado como psicólogo e que a premiação contribui para a reparação simbólica.
“Estamos aqui, hoje, celebrando a história, a memória e o legado de João Nery. Esse prêmio é para as pessoas que caminham com João Nery e que constroem produções artísticas, científicas e trabalhos de exercício profissional à luz da história e da memória do legado que nos deixou João Nery”, pontuou.
A conselheira federal Isadora Canto, integrante da coordenação do prêmio, destacou a importância de reconhecer e visibilizar as práticas psicológicas que se alinham à defesa dos direitos das pessoas trans, pontuando essas iniciativas como relevantes contribuições para o exercício profissional da categoria.
Andreza Costa, coordenadora da Comissão de Direitos Humanos do CFP, frisou que o Prêmio João Nery simboliza não apenas uma luta, mas também a resistência e a coragem em defesa dos direitos humanos. Andreza, que também integra a comissão julgadora do Prêmio, enfatizou ainda que os trabalhos selecionados impulsionam novas conquistas e inspiram a continuidade de uma jornada diária que leva à ampliação das fronteiras dos direitos humanos.
O Prêmio João W. Nery foi criado pelo CFP para identificar, valorizar e divulgar a atuação de profissionais, coletivos, grupos e organizações que envolvam a Psicologia como prática profissional alinhada aos direitos da população trans. Uma publicação contendo a íntegra dos trabalhos premiados e que receberam menções honrosas está em fase de editoração e será publicada em breve pelo Conselho Federal de Psicologia.
Psicologia e direitos das pessoas trans
A Psicologia brasileira tem um compromisso histórico com a defesa dos direitos de todas as pessoas, evidenciando por meio de sua ciência e profissão uma atuação centrada no cuidado integral, no enfrentamento às desigualdades e a todas as formas de violência e de opressão.
O Prêmio João W. Nery dialoga diretamente com a Resolução CFP nº 01/2018, que estabelece normas de atuação para profissionais da Psicologia em relação às pessoas transexuais e travestis.
A resolução apresenta orientações para assegurar uma atuação que tenha por objetivo impedir o uso de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminação e veda a colaboração com eventos ou serviços que promovam o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias.
A cerimônia de premiação foi realizada durante o Seminário “Resolução 01/1999 – 25 anos despatologizando a vida, no Brasil e no mundo”, com transmissão ao vivo pelo canal oficial do CFP no YouTube.
Assista a cerimônia do Prêmio João W. Nery.
Confira a lista completa dos trabalhos vencedores do Prêmio João W. Nery:
Premiação no eixo Práticas Acadêmicas
Categoria Transafirmative
“Transidentidade: Contribuições da Identidade de João Nery para Pensar Uma Psicologia para Pessoas Trans” (Isaque Alves). Região Centro-Oeste.
Categoria Cisaliades
“Formação Profissional de Psicólogues/as/os Trans: Ou Sobre os Perigos da Cisgeneridade Recalcada” (Mario Felipe de Lima Carvalho). Região Sudeste.
Menção honrosa
“Transnarrativas: Uma Análise Cartográfica da Saúde das Pessoas Trans” (Mariluza Sott Bender). Região Sul.
Categoria Coletivas
“Como Nascem as Transmasculinidades? Escrevivências Heteroautobiográficas de Migração de Gênero” (Rafael Lerli de Araújo Silva e Antônio Vladimir Félix-Silva). Região Nordeste.
Premiação no eixo Práticas de Cuidado
Categoria Transafirmative
“Nova Casa, Nova Família: Atendimento à Pessoas Trans em uma Casa de Acolhimento LGBTQIA+” (Naira dos Santos Bonfim). Região Nordeste.
Categoria Cisaliades
“Ser Homem, Ser Trans, Transcender: Experiência Com Um Grupo Terapêutico Online Para Homens Trans” (Jussara Doretto Benetti do Prado). Região Sul.
Menção honrosa
“A Clínica Psicológica e o Cuidado com Pessoas Trans: Recriando o Gênero e o Si-Mesmo” (João Paulo Zerbinati). Região Sudeste.
Categoria Coletivas
“Políticas Sociais e Transexualidade: Relato de Experiência no Centro LGBT de Natal/RN” (Thamires Pinto Soares, Samya Katiane Martins Pinheiro, Vitoria Alice Paulista de Melo, Luana Vanessa Soares Pinto de Souza e Leovictor Alves Porto Mendonça). Região Nordeste.
Menção honrosa
“‘Ecoando Vozes’: Relato de Experiência em Grupos de Arte(Psico)Terapia com Homens Trans” (Liliana Lopes Pedral Sampaio e Tatiana Baptista Silva Zuccari). Região Sudeste.
Premiação no eixo Práticas Artístico-Culturais:
Categoria Transafirmative
“Molotov: Experiências Estéticas Sobre Cura” (Ernesto Nunes Brandão) Região Centro-Oeste.
Categoria Coletivas
“Atuação na Periferia e Educação Popular: A Diversidade Sexual e a Arte” (Escambo Coletivo – inscrito por Emanuela Nascimento da Silva). Região Nordeste.
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