Prefeitura de SP afronta direitos humanos e luta antimanicomial

Os Conselhos Regionais e Federal de Psicologia, reunidos no dia 21 de maio de 2017, em Brasília/DF, na Assembleia das Políticas, da Administração e das Finanças (Apaf), repudiam a violência empregada pela gestão da Prefeitura de São Paulo na remoção da população atendida pelo “De Braços Abertos” e o desmantelamento do programa.

Assim devem ser compreendidas as atrocidades cometidas neste domingo (21/5), pela Prefeitura de São Paulo, em parceria com o governo estadual, sob o discurso de “fim da Cracolândia”: a ação afronta os 30 anos de história da luta antimanicomial no Brasil, recém-celebrados em 18 de maio, e os princípios internacionais dos direitos humanos. A violência policial ostensiva foi o expediente utilizado para promover a remoção e a internação forçadas da população em situação de rua que habitava a área do centro de são Paulo conhecida por “Cracolândia”.

Essa ação truculenta e absurda desmontou, arbitrariamente, uma política pública destinada a usuárias (os) de drogas, fundamentada nos princípios da atenção integral à saúde, do cuidado em liberdade, da redução de danos e voltada à ampliação da autonomia do sujeito, por meio da redução gradual do uso de substâncias e da promoção do acesso à assistência social, ao atendimento em saúde, e a oportunidades de emprego e moradia.

Assistimos indignados e apreensivos ao fim do programa “De Braços Abertos”, construído no diálogo com órgãos, entidades e coletivos atuantes no campo da política pública sobre drogas e direitos humanos, e sua substituição por um “novo programa”, batizado de “Redenção” pela gestão municipal.

Esse “novo programa” repete fórmulas ultrapassadas, inadequadas e ineficientes do ponto de vista da saúde mental. Repete o “Programa Recomeço”, do governo estadual, e a “Operação Sufoco”, da gestão municipal. As três iniciativas têm como princípios o tratamento por internação, inclusive involuntária, em parceria com comunidades terapêuticas mantidas por entidades confessionais, não sendo coincidência o nome “Redenção”.

A demolição dos hotéis que serviam de moradia e a remoção das tendas de acolhimento e atendimento social e de saúde concretizam o desrespeito sumário aos trabalhos e aos fluxos desenvolvidos por trabalhadoras (es) das políticas públicas de saúde e assistência social. O cuidado com a vida dá lugar a um programa de reurbanização da região da Luz, centro de São Paulo, com forte significado histórico e cultural, que reforça projeto higienista de cidade voltada ao setor imobiliário, não às pessoas, com grande risco de gentrificação da área.

A “São Paulo Cidade Linda” do prefeito João Dória é a cidade sem políticas públicas que atendam de maneira eficiente as demandas da população em situação de rua, entre elas, usuárias (os) de drogas. É a cidade na qual não há espaços para dialogar com as diferenças que São Paulo apresenta e que merecem não tratores, mas sim estratégias de cuidado que reconheçam todas as questões históricas e sociais que antecedem e resultam na vulnerabilidade de parcelas da população.

A barbárie deste 21 de maio de 2017 é inaceitável. A ação do prefeito João Dória viola a Constituição Federal no direito cidadão de ir e vir e fere o princípio da laicidade do Estado. Representa ainda uma afronta aos direitos humanos e à luta antimanicomial.

Brasília, 21 de maio de 2017.

Sistema Conselhos de Psicologia

Presidentes e tesoureiros do Sistema Conselhos reunidos

Presidentes e tesoureiros de todos os Conselhos Regionais e do Conselho Federal de Psicologia estão reunidos nesta sexta-feira (19) na sede do CFP em Brasília/DF para os últimos preparativos da Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (APAF) que acontece este fim de semana.

Na abertura dos trabalhos, a vice-presidente do CFP, Ana Sandra Nóbrega, lembrou com tristeza o falecimento da psicóloga Rosimeire Aparecida Silva na última segunda-feira (15/5), uma grande perda para o Sistema Conselhos de Psicologia. Numa singela homenagem, todos os participantes da reunião e da equipe técnica do CFP, que apoia a realização da atividade, fizeram um momento de aplauso em memória da colega que foi uma importante militante da defesa dos direitos humanos e do exercício ético da Psicologia.

APAF ao vivo

Realizada pelo menos duas vezes ao ano, a Assembleia do Sistema Conselhos é composta por conselheiros federais e regionais de Psicologia. O CFP tem até três delegados e o número de representantes regionais varia de um a três, dependendo do número de profissionais inscritos no CRP.

A partir de amanhã, às 9h, os dois dias de reunião (20 e 21/5) serão transmitidos em tempo real, a partir das 9h, pelo site cfp.org.br.

Confira a galeria de imagens da reunião desta sexta-feira (19)

 

 

 

“Não existe manicômio humanizado. O que trata é a liberdade”

O Plenário Ulisses Guimarães da Câmara dos Deputados transformou-se nesta quarta-feira (17/5) em espaço de debate sobre os avanços e desafios da atenção à saúde mental no Brasil. A Sessão Solene pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial, convocada pelos deputados Erika Kokay (PT-DF) e Jean Wyllys (Psol-RJ), antecipa as comemorações do 18 de maio em todo o país.

Passadas três décadas desde a primeira manifestação social pública em defesa da reforma psiquiátrica (Manifesto de Bauru) e 16 anos de criação da rede substitutiva aos manicômios no Brasil, ainda é preciso defender a liberdade como o centro da atenção psicossocial, segundo o presidente do Conselho Federal de Psicologia, Rogério Giannini. “Não existe manicômio bom, humanizado. O que trata é a liberdade. A atenção se faz no cotidiano, pelas equipes de saúde mental da rede substitutiva e com a presença das famílias”, disse.

Segundo Rogério, a reforma psiquiátrica precisa ser construída no dia a dia. “Não se trata apenas de um conjunto de tarefas a cumprir, mas criar espaços, dar condições de que a reforma seja sustentável pela vida cotidiana. É na presença dos profissionais de saúde, dos usuários, dos familiares e das forças que defendem essa causa que a reforma psiquiátrica se organiza, se reinventa e se sustenta a cada dia”.

Para a deputada Erika Kokay, defender o princípio da reforma psiquiátrica é defender uma sociedade efetivamente democrática, em que caibam todos. “Estar na luta antimanicomial significa resgatar a nossa própria humanidade, a nossa subjetividade que está ameaçada por uma opressão que nos quer iguais, em padrões estabelecidos pelo mercado.”

Janice de Carvalho, da Rede Nacional Internúcleos de Luta Antimanicomial (Renila), avalia a criação de espaços comunitários abertos e a redução gradativa de manicômios e hospitais psiquiátricos como avanços importantes, mas reconhece que ainda há muito por fazer. “Neste país de tantos retrocessos, nosso movimento é de resistência. Como dizia Eduardo Galeano [escritor uruguaio], é necessário nos desgastar, morrer por algo sem o qual não vale a pena viver.” Carvalho também pediu aos presentes um minuto de silêncio em homenagem à psicóloga mineira Rosimeire Aparecida da Silva, militante histórica do movimento antimanicomial que faleceu esta semana.

Medicalização – José Alves, representante da Associação Amigos do São Vicente, deu um depoimento pessoal como usuário dos serviços de atenção à saúde mental em Brasília (DF). “O livro dessa história sou eu mesmo. A gente tem que saber e ver de verdade o que é saúde mental, o que é doença mental. Muitas vezes tratamos como doente só quem toma remédio psicotrópico. Doença mental é algo que às vezes cada um de nós tem e não percebe. Vamos ver onde estamos adoecendo as pessoas? Vamos ter cuidado porque manicômio não é só hospital; a nossa casa também pode ser um manicômio.”

O médico psiquiatra Paulo Duarte Amarante concorda que a luta antimanicomial não é apenas contra o hospício em si, mas também contra a medicalização excessiva da sociedade. Segundo ele, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera o uso indiscriminado de antidepressivos como um problema de saúde pública mais sério que a própria depressão. “Proponho que a gente possa seguir o exemplo da Câmara inglesa ao criar uma comissão parlamentar permanente de investigação sobre medicalização, drogas prescritas, financiamento e pesquisa na área”, declarou o presidente de honra da Associação Médica de Saúde Mental (Abrasme) e membro do Comitê de Participação da Conferência Permanente pela Saúde Mental no Mundo (Copersamm).

Compromisso – Ao final da solenidade, o deputado Jean Wyllys fez um compromisso público em nome no Legislativo. “Tudo o que foi apresentado aqui em termos de legislação, a Frente Parlamentar dos Direitos Humanos e a bancada de deputados (as) progressistas desta casa irá tocar, seja no sentido de barrar projetos contrários à expressão dessa cidadania, seja na promoção de projetos que assegurem a saúde mental, contrários ao encarceramento e aos manicômios.” Para ele, a luta antimanicomial não pode estar descolada de outras lutas, como a defesa dos povos indígenas, a política de drogas, pelos direitos LGBT, pelos direitos sexuais e reprodutivos. “Essas lutas são nossas, de todas as pessoas comprometidas com a democracia e os direitos humanos.”

Ainda participaram do evento Lúcio Costa, representante do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Ministério da Justiça; Tânia Inessa, coordenadora do Projeto Interdisciplinar em Saúde Mental do Centro Universitário de Brasília (UniCeub); Alexandre Ribeiro Vanderley, psicanalista e coordenador do ponto de cultura Tá pirando, pirado, pirou, do Rio de Janeiro; e Eva Faleiros, assistente social, diretora do Centro de Convivência e Recriação do Espaço Social (Inverso).

A atividade também foi marcada por apresentações culturais individuais e em grupos de usuários em acompanhamento psíquico no Distrito Federal, que acabaram por emocionar o público.

Debate Digital: Dia Nacional da Luta Antimanicomial

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) realizou no dia 17 de maio, o debate “Luta Antimanicomial: A liberdade cuida, o cuidado liberta”, em comemoração ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio). A atividade foi transmitida em tempo real pelo site www.cfp.org.br e integra a celebração da data, instituída há 30 anos após a publicação do Manifesto de Bauru.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial representa um marco no combate ao estigma e à exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave. A proposta de dedicar um dia para lembrar a luta contra o aprisionamento de pessoas diagnosticadas com “transtornos mentais” surgiu em 1987, durante o II Congresso de Trabalhadores da Saúde Mental, realizado em Bauru (SP).

Com o lema “Por uma sociedade sem manicômios”, o congresso discutiu as formas de cuidado com os que apresentam sofrimento mental grave e representou um marco histórico do Movimento da Luta Antimanicomial, inaugurando uma nova trajetória da Reforma Psiquiátrica brasileira.

O diálogo foi conduzido pelo presidente do CFP, Rogério Giannini, por Paulo Duarte Amarante e Ivarlete Guimarães de França. Amarante é mestre em Medicina Social, doutor em Saúde Pública e presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme). A psicóloga França, do CRP-07/RS, é especialista em saúde e trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e ativista da saúde mental.

Debate Dia Nacional da Luta Antimanicomial

“A liberdade cuida, o cuidado liberta”

Data: 17 de maio de 2017
Horário: 15h
Transmissão ao vivo pelo site cfp.org.br

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